terça-feira, 5 de julho de 2016

[7, 8 e 9] A SUPREMACIA DA LEI

[3] “A Supremacia da Lei”

Aprendendo com os Escritos de Nitiren Daishonin: os ensinamentos para a vitória

Terceira Civilização, Edição 506, 01/10/2010 / Estudo

O Sutra de Lótus é o “Grande Navio” para a iluminação de todas as pessoas

Quando o budismo ainda não havia sido introduzido na China, os escritos de sábios como os Três Soberanos; os Cinco Imperadores e os Três Reis; T’ai-kung Wang; Tan, o duque de Chou; Lao Tzu e Confúcio eram chamados de cânones ou clássicos. Por meio desses ensinamentos, as pessoas aprenderam a retidão e passaram a compreender a dívida de gratidão que tinham pelos pais. Foi também traçada uma clara distinção entre o governante e o governado para que o país fosse governado de forma sábia. As pessoas obedeciam aos líderes, que seguiam esses ensinamentos. Assim, o céu atendia às suas orações. (...) Quando as escrituras budistas foram levadas pela primeira vez da Índia para a China, algumas pessoas disseram que deveriam ser aceitas; outras, que deveriam ser rejeitadas. Surgiu, então, um conflito e o governante reuniu os dois grupos para debaterem a questão. Os que praticavam os ensinamentos não budistas foram derrotados pelos que defendiam o budismo.

Em contraste [com os sutras Hinayana], os sutras Mahayana são como aqueles enormes barcos que, levando dez ou vinte pessoas e carregados com grandes quantidades de mercadorias, conseguem navegar de Kamakura até locais tão distantes quanto Tsukushi ou a Província de Mutsu.

Mas o barco do verdadeiro sutra Mahayana é incomparavelmente maior que os demais enormes barcos — os outros sutras Mahayana. Carregados com grandes quantidades de raros tesouros e levando centenas ou milhares de passageiros, eles navegam por toda a extensão da Coreia. O sutra denominado Sutra de Lótus do veículo único é como esse sutra.

Devadatta foi o homem mais maldoso em toda a terra de Jambudvipa [o mundo todo]. Porém, o Sutra de Lótus predisse que ele se tornaria o Rei Celestial Honrado pelo Mundo. Embora Ajatashatru fosse um rei perverso que matou o próprio pai, ele estava dentre os presentes no momento em que o Sutra de Lótus foi pregado. E, após ter ouvido apenas um único verso ou uma frase, formou uma conexão com o sutra [o que lhe permitiria atingir a iluminação no futuro]. A filha do rei dragão, uma mulher com corpo de réptil, atingiu o estado de Buda ao ouvir o Bodhisattva Manjushri pregar o Sutra de Lótus. Além disso, o Buda designou a maléfica era dos Últimos Dias da Lei como a época exata para o Sutra de Lótus ser propagado e transmitiu-o aos homens e às mulheres dessa época impura. O Sutra de Lótus, o ensinamento do veículo único, é um sutra tão grandioso e tão poderoso como os barcos mercantes da China...

A superioridade e a inferioridade não existem somente entre os sutras mas também entre seus seguidores. Os vários mestres da escola Verdadeira Palavra, que creem no Sutra Mahavairochana, são como o fogo sendo apagado pela água ou o orvalho sendo seco pelo vento quando confrontados no debate pelo devoto do Sutra de Lótus. Se um cachorro latir para um leão, terá as vísceras apodrecidas. O demônio asura que atirou uma flecha na direção do sol teve a cabeça partida em sete pedaços. Os mestres da Verdadeira Palavra são como o cachorro ou o asura, ao passo que o devoto do Sutra de Lótus é como o sol ou o leão...

Como é de conhecimento de todos, antes do ataque dos mongóis, a arrogância do povo de nossa época não tinha limites. Desde o décimo mês do último ano [outubro de 1274, quando ocorreu a primeira invasão mongólica], no entanto, nenhum deles ousou assumir uma atitude arrogante, pois, como todos sabem, somente Nitiren predisse essa invasão estrangeira. Se os mongóis atacarem nosso país novamente, ninguém terá coragem de enfrentá-los. (...) Nas batalhas, os soldados consideram o general como sua alma. Se o general perder a coragem, seus soldados vão se acovardar. (WND, v. 1, pp. 612-613.)


Explanação

A voz das pessoas possui um poder genuíno. O vigoroso avanço das pessoas movimenta a sociedade. Não há nada mais forte que o poder das pessoas. E não há nada mais extraordinário nem indestrutível que sua solidariedade. Ninguém consegue ser páreo para isso. Essa é uma verdade que transcende o tempo e o espaço.

O Budismo de Nitiren Daishonin é uma religião para as pessoas comuns. Tem como propósito abrir uma era dos seres humanos, ajudando-os a conseguir a verdadeira felicidade. Para nós, budistas, a felicidade das pessoas não se trata de uma teoria abstrata, mas sim de um objetivo concreto que somos capazes de alcançar quando enfocamos o indivíduo. Ao ajudarmos uma pessoa a se tornar feliz por meio da fé na Lei Mistica, nós mostramos a prova real da validade do Budismo Nitiren como uma religião verdadeiramente humanística.

Conquistar uma sociedade ideal deve começar basicamente com cada um realizando a grandiosa revolução humana, ou seja, a transformação interior. Nitiren procurava criar pessoas assim. E, para isso, ensinava que a fé é um requisito necessário e indispensável.

Qualquer pessoa que busque atingir o estado de Buda nesta existência e realize a prática da fé com o objetivo de alcançar a revolução humana conseguirá desenvolver uma personalidade firme e estruturada. Assim, desenvolvemos um estado de vida que nos permite concretizar a nossa felicidade e também a dos outros. Avançamos sem temer nenhuma adversidade, aumentando a capacidade para a criação de valor seja qual for a situação. A fé no Budismo de Nitiren Daishonin nos possibilita cultivar um estado interior de total liberdade, sem sermos derrotados por quaisquer desafios do carma. Essa fé é o meio pelo qual podemos polir a vida.

Estudaremos desta vez “A Supremacia da Lei”, que Daishonin redigiu durante o período em que o Japão enfrentava a iminente ameaça de uma segunda invasão do exército mongol. Aquela época também se caracterizava por uma grande confusão em meio à sociedade e pela predominância de crenças mal-orientadas e ensinamentos errô­neos. Esta é uma carta de incentivo em que Nitiren instiga a remetente — referida aqui apenas como a “mãe de Oto” — a se empenhar cada vez mais na prática do ensinamento correto do Sutra de Lótus, tornando-se uma pessoa de fé genuína. Enfim, numa época tumultuada, podemos ter fé somente na Lei Mística.

A mulher que recebeu tal carta era uma sincera discípula de Daishonin. Na companhia da jovem filha, Oto, saiu de Kamakura e foi ao encontro do mestre, que estava exilado na ilha de Sado. Devido a sua sincera dedicação, Daishonin concedeu-lhe o nome budista de Sábia Nitimyo (Sol Maravilhoso).1 Que tipo de orientação e incentivo Daishonin ofereceu a essa mulher admirável? Estudando atenciosamente a carta, conseguimos deduzir importantes princípios básicos da fé.

Quando o budismo ainda não havia sido introduzido na China, os escritos de sábios como os Três Soberanos,2 os Cinco Imperadores3 e os Três Reis4; T’ai-kung Wang5; Tan, o duque de Chou6; Lao Tzu e Confúcio eram chamados de cânones ou clássicos. Por meio desses ensinamentos, as pessoas aprenderam a retidão e passaram a compreender a dívida de gratidão que tinham pelos pais. Foi também traçada uma clara distinção entre o governante e o governado, para que o país fosse governado de forma sábia. As pessoas obedeciam aos líderes, que seguiam esses ensinamentos. Assim, o céu atendia às suas orações. (...) Quando as escrituras budistas foram levadas pela primeira vez da Índia para a China, algumas pessoas disseram que deveriam ser aceitas; outras, que deveriam ser rejeitadas. Surgiu, então, um conflito e o governante reuniu os dois grupos para debaterem a questão. Os que praticavam os ensinamentos não budistas foram derrotados pelos que defendiam o budismo. (WND, v. 1, p. 612.)

Compartilhando do mesmo desejo pela felicidade das pessoas

Nessa carta, Nitiren diz para Nitimyo que o Sutra de Lótus é um ensinamento de incomparável nobreza. Ele apresenta um esboço das características dos diferentes sutras budistas, fazendo uma referência especial à essência dos sutras Mahayana, dos quais, destaca ele, o Sutra de Lótus é o mais elevado de todos. Nitiren transmite aqui a mensagem de que os que abraçam o Sutra de Lótus na época atual, cheia de problemas, são infinitamente dignos de respeito — e, mais especificamente, está dizendo que Nitimyo é uma mulher extraordinária por praticar este supremo ensinamento como sua discípula.

Nitiren começa explanando a forma como o budismo se propagou pela China. Em primeiro lugar, ele observa que os vários ensinamentos respeitados e predominantes na China antes da chegada do budismo também possuíam o poder de beneficiar as pessoas nas respectivas épocas em que foram propagados.

O nascimento de quase todas as religiões ou tradições espirituais remonta ao desejo das pessoas de conquistarem a felicidade. Meu mestre Jossei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, sempre manifestava a certeza de que os fundadores de várias tradições religiosas — entre eles Nitiren Daishonin, Sakyamuni, Jesus, Maomé, entre outros — chegariam rapidamente a uma compreensão mútua se pudessem se reunir numa sala para dialogar.

Quando os líderes supremos — sejam de uma organização, sejam de uma nação —dialogam, conseguem transmitir seus pensamentos com facilidade e tomar decisões rápidas. Isso porque o raciocínio é direcionado por um forte senso de responsabilidade. Também no mundo da religião, quando pessoas sensatas se sentam e dialogam com franqueza e mente aberta, sem dúvida, elas conseguem entrar em acordo.

O sr. Toda acreditava que particularmente os fundadores das religiões universais — independentemente das diferenças de época e da sociedade em que viveram e do método ou da metodologia empregados — certamente encontrariam uma concordância no desejo que todos compartilhavam de libertar a humanidade do sofrimento.

No entanto, o problema está no fato de que alguns dos herdeiros posteriores dessas tradições religiosas perderam de vista o propósito original do fundador de levar as pessoas a conquistarem a felicidade. Esquecendo-se das intensas batalhas empreendidas pelo fundador, essas tradições ficaram cada vez mais preocupadas com o ritual e a formalidade. Consequentemente, sucumbiram para o egoísmo e a ambição pessoal, menosprezando os leigos, que são pessoas comuns. Um dos exemplos mais óbvios disso é a seita Nikken, que se destaca por ter demonstrado uma ostensiva falta de consideração pelo bem-estar de seus seguidores. Por ter agido de forma contrária ao espírito de Nitiren, ela se degenerou, transformando-se numa escola que apoia ensinamentos errôneos.

A razão pela qual Nitiren Daishonin refutou vigorosamente as outras escolas budistas de sua época se dá pela atitude de seus monges que menosprezaram o propósito original do budismo e fecharam o ensinamento da iluminação universal — detentor da chave para a felicidade de todas as pessoas. Daishonin sempre fez da felicidade das pessoas sua norma. Pelo fato de suas ações terem sido “unicamente em prol da nação, da Lei e dos outros” (WND, v. 1, p. 164.) e “em prol de todos os seres vivos”, (WND, v. 2, pp. 325-392.) ele ousou protestar o governante e refutar os ensinamentos errôneos das outras escolas budistas. Ele não podia ignorar a situação em que, por causa dos monges desencaminhados dessas escolas, “o sofrimento das pessoas somente se aprofundava cada vez mais”. (Cf. WND, v. 1, p. 809.)

Em outro escrito, Daishonin declara que poderiam ser interpretados como “emissários do Buda”7 os indivíduos sábios que, mesmo desconhecendo os ensinamentos do budismo, ajudam as pessoas sofredoras, acabando com a angústia delas. Apesar de não se considerarem como tais, a sabedoria do budismo estava abrigada em seu coração.

Em “A Supremacia da Lei”, Nitiren também explica de que forma — antes da chegada do budismo na China — os escritos ou ensinamentos de numerosos sábios e governantes ideais proporcionaram diretrizes positivas para as pessoas viverem, contribuindo para a criação de uma sociedade bem organizada e pacífica.

Ele observa que, dentre os valores que ensinaram, estava a retidão, incluindo o respeito pelos pais e pelo governante. É claro que Nitiren não está dizendo que devemos abraçar a moralidade da época do feudalismo. Mas, formulando um retrospecto daquele período — o modo de vida fundamentado num sistema de obrigações mútuas e num código de comportamento que se centralizava no respeito aos pais, aos mestres e ao soberano e que servia como base essencial para uma sociedade mutuamente benéfica para todos.

Porém, apenas regras externas e padrões são insuficientes para ajudar as pessoas a dominarem os vários desejos e impulsos humanos. Portanto, quando o budismo, com seus ensinamentos e discernimentos mais profundos sobre a natureza e a existência humanas chegou à China, obteve consequentemente ampla aceitação.

O budismo é um ensinamento que enriquece nossa vida e nos ajuda a desenvolver um caráter e uma benevolência extraordinários. Empregando a profunda sabedoria do budismo (que é o ponto de partida da revolução humana), conseguimos realizar uma grandiosa contribuição para a nossa felicidade e a dos outros, o propósito original de todas as religiões. Qualquer tradição religiosa que se esquece de pôr as pessoas em primeiro plano invariavelmente se torna hipócrita e dogmática.

O ideal é que todos os adeptos das várias religiões do mundo se empenhem com um sentimento de competição amigável para conduzir as pessoas à iluminação. Como membros da SGI, precisamos analisar qual a melhor forma de transmitir para as pessoas de todos os lugares o verdadeiro valor do budismo humanístico de Nitiren Daishonin, o qual se baseia no supremo ideal de iluminação universal do Sutra de Lótus. Atualmente, como precursores globais de uma era de competição humanística, estamos nos empenhando arduamente para nos desenvolver e também para treinar as pessoas. No século 21, somos nobres pioneiros propagando uma religião para toda a humanidade. Assim, vamos avançar com convicção e orgulho.

Em contraste [com os sutras Hinayana], os sutras Mahayana são como aqueles enormes barcos que, levando dez ou vinte pessoas e carregados com grandes quantidades de mercadorias, conseguem navegar de Kamakura8 até locais tão distantes quanto Tsukushi ou a Província de Mutsu.9

Mas o barco do verdadeiro sutra Mahayana é incomparavelmente maior que os demais enormes barcos — os outros sutras Mahayana. Carregados com grandes quantidades de raros tesouros e levando centenas ou milhares de passageiros, eles navegam por toda a extensão da Coreia. O sutra denominado Sutra de Lótus do veículo único é como esse sutra.(WND, v. 1, pp. 612–613.)

O “Grande Navio” do Sutra de Lótus

Portanto, conforme verificamos, Nitiren primeiro reconhece o papel positivo do confucionismo e outros ensinamentos não budistas da antiga China. Passa, em seguida, a destacar a suprema superioridade do budismo. Depois, ele explica que os ensinamentos budistas também se classificam de acordo com o mérito, dizendo: “Alguns [sutras budistas] são superiores no conteúdo ou mais profundos que outros”. (WND, v. 1, p. 612.)

A expressão “superiores no conteúdo ou mais profundos” não significa, por exemplo, que certos sutras sejam totalmente desprezíveis. Ao contrário, indica o mérito relativo de cada sutra em termos de sua totalidade, ou seja, cada qual possui sentido ou relevância correspondendo ao tempo e à capacidade das pessoas da época em que foi pregado. Isso quer dizer que quando surge um ensinamento mais profundo em resposta à época e à capacidade das pessoas, então os ensinamentos que já existiam tornam-se superficiais e inferiores em comparação a esse ensinamento.

Conforme esclareceu nesse escrito, Nitiren Daishonin fundamenta sua avaliação dos diferentes sutras no critério de quantas pessoas eles são capazes de conduzir à felicidade e também no fato de servirem ou não como um meio para libertar toda a humanidade do sofrimento.

