quinta-feira, 15 de setembro de 2016

[16, 17, 18, 19] A Seleção do Tempo

A época do Kossen-rufu [1]

[Parte 1]

[5] “A Seleção do Tempo”

por Daisaku Ikeda, presidente da SGI

Terceira Civilização, Edição 521, 07/01/2012, pág. 48 / Estudo


TRECHOS DA CARTA

Quando se trata de estudar os ensinamentos do budismo, deve-se primeiro compreender a época (WND, v. 1, p. 538).

***

Pergunta: Não há nenhuma forma de determiná-los [isto é, o tempo e a capacidade das pessoas]?

Resposta: Tomemos emprestados os olhos do Buda para avaliar a questão sobre o tempo e a capacidade. Vamos usar o sol do Buda para iluminar a nação. (...)

Não há nenhuma dúvida de que a época atual corresponde ao quinto período de quinhentos anos descrito no Sutra da Grande Coleção, quando “a Lei pura se tornar obscurecida e se perder”. Mas depois que a Lei pura ficar obscurecida e se perder, a pura e nobre Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, que é a verdadeira essência do Sutra de Lótus, com toda certeza será propagada e amplamente proclamada por toda a terra de Jambudvipa [este mundo em que vivemos] — com seus oitenta mil reinos, seus oitenta mil governantes e os ministros e o povo nos domínios de cada um desses governantes — assim como o nome do Buda Amida é atualmente recitado por monges, monjas, leigos e leigas no Japão (WND, v. 1, p. 540-541).

***

Essas passagens [que indicam que a pura e nobre Lei será amplamente propagada no exterior nos Últimos Dias] descrevem a seguinte situação: durante o quinto período de quinhentos anos, eminentes sacerdotes possuídos por demônios malignos estarão em todas as partes do país. Nessa época, surgirá um único sábio. Os eminentes sacerdotes possuídos por demônios malignos iludirão o governante, seus ministros e as pessoas comuns, fazendo que caluniem e maltratem esse homem, atacando-o com varas, bastões e pedras, condenando-o ao exílio ou à morte.

Sakyamuni, Muitos Tesouros e os budas das dez direções falarão aos grandes bodhisattvas que emergiram da terra. Por sua vez, os grandes bodhisattvas relatarão a Brahma, a Shakra, aos Deuses do Sol e da Lua e aos Quatro Reis Celestiais. Assim [com os seres celestiais repreendendo as pessoas que caluniam a Lei], estranhas ocorrências e distúrbios incomuns aparecerão em abundância nos céus e na terra.

Se houver países cujos governantes não deem importância a essa advertência, os budas e os grandes bodhisattvas requisitarão às nações vizinhas que ataquem os maus governantes e os maus sacerdotes desses países. Dessa forma, irromperão em Jambudvipa [o mundo inteiro] grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas.

Nessa época, todas as pessoas que vivem na terra iluminada pelo Sol e pela Lua, temendo a destruição de sua nação ou a perda de vida, orarão aos budas e bodhisattvas pedindo ajuda. Se não houver nenhum sinal de que suas orações serão respondidas, elas depositarão sua fé neste único e humilde sacerdote a quem haviam odiado anteriormente. Então, todos os incontáveis eminentes sacerdotes, os grandes governantes dos oitenta mil países [de todo Jambudvipa] e as incontáveis pessoas comuns inclinarão a cabeça até encostar no chão, unirão as palmas das mãos e numa só voz recitarão o Nam-myoho-rengue-kyo (WND, v. 1, p. 542).

INTRODUÇÃO

Meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, levantou-se sozinho em meio à confusão que reinava no Japão do pós-guerra para reconstruir a Soka Gakkai. Ele bradou com paixão pela causa do Kossen-rufu e suas palavras continuam a retumbar em meu coração até hoje. Toda sensei clamou:
“Não quero ver as pessoas lançadas num sofrimento ainda maior do que o que já passaram durante a guerra”.
***
“As pessoas que vivem nos Últimos Dias estão mergulhadas no sofrimento. (...) Quem salvará e ajudará este mundo turbulento?”
***
“Agora é a época do Kossen-rufu!”

Sempre que Toda Sensei via a notícia de um conflito em alguma parte do mundo ou de um desastre no Japão ou em outro lugar, ele se afligia com o infortúnio das pessoas afetadas. E renovava sua determinação de propagar a Lei Mística de modo que esse sofrimento jamais voltasse a acontecer. De todo coração, ele desejava erradicar o sofrimento da face da Terra e manteve esse comprometimento até o fim da vida. Para mim, isso sempre sintetizou o espírito de um genuíno líder da Soka Gakkai.

“Como posso ajudar àqueles que estão sofrendo uma miséria humilhante diante de mim?” “Se não entrar em ação agora, quando o farei?” Percebendo que a época havia chegado, Toda sensei decidiu assumir a liderança do Kossen-rufu com toda coragem. Ele declarou: “A razão fundamental para o surgimento do Buda Nitiren Daishonin neste mundo foi para ajudar as pessoas de todo o Japão — ou melhor, de toda a Ásia e certamente do mundo inteiro —  a se tornar felizes com o ensinamento do Nam-myoho-rengue-kyo”.

O Budismo sempre leva a época em consideração, já que se preocupa com o bem-estar daqueles que estão vivendo no momento atual. Começando com esta parte, direcionaremos nossa atenção ao conhecido tratado de Nitiren Daishonin sobre esse tema, “A Seleção do Tempo”. Esse título é importante para o Budismo Nitiren, porque “selecionar o tempo” significa escolher corretamente os Últimos Dias da Lei como a época para a propagação mundial da Lei Mística — ou seja, a época do Kossen-rufu.

Nascido nos Últimos Dias da Lei, Nitiren Daishonin viveu na época certa. Sendo uma pessoa que reconhecia profundamente a importância desse período nos termos do budismo, ele selecionou corretamente o ensinamento mais apropriado para os Últimos Dias e começou a propagá-lo para livrar as pessoas do sofrimento.

O momento certo para a propagação, a pessoa certa para iniciar a propagação e o ensinamento apropriado para a propagação — quando esses três elementos vitais do tempo, da pessoa e da Lei estão no devido lugar, abre-se a forma de aliviar o sofrimento no nível mais fundamental.

Na época em que Daishonin viveu — que coincide com o início dos Últimos Dias, descrito pelos sutras como cheio de conflitos e disputas —, ele escolheu como o ensinamento mais apropriado a grandiosa Lei do Nam-myoho-rengue-kyo. Esse ensinamento está implícito no 16º capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”, e representa a essência desse sutra.

O Nam-myoho-rengue-kyo é a semente do estado de Buda; é a causa pela qual todos os budas alcançam a iluminação. Quando dissiparmos as nuvens da escuridão ou ignorância que envolvem nossa vida por meio “da espada afiada” da fé na Lei Mística, nossa vida será iluminada pela luz da Lei Mística e manifestará imediatamente “os dignificados atributos que possuímos de forma inerente” (Cf. WND, v. 1, p. 832). Em outras palavras, extraímos o infinito poder da Lei Mística de dentro de nossa vida e revelamos nosso estado de Buda inato. Assim, obter de forma simultânea tanto a verdadeira causa como o verdadeiro efeito do estado de Buda em nossa vida com o poder da fé é a função do Nam-myoho-rengue-kyo.1

Quando despertamos para a Lei equitativa e imparcial do Nam-myoho-rengue-kyo, sentimos uma profunda conexão com as outras pessoas e, quanto mais pessoas compartilharem esse tipo de afinidade, mais a humanidade ficará unida. Obtemos também a força para triunfar na época tumultuada dos Últimos Dias e para criar a paz e a felicidade. A chave está em cada um de nós manifestar na vida o poder do Nam-myoho-rengue-kyo, a Lei fundamental da iluminação. Esta é a finalidade de nossos esforços em prol do Kossen-rufu. Além do mais, com nossos esforços contínuos para difundir o ensinamento correto [Chakubuku], superamos a crise do declínio da Lei — uma situação em que “os conflitos e as disputas prevalecem e a Lei pura fica obscurecida e se perde” (WND, v. 1, p. 391).