Nitiren apresenta um paralelo facilmente acessível, comparando os respectivos ensinamentos budistas categorizados como Hinayana, Mahayana provisório e Mahayana verdadeiro (o Sutra de Lótus) com canoas ou barcos de diferentes tamanhos. Os sutras Hinayana, diz ele, são como pequenas canoas que levam apenas dois ou três passageiros e uma pequena quantidade de carregamento e que não têm capacidade para viajar muito além da costa. Os sutras do Mahayana provisório são como grandes barcos que podem levar talvez de dez a vinte pessoas e uma carga substancial, podendo realizar extensas jornadas de uma parte a outra do Japão. Porém, ainda mais superior é o navio do Sutra de Lótus (o sutra do verdadeiro ensinamento do Buda). Ele é tal como um grande transatlântico, que suporta viajar até a distante Península da Coreia, levando centenas ou milhares de passageiros e um carregamento de preciosos tesouros.

Daishonin apresenta assim uma lista de critérios objetivos, isto é, (1) a capacidade de passageiros, (2) o limite e (3) a capacidade da carga. Desses critérios, a “capacidade de passageiros” corresponde ao número ou à quantidade de pessoas que o ensinamento do sutra conduz à iluminação; o “limite” corresponde à profundidade e à riqueza do estado de vida que a pessoa consegue atingir por meio da prática contínua do ensinamento do sutra; e a “capacidade da carga” corresponde à eficácia do ensinamento do sutra e à profundidade da sabedoria e do discernimento que ele contém.

Resumindo, o Sutra de Lótus, ao expor o princípio da possessão mútua dos Dez Mundos,10 é o único ensinamento que revela que todas as pessoas possuem dentro de si o potencial para se tornarem budas. É manifestando nosso estado de Buda interior que atingimos a iluminação. Portanto, o Sutra de Lótus é o grande navio para toda a humanidade.

É importante dizer que esse navio não está disponível para nós apenas nesta existência. O grande navio do Sutra de Lótus, um ensinamento que nos permite concretizar uma felicidade indestrutível, também nos levará pelo mar dos sofrimentos do nascimento e da morte. Por isso, a declaração de Sakyamuni: “Este sutra pode salvar todos os seres vivos. (...) É como (...) alguém que encontra um barco no qual pode cruzar a água”. (LS, cap. 23, p. 286.)

Não há dúvida de que o que Nitiren desejava era proporcionar a Nitimyo a convicção e a paz de espírito de saber que, com certeza, aqueles que abraçam a fé na Lei Mística atingirão um estado de total felicidade.

(Daibyakurengue, edição de julho de 2009.)

Notas:

1. Em “Carta à Sábia Nitimyo”, Nitiren Daishonin escreve: “A senhora é a primeira devota do Sutra de Lótus entre as mulheres do Japão. Por essa razão, seguindo o exemplo do Bodhisattva Jamais Desprezar, concedo-lhe o nome budista Sábia Nitimyo”. (END, v. 5, p. 80.) Acredita-se que a Sábia Nitimyo seja a mesma pessoa a quem Daishonin se refere em outras passagens dos escritos como a “mãe de Oto”.

2. Três Soberanos: também chamados de Três Governantes. Fu Hsi, Shen Nung e Huang Ti (Imperador Amarelo), que foram governantes legendários da China antiga. Acredita-se, em geral, que tenham sido eles que inventaram a pesca, a agricultura e a medicina, respectivamente. Em seus escritos, Nitiren Daishonin refere-se com frequência a Shen Nung e a Huang Ti como os mestres da medicina. Ele ainda designa os reinados de Fu Hsi e Shen Nung como uma época em que foi alcançada a sociedade ideal.

3. Cinco Imperadores: cinco legendários e sábios imperadores da China que dizem ter reinado após os Três Soberanos. Nos clássicos, há três grupos distintos de Cinco Imperadores. Um deles apresenta-os como Shao Hao, Chuan Hsü, Ti Kao, T’ang Yao e Yü Shun.

4. Três Reis: fundadores das três dinastias, Hsia, Yin (Shang) e Chou, na China. Esses três reis são: rei Yü, da dinastia Hsia; o rei T’ang, da dinastia Yin; e o rei Wen, da dinastia Chou. Acredita-se que tenham realizado um modelo de governo.

5. T’ai-kung Wang: general que serviu ao rei Wen, fundador da dinastia Chou da China. Durante a dinastia Yin (Shang), o general vivia em reclusão. Porém, apareceu e passou a liderar o exército do rei Wen a pedido deste. Após a morte de Wen, serviu ao rei Wu (sucessor de Wen) e lutou valorosamente, derrotando o rei Chou da dinastia Yin.

6. Tan, o duque de Chou: irmão mais novo do rei Wu e fundador da dinastia Chou (1100–256 a.C.). Após ajudar o irmão na tarefa de derrotar a dinastia Yin (Shang) e de fundar um governo, continuou envolvido nas questões governamentais. Quando o rei Wu morreu e seu filho Ch’eng, que ainda era menino, subiu ao trono, o duque de Chou atuou como regente do jovem governante. Ele é reverenciado há séculos pelos confucionistas por seu modelo de governo correto e de retidão.

7. Em “O Kalpa da Diminuição”, citando o exemplo dos antigos líderes chineses que restabeleceram a paz e a ordem na nação, Nitiren Daishonin escreveu: “Apesar de esses homens terem vivido antes da introdução do budismo, eles ajudaram as pessoas que agiam como emissários do Buda Sakyamuni, senhor dos ensinamentos. Embora os adeptos dos escritos não budistas não estivessem cientes disso, a sabedoria desses homens continha em sua essência a sabedoria do budismo”. (WND, v. 1, pp. 1.121–1.122.)

8. Kamakura era a sede do governo militar japonês na época de Nitiren. Localizava-se na atual Província de Kanagawa.

9. Tsukushi situava-se em parte do atual norte de Kyushu, ao passo que a Província de Mutsu estava no nordeste do Japão, correspondendo à atual Região de Tohoku.

10. Possessão Mútua dos Dez Mundos: o princípio segundo o qual os Dez Mundos possuem o potencial de todos os outros dez. “Possessão Mútua” significa que a vida não é fixa num ou outro dos Dez Mundos, mas sim que manifesta qualquer um dos dez — desde o Inferno até o estado de Buda — num dado momento. O que importa neste princípio é que todos os seres vivos em quaisquer dos Nove Mundos possuem a natureza de Buda. Isso significa que todas as pessoas possuem o potencial para manifestar o estado de Buda, ao passo que um Buda possui também os Nove Mundos. Nesse sentido, não está separado nem é diferente das pessoas comuns.

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[3] “A Supremacia da Lei” - Parte 2

Aprendendo com os Escritos de Nitiren Daishonin: os ensinamentos para a vitória

Terceira Civilização, Edição 507, 20/11/2010 / Estudo

O Sutra de Lótus é o “Grande Navio” para a iluminação de todas as pessoas

Explanação

Devadatta1 foi o homem mais maldoso em toda a terra de Jambudvipa [o mundo todo]. Porém, o Sutra de Lótus predisse que ele se tornaria o Rei Celestial Honrado pelo Mundo. Embora Ajatashatru2 fosse um rei perverso, que matou o próprio pai, ele estava dentre os presentes no momento em que o Sutra de Lótus foi pregado. E, após ter ouvido apenas um único verso ou uma frase, formou uma conexão com o sutra [o que lhe permitiria atingir a iluminação no futuro]. A filha do rei dragão,3 uma mulher com corpo de réptil, atingiu o estado de Buda ao ouvir o Bodhisattva Manjushri4 pregar o Sutra de Lótus. Além disso, o Buda designou a maléfica era dos Últimos Dias da Lei como a época exata para o Sutra de Lótus ser propagado e transmitiu-o aos homens e às mulheres dessa época impura. O Sutra de Lótus, o ensinamento do veículo único,5 é um sutra tão grandioso e tão poderoso como os barcos mercantes da China... (WND, v. 1, p. 613.)

O revolucionário ensinamento sobre a iluminação das mulheres

No trecho citado, Nitiren trata da iluminação das pessoas maldosas e das mulheres. Os sutras expostos antes do Sutra de Lótus (ou seja, os sutras do Mahayana provisório) sustentavam a ideia de que as pessoas maldosas e as mulheres não poderiam atingir o estado de Buda. Muitos praticantes se resignavam, portanto, a esse destino de infelicidade. Mas o Sutra de Lótus acaba com o sentimento de desamparo ao proclamar amplamente que todas as pessoas possuem o potencial para atingir o estado de Buda.

A força do ensinamento do Sutra de Lótus é tamanha a ponto de capacitar até mesmo as pessoas malignas, como Devadatta e o rei Ajatashatru, a atingirem a iluminação.

Devadatta era um antigo discípulo que se voltou contra o Buda Sakyamuni e cometeu muitas ofensas graves, tendo causado, por exemplo, a desunião na Ordem Budista.6 Como resultado dessas ações, ele caiu no inferno de incessantes sofrimentos ainda vivo.

Ajatashatru, por sua vez, era o rei de Magadha. Ao ser instigado por Devadatta, Ajatashatru prendeu e depôs o próprio pai, o rei Bimbisara, para tomar o trono. Ele também conspirou para assassinar Sakyamuni.

Acima de tudo, o Sutra de Lótus expõe a iluminação das mulheres, que nos ensinamentos pré-Sutra de Lótus haviam sido rejeitadas e menosprezadas. A filha do rei dragão, ao ouvir Manjushri pregar o Sutra de Lótus — o “ensinamento secreto sobre como atingir o estado de Buda na presente forma”7 —, manifestou instantaneamente a condição de vida do estado de Buda. Com isso, ela conquistou uma vitória para a felicidade das mulheres de todos os lugares.

A iluminação da filha do rei dragão parece não ter tido nenhuma relevância para a iluminação dos homens. Mas Nitiren escreveu: “Todos os seres vivos são a filha do rei dragão com uma qualidade intrínseca ou essencial”. (OTT, p. 230.) Ou seja, a iluminação da filha do rei dragão é uma importante pré-condição para a iluminação de todas as pessoas. Essa é a prova real de que é possível atingir o estado de Buda na presente forma. Poderíamos dizer que a filha do rei dragão simboliza a iluminação de toda a humanidade.

Nitiren menciona Devadatta e a filha do rei dragão para explicar, na passagem seguinte, que o Sutra de Lótus foi transmitido aos homens e às mulheres da era maligna dos Últimos Dias da Lei. (WND, v. 1, p. 612.) O Sutra de Lótus é um ensinamento que conduz as pessoas possuidoras de todas as competências à iluminação, mesmo nas épocas mais terríveis e nas terras mais impuras. Isso porque o Nam-myoho-rengue-kyo — o “ensinamento da semeadura”,8 encontrado no âmago do Sutra de Lótus — é a causa ou o catalisador que revela a natureza de Buda inerente na vida de qualquer pessoa, seja quem for.

Nitimyo, mãe de Oto Gozen, deve ter sentido uma coragem inacreditável com a convicta afirmação de Nitiren Daishonin de que o Sutra de Lótus é um ensinamento aos homens e às mulheres dos Últimos Dias da Lei.

O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, escreveu: “Independentemente de quanto a civilização tenha avançado, não haverá felicidade verdadeira para a humanidade num mundo em que as nações ignoram a moral e se engajam em intermináveis batalhas pelo poder. No infeliz acontecimento da deflagração de uma guerra nuclear, os habitantes de nosso planeta serão levados para a destruição. Estou certo de que foi exatamente por esta presente era que Nitiren Daishonin nos deixou uma grandiosa religião capaz de evitar a destruição da humanidade”. (Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda], Seikyo Shimbunsha, 1983, v. 3, p. 112.)

Estão vivas em meu coração as recordações da inextinguível paixão e do entusiasmo de meu mestre pelo Kossen-rufu. Devemos avançar neste empreendimento. Como Nitiren ficaria desapontado se nosso movimento acabasse. Esse seria o início da era em que a humanidade voltaria para a época de barbárie. Vamos, portanto, progredir com inabalável convicção em nosso nobre empreendimento para erradicar o infindável ciclo de penúria e sofrimento que aflige a humanidade.

Os líderes genuínos trabalham pela felicidade das pessoas

Nitiren afirma, nesse trecho, que os praticantes de diferentes sutras também podem ser classificados de forma correspondente aos próprios sutras.

Ele cita Palavras e Frases do Sutra de Lótus, de Tient’ai: “Uma vez que a Lei é maravilhosa, a pessoa é digna de respeito”. (WND, v. 1, p. 1.097.) Em outro escrito, ele afirma: “Se a Lei que a pessoa abraça é suprema, ela própria deve ser a mais importante dentre todas as pessoas”. (END, v. 1, p. 158.)

A verdadeira capacidade dos praticantes e a profundidade de sua vida encontram-se na fé, na sabedoria e nos sutras que eles praticam. Essa capacidade aumenta à medida que eles põem em prática os ensinamentos do Sutra de Lótus.

Nitiren Daishonin observa que existe uma enorme diferença entre o devoto do Sutra de Lótus e os monges da escola Verdadeira Palavra. Se eles se engajassem num debate, o devoto ganharia com a mesma facilidade da água ao apagar o fogo ou do vento ao dissipar o orvalho.

Por que Nitiren escolheu os monges da Verdadeira Palavra para serem criticados? Presume-se que foi porque, naquele tempo, o Japão confiava totalmente nos monges dessa escola para realizar encantamentos e orações visando à derrota do exército mongol. Também pode ter sido em razão do esoterismo da Verdadeira Palavra que desfrutava incomparável prestígio na sociedade japonesa daquela época. Mesmo a Escola Tendai, que se fundamentava originariamente no Sutra de Lótus, foi aos poucos caindo sob a influência das doutrinas esotéricas e dos rituais da escola Verdadeira Palavra. Enganando as pessoas com a mística de seus encantamentos e orações, os monges de várias escolas, especialmente da Verdadeira Palavra, buscavam a amizade dos que estavam no poder para obter apoio e proteção.

Esse era exatamente o oposto do comportamento do devoto do Sutra de Lótus. De acordo com os ensinamentos do Sutra, o devoto defendeu a causa da iluminação universal e advertiu as autoridades do governo para que abandonassem doutrinas errôneas.

As pessoas que viveram na mesma época de Nitiren devem ter feito as seguintes perguntas sobre as escolas budistas já estabelecidas: “Elas beneficiam as pessoas ou simplesmente buscam apoio para a autoridade e o poder de si mesmas?” e “Elas combatem a natureza maligna do poder ou entram em conluio com ela?” Infelizmente, as pessoas não tinham como saber qual era a verdadeira natureza dessas escolas.

Conforme Nitiren observa com desprezo, os monges dessas várias escolas budistas aparentavam ser os “mais dignos e sábios”. (WND, v. 1, p. 613.) Mas, na realidade, não há nenhuma base sólida nisso. Em outras palavras, eles enganavam as pessoas ostentando aparência virtuosa e sábia. Os impostores são habilidosos em ludibriar as pessoas. Nesse caso, a única solução real está em cada um se tornar mais sábio. Portanto, para estimular as pessoas a tomarem decisões prudentes, Nitiren continua com sua punição devastadora. Ele diz: “Se um cachorro latir para um leão, terás as vísceras apodrecidas. O demônio asura, que atirou uma flecha na direção do Sol, teve a cabeça partida em sete pedaços”. (Cf. WND, v. 1, p. 613.) Os monges da Verdadeira Palavra e suas opiniões extravagantes são iguais a esses cachorros e demônios asuras, afirma ele. Para proteger o ensinamento correto, Nitiren se posiciona corajosamente contra os ensinos errôneos que, além de causar sofrimento entre as pessoas, poderiam facilmente pôr o país inteiro no caminho da ruína.

Se não gravar no fundo do coração o solene espírito de Nitiren de proteger a Lei, não poderá ser considerado como genuíno discípulo. Essa passagem transmite, de forma vívida, o nobre compromisso de Nitiren de continuar lutando, mesmo que seja totalmente só, para proteger o Sutra de Lótus e defender o espírito do Buda Sakyamuni.

Apoiar quem trabalha pelo bem-estar dos outros e censurar aqueles que discriminam as pessoas; estar aberto para os ideais que beneficiam a humanidade e rejeitar os que infligem sofrimento — esse é o espírito do genuíno humanismo. Foi com esse espírito que Nitiren Daishonin, o devoto do Sutra de Lótus, lutou. Por isso, ele é “como o Sol ou o leão”. (WND, v. 1, p. 613.)

Vamos viver também como leões e como o Sol radiante. O leão é o destemido rei dos animais. Com todo o esplendor, o Sol ilumina a sociedade e o mundo, enchendo o coração das pessoas de esperança.

Certa ocasião, o escritor e crítico japonês Mimpei Suguiura (1913–2001) fez o seguinte comentário: “Após a Segunda Guerra Mundial, a Soka Gakkai se devotou a estimular as pessoas. Os seres humanos somente podem ser aprimorados na companhia de outros seres humanos”.(Artigo publicado no jornal Seikyo Shimbun, de 18 de novembro de 1999.)

Superar serenamente todos os tipos de críticas e de ofensas e ajudar as pessoas a obterem sabedoria e discernimento é a essência de nosso movimento Soka pela revolução humana. Está aí a batalha para alcançar a paz e a prosperidade na sociedade por meio da ampla propagação dos ideais e princípios humanísticos do budismo, assim como Nitiren nos instrui a fazer.

Nesse escrito, Nitiren, sem dúvida, busca transmitir a Nitimyo a impressionante convicção de que os leões são destemidos e de que o Sol é invencível. Ele ainda afirma que, por meio da fé na Lei Mística, podemos abrir o caminho para uma vida de bem, de felicidade e de vitória.

A época requer uma revolução na liderança

Em julho de 1260, Nitiren Daishonin concluiu o tratado “Sobre o Estabelecimento do Ensinamento Correto para a Paz da Nação”. Nele, Nitiren fez a predição de que, se o ensinamento correto não fosse seguido, o país sofreria a revolta interna e a invasão estrangeira num futuro próximo. Essas eram apenas duas das calamidades conhecidas como as três calamidades e os sete desastres10 que ainda não haviam assolado o Japão. Nitiren entregou este tratado como uma advertência ao regente aposentado Hojo Tokiyori, a pessoa mais poderosa no clã governante do Japão.

No entanto, nem o governante nem a população deram atenção às advertências de Nitiren. Recusaram-se a acreditar nas palavras dele após uma delegação de emissários do império mongol ter chegado à costa do Japão. Ao contrário, monges invejosos, pertencentes a outras escolas budistas, e autoridades do governo conspiraram para fazer com que Nitiren fosse executado em Tatsunokuti.11 Assim, como resultado da calúnia contra o ensinamento correto amplamente difundido na sociedade, Nitiren diz que as divindades celestiais — as forças protetoras do Universo — abandonaram o país e, por causa disso, sua predição de que ocorreria a invasão estrangeira, havia se concretizado. Em outubro de 1274, um ano antes de Nitiren redigir “A Supremacia da Lei”, o exército mongol atacou o Japão pela primeira vez.

Até ocorrer o primeiro ataque das forças estrangeiras, o povo estava displicentemente confiante e despreocupado. Mas, uma vez que o país fora realmente atacado, todos entraram em pânico e ficaram confusos e amedrontados. “Nenhum deles”, escreveu

Nitiren, “teve a ousadia de assumir uma atitude arrogante”. (WND, v. 1, p. 613.) E ele chega a dizer que, se o exército mongol atacasse novamente, provavelmente não haveria ninguém que fosse corajoso o suficiente para enfrentá-lo. (WND, v. 1, p. 613.)

Além disso, em abril de 1275, alguns meses antes desta carta ser escrita, outra delegação de emissários mongóis chegou ao Japão. O país foi lançado em novo tumulto. O governo que, posteriormente, decidiu decapitar os enviados (em setembro do mesmo ano), apressou-se em aumentar as medidas de defesa e de segurança. E ainda solicitou aos templos budistas e aos santuários xintoístas de todo o país que orassem pela derrota dos invasores estrangeiros.

“Somente Nitiren predisse essa invasão estrangeira.” (WND, v. 1, p. 613.) Nitiren foi o único que compreendeu perfeitamente a situação com base no aguçado discernimento proporcionado pelo budismo. Ele fez repetidas advertências sobre as duas calamidades que ainda faltavam ocorrer. É exatamente como o Buda diz: “Por três vezes, eu me destaquei por ter esse conhecimento [profético]”.12

Começando com a apresentação de “Sobre o Estabelecimento do Ensinamento Correto para a Paz da Nação”, Nitiren protesta três vezes13 ante às autoridades. Persevera em meio a uma impiedosa perseguição e a grandes dificuldades. Foi uma batalha que surgiu de seu apaixonado desejo de salvar todas as pessoas do sofrimento. Uma batalha nunca antes vista para transformar fundamentalmente a mentalidade arraigada na sociedade, que a impedia de distinguir o certo do errado.

Na época da invasão mongol, aqueles que, até então, eram orgulhosos e arrogantes ficaram repentinamente assustados. Nitiren fez esta observação: “Todos (...) se acovardaram”. (WND, v. 1, p. 613.)

No entanto, refletindo sua benevolente decisão de conduzir cada pessoa à felicidade, ele declara: “Nas batalhas, os soldados consideram o general como sua alma. Se o general perder a coragem, seus soldados vão se acovardar”. (WND, v. 1, p. 613.)

O Japão estava diante da perspectiva de ter de resistir a uma calamidade nacional sem precedentes. Justamente, num momento como esse, havia a necessidade de existirem líderes com coragem e discernimento apropriados. No entanto, os governantes de alto escalão do governo militar tinham perdido a capacidade de tomar decisões corretas e estavam dominados pelo medo. No que diz respeito à diplomacia, decapitar sumariamente os enviados de outro país não poderia ser considerado atitude normal nem sensata.

Nitiren diz que, assim como um general que demonstra covardia na batalha faz com que os soldados percam a coragem, aqueles, governados por líderes incorretos, ficarão com medo e se sentirão acovardados. O mesmo ocorreu com o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Um grupo de líderes deploravelmente desencaminhados levou o país à ruína. Os indivíduos conduzidos por líderes tolos são realmente infelizes.

“Não devemos permitir essa situação em que as pessoas passam pelo mais terrível infortúnio por causa de líderes incompetentes! Agora é o momento de realizar uma revolução na liderança!” — essa foi a essência da ardente determinação de Nitiren em lutar sempre baseado no firme compromisso com o bem-estar das pessoas.

Onde o Japão encontraria um verdadeiro líder, um “grande general” que pudesse tirar o país daquela difícil situação? Ao desafiar Ryokan,14 para realizar um debate público, Nitiren proclamou: “Eu, Nitiren, sou o principal devoto do Sutra de Lótus em todo o Japão, um grande general que consegue derrotar o exército da nação mongol”. (WND, v. 2, p. 324.)

Nessa declaração, podemos discernir o supremo estado de vida de Nitiren — sua profunda consciência de que apenas ele poderia realmente salvar o país da calamidade que o ameaçava.

Vamos, portanto, tomar estas palavras como diretrizes de liderança: “Nas batalhas, os soldados consideram o general como sua alma. Se o general perder a coragem, seus soldados vão se acovardar”. (WND, v. 1, p. 613.)

O sr. Makiguti, tendo sublinhado essa passagem em seu exemplar dos escritos de Nitiren Daishonin, sempre demonstrava tais palavras em seu comportamento. O sr. Toda e eu, em meio a grandes batalhas em prol do Kossen-rufu, também líamos essa passagem junto dos companheiros como fonte de força e inspiração para nosso avanço.

Quanto mais problemática a época, independentemente do desafio, mais essenciais se tornam a atitude e a decisão das pessoas que ocupam posições de liderança. Os líderes estão repletos de energia? Estão transbordantes de entusiasmo e de um apaixonado espírito de luta? Eles possuem uma destemida e tenaz determinação para vencer diante das provações mais difíceis?

Coragem inspira coragem. Uma onda faz surgir milhares de outras ondas, que se propagam vigorosamente pela Organização até que todos sejam encorajados, produzindo por fim uma extraordinária onda para a vitória. Tudo depende dos líderes.

Este ano é o bicentenário de nascimento de Abraham Lincoln (1809–1865), 16º presidente dos Estados Unidos. O famoso poeta americano do povo, Walt Whitman (1819–1892), cantou em homenagem a esse líder, que morreu tragicamente assassinado. Whitman chamou-o, num poema, de “Ó, Capitão! Meu Capitão!”15; em outro, descreveu-o assim:

“Cortês, sincero, justo e decidido —
sob, cuja mão prudente,
Contra o crime mais infame
na história jamais conhecido
Em nenhuma terra
nem em época alguma,
Salvou-se a união desses Estados.”16

Whitman prestou comovente tributo a Lincoln que, como pioneiro da democracia, conduziu o navio de sua nação rumo à concretização de um grande ideal.

Como praticantes do Budismo Nitiren, estamos dando continuidade a nossa épica viagem do Kossen-rufu. A bordo do grande navio da Soka Gakkai, vamos conduzir todas as pessoas dos Últimos Dias à felicidade. Numa querida canção da Soka Gakkai, encontramos o seguinte verso: “Este navio segue no rumo certo para uma histórica conquista”. (Verso da canção Kofu ni Hashire [Rumo ao Kossen-rufu]). Portanto, criemos uma história gloriosa e indestrutível neste mais nobre dos empreendimentos humanos ao qual aspiramos concretizar.

(Daibyakurengue, edição de julho de 2009.)

Notas:

1. Devadatta: primo e discípulo do Buda Sakyamuni. Porém, tornou-se inimigo do Buda. Ele causou a desunião na Ordem Budista e tentou matar Sakyamuni. Consta que, por causa disso, Devadata caiu vivo no inferno. No entanto, no Sutra de Lótus, Sakyamuni prediz que Devadatta atingirá a iluminação como um Buda chamado Rei Celestial.

2. Ajatashatru: rei de Magadha, na Índia, na época de Sakyamuni. A pedido de Devadatta, ele conquistou o trono prendendo e depondo o próprio pai, o rei Bimbisara, que era seguidor de Sakyamuni. Também tentou matar o Buda e seus seguidores. Posteriormente, arrependeu-se pelos atos de maldade e converteu-se ao budismo.

3. Filha do rei dragão: também chamada de menina dragão. Seu pai, Sagara, era um dos oito grandes reis dragões que viviam num palácio no fundo do mar. De acordo com o 12º capítulo do Sutra de Lótus, “Devadatta”, a menina dragão, de 8 anos, deseja atingir a iluminação após ouvir o Bodhisattva Manjushri pregar o Sutra de Lótus no palácio do rei dragão. Ela aparece diante da assembleia e atinge instantanea­mente o estado de Buda na presente forma.

4. Manjushri: bodhisattva que surge nos sutras como o líder dos bodhisattvas. É considerado símbolo da perfeição e da sabedoria.

5. Veículo único: também denominado de único veículo, veículo do Buda, único veículo do Buda, único veículo do estado de Buda ou supremo veí­culo. Refere-se ao mais elevado ou verdadeiro ensinamento do Buda, que conduz todas as pessoas à iluminação; em outras palavras, o Sutra de Lótus.

6. Causar a desunião na Ordem Budista: Ordem Budista significa a comunidade de pessoas que praticam e propagam a Lei. Romper a união dos praticantes é considerado um dos cinco atos malignos, as mais graves ofensas no budismo.

7. Em “O Inferno é a Terra da Luz Tranquila”, Nitiren escreve: “Este ensinamento [do Sutra de Lótus] é importantíssimo, mas eu vou transmiti-lo para a senhora assim como o Bodhisattva Manjushri explicou à filha do rei dragão o ensinamento secreto para atingir o estado de Buda na presente forma”. (WND-1, p. 457)

8. Ensinamento da semeadura: “semeadura” é o processo em que o Buda planta na vida das pessoas a semente ou a causa fundamental para atingir a iluminação. A entidade desse ensinamento é o Nam-myoho-rengue-kyo.

9. Escola Verdadeira Palavra (Shingon, em japonês): escola budista japonesa fundada por Kobo (774–835), também conhecido como Kukai. Essa escola segue as doutrinas e as práticas esotéricas encontradas nos sutras Mahavairochana e Coroa de Diamantes, suas duas escrituras fundamentais.

10. Três calamidades e sete desastres: catástrofes descritas em vários sutras. As três calamidades ocorrem no final de um kalpa e se apresentam em dois tipos: as três calamidades maiores do fogo, da água e do vento, que destroem o mundo; e as três calamidades menores: a guerra, a peste e a fome, por meio das quais a sociedade humana perece. Os sete desastres incluem a guerra e os desastres naturais e, em geral, ocorrem como resultado da calúnia ao ensinamento correto. Nitiren Daishonin combinou esses dois tipos de calamidades numa única frase para explicar os desastres que afligiam o Japão em sua época. No tratado de 1260, “Sobre o Estabelecimento do Ensinamento Correto para a Paz da Nação”, ele declara que esses desastres ocorriam porque tanto os governantes como a população se voltaram contra o ensinamento correto.

11. Refere-se à Perseguição de Tatsunokuti. No dia 12 de setembro de 1271, o governo mandou prender Nitiren injustamente. Os soldados o levaram no meio da noite a um local chamado Tatsu­nokuti, nos arredores de Kamakura, sede do governo, onde tentaram executá-lo encobertos pela escuridão. A tentativa fracassou e, um mês depois, Nitiren foi exilado em Sado.

12. “Por três vezes, eu me destaquei”: também conhecido como “três exemplos de obtenção de distinção”, “obter distinção por três vezes” ou “distinção em três vezes”. Refere-se ao fato de Nitiren ter feito predições exatas nas três advertências às autoridades do governo. A primeira foi a profecia da revolta interna e da invasão estrangeira, contida no tratado “Sobre o Estabelecimento do Ensinamento Correto para a Paz da Nação”. Depois, a profecia de revolta interna e de invasão estrangeira, apresentada no protesto a Hei no Saemon, quando este veio prendê-lo na noite de 12 de setembro de 1272, por ocasião da Perseguição de Tatsunokuti. E a terceira foi a profecia da invasão estrangeira na última advertência a Hei no Saemon, em 8 de abril de 1274, ao voltar para Kamakura depois do exílio na Ilha de Sado. (Cf. WND-1, p. 579.)

13. As ocasiões em que ocorreram as três advertências são idênticas às descritas como os três exemplos de obtenção de distinção.

14. Ryokan era um eminente monge da escola Preceitos da Verdadeira Palavra do templo Gokuryaku.

15. Walt Whitman, “O Captain! my Captain!” (Ó, Capitão! Meu Capitão!), in Leaves of Grass (Folhas de Relva). Londres: Everyman’s Library, 1968, p. 282.

16. Walt Whitman, “Memories of President Lincoln”, in Leaves of Grass (Folhas de Relva). Londres: Everyman’s Library, 1968, p. 283.


[3] “A Supremacia da Lei”

Vivendo uma vida de princípios e convicção junto com o Mestre

Terceira Civilização, Edição 509, 15/01/2011 / Estudo

Aprendendo com os escritos de Nitiren Daishonin: os ensinamentos para a vitória

As mulheres consideram o marido como a alma delas. Sem o marido, elas perdem a alma. Hoje, mesmo as mulheres casadas encontram dificuldades para o sustento. Apesar de ter perdido sua alma [isto é, seu marido], a senhora [Nitimyo, a mulher a qual o Buda se refere] está vivendo com mais coragem que as mulheres que têm marido. Além disso, por manter a fé nos deuses celestiais e reverenciar o Buda, a senhora é de fato uma mulher que supera as outras. (...)

As divindades celestiais com toda a certeza vão protegê-la e as dez filhas-demônio sentirão compaixão pela senhora. No Sutra de Lótus, o Buda prometeu que, para as mulheres, o sutra servirá como uma lanterna na escuridão ou um navio, quando elas cruzarem o mar, e como protetor, quando viajarem por lugares perigosos. (...) (LS, v. 23, p. 286)

Além do mais, os seres humanos têm dois deuses celestiais, que os acompanham sempre, assim como a sombra segue o corpo. Um deles se chama Dosho e o outro, Domyo. Sentados, um de cada lado, nos ombros da pessoa, eles a protegem [relatando ao céu todas as suas ações]. Portanto, o céu jamais pune aqueles que não cometeram nenhum erro; o que dizer então das pessoas de mérito?

Por essa razão, o Grande Mestre Miao-lo fez esta declaração: “Quanto mais forte a fé da pessoa, maior a proteção dos deuses”. Enquanto a pessoa mantiver uma firme fé, com certeza receberá a grande proteção dos deuses. Digo isso para seu próprio bem. Sei que sua fé sempre foi admirável, mas agora a senhora deve fortalecê-la mais do que nunca. Somente assim as dez filhas-demônio vão conceder-lhe proteção maior. A senhora não necessita buscar por exemplos distantes. Todos, no Japão, desde o soberano até as pessoas comuns, sem exceção, tentaram me prejudicar, mas sobrevivi. A senhora deve compreender que, apesar de eu estar só, isso se deve à minha firme fé.