Nitiren Daishonin é o Buda dos Últimos Dias da Lei que iniciou essa batalha no início desta era maligna. “A Seleção do Tempo” detalha os valorosos esforços empreendidos por ele para propagar a Lei Mística como devoto do Sutra de Lótus. Portanto, este escrito é considerado uma proclamação da identidade do mestre que seleciona o tempo corretamente — o correto mestre do Budismo que conduz todas as pessoas à iluminação nos Últimos Dias da Lei.

Além disso, os Últimos Dias continuam pelo eterno futuro. Neste escrito, especialmente, Daishonin indica que “as grandes batalhas e disputas como nunca vistas antes” (WND, v. 1, p. 542) despontarão em todo o mundo. “As grandes batalhas e disputas” que condizem com esta predição eclodiram durante o século 20, que foi denominado o “século da guerra”. Em meio a essa agitação, surgiu a Soka Gakkai.

O presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, morreu na prisão por suas crenças. Ele se recusou a ceder quando foi perseguido pelo regime militar japonês que instigou uma das guerras mais terríveis do século 20. A opção pela paz é a fonte da herança vital do Budismo Nitiren recebida pela Soka Gakkai como um ensinamento.

Qual é a melhor forma de propagar o Budismo no mundo atual? Como podemos verdadeiramente fazê-lo brilhar como uma filosofia que contribui para a paz e o bem-estar de toda a humanidade? Aí estão a missão e o desafio da Soka Gakkai, que surgiu nessa conjuntura apropriada da época atual.

Constantemente, penso em como devemos propagar este ensinamento humanístico pela felicidade das pessoas e pela paz mundial, e tenho traduzido minhas ideias em ações. Sobretudo, ao longo de cinquenta anos, assumi total responsabilidade pelo Kossen-rufu e me empenhei com toda seriedade para transmitir o espírito de Daishonin ao mundo. Assim, sempre prestei muita atenção ao tempo, e escolhi também o momento mais apropriado para entrar em ação, exatamente como ensinado neste escrito.

Como discípulo de Jossei Toda e como ser humano, tenho trabalhado incansavelmente por um mundo sem guerra. Supero incontáveis obstáculos para unir os povos e as nações, construindo pontes de paz por meio da confiança e da amizade. Pelo meu exemplo, procuro demonstrar aos meus jovens discípulos que, compreendendo o tempo, realizando ações de acordo com ele e reunindo a força das pessoas de todas as partes, deixamos definitivamente um legado duradouro de criação da paz.

Agora é o momento de a Soka Gakkai manter a sólida base do Kossen-rufu que construiu no Japão e no mundo inteiro.

2010 — um ano de muitos aniversários importantes para a Soka Gakkai — deixa um brilhante marco nos anais do Kossen-rufu. Neste auspicioso momento de nossa história, estudem comigo o escrito “A Seleção do Tempo”. Vamos reafirmar o grande significado da época do Kossen-rufu Mundial — predita por Daishonin — por ter chegado na era atual. Vamos também dar o máximo de nós para criar o momento certo de promover o Kossen-rufu.

Inicio minha explanação na esperança de que ela se torne fonte de coragem e inspiração, enquanto vocês buscam seus objetivos com elevado orgulho e senso de missão como pessoas que se reuniram nesta época para dedicar a vida em prol do Kossen-rufu.


EXPLANAÇÃO

Quando se trata de estudar os ensinamentos do budismo, deve-se primeiro compreender a época (WND, v. 1, p. 538).

“Selecionar o tempo” — escolhendo a época correta

Nessa passagem, Daishonin destaca a importância do tempo, que é o tema principal deste escrito.

Nitiren Daishonin redigiu “A Seleção do Tempo” em 1275, quando estava com 53 anos e residia no Monte Minobu. Acredita-se que este texto tenha sido confiado a um seguidor chamado Yui que morava em Nishiyama, na Província de Suruga (atual Província de Shizuoka, no centro do Japão).2

No ano anterior, em outubro de 1274, o exército mongol havia atacado o Japão. Tratava-se da calamidade da invasão estrangeira que Daishonin havia predito em seu tratado de 1260, a “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”. Ele escreveu “A Seleção do Tempo” num ambiente em que parecia inevitável ocorrer uma segunda invasão dos mongóis e o país inteiro estava numa condição de pânico e consternação.

Agindo como o sábio mais notável, Daishonin esclarece como levantou-se sozinho nesta era corrompida, cheia de guerras e conflitos, para proclamar a pura e nobre Lei do Nam-myoho-rengue-kyo. Ele explica que empreendeu um esforço altruístico para afastar o perigo de o ensinamento correto do budismo se deteriorar nos Últimos Dias. Além disso, seus esforços estavam voltados a criar a época do Kossen-rufu Mundial, com a finalidade de conduzir todas as pessoas à iluminação. Ele conclui conclamando seus discípulos a continuar essa batalha no futuro. Esta é a mensagem principal de “A Seleção do Tempo”.

No começo deste escrito, Daishonin declara que se a pessoa deseja estudar o Budismo, “deve primeiro aprender a compreender o tempo” (WND, v. 1, p. 538). Com isso, ele deixa claro que a primeira obrigatoriedade que o budista deve cumprir é compreender o tempo. Nesse contexto, o “tempo” significa especificamente o momento para expor a Lei.

Daishonin ressalta que o Buda Excelência da Grande Sabedoria Universal (um buda do passado),3 o Buda Sakyamuni (um buda do presente), o Bodhisattva Maitreya (um buda do futuro)4 e outros não expuseram a Lei enquanto esperavam pelo momento correto de aparecer; eles agiram assim somente após terem discernido e selecionado o tempo apropriado (Cf. WND, v. 1, p. 538).

Portanto, mesmo quando os budas são solicitados a pregar a Lei, eles evitam fazê-lo até que o tempo correto chegue. Eles não pregam o ensinamento para atingir o estado de Buda antes disso, mesmo que haja pessoas de extraordinária capacidade de compreensão. Entretanto, uma vez que o tempo apropriado chegue, eles expõem livremente esse ensinamento inclusive àqueles que se acreditava terem capacidade inferior para compreender.

Com base nisso, Daishonin confirma que o critério principal para Sakyamuni começar a pregar a Lei suprema para alcançar a iluminação não era se as pessoas haviam ou não desenvolvido capacidade suficiente para compreender, mas sim se o momento para pregá-la havia chegado. Essas observações repudiaram a posição aceita nas escolas budistas da época de que a capacidade da pessoa era mais importante que o tempo.

Isso não significa que Daishonin não dava nenhuma importância à capacidade das pessoas. Como fica claro pelas cartas que enviou a seus discípulos, ele refletia sobre a maneira como deveria transmitir sua mensagem de acordo com a capacidade de cada pessoa que as recebia.