Se um barco for conduzido por um timoneiro inexperiente, pode virar e afogar todas as pessoas a bordo. Da mesma forma, ainda que a pessoa possa ter grande força física, se carece de um espírito resoluto, até as suas diversas habilidades não serão de nenhuma utilidade. Neste país, pode ser que haja muitas pessoas sábias, mas elas não conseguem utilizar sua sabedoria porque são governadas por líderes tolos. (...)

Nessa ocasião [em que os mongóis atacam novamente], aqueles que declararam que não me veriam nem me dariam ouvidos juntarão as palmas das mãos e assumirão a fé no Sutra de Lótus. Até mesmo os seguidores das escolas Nembutsu e Zen recitarão o Nam-myoho-rengue-kyo. (...)

Quando eu estava para ser decapitado, o Honrado pelo Mundo da Grande Iluminação assumiu meu lugar. E isso acontece no presente, assim como ocorreu no passado. Todos vocês são meus apoiadores leigos. Portanto, como podem não atingir o estado de Buda? (WND, v. 1, p. 613-615)

Por meio do poder da fé na Lei Mística, aqueles que mais sofreram conseguem atingir a maior felicidade. O Budismo de Nitiren Daishonin permite que as pessoas, que triunfaram sobre as dificuldades e as adversidades, se tornem líderes que inspiram muitos outros indivíduos.

Nitiren Daishonin procurou fazer que todos os seus seguidores se tornassem genuínos praticantes da Lei Mística. Ele viveu entre pessoas comuns e se empenhou em treinar autênticos discípulos que fossem capazes de concretizar a felicidade tanto para si próprios como para os outros. Na carta, “A Supremacia da Lei”, está incutido o desejo benevolente de que sua destinatária, Nitimyo, e a filha, Oto, tivessem uma vida verdadeiramente feliz. E, para isso, que elas desenvolvessem uma fé tão forte que lhes permitisse vencer com resiliência qualquer desafio que se apresentasse na época maléfica em que viviam. As palavras do Buda Nitiren pintam uma vívida imagem da sinceridade de Nitimyo que se esforçava para seguir a orientação dele e se devotar ao caminho da fé.

Para Nitimyo, e para muitas outras seguidoras de Nitiren Daishonin, a resposta para questões fundamentais como “Qual é o caminho correto da vida?” e “Como posso viver uma existência realmente significativa?” estava em avançar junto com esse grande mestre do Budismo que, apesar dos obstáculos críticos que enfrentou, se manteve firme em seus princípios e convicções. Neste e também em muitos outros escritos, o Buda elogia e enaltece de forma irrestrita a fé de suas discípulas. Não há dúvidas de que esse elogio teve como inspiração sua ardente esperança de que todas elas, sem exceção, desfrutassem uma vida vitoriosa e feliz.

Meu mestre, Jossei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, costumava dizer: “Quando as mães em todos os lugares forem felizes, teremos a verdadeira paz no mundo”. Compartilho exatamente desse sentimento e tenho agido de forma consistente, acreditando que a aliança das mulheres Soka — que levam uma vida feliz e vitoriosa — terá um impacto profundo no mundo e contribuirá para a criação de uma era das mulheres.

Esta parte da explanação de “A Supremacia da Lei” enfocará os princípios básicos da fé delineados por Nitiren Daishonin, para que possamos ser vitoriosos na vida e especialistas na arte da felicidade.

A vitória está em esforçar-se com o mesmo comprometimento do Mestre

“As mulheres consideram o marido como a alma delas. Sem o marido, elas perdem a alma” (WND, v. 1, p. 614), escreveu Nitiren Daishonin no Japão feudal do século 13. “Alma” pode ser interpretada aqui como “apoio”, “esteio” ou “sustento”.

As epidemias e a fome eram desenfreadas por todo o país e a ameaça de sofrerem uma segunda invasão do exército mongol era iminente. Deve ter sido uma árdua batalha para Nitimyo sobreviver naquela época tumultuada sem ter o marido para apoiá-la e protegê-la. No entanto, ela não se entregou à autocompaixão nem ao desespero. Sem se deixar intimidar pela situação, Nitimyo continuou a se aplicar firmemente à prática budista, assim como o Buda havia instruído.

“A senhora é de fato uma mulher que supera as outras” (WND, v. 1, p. 614), afirma Nitiren Daishonin. Creio que esses elogios a Nitimyo também podem ser estendidos a todas as mulheres que praticam o Budismo Nitiren. O Buda garante a Nitimyo que se ela continuar a recitar o Nam-myoho-rengue-kyo com toda a sinceridade, conseguirá vencer os sofrimentos e o carma negativo, e escreverá uma triunfante história pessoal. E estas não são suas únicas palavras de elogio dirigidas a ela. Nitimyo havia viajado para visitar Nitiren Daishonin enquanto ele estava exilado na distante ilha de Sado. Aquela era uma época de intensas perseguições que levaram os outros seguidores do Buda a abandonar a prática da fé. Por isso, ele exclama: “Foi por demais extraordinário para ser verdade” (WND, v. 1, p. 614).

Nitimyo não viajou somente até à ilha de Sado. Após Nitiren Daishonin ser perdoado do exílio e ter ido morar no Monte Minobu,2 ela também o visitou nesse local, manifestando seu espírito de procura e o desejo de retribuir às dívidas de gratidão que tinha com ele. O Buda Nitiren Daishonin confirma vigorosamente que, em razão da sincera fé de Nitimyo, as forças protetoras do Universo vão protegê-la e, sem falta, cuidarão dela de forma benevolente.

A verdadeira profundidade de nosso comprometimento com a fé revela-se num momento crítico. A tônica está no fato de continuarmos ou não, quando realmente importa, agindo com o mesmo sentimento de nosso mestre.

Da perspectiva do Budismo, o exílio de Nitiren Daishonin em Sado foi simplesmente uma intriga desonesta promovida por forças hostis para criar uma separação radical entre ele e seus seguidores. Isso ocorreu porque as funções malignas sempre procuram dividir as forças do Buda.

A Soka Gakkai é a comunidade de praticantes que estão cumprindo a intenção e o decreto do Buda na época atual. Ao longo de nossa história, enfrentamos incontáveis “tramoias” das forças malignas que estavam determinadas a romper os laços de mestre e discípulo que nos uniam. Mas esses ataques acabaram servindo, na verdade, para mostrar quem realmente compartilhava o comprometimento do Mestre.

Foi assim, durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo militar japonês tomou medidas severas contra as atividades da Soka Kyoiku Gakkai (literalmente, Sociedade Educacional de Criação de Valores, precursora da Soka Gakkai) e prendeu nosso primeiro presidente, Tsunessaburo Makiguti. Apesar de os altos dirigentes da Organização terem, um após outro, traído e abandonado o Sr. Makiguti, o único a manter-se como leal discípulo até o fim foi Jossei Toda, compartilhando a provação da prisão junto com seu Mestre.

Posteriormente, na época em que foi realizada a terceira cerimônia de falecimento do Sr. Makiguti, olhando em prantos para uma foto de seu falecido mestre, o Sr. Toda manifestou estas famosas palavras:

“Em sua vasta e ilimitada compaixão, o senhor permitiu que eu o acompanhasse até mesmo na prisão. (...) O benefício disso foi o fato de eu ter conhecido minha existência anterior como Bodhisattva da Terra3 e ter assimilado com minha vida até mesmo um pequeno grau do significado do sutra [de Lótus]. Poderia haver felicidade maior que esta?” (TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1983, v. 3, p. 386.)

Jossei Toda mostrou de que forma é possível triunfar sobre todas as funções malignas e todas as adversidades, quando nos devotamos sinceramente ao Kossen-rufu com o mesmo espírito de nosso mestre. Esses esforços também nos permitem desenvolver amplo estado de vida transbordante de ilimitada boa sorte e de benefícios.

Fica evidente que, com o dedicado comprometimento de Nitimyo em praticar a Lei Mística junto com o Buda Nitiren, ela confiava totalmente nele como um verdadeiro mestre do Budismo e uma pessoa que estava empreendendo uma genuína batalha pela felicidade de toda a humanidade. As mulheres Soka estão dando continuidade ao nobre espírito de fé demonstrado por Nitimyo.

“Fazer a viagem para visitar Nitiren Daishonin” (WND, v. 1, p. 614) — essa ação, em termos de nossas atividades de hoje, pode ser comparada a unir firmemente nosso coração ao de nosso mestre e concretizar vitoriosas conquistas no grandioso palco do Kossen-rufu. A unicidade de mestre e discípulo não se define pela distância física. Enfim, tudo se resume no comprometimento e nas ações do discípulo.

“Budismo é vitória”

Com base numa passagem do 23º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios”, Nitiren Daishonin explica que o sutra servirá como “uma lanterna na escuridão”, “um navio para cruzar o mar” e “um protetor em locais perigosos” (WND, v. 1, p. 614), enfatizando que somente esse sutra ensina que as mulheres podem atingir a iluminação.

Outra passagem do capítulo “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios” descreve assim um dos profundos benefícios do Sutra de Lótus: “Pode fazer que os seres vivos rejeitem toda a angústia, a doença e a dor. Pode desatar todos os laços de nascimento e morte”.5 Como é maravilhoso poder encontrar o Sutra de Lótus! Como são imensos os benefícios decorrentes de sua prática!

De fato, os benefícios descritos no capítulo “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios” não estão limitados apenas às mulheres, mas se aplicam a todos os seres vivos. Nesta carta, Nitiren Daishonin faz, no entanto, um acréscimo especial com as palavras “para as mulheres”. Essas palavras transmitem seu desejo de incentivar Nitimyo, calorosamente, proporcionando-lhe a convicção de que, de acordo com o sutra, o futuro dela está garantido. O Budismo é o principal aliado de todas as pessoas que estão sofrendo.

Em seguida, o Buda Nitiren faz uma referência às divindades celestiais Dosho e Domyo. De acordo com a sabedoria budista, essas divindades vivem nos ombros esquerdo e direito da pessoa, desde o nascimento, registrando constantemente suas ações boas e ruins e se revezando para apresentar um relatório ao céu. Já que um deles está sempre por perto, os registros que anotam são detalhados e precisos. E, graças ao relatório constante que eles fazem, não há nenhuma possibilidade de omissão nem de subterfúgios. Portanto, Nitiren Daishonin está confirmando a Nitimyo que as divindades celestiais estão plenamente cientes de todas as suas ações meritórias, sejam grandes, sejam pequenas.

A lei de causa e efeito é rigorosa e imparcial. A astúcia e a desonestidade não levam ninguém para longe no mundo do Budismo. No entanto, todos os nossos esforços sinceros e honestos retornarão na forma de boa sorte e benefício. As pessoas que se empenham com toda a seriedade em prol do Kossen-rufu serão totalmente protegidas. Os indivíduos responsáveis e dedicados certamente serão recompensados. Esta foi a conclusão a que cheguei com base em mais de sessenta anos de prática.

Por meio de seus escritos, Nitiren Daishonin enfatiza que os esforços inconspícuos, ou as batalhas que ninguém mais está presenciando, definitivamente produzirão benefícios. Ele diz, por exemplo, que: “A virtude invisível traz recompensa visível” (WND, v. 1, p. 940), “O que está oculto transforma-se em virtude manifesta” (WND, v. 1, p. 848) e “Apesar de a integridade não ser notada à primeira vista, no devido tempo será amplamente recompensada” (WND, v. 1, p. 636).

Durante os anos em que trabalhei para o Sr. Toda, devotei-me sinceramente em incontáveis batalhas nos bastidores. Quando ele enfrentou enormes adversidades, eu o apoiei de muitas maneiras que ninguém jamais soube. Por causa desses esforços, com frequência, eu não conseguia participar das reuniões e atividades da Gakkai. Observando isso, houve alguns altos dirigentes que, insensivelmente, disseram: “Ikeda parou de praticar”. Porém, eu não fiquei nem um pouco abalado, pois estava convicto de que apoiar e ajudar o Sr. Toda levaria à propagação do Kossen-rufu.

Um dia, eu estava nessa batalha solitária quando o Sr. Toda me disse, com um brilho nos olhos: “Daisaku, budismo é vitória. Vamos lutar como homens, dando tudo de nós enquanto vivermos. A vida é eterna. A prova de nossos dedicados esforços aparecerá com toda a certeza de alguma forma nesta existência”.

Agora, compreendo que é exatamente conforme ele disse. As palavras desse grande mestre do Kossen-rufu são isentas de qualquer erro que seja. As causas para a extraordinária prova real, que se manifesta na forma da atual propagação mundial do Kossen-rufu, podem ser encontradas nas abnegadas batalhas que empreendi quando era jovem para desenvolver nosso movimento. Posso dizer abertamente que tudo o que sou ou que alcancei até hoje são a boa sorte e o benefício resultantes de eu ter feito o máximo que pude para apoiar e proteger o Sr. Toda. Assim é o mundo do Budismo.

Os ensinamentos do Sutra de Lótus constituem um caminho direto pelo qual as pes­soas comuns, possuidoras de profundo espírito de procura, atingem a plena felicidade. Como Nitimyo deve ter achado inspiradora a explanação que o Buda Nitiren Daishonin fez sobre os grandes e indiscutíveis benefícios decorrentes da prática desse sutra!

(Daibyakurengue, edição de agosto de 2009.)

Notas:

1. Dez filhas-demônio: Dez divindades protetoras femininas que aparecem no Sutra de Lótus como as “filhas dos demônios rakshasa” ou as “dez filhas rakshasa”. No 26º capítulo do Sutra de Lótus, intitulado “Dharani”, elas juram zelar pelos praticantes do sutra e protegê-los, dizendo que punirão qualquer um que lhes cause problemas.

2. Monte Minobu: Localizado na atual Província de Yamanashi, no Japão. Nitiren Daishonin viveu nesse local durante seus últimos anos de vida, de maio de 1274 a setembro de 1282. Nessa localidade, ele se dedicou a educar seus discípulos, dirigindo os esforços de propagação e redigindo tratados doutrinais.

3. Existência anterior como Bodhisattva da Terra: No 15º capítulo do Sutra de Lótus, “Emergindo da Terra”, Sakyamuni conclama das profundezas da terra incontáveis discípulos a quem ele confia a propagação da Lei Mística nos Últimos Dias da Lei. São os Bodhisattvas da Terra. Na prisão, o Sr. Toda conscientizou-se de sua identidade como Bodhisattva da Terra.

4. Dosho e Domyo: Essas duas divindades, que aparecem em vários escritos budistas, simbolizam as funções da lei de causa e efeito na vida da pessoa.

5. No capítulo “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios” consta: “Este sutra [de Lótus] pode salvar todos os seres vivos. Este sutra pode fazer que todos os seres vivos se libertem da angústia e do sofrimento. Este sutra pode trazer grandes benefícios a todos os seres vivos e realizar seus desejos. (...) É como (...) alguém que encontra um barco com o qual pode atravessar a água, um homem doente que encontra um médico, como alguém que está na escuridão e acha uma lâmpada” (LS, v. 23, p. 286).



[3] “A Supremacia da Lei” - Parte 2

Parte 4

Terceira Civilização, Edição 510, 20/02/2011 / Estudo

Por essa razão, o Grande Mestre Miao-lo1 fez esta declaração: “Quanto mais forte a fé da pessoa, maior a proteção dos deuses”.2 Enquanto a pessoa mantiver uma firme fé, com certeza receberá a grande proteção dos deuses. Digo isso para seu próprio bem. Sei que sua fé sempre foi admirável, mas agora a senhora deve fortalecê-la mais do que nunca. Somente assim as dez filhas-demônio vão conceder-lhe proteção maior (WND, v. 1, p. 614).

(Continuação da edição anterior.)

EXPLANAÇÃO

A disposição de sempre avançar a partir do momento presente

Citando uma passagem do Grande Mestre Miao-lo, Nitiren Daishonin salienta que as pessoas possuidoras de uma firme fé na Lei Mística certamente serão protegidas pelos deuses budistas. Esta é uma garantia de que as forças ou as funções protetoras do Universo protegerão todos aqueles que se devotam ao Kossen-rufu com inabalável comprometimento.

Os escritos budistas descrevem que a mente muda “oito milhões e quatro mil vezes” num único dia,3 o que indica quão a mente humana é inconstante. A mente também pode sofrer influências malignas. É de fato extremamente difícil fazer a mente se manter constante em meio às tormentas da escuridão fundamental que se alastram na poluída era dos Últimos Dias da Lei. A firme fé ou a corajosa determinação de perseverar para manter o ensinamento correto é, portanto, de vital importância.

Não conseguimos fazer que as divindades celestiais entrem em ação com uma atitude fraca ou passiva na fé. As funções protetoras dessas forças benevolentes do Universo surgem em resposta às orações e às ações inspiradas por uma inabalável determinação de vencer e de jamais ser derrotado por nenhuma dificuldade.

Na passagem anterior de “A Supremacia da Lei”, Nitiren Daishonin diz a Nitimyo: “Digo isso para seu próprio bem” (WND, v. 1, p. 614). Ele está ciente de que Nitimyo é uma mulher de forte fé. No entanto, ele aproveita essa oportunidade para ensinar a ela a chave para estabelecer uma prática budista ainda mais incontestável. Em primeiro lugar, o Buda presta-lhe um tributo por seu genuíno comprometimento em buscar o caminho correto do Budismo, fato que havia ficado evidente com as ações dela até então. Ele escreveu: “Sei que sua fé sempre foi admirável” (WND, v. 1, p. 614). E, então, a orienta da seguinte forma: “Mas agora a senhora deve fortalecê-la [sua fé] mais do que nunca” (WND, v. 1, p. 614).

De forma alguma, Nitiren Daishonin está indicando aqui que Nitimyo — que havia demonstrado ser uma dedicada discípula ao visitá-lo tanto em Sado como em Minobu — não tinha espírito de procura nem gratidão. Contudo, ele lhe pede para fortalecer ainda mais a fé, pois quer lhe ensinar um princípio fundamental da prática budista. Em outras palavras, trata-se do espírito de sempre avançar e de crescer continuamente — hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje.

O Budismo de Nitiren Daishonin ensina o princípio místico da verdadeira causa4 — no qual a cada momento fazemos uma nova causa — e enfatiza o presente e o futuro. Independentemente de quão nosso empenho na prática budista tenha sido admirável no passado, se permitirmos que nossos esforços parem, consequentemente também pararemos de crescer na fé. Conforme diz o ditado: “Não avançar é o mesmo que retroceder”.

É claro que pode haver casos em que as pessoas não conseguem atuar como gostariam, por causa da saúde debilitada ou de enfermidades decorrentes da idade. E, algumas vezes, podem haver certas situações que restringem os esforços das pessoas em prol do Kossen-rufu. Porém, independentemente da situação ou das circunstâncias, o importante é não afrouxar nossa determinação. Se isso acontecer, não podemos dizer que temos a “firme fé” que o Buda Nitiren enfatiza ser tão necessária. Não importando quão tenhamos lutado no passado, se pararmos de praticar, então todos os nossos esforços terão sido em vão.

Na última parte desta carta, Nitiren Daishonin também pede a Nitimyo: “Fortaleça sua determinação mais do que nunca” (WND, v. 1, p. 615). De fato, encontramos essas palavras de incentivo por todos os seus escritos.

Uma determinação ainda mais renovada e uma persistente dedicação — este tem sido o espírito da Soka Gakkai desde a época pioneira de nosso movimento. “Avante, avante — sempre avante!” — este é o lema do Kossen-rufu.

Ter uma “firme fé” significa enfrentar a adversidade com toda coragem, sem retroceder sob nenhuma circunstância. As pessoas fracas e indecisas no momento crucial não podem esperar conseguir a proteção das divindades celestiais.

O Grande Mestre Tient’ai5 discute sobre a importância da forte determinação, empregando a seguinte analogia: se o senhor de um castelo for firme, seus homens também serão confiantes. Mas, se ele for covarde, seus homens ficarão com medo e aflitos.6

Não importando quais forem as desencorajadoras dificuldades ou os obstáculos que enfrentarmos, devemos continuar a avançar. Devemos prosseguir com a determinação de fortalecer nossa fé dia após dia e mês após mês, conforme Nitiren Daishonin nos encoraja (WND, v. 1, p. 997).

Na passagem anterior, endereçada a Nitimyo, sinto intensamente a grandiosa compaixão de Nitiren Daishonin pelo bem-estar dela. Exatamente por causa da época tumultuada em que viviam, ele queria ensinar-lhe a verdadeira essência da fé para que pudesse viver uma existência de vitória total. O desejo do Buda era de que todos os seus seguidores se tornassem genuínos discípulos, pessoas de fé invencível e indestrutível.

Os discípulos autoconfiantes tomam a iniciativa de difundir o ensino correto

Nitiren Daishonin diz: “A senhora não necessita buscar por exemplos distantes” (WND, v. 1, p. 614). Em outras palavras, está afirmando convictamente que ele próprio é o perfeito exemplo de uma pessoa que pratica a Lei Mística com “firme fé” e, como resultado, é infalivelmente protegido pelas divindades celestiais.

Desde que apresentara a “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”7 para a autoridade mais poderosa do país (em julho de 1960), Nitiren Daishonin vinha enfrentando graves perseguições que ameaçavam sua vida. Ele escreveu esse tratado com o desejo de livrar todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei do sofrimento e da miséria. Mas, a partir daquele momento, o Buda disse: “Todos, no Japão, desde o soberano até as pessoas comuns, sem exceção, tentaram me prejudicar, mas sobrevivi” (WND, v. 1, p. 614). Toda a população havia se voltado contra Nitiren Daishonin e clamava por sua morte. No entanto, ele conseguiu sobreviver até então. Qual é a razão para isso? Nitiren Daishonin apresenta esta clara explicação: “Isso se deve, apesar de eu estar só, à minha firme fé” (WND, v. 1, p. 614). Essa passagem ressoa profundamente em meu coração.

Nitiren Daishonin levantou-se inteiramente só, mesmo diante de um grande número de forças hostis e antagônicas. Entretanto, ele declarou que a vitória não é decidida por números, mas sim pelo sentimento e pela determinação da pessoa. Sua declaração, que diz que “Isso se deve (...) à minha firme fé”, fundamentada na convicção proveniente de sua experiência, envolve vários ingredientes essenciais da fé. Entre eles, o firme comprometimento com o nobre juramento em prol do Kossen-rufu, a corajosa e vigorosa determinação de lutar decididamente contra o mal e a injustiça e o sentimento de compaixão para conduzir as outras pessoas à iluminação.

Em razão da forte fé no Sutra de Lótus e da destemida coragem do leão, o Buda Nitiren conseguiu triunfar sobre todos os obstáculos.

Como Nitimyo deve ter achado tranquilizadora a invencível convicção de Nitiren Daishonin! Ao atribuir sua sobrevivência à “firme fé”, pode ser que o Buda quisesse transmitir à sua discípula o potencial poderoso e infinitamente nobre existente nas profundezas da vida de cada pessoa.

Creio que uma das razões para Nitiren Daishonin descrever nos escritos as batalhas empreendidas por ele seja seu desejo de que surjam genuínos discípulos de inabalável determinação. Do início ao fim, o Buda pede a seus seguidores que se empenhem da mesma forma e com o mesmo espírito que ele. Ao compartilhar os detalhes de suas lutas, Nitiren Daishonin também nos mostra que, se seguirmos o exemplo de seu espírito e seus esforços, conseguiremos desenvolver o mesmo estado de vida destemido.

“Tornar todas as pessoas iguais a mim, sem nenhuma distinção entre nós” (LS, v. 2, p. 36), este é o grande desejo do Buda. Ou seja, é ajudar todas as pessoas a conquistar o mesmo estado de iluminação que ele atingiu. Isso reflete a visão budista de que todas as pessoas possuem o mesmo potencial ilimitado do Buda.

O Budismo, o ensinamento sobre a iluminação universal, começou com a decisão de Sakyamuni de levantar-se só e compartilhar com os outros a verdade que ele havia elucidado. Da mesma forma, a ampla propagação da Lei Mística nos Últimos Dias da Lei começou com Nitiren Daishonin, levantando-se só e declarando o estabelecimento de seu ensino, o Nam-myoho-rengue-kyo. E a Soka Gakkai iniciou com cada um dos três primeiros presidentes — unidos pelos laços de mestre e discípulo —, levantando-se e tomando a iniciativa de propagar o Budismo de Nitiren Daishonin. Durante o respectivo período de liderança de cada um deles, a Soka Gakkai reativou o fluxo do Kossen-rufu, garantiu as bases para o futuro desenvolvimento e gerou uma brilhante prosperidade para o Kossen-rufu Mundial.

Compartilhar do mesmo espírito de nosso mestre significa entrar em ação e se empenhar na prática budista com o mesmo espírito do mestre de levantar-se só. Isso constitui a verdadeira unicidade de mestre e discípulo.

Nitiren Daishonin procurava treinar discípulos admiráveis e autoconfiantes que perseverassem na propagação da Lei Mística, independentemente de outros se juntarem a eles ou não. Nitimyo deve ter se sentido profundamente comovida com o incentivo de Nitiren Daishonin nesta carta. Além disso, ela deve ter-se inspirado a aprofundar seu comprometimento para se empenhar com um firme espírito de levantar-se só em prol do Kossen-rufu.

O Budismo ensina o princípio dos três mil mundos num único momento da vida. Nitiren Daishonin mostra com o próprio exemplo que nossa determinação ou decisão interior a cada momento tem um papel importantíssimo na criação da vitória. Um espírito corajoso e decidido é contagioso. A pessoa corajosa desperta a coragem nos outros.

Na passagem seguinte, o Buda Nitiren Daishonin indica que todo o Japão estava contaminado pelo medo.

Se um barco for conduzido por um timoneiro inexperiente, pode virar e afogar todas as pessoas a bordo. Da mesma forma, ainda que a pessoa possa ter grande força física, se carece de um espírito resoluto, até as suas muitas habilidades não serão de nenhuma utilidade. Neste país, pode ser que haja muitas pessoas sábias, mas elas não conseguem utilizar sua sabedoria porque são governadas por líderes tolos. (...)

Nessa ocasião [em que os mongóis atacam novamente], aqueles que declararam que não me veriam nem me dariam ouvidos juntarão as palmas das mãos e assumirão a fé no Sutra de Lótus. Até mesmo os seguidores das escolas Nembutsu e Zen recitarão o Nam-myoho-rengue-kyo (...) (WND, v. 1, p. 614-615).

O papel central das mulheres na construção da paz

Enquanto incentiva Nitimyo com a profunda esperança de que ela se levante convictamente e que avance com forte fé, Nitiren Daishonin também observa a situação social da época. Nessa passagem, ele repreende as incompetentes autoridades governamentais do país, destacando como os líderes devem se comportar da perspectiva da filosofia de liderança e dos ideais encontrados no Sutra de Lótus.

Diante da iminente segunda invasão do exército mongol, toda a nação sentia medo e desespero. Como o Japão poderia se manter afastado desse desastre? Em primeiro lugar, Nitiren Daishonin diz que, se a pessoa que está no leme do navio não tiver habilidade em navegação, todos os que estiverem a bordo podem perder a vida. A seguir, ele explica que, se a pessoa for covarde não importa quanta força física ela tenha, pois não conseguirá fazer pleno uso de sua capacidade.

Dessa maneira, o Buda procura enfatizar que os problemas do país só podem ser superados se seus líderes tiverem sabedoria apropriada e destemida coragem.

Na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, Nitiren Daishonin destaca a suprema necessidade de os próprios líderes do país mudarem. Se os líderes se tornarem sábios, todo o país mudará. Levar a paz à nação depende essencialmente de uma revolução na liderança — uma revolução no coração e na mente dos líderes.

Para começar, na visão de Nitiren Daishonin, a calamidade da invasão estrangeira jamais ocorreria se os governantes tivessem dado atenção a seu conselho e administrado o país de acordo com princípios corretos. Contudo, eles não apenas ignoraram as advertências do Buda, como ainda o perseguiram ativamente. E, mesmo após o exército mongol ter atacado, os governantes continuavam incapazes de tomar decisões certas para o futuro do Japão.

Em meio a essa situação, Nitiren Daishonin procurou deliberadamente transmitir aos seus seguidores a inabalável convicção de que o Kossen-rufu poderia, com toda a certeza, ser alcançado. Mesmo morando em Minobu, ele continuou a escrever incansavelmente, proclamando o ensino correto com um indomável rugido do leão.

No presente escrito, ele declara que, se os mongóis atacassem novamente, seria provável que o povo de toda a nação finalmente abrisse os olhos, compreendesse que suas afirmações estavam corretas e abraçassem a fé na Lei Mística. Isso está de acordo com o princípio de que “quando um grande mal ocorre, um grande bem o sucederá”.8

Como a grave calúnia contra a Lei estava presente em todo o país, a nobre e correta Lei com certeza seria propagada. Nitiren Daishonin declara a Nitimyo que certamente chegaria o momento em que todos aqueles que haviam se recusado a enxergá-lo ou a ouvi-lo iriam se unir na recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, até mesmo os seguidores das escolas Nembutsu e Zen.

Ao reler esta carta, fico novamente impressionado com os esmerados esforços que Nitiren Daishonin empenhou para explanar a suprema filosofia budista de várias perspectivas para suas seguidoras [demonstrando assim um espírito igualitário que está muito além de seu tempo].

Os escritos de Nitiren Daishonin podem ser considerados o ensinamento de uma sólida visão do eu, da vida, da sociedade e do Universo para viver uma existência valorosa e significativa. O Buda explica os princípios e a história do Budismo, esclarece o que é verdadeiro e falso em termos de doutrina, indica o supremo valor e a nobreza de cada pessoa, independentemente de gênero, e ensina a filosofia da transformação. De acordo com o espírito expresso na afirmativa “Não deve haver nenhuma discriminação entre homens ou mulheres” (WND, v. 1, p. 385), Nitiren Daishonin realmente se empenhou para proporcionar a todos os seus seguidores uma filosofia de vida incomparável.

O objetivo do Budismo é a felicidade de todas as pessoas. Em tempos de guerra e de conflito, são as mães e as crianças quem mais sofrem. Não consigo me esquecer da dor excruciante de minha mãe quando ela soube da morte de meu irmão mais velho na guerra. O principal dever dos budistas é criar um mundo totalmente pacífico e seguro para as mães e as crianças. Para isso, temos de mudar a natureza fundamental da sociedade, passando da cultura de guerra e de ganância para a cultura da construção da paz.

As mulheres podem atuar no papel principal desse processo. Quando as mulheres de grande coragem, otimismo e sabedoria se unirem, a sociedade mudará profundamente. Quando surgir uma força extraordinária de mulheres destemidas, a época mudará drasticamente. Quando mulheres de forte sensibilidade e profunda compaixão, como amparadoras e protetoras da vida, entrarem em ação, a sociedade será transformada num nível fundamental.

O Budismo é um ensinamento para encorajar pessoas genuinamente conscientes — homens e mulheres, jovens e idosos — que sejam capazes de traduzir ideais em realidade pela felicidade de si próprios e também dos outros.

Quando eu estava para ser decapitado, o Honrado pelo Mundo da Grande Iluminação assumiu meu lugar. E isso acontece no presente, assim como ocorreu no passado. Todos vocês são meus apoiadores leigos. Portanto, como podem não atingir o estado de Buda? (WND, v. 1, p. 615)

A vitória de cada pessoa contribui para o eterno fluxo do Kossen-rufu

Uma passagem do 10º capítulo do Sutra de Lótus, “Mestre da Lei”, afirma que, ao abraçarem o Sutra de Lótus, as pessoas recebem o apoio de Sakyamuni, que vai carregá-las nos ombros.9 Com base nessa passagem, Nitiren Daishonin declara que Sakyamuni o protegeu, assumindo seu lugar na Perseguição de Tatsu­nokuti.

A seguir, o Buda Nitiren conta a lenda sobre como Kumarayana,10 pai de Kumarajiva,11 foi levado em segurança nas costas de uma estátua de Sakyamuni. “É o mesmo no presente, assim como foi no passado”, (WND, v. 1, p. 615), diz Nitiren Daishonin, enfatizando que, seja no passado da época de Kumarayana, seja no presente da própria época, os princípios do Budismo são os mesmos, e os genuí­nos praticantes do Sutra de Lótus serão protegidos. Ele declara que, de acordo com esse mesmo princípio, todos os budas e divindades celestiais do Universo inteiro manterão a segurança de Nitimyo e ela atingirá o estado de Buda sem falta.