Uma reflexão ainda mais importante estava no fato de que os Últimos Dias da Lei constituem o tempo em que é necessário continuar a proclamar o ensinamento correto a fim de conduzir todas as pessoas à iluminação, independentemente de sua capacidade ou da oposição que tais esforços possam suscitar. Como Daishonin estava profundamente ciente disso, ele dava a máxima importância ao tempo. Neste escrito, ele discute sobre o fator do tempo bem mais detalhadamente.

Mas quando o Buda Sakyamuni pregou o Sutra de Lótus na assembleia no Pico da Águia, o grande rei Ajatashatru,5 o filho mais desnaturado em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro],6 teve a permissão de sentar-se entre os ouvintes. Devadatta,7 que passou a vida caluniando a Lei, recebeu a predição de que no futuro se transformaria no Rei Celestial Honrado pelo Mundo, e a filha do Rei Dragão,8 embora tivesse o impedimento dos cinco obstáculos,9 tornou-se buda sem mudar sua forma reptiliana. Aqueles que estão predestinados aos mundos dos ouvintes e dos que despertaram para a causa poderiam se tornar budas, assim como as sementes chamuscadas que inesperadamente brotam e dão flores e frutos. O Buda revelou ter alcançado a iluminação há incontáveis kalpa no passado, o que confundiu tanto seus ouvintes, como se ele tivesse afirmado que um homem velho, com 100 anos, fosse o filho de um homem de 25.10 E expôs ainda a doutrina dos três mil mundos num único momento da vida,11 explicando que os nove mundos têm o potencial para o estado de Buda e que este tem também os nove mundos.

Assim, uma única palavra desse Sutra de Lótus [é] uma joia que concede desejos,12 e uma única frase é a semente de todos os budas. Podemos deixar de lado a pergunta sobre os ouvintes de Sakyamuni possuírem a capacidade de compreender essas doutrinas ou não. O fato é que havia chegado o tempo para eles a pregarem. Conforme diz o Sutra, “Agora é o tempo exato em que eu devo decididamente pregar o grande veículo”13 (WND, v. 1, p. 539).

O ensinamento para os Últimos Dias da Lei

No local onde atingiu a iluminação, sob a árvore bodhi, e onde posteriormente expôs o sutra provisório Guirlanda de Flores,14 Sakyamuni não revelou o ensinamento supremo para atingir a iluminação, apesar de grandes bodhisattvas de capacidade superior terem se reunido em torno dele (Cf. WND, v. 1, p. 538). Na assembleia no Pico da Águia onde pregou o Sutra de Lótus, entretanto, ele expôs esse ensinamento supremo para as pessoas que, anteriormente, eram desprezadas como de capacidade inferior. Entre elas estavam o rei Ajatashatru, culpado de ser o filho mais desnaturado; Devadatta, que havia passado boa parte da vida caluniando a Lei; a filha do Rei Dragão, um ser do gênero feminino que tinha a forma de réptil; e as pessoas dos dois veículos (os ouvintes e os que despertaram para a causa), que haviam sido condenadas como eternamente incapazes de atingir o estado de Buda (Cf. WND, v. 1, p. 539).

Sakyamuni procurou esclarecer o potencial para a iluminação das pessoas malignas, das mulheres, das pessoas dos dois veículos e de outros seres dos nove mundos. Revelou não ter alcançado a iluminação nesta existência, mas sim no remoto passado. E explica que, apesar de sua identidade de Buda eterno, aparece repetidamente no mundo saha15 como um ser dos nove mundos e se engaja na prática de Bodhisattva.

Todos esses ensinamentos incorporam o princípio da possessão mútua dos Dez Mundos — que são os estados da vida desde o estado de Inferno até o de Buda.16 Uma vez que esse princípio representa o ensinamento verdadeiro para atingir o estado de Buda, a questão sobre a capacidade das pessoas é irrelevante quando se trata de atingir a iluminação.

Neste trecho de “A Seleção do Tempo”, Daishonin observa: “Ele [o Buda Sakyamuni] expôs também a doutrina dos três mil mundos num único momento da vida, explicando que os nove mundos17 têm o potencial para o estado de Buda e que este inclui todos os nove mundos” (WND, v. 1, p. 539). Os nove mundos com o potencial para o estado de Buda e este incluindo os nove mundos significam simplesmente outra maneira de expressar o princípio da possessão mútua dos Dez Mundos. Mesmo os seres iludidos nos nove mundos do Inferno ao estado de Bodhisattva são dotados do mundo iluminado do estado de Buda; e o mundo do estado de Buda contém igualmente os nove mundos. Resumindo, o estado de Buda e os nove mundos não existem separadamente, mas cada um dos Dez Mundos contém todos os outros nove mundos.

O Sutra de Lótus em sua totalidade proclama a verdade deste magnífico princípio da possessão mútua dos Dez Mundos. Quando abraçamos este ensinamento do Sutra de Lótus, nosso estado de Buda inato brota por meio do poder de nossa fé. Por conseguinte, Daishonin compara uma única palavra do sutra a “uma joia que concede desejos” e compara uma única frase à “semente de todos os Budas” (WND, v. 1, p. 539).

A joia que concede desejos, como o nome indica, é uma joia preciosa que tem o poder de manifestar qualquer coisa que a pessoa desejar. Ela simboliza o poder benéfico da Lei Mística dos três mil mundos num único momento da vida.18 E como cada palavra ou frase do Sutra de Lótus é a joia dos três mil mundos num único momento da vida, ela é a “semente”, ou a causa, para a iluminação de todos os budas.

Os sutras provisórios apresentados antes do Sutra de Lótus não revelam as doutrinas da possessão mútua dos Dez Mundos nem os três mil mundos num único momento da vida. Assim, eles não fornecem nenhuma forma de fazer a ligação entre os nove mundos e o mundo do estado de Buda. Mesmo que tenham um poder limitado para ajudar certos seres dos nove mundos a aumentar sua capacidade de compreender o ensinamento do Buda, esses sutras provisórios não constituem uma “semente” universal ou causa para atingir a iluminação.

Por que então Sakyamuni somente revelou a Lei para atingir o estado de Buda — elucidando a possessão mútua dos Dez Mundos e os três mil mundos num único momento da vida — pela primeira vez no Sutra de Lótus? Daishonin diz que isso nada tem a ver com o fato de os ouvintes de Sakyamuni “terem ou não a capacidade de compreender essas doutrinas”, mas sim porque “havia chegado o momento de ele pregá-los” (WND, v. 1, p. 539).

Ou seja, não era tanto o fato de o Buda ter decidido pregar a Lei porque havia cultivado a capacidade de seus discípulos, fazendo que atingissem um nível em que se encontravam prontos para receber seu supremo ensinamento; mas sim porque Sakyamuni percebeu que havia chegado o tempo certo de expor a Lei de acordo com a própria iluminação, independentemente da capacidade das outras pessoas.

A época do Kossen-rufu [2]
[Parte 1]
Terceira Civilização, Edição 521, 07/01/2012, pág. 57 / Estudo
O Nam-myoho-rengue-kyo será amplamente propagado nos Últimos Dias da Lei

Pergunta: Não há uma forma de determiná-los [isto é, o tempo e a capacidade das pessoas]?

Resposta: Tomemos emprestados os olhos do Buda19 para avaliar a questão sobre o tempo e a capacidade. Vamos usar o sol do Buda para iluminar a nação. (...)
Não há nenhuma dúvida de que nossa época atual corresponde ao quinto período de quinhentos anos descrito no Sutra da Grande Coleção,20 quando “a Lei pura se tornar obscurecida e se perder”. Mas depois que a Lei pura ficar obscurecida e se perder, a pura e nobre Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, que é a verdadeira essência do Sutra de Lótus, com toda certeza será propagada e amplamente proclamada por toda a terra de Jambudvipa [este mundo em que vivemos] — com seus oitenta mil reinos, seus oitenta mil governantes e os ministros e o povo nos domínios de cada um desses governantes — assim como o nome de Amida21 é atualmente recitado por monges, monjas, leigos e leigas no Japão (WND, v. 1, p. 540-541).