Nitiren Daishonin levantou-se só e deu início à batalha para trazer a paz e a prosperidade ao país, introduzindo os ideais e princípios corretos do Budismo. Muitas pessoas humildes e comuns — entre elas seguidoras como Nitimyo — uniram-se a ele nesse empreendimento. E essa nobre batalha está sendo realizada por nós atualmente em todo o mundo. As pessoas que se levantam por suas convicções são fortes. Elas jamais ficarão assustadas com quaisquer ataques e perseguições.

O famoso escritor francês Victor Hugo (1802-1885) declarou: “Não importa o que façam os tiranos do momento, eles têm como oposição a essência eterna” 12 e “Não há posição mais alta que dar a vida pela justiça”. 13 E declarou também: “É o momento do despertar da consciência humana. (...) Vamos, consciências! Despertem, chegou a hora!”14

O alicerce do Kossen-rufu Mundial está firmemente garantido. Pessoas de todos os lugares estão aguardando o encontro com os inspiradores ideais do humanismo Soka.

A vitória de cada um de nós está se tornando cada vez mais importante. E é essa vitória que contribuirá para o eterno fluxo do grandioso rio do Kossen-rufu Mundial.

(Daibyakurengue, edição de agosto de 2009.)


1. Miao-lo (711-782): Patriarca da escola Tient’ai, na China. É reverenciado como restaurador dessa escola. As três principais obras de Tient’ai intitulam-se: Comentários sobre “O Profundo Significado do Sutra de Lótus”; Comentários sobre “As Palavras e Frases do Sutra de Lótus” e Comentários sobre “Grande Concentração e Discernimento”.

2. Comentário sobre “Grande Concentração e Discernimento”.

3. Essa expressão é empregada para descrever como a mente humana muda constantemente de acordo com as várias causas ou condições externas. Em “Sobre Atingir o Estado de Buda pelas Mulheres”, Nitiren Daishonin escreveu: “Os textos do sutra nos dizem que uma única pessoa, no decorrer de um único dia, têm oito milhões e quatro mil pensamentos. Todos esses vários pensamentos produzem o carma que levará ao renascimento nos três maus caminhos [ou seja, os mundos do inferno, dos espíritos malignos e dos animais]” (WND, v. 2, p. 307).

4. Princípio místico da verdadeira causa: O Budismo de Nitiren Daishonin expõe diretamente a verdadeira causa para a iluminação, o Nam-myoho-rengue-kyo, que é a Lei da vida e do Universo. E ensina o caminho da prática budista de sempre avançar a partir deste momento com base nessa Lei fundamental.

5. Tient’ai (538-597): Também conhecido como Chih-i. Fundador da escola Tient’ai, na China. Suas preleções foram compiladas em obras como “Profundo Significado do Sutra de Lótus”; “Palavras e Frases do Sutra de Lótus” e “Grande Concentração e Discernimento”. Ele propagou o Sutra de Lótus na China e introduziu a doutrina dos três mil mundos num único momento da vida.

6. O oitavo volume de Grande Concentração e Discernimento, de Tient’ai, diz: “Se o governante de uma cidade com muralha for rígido, então aqueles que protegem a cidade serão firmes; mas se o governante for covarde, aqueles que a vigiam ficarão com medo”.

7. “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”: Um dos cinco principais escritos de Nitiren Daishonin. Ele apresentou essa tese a Hojo Tokiyori, regente aposentado, mas com maior poder no clã que governava o Japão. Nesse escrito, ele prediz que a menos que as pessoas imediatamente adotassem a fé no ensinamento correto, ocorreriam sem falta a revolta interna e a invasão estrangeira — duas das sete calamidades que ainda não haviam acontecido.

8. Em “O Grande Mal e o Grande Bem”, Nitiren Daishonin escreveu: “Grandes acontecimentos não têm pequenos presságios. Quando um grande mal ocorre, um grande bem o sucederá. Como a pior calúnia predomina em todo o país, a Lei Suprema se propagará sem falta” (END, v. 4, p. 225).

9. No Sutra de Lótus consta: “Elas [as pessoas que leem e recitam o Sutra de Lótus] são carregadas nos ombros do Honrado pelo Mundo” (LS, v. 10, p. 162).

10. Kumarayana [s.d.]: Viveu no século 4 e foi filho de um ministro de um antigo reino indiano, mas abandonou sua posição para entrar para a Ordem Budista numa época em que o budismo estava prestes a entrar em declínio. Deixou a Índia e cruzou a cordilheira de Pamir, seguindo para o norte e viajando até a China. De acordo com a lenda, Kumarayana levou consigo uma estátua de Sakyamuni, quando saiu da Índia. Dizem que ele carregava a estátua durante o dia e à noite era ela quem o levava nas costas.

11. Kumarajiva (344-413): Erudito budista e tradutor de escritos budistas para o chinês. Estudou o budismo desde jovem e mais tarde difundiu ativamente os ensinamentos Mahayana. No ano 401, a convite de Yao Hsing, governante da dinastia Ch’in posterior da China antiga, Kumarajiva dirigiu-se para a capital, Ch’ang-an, onde se aprofundou na tradução de escrituras budistas. O prodigioso conjunto de obras que ele traduziu inclui o Sutra de Lótus.

12. HUGO, Victor. Pendant l’exil: 1852-1870 [Durante o Exílio: 1852-1870], in (Palavras e Ações). Paris: Albin Michel, v. 2, p. 6, 1938.

13. Ibidem, p. 24.

14. HUGO, Victor. Napoléon le Petit [O Pequeno Napoleão]. In: GAUDON, Shiela (Ed.). Victor Hugo Oeuvres Completes: Histoire [Obras Completas de Victor Hugo: História]. Paris: Robert Laffont, 1987. p. 8-9.


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[3] “A Supremacia da Lei”

Parte 5 - A fé que se fortalece é a chave para a eterna vitória

Terceira Civilização, Edição 512, 09/04/2011 / Estudo

Aprendendo com os Escritos de Nitiren Daishonin: os ensinos para a vitória

Seja lá com quem for que se case, se for inimigo do Sutra de Lótus, então não deve segui-lo [o marido]. Fortaleça sua determinação mais do que nunca. O gelo é feito de água, mas é mais frio que ela. A cor azul vem do índigo, entretanto, quando algo é tingido com ele repetidas vezes, a cor fica mais forte que a da planta do índigo. O Sutra de Lótus permanece o mesmo, contudo, se fortalecer repetidamente sua determinação, sua cor ficará melhor que a dos outros, e você receberá mais benefícios que eles. (...)

Por ter se tornado inimigo do Sutra de Lótus, o povo do Japão causou a própria ruína, assim como a do país. E, como eu afirmo isso, sou chamado de arrogante pelas pessoas de pouca compreensão. Porém, não falo com arrogância. Falo simplesmente porque, se não o fizesse, não seria o devoto do Sutra de Lótus. Além disso, quando mais tarde minhas palavras provarem ser verdadeiras, as pessoas acreditarão com mais prontidão. Como escrevo isso agora, as pessoas do futuro reconhecerão minha sabedoria.

[Os Comentários sobre o Sutra do Nirvana declaram:] “O corpo da pessoa é insignificante ao passo que a Lei é suprema. A pessoa deve dar a vida para propagar a Lei.” Por meu corpo ser insignificante, sou atacado e odiado, mas como a Lei é suprema, ela será propagada sem falta. Se o Sutra de Lótus se propagar, meus restos mortais serão respeitados, e, se forem respeitados, beneficiarão as pessoas. Então, passarei a ser tão reverenciado quanto o Grande Bodhisattva Hatiman o é agora. Você deve compreender que, então, os homens e as mulheres que me apoiaram serão tão grandemente honrados quanto Takenouti e Wakamiya.

Os benefícios por abrir os olhos de uma única pessoa cega são indescritíveis. Como é possível descrever os benefícios por abrir os olhos cegos do povo japonês e por conceder o dom da visão a todos os seres humanos de Jambudvipa e dos outros três continentes? (...)

Posso ser tolo, mas, com toda certeza, não sou inferior a uma raposa nem a um demônio. As pessoas mais nobres da época atual não são de forma alguma superiores a Shakra nem ao garoto

Montanhas de Neve. Entretanto, em virtude da minha baixa posição social, elas rejeitaram minhas sábias palavras. Por essa razão, agora o país está à beira da ruína. Que lamentável! E o que eu acho ainda mais triste é que não poderei salvar os discípulos que se compadeceram de meus sofrimentos. Se algo acontecer, por favor, venha até aqui [no monte Minobu]. Eu as receberei. Vamos morrer de inanição juntos aqui nas montanhas. E, imagino que sua filha, Oto, tenha se tornado uma menina inteligente e admirável. Escreverei novamente (WND, v. 1, p. 615-616).

Explanação

A relação de mestre e discípulo é a base do Budismo Nitiren. Mestre e discípulo conseguem realizar qualquer empreendimento quando estão unidos no mesmo propósito. Tanto no que diz respeito à nossa revolução humana quanto ao desafio para estabelecer o ensino correto para a paz da nação; seguir firmemente o caminho de mestre e discípulo é o trajeto direto para a vitória total.

O Sutra de Lótus fala de “seguir e aprender com esses mestres [da Lei]”.1 Certamente, não há felicidade maior na vida que seguir um mestre exemplar do Kossen-rufu e aprender sobre os princípios e a prática do Budismo. Com esse espírito, eu me dediquei a servir e a apoiar meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda.

Um aspecto profundamente encorajador do caminho de mestre e discípulo da forma como é ensinado no Budismo é que os mestres manifestam e incorporam a essência dos ensinos budistas na própria vida como seres humanos comuns. Ao dar um exemplo pes­soal da dignidade e da nobreza inerentes à vida humana, inspiram os outros e os instigam a percorrer o mesmo caminho ilustre que eles. Seguindo a liderança dos mestres, os discípulos despertos entram em ação com o mesmo espírito para fazer diferença no mundo.

Enquanto dermos continuidade à nobre causa e às batalhas de nosso mestre na fé, o Budismo continuará a se propagar pelo mundo e a iluminar o coração das pessoas como um ensino para a iluminação de toda a humanidade.

O Gosho “A Supremacia da Lei” pode ser considerado um escrito em que Nitiren Daishonin descreve sua batalha contra todo o Japão. Na época em que esta carta foi escrita, notícias de morte e destruição causadas pela invasão mongol difundiam-se pelo país inteiro, deixando todas as pessoas aterrorizadas ante a perspectiva de ocorrer uma segunda invasão. Essa carta contém a corajosa afirmativa de Daishonin de que aquele era o momento de toda a população, dominada pelo medo e pela ansiedade, aceitar a filosofia verdadeiramente humanística como seu esteio.

É provável que muitas pessoas na sociedade tivessem presumido que, tendo se mudado para o monte Minobu, Nitiren Daishonin havia se retirado do mundo. Mas não foi assim. Ele jamais afrouxou o mínimo que fosse em sua batalha espiritual. Ao contrário, por meio do próprio exemplo, ensinou a seus discípulos o destemido espírito de desafiar incessantemente até o fim. Deve ter sido extremamente inspirador para seus discípulos aprenderem o firme espírito de procura do mestre por meio das cartas. Não há dúvidas de que seu vigor e dinamismo espirituais deixaram uma impressão profunda e duradoura no coração deles.

Nitimyo, que recebeu essa carta, deve ter se sentido inspirada a se aplicar na prática com nova determinação, atendendo ao pedido de Daishonin para que sempre avançasse com ele, independentemente das circunstâncias.

Em “A Supremacia da Lei”, Nitiren Daishonin nos ensina a chave essencial para ter uma fé que persevere pelo caminho da unicidade de mestre e discípulo — isto é, empenharmo-nos continuamente para fortalecer nossa determinação.

Seja lá com quem for que se case, se for inimigo do Sutra de Lótus, então não deve segui-lo [o marido]. Fortaleça sua determinação mais do que nunca. O gelo é feito de água, mas é mais frio que ela. A cor azul vem do índigo, entretanto, quando algo é tingido com ele repetidas vezes, a cor fica mais forte do que a da planta do índigo.2 O Sutra de Lótus permanece o mesmo, contudo, se fortalecer repetidamente sua determinação, sua cor ficará melhor que a dos outros, e você receberá mais benefícios que eles (WND, v. 1, p. 615).

Fortalecer várias vezes a determinação multiplica os benefícios

A fé na Lei Mística serve de bússola para navegar pelos mares bravios da vida e da sociedade. Vivendo na era corrompida dos Últimos Dias da Lei, o mais importante de tudo é não sermos dominados pelas influências negativas, mas sim fazermos da fé o centro de nossa vida diária e de nossa existência.

Nitiren Daishonin diz a Nitimyo que, seja com quem for que a pessoa se case, não deve segui-lo nas questões de fé, se o cônjuge se opuser aos ensinos do Sutra de Lótus. Isso porque a verdadeira felicidade escapará eternamente de nós se perdermos de vista o caminho correto da fé.

A seguir, ele solicita a ela que fortaleça mais do que nunca sua determinação na fé. Por isso, desenvolver uma base ainda mais forte na fé é a suprema fonte da vitória.

Ele cita exemplos do mundo natural. O gelo é a água congelada, mas é muito diferente da água em termos de suas propriedades de dureza e frieza. A tintura azul, por sua vez, origina-se das folhas da planta de índigo, no entanto, o tecido ou o fio que for embebido várias vezes nessa tintura ficará com uma tonalidade de azul muito mais profunda que a cor original das folhas da planta de índigo.

Traçando um paralelo com esses fenômenos, Nitiren Daishonin escreveu: “O Sutra de Lótus permanece o mesmo, porém, se fortalecer repetidamente sua determinação [sua fé], sua cor ficará melhor que a dos outros, e você receberá mais benefícios que eles” (WND, v. 1, p. 615). Conforme essas palavras, por meio da fé cada vez mais forte, desfrutaremos energia e vibração ainda maiores, tanto mental quanto fisicamente. Ao mesmo tempo, o benefício se manifestará ainda com mais clareza em nossa vida. Fortalecendo nossa fé repetidamente, conseguimos manifestar dentro de nós o estado de Buda, que é indestrutível como o diamante.

Nitiren Daishonin emprega analogias para descrever essa grandiosa transformação, tais como: “A madeira é vulnerável ao fogo, mas o sândalo não pode ser queimado.3 O fogo se apaga com a água, mas o fogo que cremou os restos do Buda não pôde ser controlado.4 Apesar de as flores serem espalhadas pelo vento, aquelas que desabrocham nos céus da pureza não murcham”.5

Ao reafirmarmos continuamente o comprometimento com a fé, nossa vida nesta existência transitória fica enfeitada com os eternos e indestrutíveis tesouros da eternidade, da felicidade, da verdadeira identidade e da pureza.6 Fortalecer constantemente nossa fé torna-se a chave para estabelecer esse estado de vida.

Portanto, “fortalecer repetidamente nossa determinação” significa perseverar na prática budista. Significa não temer os obstáculos — ou melhor, empregar os obstáculos como impulso para reunir uma fé cada vez mais forte e polir ainda mais a vida.

Embora pratiquemos o Budismo Nitiren e tenhamos abraçado a fé no mesmo Sutra de Lótus (a Lei Mística) e no mesmo Gohonzon, é a força da fé de cada um que determina o resultado. Quanto mais forte a fé, maiores serão os benefícios que desfrutaremos e mais amplo e satisfatório será o estado de vida que alcançaremos. Cientes dessa verdade, os membros no mundo inteiro estão mostrando uma maravilhosa prova real da força da fé.

Por meio dos escritos, Nitiren Daishonin pede a seus seguidores que se apliquem incessantemente a moldar sua fé. Ele diz, por exemplo, a Shijo Kingo:7 “Fortaleça sua fé mais do que nunca” (WND, v. 1, p. 681) e “Deve reunir mais do que nunca o grande poder da fé” (WND, v. 1, p. 1000). Ele também elogiou a monja leiga Kubo8 por sua “fé cada vez mais forte” (WND, v. 1, p. 877), incentivando ao mesmo tempo a monja leiga de Ueno9 a “se empenhar com seriedade cada vez maior na fé” (WND, v. 1, p. 877).

Dessa forma, Daishonin insiste aos seguidores de fé exemplar que continuem a fortalecer ainda mais sua determinação. Em outras palavras, a disposição de continuar a se empenhar ainda mais arduamente é a essência da fé e a chave mais fundamental para a prática do Budismo Nitiren.