Se for verdade que o Buda expôs a Lei não de acordo com a capacidade das pes­soas, mas conforme o tempo, surge então a pergunta: “Quando será a época de pregar o Hinayana ou os sutras Mahayana provisórios, e quando será a de pregar o Sutra de Lótus?” (WND, v. 1, p. 540) De que forma as pessoas comuns podem saber qual o tempo e a capacidade no que diz respeito aos vários ensinamentos do Buda?

Nitiren Daishonin respondeu a essa pergunta da seguinte forma: “Tomemos emprestados os olhos do Buda para avaliar a questão sobre o tempo e a capacidade [das pessoas]. Vamos usar o sol do Buda para iluminar a nação” (WND, v. 1, p. 540). A frase “os olhos do Buda” significa a visão perspicaz do Buda, que percebe o verdadeiro aspecto de todos os fenômenos. O “sol do Buda” corresponde à sabedoria de Buda que, assim como os raios do Sol, ilumina tudo.

“Tomemos emprestados os olhos do Buda para avaliar a questão sobre o tempo e a capacidade” refere-se a determinar o tempo e a capacidade à luz dos sutras. E “usar o sol do Buda para iluminar a nação” significa compreender a realidade do país à luz dos sutras. Daishonin salienta a importância de julgar as questões sobre o tempo e a capacidade, bem como a situação da nação, não com base em opiniões arbitrárias de diferentes mestres ou eruditos budistas, mas sim nos próprios ensinamentos do Buda.

Como referência do sutra para determinar o tempo, Daishonin cita o trecho no Sutra da Grande Coleção em que Sakyamuni prediz o futuro após seu falecimento em termos de “cinco períodos de quinhentos anos”.22 Esses cinco períodos são: (1) a época de alcançar a libertação; (2) a época da meditação; (3) a época da leitura, recitação e escuta; (4) a época da construção de templos e estupa; e (5) a época dos conflitos, mais especificamente descrita como “uma época de batalhas e disputas, quando a Lei pura ficar obscurecida e se perder”. Daishonin faz uma descrição detalhada de quais ensinamentos do Buda prosperam e se propagam durante cada um desses períodos de quinhentos anos (Cf. WND, v. 1, p. 544-550).

Mas o foco de Nitiren Daishonin é o quinto período de quinhentos anos. Como já observei, esta era de conflito é uma época em que surgem batalhas e disputas no mundo do budismo e a Lei pura, o ensinamento correto do Buda, torna-se obscurecida e se perde (Cf. WND, v. 1, p. 541). De fato, essas palavras descrevem perfeitamente a situação do Japão na época de Daishonin. Nesse país, o budismo de Sakyamuni havia se dividido naquelas que ficaram conhecidas como as oito ou dez escolas,23 com cada uma delas afirmando sua exatidão em oposição à outra; os ensinamentos do Buda tornaram-se cada vez mais confusos e desordenados.

A falta de uma sólida filosofia ou sistema de crença fez a vida das pessoas ficar desordenada. Além disso, ocorreram vários desastres naturais e casos de lutas civis, os quais infligiram infelicidade e sofrimento às pessoas de todas as partes da nação japonesa.

A escola Terra Pura (Nembutsu) daquela época ensinava que — após a Lei pura de outros ensinamentos do Buda Sakyamuni ficar obscurecida e se perder —, a pura e nobre Lei exposta nos três sutras da Terra Pura24 seria propagada (Cf. WND, v. 1, p. 541). Esse ponto de vista enfatizava a capacidade da pessoa de forma desproporcional, insistindo que a maneira facilitada de praticar a Nembutsu era adequada às pessoas dos Últimos Dias, dada à sua capacidade inferior.

Entretanto, Daishonin dá a máxima importância ao tempo, uma posição que se fundamenta em seus aprofundados estudos dos sutras. Por isso, neste escrito, ele indica claramente que, após a Lei pura de Sakyamuni ficar obscurecida e se perder, será a hora de “a pura e nobre Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, a própria essência do Sutra de Lótus”, se propagar amplamente por todo o mundo (Cf. WND, v. 1, p. 541). Esta é a altaneira declaração de Daishonin como uma pessoa ativamente comprometida em transformar os Últimos Dias, passando de uma era do budismo em declínio para a época do Kossen-rufu e do florescimento do ensinamento correto da Lei Mística nos Últimos Dias.

O ensinamento a ser difundido nos Últimos Dias para livrar as pessoas do sofrimento é a nobre Lei do Budismo da Semeadura de Daishonin.25 Isto é, o Nam-myoho-rengue-kyo — que tem o poder de ativar diretamente a natureza de Buda na vida de cada indivíduo, independentemente de sua capacidade de compreensão. Como a “semente fundamental do estado de Buda” por intermédio da qual todos os budas nasceram, a Lei do Nam-myoho-rengue-kyo permite que as pessoas que vivem nestes últimos dias corrompidos transformem positivamente a vida no nível mais fundamental.

Essas passagens [que indicam que a pura e nobre Lei será amplamente propagada no exterior nos Últimos Dias] descrevem a seguinte situação: durante o quinto período de quinhentos anos, eminentes sacerdotes possuídos por demônios malignos estarão em todas as partes do país. Nessa época, surgirá um único sábio. Os eminentes sacerdotes possuí­dos por demônios malignos iludirão o governante, seus ministros e as pessoas comuns, fazendo que caluniem e maltratem esse homem, atacando-o com varas, bastões e pedras e condenando-o ao exílio ou à morte.

Sakyamuni, Muitos Tesouros26 e os budas das dez direções falarão aos grandes bodhisattvas que emergiram da terra. Por sua vez, os grandes bodhisattvas relatarão a Brahma, a Shakra, aos Deuses do Sol e da Lua e aos Quatro Reis Celestiais.27Assim [com os seres celestiais repreendendo as pessoas que caluniam a Lei], estranhas ocorrências e distúrbios incomuns aparecerão em abundância nos céus e na terra.

Se houver países cujos governantes não deem importância a essa advertência, os budas e os grandes bodhisattvas requisitarão às nações vizinhas que ataquem os maus governantes e os maus sacerdotes desses países. Dessa forma, irromperão em Jambudvipa [o mundo inteiro] grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas.
Nessa época, todas as pessoas que vivem na terra iluminada pelo Sol e pela Lua, temendo a destruição de sua nação ou a perda de vida, orarão aos budas e bodhisattvas pedindo ajuda. Se não houver nenhum sinal de que suas orações serão respondidas, elas depositarão sua fé neste único e humilde sacerdote a quem haviam odiado anteriormente. Então, todos os incontáveis eminentes sacerdotes, os grandes governantes dos oitenta mil países [de todo Jambudvipa] e as incontáveis pessoas comuns inclinarão a cabeça até encostar no chão, unirão as palmas das mãos e numa só voz recitarão o Nam-myoho-rengue-kyo (WND, v. 1, p. 542).