Tanto Nitiren Daishonin como Sakyamuni empenharam-se com um comprometimento firme e sempre renovado, vivendo com espírito de luta até o fim. Podemos dizer o mesmo de Tsunessaburo Makiguti e Jossei Toda, os dois primeiros presidentes da Soka Gakkai. E, agora, quero ensinar esse espírito essencial da fé a meus discípulos.

A vida, em certo sentido, é uma constante batalha contra os impasses. Enquanto estivermos vivos e continuarmos a desafiar a nós mesmos, estaremos destinados a nos aproximar de difíceis obstáculos que bloqueiam nosso caminho. Se a vida fosse sempre uma navegação tranquila e se nunca tivéssemos contratempos, isso seria sinal de estagnação.

Recordo-me de quando, em minha juventude, os negócios de Toda Sensei enfrentaram uma grave crise financeira. Naquela época, eu trabalhei desesperadamente para resolver a situação. Ao observar quanto eu estava exausto em razão de meus esforços, Toda Sensei disse-me estas sinceras palavras de incentivo: “A fé é uma batalha sem fim contra os impasses. É uma batalha entre o

Buda e as funções malignas — entre as forças positivas e negativas. É por isso que dizemos que ‘O Budismo é vitória’”.

Às vezes, sentimo-nos tolhidos ou num impasse na vida. Mas é exatamente quando estamos num beco sem saída que nossa fé é testada. Esse tipo de ocasião representa um momento decisivo para conquistar a vitória. O importante é sempre manter o pensamento focado no avanço.

Por fim, o desafio de triunfar sobre os obstáculos se tornará a causa para expandirmos nosso estado de vida consideravelmente. Se rea­lizarmos esforços ativos para lidarmos com os problemas, com toda a certeza, conseguiremos mudar nosso interior e transformar o carma.

Nesse sentido, se ficarmos paralisados em qualquer ocasião, estaremos perdendo a oportunidade para concretizar a vitória. Por outro lado, é a “fé cada vez mais forte” que nos proporciona a força para derrubarmos esses impasses. Isso é válido tanto em termos de nossas batalhas individuais quanto nas batalhas empreendidas na sociedade.

Falando abertamente, o impasse que surge no nível da sociedade, da economia ou de um país aponta para uma limitação dos ideais já existentes ou da filosofia que os conduzem ou que os fundamentam. De fato, é em épocas assim que surge uma nova filosofia. O surgimento de ideias novas e poderosas transforma o impasse em oportunidade para construir uma sociedade melhor.

Sakyamuni disse: “Apressem-se para fazer o bem, restrinjam sua mente do mal. A mente daquele que é lento em fazer o bem se entretém em fazer o mal” (The Dhammapada: Sayings of the Buddha [O Dhammapada: Ditos do Buda]. Tradução de Thomas Cleary. Nova York: Bantam Books, 1994, p. 43).

Tudo está diante de nós. Tudo se resume na batalha interior. O que importa é nossa mente, nosso coração.

Por ter se tornado inimigo do Sutra de Lótus, o povo do Japão causou a própria ruína, assim como a do país. E, como eu afirmo isso, sou chamado de arrogante pelas pessoas de pouca compreensão. Porém, não falo com arrogância. Falo simplesmente porque, se não o fizesse, não seria o devoto do Sutra de Lótus. Além disso, quando mais tarde minhas palavras provarem ser verdadeiras, as pessoas acreditarão com mais prontidão. Como escrevo isso agora, as pessoas do futuro reconhecerão minha sabedoria (WND, v. 1, p. 615).

Proteger a Lei significa proclamar a verdade firmemente

O Sutra do Nirvana declara: “Confie na Lei e não nas pessoas”. Nitiren Daishonin sempre empreendeu sua batalha embasado na Lei. Ele era muito rigoroso para distinguir claramente os ensinos corretos dos ensinos errôneos no mundo do Budismo. Ao considerar algum ensino em particular, ele perguntava: “É este um ensino correto que procura concretizar o ideal budista da iluminação universal? Ou é um ensino errôneo que distorce esse princípio fundamental e faz as pessoas sofrer?” Nitiren Daishonin esclareceu o que era falso e o que era verdadeiro, protegendo o ensino correto e refutando os ensinos errôneos. Este foi o modo como o Buda se empenhou para proteger a Lei.

Tendo sido dominado por influências negativas, o povo do Japão daquela época descartou o Sutra de Lótus e acreditou nos ensinos budistas provisórios que rejeitavam o princípio da iluminação universal. Com isso, Nitiren Daishonin lamentou-se: “Por ter-se tornado inimigo do Sutra de Lótus, o povo do Japão causou a própria ruína, assim como a do país” (WND, v. 1, p. 615).

Se a situação continuasse da forma como estava, o país sofreria a total destruição. Para evitar essa catástrofe, Nitiren Daishonin admoes­tou os governantes japoneses e proclamou incansavelmente a verdade. Com isso, intensificou especialmente seus esforços após entregar a “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”10 (em julho de 1260). Com essa atitude, ele estava ciente de que suas ações atrairiam grandes perseguições. Contudo, isso não o deteve, pois estava preocupado unicamente em proteger a Lei e conduzir todas as pessoas à iluminação.

Uma das críticas dirigidas a Nitiren Daishonin por seus contemporâneos dizia que ele era arrogante e presunçoso. Em “A Supremacia da Lei”, o Buda escreveu: “E, como eu afirmo isso, sou chamado de arrogante pelas pessoas de pouca compreensão” (WND, v. 1, p. 615). Por morar num país insular, onde “os pensamentos das pessoas eram cheios de inveja” (WND, v. 1, p. 873), Daishonin enfrentou uma implacável tempestade de calúnias e ofensas, mas continuou a declarar a verdade com toda a coragem, sem retroceder um único passo.

Nitiren Daishonin refuta as críticas que o chamam de arrogante e esclarece qual é a sua intenção. Primeiro, ele destaca o fato de que o Sutra de Lótus é o principal ensino. Em seguida, afirma que, se não conseguisse advertir as pessoas sobre as desastrosas consequências que a hostilidade delas contra o Sutra causaria ao país, ele não seria o devoto do Sutra de Lótus. Proclamar amplamente a grandiosidade do Sutra de Lótus e assumir uma posição firme contra seus inimigos são ações de um genuíno devoto. Aqueles que carecem desse espírito de luta e são dominados pelo medo não se qualificam como devotos.

O Buda também rejeita as críticas contra ele com uma perspectiva diferente. Ou seja, registrar a verdade para o futuro. O fato de deixar registrada a forma como suas predições de revolta interna e invasão estrangeira ocorreram possibilitaria às pessoas do futuro estimar sua imensa capacidade de prever o futuro e sua sabedoria.

No entanto, ele declara que a concretização da predição não é indicativo de sua capacidade, mas sim a prova da exatidão do ensino correto do Budismo. Em seu tratado: “A Seleção do Tempo”, Daishonin discute sobre as três vezes em que obteve distinção pelo conhecimento profético.11 Ele também escreveu: “Não fui eu, Nitiren, quem fez esses três importantes pronunciamentos. Em todos os casos, na verdade, foi o espírito de Sakyamuni, o Honrado pelo Mundo, que entrou em meu corpo [e me inspirou a agir assim]. E tendo sentido pessoalmente [a concretização dessas predições], não me contenho de alegria” (WND, v. 1, p. 579).

Se a verdade fosse preservada, certamente haveria pessoas de critério e discernimento nas gerações futuras que aplaudiriam os esforços de Nitiren Daishonin e começariam a entrar em ação com o mesmo espírito que ele. Os sucessores de seu legado espiritual dariam continuidade à sua obra e criariam uma onda liderada pelas pessoas comuns.

De fato, nós, da Soka Gakkai, compartilhando os laços de mestre e discípulo com os três primeiros presidentes, herdamos o espírito de Nitiren Daishonin. Nós lançamos um movimento de indivíduos confiantes e conscientes, dedicados à causa do Kossen-rufu Mundial, que é desejo e decreto do Buda — atualmente, uma força inevitável em todo o mundo.

Não importando quais sejam as calúnias nem as críticas que enfrentarmos, se continuar­mos a falar e a deixar um claro registro da verdade, nossa vitória estará garantida. Durante os primeiros anos da ho número de artigos que difamavam nossa organização na mídia impressa aumentou em proporção direta ao nosso fenomenal crescimento no número de membros no Japão. Isso estava exatamente de acordo com a predição do Sutra que diz que seus praticantes enfrentariam calúnias e ofensas na era maligna após o falecimento do Buda.

Toda Sensei não se abalou com esses acontecimentos e disse serenamente: “Eles escrevem artigos sensacionalistas a nosso respeito porque sabem que aumentará as vendas. (...) Não há como eles nos surpreenderem com nada do que publicam, pois eles não têm a mínima ideia do que estão escrevendo” (TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1989, v. 4, p. 581–583).

E ele declarou: “Nós, da Soka Gakkai, temos fé; temos o Gohonzon. Tudo o que conquistamos é resultado do benefício de nossa fé no Gohonzon. (...) A fé está na essência de tudo. O que importa é permanecermos firmes em nossa prática budista” (TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1989, v. 4, p. 582–583).

A Soka Gakkai conquistou uma vitória após outra com essa invencível convicção. Independentemente da época ou da situação, conseguiremos vencer, no final, com determinação, sem jamais abandonarmos a prática da fé.

(Daibyakurengue, edição de setembro de 2009.)

1. O 10º capítulo do Sutra de Lótus, “Mestre da Lei”, diz: “Se a pessoa ficar próxima dos mestres da Lei / chegará rapidamente ao caminho de Bodhisattva. / Por seguir e aprender com esses mestres, / verá budas tão numerosos quanto as areias do Ganges” (The Lotus Sutra, Capítulo 10 [LS, v. 10], p. 169).

2. Essas palavras se baseiam numa passagem do clássico chinês Hsün Tzu: “Não se deve jamais parar de aprender. O azul é ainda mais azul que o próprio índigo e o gelo é feito de água, mas é mais frio que a água”. Essa passagem significa que, se a pessoa tingir algo várias vezes no índigo, ficará mais azul que as folhas de índigo. O Sutra de Lótus é como o índigo e a força da prática da pessoa é tal como o azul mais intenso” (WND, v. 1, p. 457).

3. O sândalo é valorizado como madeira perfumada. Diz a lenda que o sândalo não pode ser queimado, mas é incerta a fonte dessas referências. Seguindo uma tendência semelhante, certos textos budistas declaram que a pessoa não será queimada pelo fogo se tiver o corpo encoberto com a fragrância do sândalo.

4. O Epílogo do Sutra Mahaparinirvana diz que, quando a pira de cremação de Sakyamuni ficou encharcada com a água que caiu na forma de chuva criada pelos dragões divinos do mundo tríplice, o fogo, em vez de se apagar, ficou ainda mais intenso.

5. Os céus da pureza referem-se aos cinco céus da pureza, ou os cinco céus mais elevados no mundo da forma. De acordo com o Grande Comentário sobre o Abhidharma, esses céus estão livres das três grandes calamidades do fogo, da água e do vento. Portanto, as flores que lá desabrocham não murcham (WND, v. 1, p. 615).

6. Eternidade, felicidade, verdadeira identidade e pureza são conhecidas como as quatro virtudes. Descrevendo as nobres qualidades da vida do Buda, são explanadas da seguinte forma: “eternidade” significa imutável e eterno; “felicidade” refere-se à tranquilidade que transcende todo sofrimento; “verdadeira identidade” significa natureza intrínseca e verdadeira; e “pureza” quer dizer livre de ilusão ou de conduta errada.

7. Shijo Kingo (c. 1230–1300): um dos principais discípulos de Nitiren Daishonin. Seu nome e título completos eram Shijo Nakatsukasa Saburo Saemon-no-jo Yorimoto. Como samurai, ele serviu à família Ema, ramo do clã governante Hojo. Shijo Kingo também tinha conhecimentos tanto de medicina como de artes marciais. Acredita-se que tenha se convertido ao ensino de Daishonin por volta de 1256. Quando Nitiren Daishonin foi levado para Tatsunokuti para ser decapitado, em 1271, Shijo Kingo acompanhou-o, determinado a morrer ao lado dele.

8. Monja leiga Kubo [s.d.]: seguidora de Nitiren Daishonin que viveu na Província de Suruga. Parece ter sido uma sincera seguidora que com frequência lhe enviava oferecimentos.

9. Monja leiga de Ueno (m. 1284): seguidora leiga de Nitiren Daishonin. Foi esposa de Nanjo Hyoe Shichiro, administrador da vila de Ueno, na Província de Suruga. O casal tinha nove filhos, entre eles, Nanjo Tokimitsu. O marido faleceu doente em 1265, quando ela estava grávida do filho mais novo. A monja leiga de Ueno criou os filhos sozinha, mantendo a fé nos ensinos de Daishonin.

10. “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”: Um dos cinco principais escritos de Nitiren. Ele apresentou esse tratado no dia 16 de julho de 1260 a Hojo Tokiyori, regente aposentado que ainda era a personalidade mais poderosa no clã governante do Japão. Nessa tese, Daishonin faz a predição de que, a menos que as pessoas adotassem rapidamente a fé no ensino correto, os dois últimos dos três desastres e as sete calamidades que ainda não haviam ocorrido — a revolta interna e a invasão estrangeira — aconteceriam sem falta.

11. Três exemplos de obtenção de distinção: também conhecido como a “obtenção de distinção por três vezes”. Refere-se ao fato de Nitiren Daishonin ter feito predições exatas nas três vezes em que advertiu as autoridades governantes. O primeiro exemplo foi a profecia de que ocorreria a revolta interna e a invasão estrangeira, feita por ele na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, entregue no dia 16 de julho de 1260. O segundo refere-se à profecia de revolta interna e invasão estrangeira que ele fez ao advertir Hei no Saemon, quando este foi prendê-lo na noite de 12 de setembro de 1271, por ocasião da Perseguição de Tatsunokuti. E o terceiro exemplo corresponde à profecia da invasão estrangeira que Daishonin fez em sua última advertência a Hei no Saemon, em 8 de abril de 1274, quando retornou para Kamakura depois do exílio na ilha de Sado.




A fé que se fortalece é a chave para a eterna vitória

por Daisaku Ikeda, PRESIDENTE DA SGI
Terceira Civilização, Edição 516, 13/08/2011 / Estudo
[Os Comentários sobre o Sutra do Nirvana declaram:] “O corpo da pessoa é insignificante, ao passo que a Lei é suprema. A pessoa deve dar a vida para propagar a Lei”. Por meu corpo ser insignificante, sou atacado e odiado, mas como a Lei é suprema, ela será propagada sem falta. Se o Sutra de Lótus se propagar, meus restos mortais serão respeitados, e se forem respeitados, beneficiarão as pes­soas. Então, passarei a ser tão reverenciado quanto o Grande Bodhisattva Hatiman o é agora. Você deve compreender que os homens e as mulheres que me apoiaram serão tão grandemente honrados quanto Takenouti e Wakamiya1 (WND, v. 1, p. 615).

Aqueles que se dedicam a propagar a Lei são nobres

O supremo espírito de fé no Budismo Nitiren resume-se na seguinte passagem: “O corpo da pessoa é insignificante, ao passo que a Lei é suprema. A pessoa deve dar a vida para propagar a Lei”.

A frase “O corpo da pessoa é insignificante, ao passo que a Lei é suprema” — que também pode ser expressa como “Valorizar muito mais a Lei que a própria vida” — refere-se à disposição de proteger e propagar incessantemente o ensino correto. Da mesma forma, a expressão “A pessoa deve dar a vida para propagar a Lei” corresponde a devotar-se de modo abnegado para propagar a Lei. O Buda Nitiren Daishonin mostra a Nitimyo que ele sempre se dedicou à batalha exatamente com esse comprometimento.

E declara que não se deteve por nenhuma crítica, pois seu corpo é insignificante e não teme nenhuma hostilidade. Afinal, a Lei é suprema. Consequentemente, Daishonin diz não haver a mínima dúvida de que o ensino correto será propagado.

A Lei, a suprema verdade ou realidade, é eterna e indestrutível. Portanto, se houver indivíduos que desejam dar tudo de si para propagá-la, certamente o Kossen-rufu será concretizado. Entretanto, se não houver quem sinta o desejo de propagá-la com esse espírito abnegado e incansável, o Kossen-rufu acabará como um sonho vazio.