A predição do Sutra de Lótus sobre a propagação da Lei Mística nos Últimos Dias

Antes deste trecho, Daishonin cita um número de passagens do Sutra de Lótus, incluindo o 23º capítulo, “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios”, e o 13º capítulo, “Devoção Encorajadora”,28 para reafirmar que a Lei Mística será amplamente propagada nos Últimos Dias (Cf. WND, v. 1, p. 542). Ele sintetiza essas passagens em cinco pontos principais:

1. Durante o quinto período de quinhentos anos — a “época das batalhas e disputas”, quando os ensinamentos do Buda Sakyamuni ficarão obscurecidos e serão perdidos —, a terra ficará cheia de eminentes monges budistas “possuídos por demônios malignos”.29 Esta é uma referência aos três poderosos inimigos,30 que o capítulo “Devoção Encorajadora” prediz que aparecerão na era maléfica após a morte do Buda, sendo o mais assustador deles o grupo conhecido como os “falsos sábios arrogantes”.

2. Nessa época, surgirá um “único sábio”. Nem é preciso dizer que essas palavras se referem ao próprio Buda Nitiren Daishonin.

3. Os eminentes monges, possuídos pelos demônios, caluniarão e difamarão essa pessoa sábia para as autoridades seculares e as personalidades influentes da época, incitando-as a atacarem-no “com varas, bastões e pedras” e a condenarem-no ao exílio ou à morte.

4. Quando essa pessoa sábia for perseguida pelo governante e pelas pessoas de toda a nação, estranhas ocorrências e distúrbios incomuns aparecerão em abundância nos céus e na terra, como uma repreensão das divindades celestiais. Se não derem ouvidos a essa advertência, então “grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas” irromperão no mundo.

5. Temendo a destruição de sua nação ou a perda de vida, o governante e as pessoas comuns depositarão sua fé neste sábio a quem haviam perseguido anteriormente e passarão a recitar o Nam-myoho-rengue-kyo.

Da perspectiva da época de Nitiren Dai­shonin, no século 13, no Japão, “as grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas” indicavam a invasão do exército mongol — o ataque por parte de uma força estrangeira, situação pela qual o Japão nunca havia passado antes.

Assim como mencionei anteriormente, na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, escrita há mais de uma década antes de “A Seleção do Tempo”, Daishonin havia advertido para o fato de que o Japão sofreria o desastre da invasão estrangeira [em consequência de a nação inteira ter se voltado contra o ensinamento correto do budismo]. Ele entregou essa tese para protestar perante os governantes do país, sabendo que poderia ser perseguido por querer salvar as pessoas de passarem pela tragédia e pelo sofrimento da guerra.

Publiquei (em 1964) uma edição com explanações sobre “A Seleção do Tempo”. Toda Sensei havia começado a redigir uma série de preleções sobre esse escrito e concluí o projeto após o falecimento do meu mestre. Assim, esse livro foi uma produção em conjunto de mestre e discípulo.

Recordo-me de que, nessa série, discuti exaustivamente a forma de interpretar na época atual a referência que Daishonin faz às “grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas”. Notei que alguns poderiam adotar o ponto de vista de que a guerra e o conflito sem precedentes em que o mundo estava mergulhado eram uma alusão à futura eclosão da Terceira Guerra Mundial. Observei que um conflito global em nossa era nuclear significava a destruição quase total da raça humana. Nesse cenário, portanto, devemos garantir plenamente que uma Terceira Guerra Mundial jamais aconteça.

Com base nesse raciocínio, optei por interpretar as “grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas” como uma referência à Segunda Guerra Mundial. Continuei enfatizando a importância de avançar com coragem pelo caminho do Kossen-rufu para criar um mundo em que a paz prevaleça.

Hoje, meus sentimentos são os mesmos. Ou melhor, eles ficaram ainda mais fortes. Nós temos realmente de conseguir a paz. No ano passado, apresentei uma proposta de desarmamento nuclear.31 Na marcante declaração do Sr. Toda pela abolição das armas nucleares (em setembro de 1957), ele bradou com toda paixão: “Meu desejo é atacar o problema pela raiz, isto é, liberar as garras que estão ocultas nas profundezas dessa questão”. Fazendo do espírito dele meu sentimento, entrei em ação com o objetivo de que o mundo ficasse livre das armas nucleares. Passo agora o bastão do Kossen-rufu — ou seja, o bastão da criação da paz — aos meus jovens Soka.

Sem dúvida, o foco do Budismo Nitiren é fazer que todas as pessoas vivam em paz e segurança. Na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, Daishonin explica que repreendeu tão firmemente o governante para impedir o tumulto da guerra que resultaria dos desastres da revolta interna e da invasão estrangeira — dois dos sete desastres32 profetizados nos sutras que ainda não haviam ocorrido no Japão na época de Nitiren Daishonin.

“A Seleção do Tempo” é um ardente chamado em prol da paz antes que seja tarde demais. “Vamos impedir a ocorrência de grandes revoltas e conflitos que fazem as pessoas sofrer! Vamos concretizar um mundo pacífico pela prosperidade e segurança de todos os povos!” — esta é nossa posição fundamental como budistas e é também o espírito do Budismo Nitiren.

A construção de uma sociedade benevolente que respeite a todos

Nitiren Daishonin surgiu na “época das batalhas e disputas” dos Últimos Dias da Lei. Mais especificamente, no período Kamakura (1192-1333) em que ocorreu o estabelecimento do regime militar no Japão. Foi também uma época em que o país enfrentava a ameaça da invasão estrangeira. Considerando essas circunstâncias, um subtítulo apropriado para “A Seleção do Tempo” poderia ser “Optando pela Paz”.

Assim como indiquei no início, a Soka Gakkai surgiu no período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Esta foi uma época em que o Japão precipitava-se no caminho do militarismo. Também é fato que a SGI foi fundada na época da guerra fria, quando havia altas tensões entre a China e a antiga União Soviética.

O que a humanidade deve aprender dessas duas guerras mundiais do século 20? Deve aprender que as verdades absolutas de que “não há nada mais trágico e cruel que a guerra” e de que “não há nada mais precioso que a paz” precisam se tornar valores humanos universais. E, por conseguinte, aprender o profundo significado de nossos esforços para difundir os princípios de afirmação da vida e os ideais do Budismo Nitiren para a concretização da paz duradoura.

As “garras que estão ocultas nas profundezas dessa questão [das armas nucleares]”, sobre as quais Toda Sensei falou em sua declaração, referem-se à escuridão fundamental ou à ignorância33 que se encontra nas profundezas da vida humana. Essa escuridão inata causa os impulsos iludidos que se manifestam como avareza, ira e estupidez e são a fonte de todo o mal e sofrimento.

As passagens do Sutra de Lótus citadas por Daishonin em “A Seleção do Tempo”, sobre as quais discuti anteriormente, descrevem a realidade da “época das batalhas e disputas”. Os demônios malignos possuem a mente dos monges arrogantes que estão ansiosos por serem reconhecidos e conseguirem vantagens, fazendo que eles repudiem o ensinamento correto e seu devoto. Em certo sentido, não há ignorância maior que esta. As funções da escuridão fundamental procuram impedir que a natureza iluminada inata da pessoa se manifeste.

Combater a escuridão fundamental equivale a combater o mal ou a negatividade inerente na vida humana. Os genuínos praticantes do Sutra de Lótus não recuam um único passo nessa batalha. Ao triunfar sobre os Três Obstáculos e as Quatro Maldades,34 e também sobre as investidas dos Três Poderosos Inimigos, os praticantes demonstram o brilhante potencial da natureza fundamental da iluminação ou a natureza do Dharma35 que todas as pessoas possuem. Essa prova derruba os apegos errôneos de outras pessoas e faz que elas questionem suas opiniões.