Quem se empenhava ao máximo pelo Budismo? Daishonin e seus seguidores. Se a Lei Mística é grandiosa, então aqueles que a propagam são também grandiosos. Nitiren Daishonin diz que se ele, por meio de seus abnegados esforços, vencer na propagação da Lei, então sua vida sempre será adornada com imensuráveis benefícios decorrentes dessa ação. Ele também promete que os discípulos que o apoiaram totalmente desfrutarão igualmente eterna boa sorte e benefícios.

A convicta afirmação de Daishonin e de seus discípulos, que dedicaram a vida à ampla propagação da Lei Mística, é inimaginavelmente nobre. Isso deve ter deixado Nitimyo profundamente comovida, inspirando-a novamente.

Vamos abraçar o sincero comprometimento de Daishonin de proteger e propagar a Lei para o bem do Kossen-rufu, criando a base de nossa própria prática budista. Este é o espírito da SGI.

No Budismo Nitiren, a abnegada dedicação em propagar a Lei não tem relação com o sentimento feudal de autoaniquilação ou autossacrifício em prol de um bem público maior. O propósito do

Budismo é ajudar todas as pessoas a conquistar a genuína felicidade e transformar o carma da humanidade. No nível individual, transformamos o carma por compartilharmos a Lei Mística com os outros e, com isso, também transformamos fundamentalmente nosso estado de vida. Esses esforços representam o caminho certo e direto para concretizar tanto a nossa felicidade quanto a dos outros.

A SGI vem se empenhando pelo Kossen-rufu com a mesma dedicação à Lei Mística. E, assim como Daishonin afirma que seus discípulos serão altamente honrados pelas futuras gerações, todos aqueles que praticam com a SGI também merecerão eterno respeito e admiração.

À luz dos princípios do Budismo, cada membro da SGI é realmente um indivíduo extraordinário e possuidor de uma nobre missão.

Os benefícios por abrir os olhos de uma única pessoa cega são indescritíveis. Como é possível descrever os benefícios decorrentes por abrir os olhos cegos do povo japonês e por conceder o dom da visão a todos os seres humanos de todo o Jambudvipa e dos outros três continentes?2 [isto é, do mundo inteiro] (WND, v. 1, p. 615).

Os benefícios por abrir os olhos das pessoas

Essa passagem indica os grandiosos benefícios obtidos por quem promove o Kossen-rufu com abnegada dedicação.

Abraçar a fé no Sutra de Lótus significa abrir os olhos. Isto é, remover o véu da ilusão que manteve os olhos fechados e tornar-se capaz de enxergar a verdade e a essência de todas as coisas.

É incalculável o benefício por abrir os olhos mesmo de uma só pessoa cega pela ilusão. Como é vasto então o benefício por abrir os olhos de todas as pessoas do Japão! É ainda mais indescritível o benefício por abrir os olhos de toda a humanidade! Nitiren Daishonin realizou esse significativo empreendimento, conforme havia jurado [estabelecendo os meios pelos quais todas as pessoas poderiam atingir a iluminação].

Ele fala sobre “conceder o dom da visão a todos os seres humanos de Jambudvipa e dos outros três continentes [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 615). Com essas palavras, podemos discernir o supremo estado de vida de Daishonin, que assumiu a liderança do Kossen-rufu de uma perspectiva global.

Hoje, assim como há mais de 700 anos, a humanidade necessita de uma filosofia que desperte as pessoas, ou “abra seus olhos”. É nos ensinos do Sutra de Lótus da iluminação universal e do respeito por todas as pessoas que se encontra essa filosofia.

Tal filosofia sustenta que, quando nos colocamos acima das diferenças de etnia e de cultura e derrubamos todas as barreiras, vemos que todas as pessoas possuem inerente a mesma natureza nobre de Buda. Percebemos ainda que elas nasceram neste mundo para cumprir seu mais elevado potencial e, por isso, todas são dignas de supremo respeito. Quando cada indivíduo fizer seu estado de Buda inato brilhar ao máximo, o mundo mudará. A grandiosa revolução humana na vida de uma única pessoa pode mudar o destino do mundo.

A SGI está propagando o Budismo humanista de Nitiren Daishonin embasado nos ideais do Sutra de Lótus da dignidade da vida e da nobreza de todas as pessoas. Nosso movimento representa um esforço sem precedentes para abrir os olhos das pessoas do mundo todo — um empreendimento pelo qual estamos determinados a continuar até que a humanidade esteja desperta e a infelicidade e o sofrimento tenham sido erradicados da face da Terra.

“A Soka Gakkai já é uma questão mundial” (IKEDA, Daisaku. The Human Revolution [Revolução Humana]. Nova York e Tóquio: Weatherhill, v. 1, p. xi, 1972) — escreveu o historiador britânico Arnold J. Toynbee (1889–1975) há algumas décadas no prefácio para o primeiro volume da edição inglesa de meu romance Revolução Humana.

Ele também escreveu: “Nitiren (…) amava seu país, mas seu horizonte e sua preocupação não eram limitados pela costa do Japão. Nitiren sustentava que o Budismo, conforme ele o havia concebido, era um meio para salvar todos os seres humanos. Ao trabalhar pela revolução humana, a Soka Gakkai está cumprindo o desejo de Nitiren” (Ibidem, p. xi-xii).

Após comentar sobre o legado de nossos primeiro e segundo presidentes, Tsunessaburo Makiguti e Jossei Toda, o Dr. Toynbee observou: “Quais foram as causas do triunfante sucesso da Soka Gakkai no pós-guerra? A causa fundamental foi a fé com a qual esta comunidade e seus líderes em nossa época foram inspirados pelo fundador, Nitiren, cujo espírito continua poderoso no sétimo século após seu falecimento. A fé tem lhes proporcionado a coragem e a persistência para resistir à perseguição. A sinceridade demonstrada com sua perseverança abriu o coração e a mente dos compatriotas para esse ensinamento e ajudou a Soka Gakkai a conquistar esse enorme aumento no número de membros” (Ibidem, p. x).

As palavras do Dr. Toynbee refletem uma profunda compreensão de nosso movimento. Ele foi uma pessoa de perspicaz discernimento.

Vamos continuar essa dramática e alegre marcha do povo. Refletindo profundamente o amplo estado de vida do Buda Nitiren Daishonin, que aspirava à concretização do Kossen-rufu Mundial, vamos avançar, mantendo nossa ligação direta com o Buda e baseando-nos em seus escritos. Esta é a honorável missão da SGI, que está determinada a assumir a responsabilidade pelo futuro do mundo.

Coloque as palavras dos sutras em primeiro lugar

As pessoas de todo o Japão importunaram e perseguiram Nitiren Dai­shonin, que se empenhava valorosamente como “soberano, mestre e pai”3 para o país. Houve pessoas que o difamaram por ele ser de baixa classe social. Em vários escritos, Daishonin descreve pessoas se referindo a ele de forma desprezível como “um homem de posição humilde” (END, v. 1, p. 39) ou “O senhor é um homem de posição humilde” (END, v. 2, p. 76). Mas Nitiren Daishonin se orgulhava de suas origens, descrevendo a si próprio como “filho de pais comuns” (WND, v. 2, p. 766) ou “nascido numa família chandala4 pobre e de baixa classe social”. Nem é preciso dizer que essas palavras maldosas apenas revelavam a presunção repulsiva e o preconceito contra Daishonin.

Em “A Supremacia da Lei”, Nitiren Dai­sho­nin rejeita essas zombarias citando os exemplos de Shakra, que aprendeu respeitosamente sobre o Budismo com uma raposa,5 e do garoto Montanhas de Neve,6 que considerou um demônio como seu mestre para descobrir o caminho do Buda. Assim, Daishonin está refutando os críticos, dizendo que desvalorizar um ensinamento com base na aparência do mestre é o mesmo que rejeitar a conduta desses admiráveis modelos de espírito de procura como Shakra e o garoto Montanhas de Neve.

No escrito “Diálogo entre um Sábio e um Homem Ignorante”, Nitiren Daishonin declara: “No que diz respeito às doutrinas budistas, não podemos formular conclusões apressadas simplesmente tomando como base a excelência das pessoas em questão. Antes de tudo, devemos nos basear nas palavras dos sutras” (WND, v. 2, p 77). O modelo a seguir no Budismo são sempre a superioridade e a profundidade do ensino, e não a posição social de quem o ensina ou o propaga. “Não julgue as pessoas baseado em suas roupas e em sua aparência. Dessa forma, não há como dizer em que a pessoa se transformará no futuro ou qual a missão dela”, assim determinou rigorosamente Toda Sensei.

A posição social, os títulos e os graus aca­dêmicos são inteiramente irrelevantes no mundo da Soka Gakkai. As pessoas verdadeiramente dignas de respeito são aquelas possuidoras de espírito de procura na fé. Além do mais, é essencial estimarmos as pessoas que entram em ação em prol do Kossen-rufu. Isso deve permanecer para sempre como nossos eternos princípios direcionadores.

E o que acho ainda mais triste é que não poderei salvar os discípulos que se compadeceram de meus sofrimentos. Se algo acontecer, por favor, venha até aqui [no Monte Minobu]. Eu as receberei. Vamos morrer de inanição juntos aqui nas montanhas. E, imagino que sua filha, Oto, tenha se tornado uma menina inteligente e admirável. Escreverei novamente” (WND, v. 1, p. 615-616).

Os laços de mestre e discípulo

Embora Nitiren Daishonin deplo­rasse aqueles que o caluniavam, sentia profunda tristeza ao pensar no infortúnio de seus discípulos que haviam se empenhado junto dele. Isso era um reflexo de sua grande compaixão e preocupação por eles. Sendo habitantes de um país que era punido por ter caluniado a Lei, ele sabia que seus discípulos não evitariam ser apanhados pela confusão da época. Tal preocupação com os outros é o espírito fundamental do Budismo Nitiren. A apreensão de Daishonin possuía uma sensibilidade e amplitude que tocavam profundamente o coração das pessoas. Esta é a verdadeira essência de seu ensino, que dá a máxima importância à conduta humana.

Nitiren Daishonin também estende sua vasta comprovação a Nitimyo e sua filha, Oto. “Imagino que sua filha, Oto, tenha se tornado uma menina inteligente e admirável” (WND, v. 1, p. 616), diz a Nitimyo. E solicita a ambas que se juntem a ele no Monte Minobu, caso ocorra a invasão dos mongóis. “Eu as receberei”, afirma calorosamente. “Vamos morrer de inanição juntos aqui nas montanhas” (WND, v. 1, p. 616), diz Daishonin. Ele chegou a esse extremo para incentivar a seguidora que tinha uma filha pequena para cuidar.

O Budismo nada tem a ver com sentimentalismo e autopiedade nem com solidariedade superficial. Nitiren Daishonin falou de “conceder o dom da visão a todos os seres humanos de Jambudvipa e dos outros três continentes [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 6158). Conforme essas palavras, ele dedicou a vida à ampla propagação da Lei Mística. Assim, expôs o correto ensino, tendo o mundo como palco e recusando-se firmemente a ser derrotado pelas perseguições que ameaçavam sua vida. Daishonin possuía a resoluta força para defender a verdade sem titubear e o entusiasmo para abraçar todas as pessoas.

A vigorosa disposição de refutar a falsidade e a compaixão para abraçar os outros são, em outras palavras, os dois lados de uma mesma moeda. O genuíno humanismo está em ter essas duas qualidades.

Nitiren Daishonin e Nitimyo compartilhavam um puro e firme laço de mestre e discípulo. Daishonin formou esses laços espiri­tuais com muitos de seus discípulos. Nenhuma for­ça maligna nem autoridade romperia essa relação, que havia sobrevivido a incontáveis dificuldades e perseguições. A união das pessoas pelos laços do comprometimento compartilhado entre mestre e discípulo na prática da fé constitui a grandiosa e eternamente indestrutível base do Kossen-rufu.

Nós construímos magníficas fortalezas do povo em países do mundo inteiro. Mas apenas começamos. Diante de nós está o verdadeiro palco para a propagação da Lei e para fazer os rostos de muitas Otos e Nitimyos — mães e filhas — sorrirem de felicidade em todo o mundo.

O poeta e escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749–1842) declarou que a vida é uma constante batalha. Ele escreveu:

Este é o mais alto nível de sabedoria:

Só ele merece sua vida e liberdade

Ele que todo dia deve lutar pelos outros.

(...)

Toda essa profusão [de humanidade]

que eu deveria gostar de ver,

Encontra-se num solo livre

com um povo livre.

(VON GOETHE, Johann Wolfgang, Faust, Part II [Fausto, parte II].

Trad. e ed. de David Constantine, Londres: Penguin Books Ltd., 2009. p. 237.)

Makiguti Sensei apreciava este ditado que consta no clássico confucionista O Grande Aprendizado: “Renove-se a cada dia, e renove-se dia após dia. Deixe que aconteça uma renovação diária”.

Vamos nos preparar para novos desafios! Tudo está diante de nós.

Para encerrar, gostaria de dedicar-lhes estas palavras de indomável convicção de Toda Sensei, gravadas em meu coração: “A Soka Gakkai transformará este mundo turbulento em que vivemos.

Vamos instigar nossa coragem, nos unir e avançar pelo nobre caminho do Kossen-rufu!”

Aqui, encerra-se a preleção em seis partes de “A Supremacia da Lei”.

Orando especialmente pela felicidade das nobres integrantes da Divisão Feminina e da Divisão Feminina de Jovens do Japão e do mundo inteiro.

(Daibyakurengue, edição de setembro de 2009.)

1. Takenouti é um general e estadista lendário que dizem ter tido participação ativa na expedição da imperatriz Jingu à Coreia e posteriormente serviu ao filho dela, o imperador Ojin. Este foi divinizado após a morte e passou a ser chamado Grande Bodhisattva Hatiman. Wakamiya refere-se ao Grande Bodhisattva Hatiman do Santuá­rio Hatiman de Tsurugaoka, em Kamakura

(Cf. WND, v. 1, p. 615).

2. De acordo com a antiga cosmologia indiana, o mundo consiste em quatro continentes, incluindo Jambudvipa.

3. Com as palavras “Eu, Nitiren, sou o soberano, mestre e pais de todas as pessoas do Japão” (Os Escritos de Nitiren Daishonin, v. 4, p. 220), Daishonin declarou que possuía as três virtudes de soberano, mestre e pai nos Últimos Dias da Lei. As três virtudes são as funções benevolentes dos budas. A virtude de soberano é o poder de proteger todos os seres vivos; a virtude do mestre é a sabedoria para instruir e conduzi-los à iluminação; e a virtude do pai é a compaixão para cuidar deles e apoiá-los.

4. Chandala: classe dos intocáveis, que fi­cava abaixo das quatro castas no antigo sis­­tema de castas indiano. As pessoas que faziam parte dessa classe lidavam com ca­dá­veres, abatiam animais e realizavam outras tarefas as­so­ciadas à morte ou à matança de seres vivos. Nitiren Daishonin classificou a si próprio como integrante da classe chandala por ter nascido numa família de pescadores (WND, v. 1, p. 303).

5. Esse relato encontra-se em Comentários sobre “Grande Concentração e Discernimento”. Quando uma raposa, que estava no Monte Shita, na Índia, foi perseguida por um leão, ela caiu acidentalmente num poço seco e ficou ali durante três dias. À beira da inanição, a raposa resolveu dedicar-se à Lei budista e recitou um verso expressando seu desejo de expiar as ofensas do passado. Quando a voz da raposa alcançou o deus Shakra no alto do Monte Sumeru, Shakra resgatou-a e pediu-lhe que pregasse a Lei para ele e para outras divindades celestiais.

6. Garoto Montanhas de Neve: este é o nome do Buda Sakyamuni numa existência anterior, quando praticava austeridades. Determinado a testar a decisão de Montanhas de Neve, o deus Shakra apareceu diante dele na forma de um demônio faminto e recitou a metade de uma estrofe de um ensino budista. O menino implorou ao demônio que lhe dissesse outra metade da estrofe. O demônio concordou, mas, como pagamento, exigiu sua carne e seu sangue. Montanhas de Neve prometeu alegremente oferecer seu corpo ao demônio, que, por sua vez, lhe proferiu a outra metade do ensino. Quando o garoto estava para cumprir o prometido, o demônio transformou-se novamente em Shakra e o segurou. Ele elogiou Montanhas de Neve por sua determinação de dar a vida pela Lei (Cf. WND, v. 1, p. 616).



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