A batalha contra a escuridão fundamental é um desafio para romper com a desconfiança das pessoas e o desrespeito pela vida humana e fazer que elas despertem para sua dignidade inata como seres humanos. Nesse sentido, vamos considerar a advertência de Daishonin sobre “as grandes batalhas e disputas como nunca antes vistas” como uma batalha épica para vencer as crenças errôneas das pessoas. É uma luta para derrubar os muros do preconceito e superar a impotência nos corações humanos.

Nosso humanismo deve vencer a natureza maligna inerente na vida. Esse humanismo é a batalha do Kossen-rufu.

A finalidade do Budismo é envolver a humanidade numa calorosa correnteza de benevolência. Toda Sensei declarou: “Quando vocês praticam o Budismo verdadeiramente de acordo com a época, agem naturalmente com benevolência”. Nossos esforços para prezar cada pessoa estão construindo uma sociedade em que há compaixão e respeito por todos.

O Sr. Toda disse que, como pessoas comuns, necessitamos de coragem para continuarmos a empreender ações com base na compaixão. Isso, declarou ele, nada mais é que a coragem para ajudar os outros, para se aprimorar, desafiar a realização da revolução humana e trabalhar em prol do Kossen-rufu.

No século 21, os conceitos de respeito pela inviolabilidade da vida e a dignidade humana virão a ser amplamente estabelecidos por meio da solidariedade espiritual das pessoas conscientes no mundo inteiro? Ou o que veremos será a predominância de ideias que manchem a inviolabilidade da vida e a dignidade humana, resultantes de uma corrente causal de desconfiança e ódio gerados pela escuridão fundamental ou ignorância?

Creio que seja profundamente significativo que, uma vez que a humanidade se encontra nesta encruzilhada, nossa aliança Soka esteja se difundindo firmemente por todo o mundo com o juramento de promover e impulsionar os valores humanos.

O sentimento das pessoas é influenciado pelas tendências da época. Sem ações positivas, há o perigo de perder a direção a seguir. Uma forte determinação de fazer que a época siga na firme direção do bem é a força motriz que nos instiga a criar a época certa. O “tempo” não é simplesmente uma condição objetiva; ele é, em essência, esculpido por firme determinação. Ou seja, uma época consolidada é criada pela vontade para lutar e vencer, dia após dia, com firmeza e segurança, independentemente de as outras pessoas estarem observando nossos esforços ou não.

Toda Sensei declarou: “Devemos focalizar nossos esforços em incentivar um novo membro sincero, e depois em encorajar outro e mais outro. É isso que cria a época”. Nesse sentido, o tempo certo não é algo pelo qual ficamos esperando, mas sim algo que devemos criar. Foi isso que aprendi com meu mestre durante as batalhas que empreendi quando jovem ao lado dele.

Sempre agi com a convicção de que o tempo certo é alcançado com determinação e esforço e que tudo se resume em desafiarmos a nós próprios. Em vez de ficar sentado em serena contemplação, recitei Daimoku e entrei em ação — viajei, conversei e escrevi incansavelmente para propagar o Budismo Nitiren. Abri as portas do coração das pessoas, ajudando-as a construir uma intransponível fortaleza de paz e felicidade na vida delas. Estou convicto de que este é o significado de “selecionar o tempo” — ou escolher o tempo certo — em termos de nossa prática budista individual.

Nitiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias, disse: “Eu, Nitiren, ciente da época em que estamos vivendo, desejo agora propagar amplamente esta doutrina [dos Três Grandes Ensinamentos Fundamentais (isto é, o Nam-myoho-rengue-kyo)]” (WND, v. 2, p. 988).

Toda Sensei ressaltou: “Encontrar uma época auspiciosa e estar no ritmo dessa época é o que faz valer a pena ter nascido. (...) Minha maior alegria é, sem exceção, ter recebido o decreto do Buda de concretizar o Kossen-rufu”.

(Daibyakurengue, edição de abril de 2011.)

1. No tratado “A Entidade da Lei Mística”, Nitiren Daishonin declara: “Quando o sábio estava observando o princípio (...), percebeu que havia essa maravilhosa e única Lei [myoho] que possuía simultaneamente tanto a causa como o efeito [rengue], e chamou-a Myoho-rengue. Essa única Lei que é o Myoho-rengue abrange dentro de si todos os fenômenos que compreendem os Dez Mundos e os três mil domínios, e não está em falta em nenhum deles. Qualquer pessoa que pratique essa Lei obterá tanto a causa como também o efeito do estado de Buda de forma simultânea” (WND, v. 1, p. 421).

2. De acordo com as “Diretrizes para os Seguidores da Escola Fuji”, de autoria de Nikko Shonin, esse escrito foi enviado a Yui de Nishiyama, que morava na Província de Suruga (Cf. GZ, p. 1605). Os historiadores supõem que Yui possa ter sido o avô materno de Nikko Shonin (o monge leigo Kawai) ou seu tio materno (o monge leigo Kawai Matajiro).

3. Buda Excelência da Grande Sabedoria Universal: Descrito no sétimo capítulo do Sutra de Lótus, “Parábola da Cidade Imaginária”, como aquele que ensinou o Sutra de Lótus no passado inconcebivelmente distante. Em “A Seleção do Tempo”, Daishonin diz: “No passado, quando o Buda Excelência da Grande Sabedoria Universal apareceu no mundo, ele passou um período de dez kalpa pequenos sem pregar um único sutra” (WND, v. 1, p. 538).

4. Maitreya: Um bodhisattva que, segundo as predições, sucederia a Sakyamuni como um buda do futuro. Em “A Seleção do Tempo”, Daishonin diz: “O Bodhisattva Maitreya reside na corte interior do céu Tushita por um período de cinco milhões e seiscentos e setenta mil anos, esperando o momento de seu advento no mundo” (WND, v. 1, p. 538).

5. Jambudvipa: Indica a totalidade do reino onde as pessoas habitam e onde o budismo será propagado.

6. Devadatta: Primo e discípulo de Sakyamuni. Sendo uma pessoa muito arrogante, ele se tornou inimigo de Sakyamuni e cometeu muitas ofensas graves, incluindo a perturbação da Ordem budista e a tentativa de matar o Buda. Consta que, por causa disso, Devadatta caiu vivo no inferno. Entretanto, no Sutra de Lótus, Sakyamuni prediz que Devadatta alcançará a iluminação no futuro como um buda chamado Rei Celestial. Isso ilustra o princípio de que mesmo as pessoas más têm o potencial para a iluminação.

7. Ajatashatru: Rei de Magadha, na Índia, que viveu na época de Sakyamuni. Instigado por Devadatta, conquistou o trono prendendo e depondo seu pai, o rei Bimbisara, que era seguidor de Sakyamuni. Também atentou contra a vida do Buda e de seus discípulos. Posteriormente, converteu-se ao budismo e, sentindo remorso por causa dos maus atos, apoiou a realização do Primeiro Concílio Budista e a compilação dos ensinamentos de Sakyamuni.

8. Filha do Rei Dragão: Também chamada menina-dragão. Filha de 8 anos de Sagara, um dos oito grandes reis dragões que se acreditava habitar num palácio no fundo do mar. De acordo com o 12º capítulo do Sutra de Lótus, intitulado “Devadatta”, a menina-dragão concebe o desejo de atingir a iluminação ao ouvir o Bodhisattva Manjushri pregar o Sutra de Lótus. Em seguida, ela aparece diante da assembleia do Sutra de Lótus e instantaneamente atinge o estado de Buda em sua presente forma.

9. Os cinco obstáculos, descritos em várias escrituras budistas, referem-se a cinco tipos de seres nos quais as mulheres não podiam se transformar. Esses seres são os deuses Brahma e Shakra, um rei demônio, um rei girador da roda e um buda.

10. Referência ao 15º capítulo do Sutra de Lótus, “Emergindo da Terra”. Ao observar os Bodhisattvas da Terra, Maitreya e outros presentes na assembleia ficam imaginando como, nos meros quarenta anos desde a sua iluminação sob a árvore bodhi, o Buda havia ensinado e treinado tantos bodhisattvas nobres e majestosos. Maitreya observa que é como se um jovem de 25 anos apontasse para um homem de 100 e dissesse: “Este é meu filho” (cf. LSOC, v. 15, p. 216-262 [LS, v. 15, p. 220-221]).

11. Três mil mundos num único momento da vida: Doutrina desenvolvida por Tient’ai, da China, com base no Sutra de Lótus. O princípio de que todos os fenômenos estão contidos num único momento da vida e que um único momento da vida permeia os três mil mundos da existência, ou todo o mundo dos fenômenos.

12. Joia que concede desejos: Uma joia com o poder de produzir o que a pessoa desejar. Simboliza a virtude e o poder do Buda e das escrituras budistas.

13. LSOC, v. 2, p. 68 (LS, v. 2, p. 34).

14. Sutra Guirlanda de Flores: Também conhecido como Sutra Avatamsaka. Texto básico da escola budista Guirlanda de Flores. De acordo com esse sutra, Sakyamuni expôs o ensinamento contido nele imediatamente depois de ter atingido a iluminação sob a árvore bodhi, no reino de Magadha, na Índia.

15. Mundo saha: Em sânscrito, saha significa a Terra; deriva de um significado original que quer dizer “aguentar” ou “resistir”. Assim, o mundo saha indica um mundo em que as pessoas devem suportar o sofrimento. Também é definido como uma terra impura, uma terra maculada pelos desejos mundanos e pela ilusão, em contraste com uma terra pura.

16. Dez Mundos: Dez reinos distintos ou categorias de seres relacionados nas escrituras budistas. Do mais baixo ao mais elevado, são os reinos (1) do inferno, (2) dos espíritos famintos, (3) dos animais, (4) dos asura, (5) dos seres humanos, (6) dos seres celestiais, (7) dos ouvintes, (8) dos que despertaram para a causa, (9) dos bodhisattvas e (10) dos budas. Os Dez Mundos eram considerados locais físicos distintos, cada um com os próprios habitantes. O Sutra de Lótus, entretanto, ensina que cada um dos Dez Mundos contém todos os outros dez, tornando possível interpretá-los como estados potenciais da vida inerentes em cada ser.

17. Nove Mundos: Nove dos Dez Mundos, exceto o mundo dos budas, ou o estado de Buda. Os nove mundos são contrastados com o mundo do estado de Buda para indicar o reino da ilusão e da impermanência.

18. Daishonin escreveu: “Cada caractere do Sutra de Lótus é como uma única joia que concede desejos e os incontáveis caracteres do sutra são como incontáveis joias” (WND, v. 1, p. 323). Ele também diz “A joia que concede desejos significa o princípio dos três mil mundos num único momento da vida” (OTT, p. 93).

19. Um dos cinco tipos de visão — a visão física, a visão celestial, a visão da sabedoria, a visão do Dharma e a visão do Buda. A “visão do Buda” significa os sutras que fazem parte dos ensinamentos de Sakyamuni.

20. Sutra da Grande Coleção: Coleção de sutras traduzidos para o chinês por Dharmaraksha (385–433) e outros. Esses sutras foram compilados num único sutra, ou o Sutra da Grande Coleção, por Seng-chiu da dinastia Sui no ano de 586. Essa obra prediz como será realizada a propagação do budismo durante os cinco períodos de quinhentos anos após a morte de Sakyamuni.

21. Os sutras da Terra Pura descrevem Amida como um buda que reside na Terra Pura da Perfeita Alegria, no Oeste. Ele é reverenciado pelos seguidores da escola Terra Pura, ou Nembutsu.

22. Cinco períodos de quinhentos anos: Cinco períodos consecutivos após a morte de Sakyamuni, durante os quais consta que o budismo será propagado, prosperará e posteriormente cairá em declínio. É o começo dos Últimos Dias da Lei. São: (1) a “época de alcançar a libertação”, em que muitas pessoas atingem a emancipação praticando os ensinamentos do Buda; (2) a “época da meditação”, quando a meditação é amplamente praticada; (3) a “época da leitura, da recitação e da escuta”, quando as pessoas estudam e recitam os sutras e ouvem as preleções sobre ele como prática central; (4) a “época de construir templos e estupa”, em que muitos templos e estupa são construídos, mas o espírito de buscar os ensinamentos budistas declina; e (5) a “época do conflito”, conhecida também como a “época das brigas e disputas”, quando ocorrem disputas entre várias escolas budistas rivais e os ensinamentos do Buda Sakyamuni ficam obscurecidos e se perdem.

23. Oito ou dez escolas: São as oito escolas principais do budismo no Japão antes do período Kamakura (1185–1333). São elas: Tesouro da Análise do Dharma; Estabelecimento da Verdade; Preceitos; Características do Dharma; Três Tratados; Guirlanda de Flores; Tendai; e Verdadeira Palavra. Acrescentando as escolas Terra Pura (Nembutsu) e Zen, que surgiram no início do período Kamakura, têm-se as dez escolas, uma vez que elas sempre são relacionadas coletivamente nas obras budistas japonesas.

24. Três Sutras da Terra Pura: São eles: Sutra do Buda da Vida Infinita, Sutra da Meditação sobre a Vida Infinita do Buda e Sutra Amida. Honen (1133–1212), fundador da escola japonesa Terra Pura, denominou esses três sutras de os três sutras da Terra Pura.

25. Budismo da Semeadura: Budismo que planta na vida das pessoas as sementes do estado de Buda, ou a causa para atingir o estado de Buda. Nos ensinamentos de Nitiren Daishonin, o Budismo da Semeadura indica o Budismo Nitiren, em contraste com o de Sakyamuni, que é denominado de Budismo da Colheita.

26. Buda Muitos Tesouros: Descrito no Sutra de Lótus, o Buda Muitos Tesouros aparece sentado dentro de sua torre do tesouro. De acordo com o 11º capítulo do Sutra de Lótus, “Torre do Tesouro”, ele vive no Mundo da Pureza do Tesouro, que fica no Leste. Enquanto ainda está engajado na prática de bodhisattva, ele promete que, mesmo após ter entrado no nirvana, aparecerá com sua torre do tesouro para atestar a validade do Sutra de Lótus, onde quer que ele seja ensinado.

27. Deuses e reis descritos na mitologia budista. Brahma e Shakra são os dois principais deuses protetores do budismo. Os quatro reis celestiais servem a Shakra e protegem os quatro quadrantes do mundo.

28. Daishonin refere-se à passagem do 23º capítulo, “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios”, que diz: “Depois que eu tiver entrado em extinção, no último período de quinhentos anos vocês devem propagá-lo [este ensinamento] amplamente no exterior, por todo Jambudvipa [o mundo inteiro], e nunca permitir que seja eliminado nem que os demônios malignos, as pessoas malignas, os seres celestiais, os dragões, os yaksha, os demônios kumbhanda ou outros se aproveitem dele!” (LSOC, v. 23, p. 330 [LS, v. 23, p. 288]) Ele cita também as seguintes passagens do 13º capítulo, “Devoção Encorajadora”: “Nessa época maligna, haverá monges”, “Ou haverá monges vivendo na floresta” e “Os demônios malignos dominarão as pessoas” (LSOC, v. 13, p. 232-233 [LS, v. 13, p. 193-194]).

29. Referência à passagem do 13º capítulo, “Devoção Encorajadora”, que diz: “Os demônios malignos dominarão as outras pessoas” (ver nota anterior). Significa que essas funções negativas entrarão na vida das pessoas, fazendo que elas insultem e caluniem aqueles que abraçam e protegem o ensinamento correto do budismo, obstruindo sua prática budista.

30. Três Poderosos Inimigos: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica após a morte do Buda Sakyamuni, descritos no trecho em verso que encerra o 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo (711—782) da China resume-os como pessoas leigas arrogantes, monges arrogantes e falsos sábios arrogantes.

31. Numa proposta apresentada em setembro de 2009 e intitulada “Construindo a Solidariedade Global em prol da Abolição Nuclear”, o presidente Ikeda esclarece o significado moderno da declaração de Toda e apresenta cinco propostas para a concretização de um mundo livre de armas nucleares. Para referência, ver o site: . Acesso em: 7 jun. 2010.

32. Consta que os sete desastres seriam causados pela calúnia ao ensinamento correto. O Sutra Mestre dos Remédios define os sete desastres como: (1) peste, (2) invasão estrangeira, (3) revolta interna, (4) mudanças extraordinárias nos céus, (5) eclipses solares e lunares, (6) tempestades fora de época e (7) seca.

33. Escuridão fundamental ou ignorância: Trata-se da ilusão mais profundamente arraigada na vida, que se acredita seja a causa de todas as outras ilusões. Escuridão fundamental significa a incapacidade de enxergar ou reconhecer a verdade, particularmente a verdadeira natureza da vida da pessoa. Daishonin interpreta a escuridão fundamental como ignorância da Lei suprema, ou ignorância do fato de que a vida da pessoa é essencialmente uma manifestação da Lei, que ele identifica como Nam-myoho-rengue-kyo.

34. Três Obstáculos e Quatro Maldades: Vários obstáculos e impedimentos para a prática do Budismo. Os Três Obstáculos são: (1) Obstáculo dos Desejos Mundanos, (2) Obstáculo do Carma e (3) Obstáculo da Punição. As Quatro Maldades são: (1) Impedimento dos Desejos Mundanos, (2) Impedimento dos Cinco Componentes, (3) Impedi­mento da Morte e (4) Impedimento do Rei Demônio.

35. Natureza fundamental da iluminação, ou natureza do Dharma: Natureza imutável e inerente em todas as coisas e todos os fenômenos. Identifica-se como a própria Lei fundamental, a essência da iluminação do Buda, ou a verdade suprema.

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A era do budismo do povo, a era do triunfo da humanidade [1]
Parte 2
Terceira Civilização, Edição 522, 11/02/2012, pág. 50 / Estudo
[5] “A Seleção do Tempo”

por Daisaku Ikeda, presidente da SGI
TRECHOS DA CARTA

Já se passaram mais de duzentos anos, desde que entramos nos Últimos Dias da Lei. É uma época em que — assim como registrado no Sutra da Grande Coleção — o Buda fez a profecia de que aconteceriam “brigas e disputas entre os seguidores de meus ensinamentos, e a Lei pura se tornaria obscurecida e se perderia”. Se as palavras do Buda são verdadeiras, trata-se de uma época em que toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro] será sem falta envolvida em batalhas e disputas. (...)

A predição do Buda sobre a ocorrência de batalhas e disputas foi comprovada. É como as marés que nunca deixam de chegar no momento certo.

Considerando a exatidão de sua predição, pode haver alguma dúvida de que, após o período descrito no Sutra da Grande Coleção, quando “a Lei pura se tornar obscurecida e se perder”, a pura e nobre Lei do Sutra de Lótus será propagada por todo o Japão e em todos os outros países de Jambudvipa? (WND, v. 1, p. 549-550)

***

[No Sutra de Lótus, o Buda Muitos Tesouros e os budas das dez direções atestaram a veracidade do ensinamento de Sakyamuni.] O Buda Sakyamuni também estendeu sua língua, que é incapaz de proferir falsidades, até alcançar o mais alto céu do mundo da forma. Ele estava dizendo que, no último período de quinhentos anos após seu falecimento, quando toda a doutrina budista estivesse para desaparecer, o Bodhisattva Práticas Superiores se apresentaria com os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo e iria administrá-los como um bom remédio para as pessoas que sofrem de lepra — isto é, as pessoas de descrença incorrigível e aquelas que caluniam a Lei. E ele encarregou Brahma, Shakra, os Deuses do Sol e da Lua, Os Quatro Reis Celestiais e as divindades dragões para que atuassem como protetores desse bodhisattva. Como essas palavras douradas poderiam ser falsas? Mesmo que a grande terra virasse de cabeça para baixo, uma montanha se desintegrasse e ruísse, depois da primavera não chegasse o verão, o Sol se movesse para o Leste ou a Lua caísse na Terra, esta predição nunca deixaria de se concretizar! (WND, v. 1, p. 550)

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A pessoa que propaga o Sutra de Lotus é o pai e a mãe de todos os seres vivos do Japão. Como diz o Grande Mestre Chang-an: “Aquele que livra o ofensor do mal está agindo como seu pai”. Sendo assim, então, eu, Nitiren, sou o pai e a mãe do atual imperador do Japão, e o mestre e o senhor dos que creem na Nembutsu, dos seguidores da Zen e dos monges da Verdadeira Palavra (WND, v. 1, p. 551).

EXPLANAÇÃO

Meu mestre, Jossei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, fez a seguinte declaração: “Já está passando do tempo. Decorreram sete séculos desde que o Buda Nitiren Daishonin proclamou seu ensinamento. Em nenhum momento, no decurso desses setecentos anos, houve uma organização como a Soka Gakkai. Espero que sintam grande orgulho por isso”.1 Com esse vigoroso rugido do leão, Toda Sensei ressaltou a extraordinária natureza de nossa organização, que surgiu nos tempos modernos para cumprir a missão de realizar o desejo do Buda de propagar amplamente a Lei Mística.

Vencendo a perseguição da época da guerra e dolorosas batalhas para reconstruir a Organização após a guerra, Toda Sensei esteve à frente do dinâmico desenvolvimento de nosso movimento como um grande líder e mestre do Chakubuku. Ele foi motivado pela determinação de livrar o mundo do sofrimento e da miséria.

“Se as palavras do Buda são verdadeiras, então o Kossen-rufu pode certamente ser alcançado. Chegou a época de propagar a Lei Mística! A felicidade da humanidade depende dos esforços que estamos realizando em prol do Kossen-rufu agora” — esta era a inabalável convicção de meu mestre.

Abrindo o caminho para o Kossen-rufu Mundial

O presidente Toda sempre dizia: “Não podemos perder esta oportunidade!” Decidindo corajosamente que havia chegado a época do Kossen-rufu, ele se devotou a definir as bases para o Kossen-rufu no Japão. Ele confiou a mim, seu fiel discípulo, a missão de concretizar o ideal de Daishonin de transmitir o Budismo para o Oeste2 — realizar o Kossen-rufu Mundial.

“Daisaku, construirei uma sólida base para o Kossen-rufu no Japão. Você deve abrir o caminho para o Kossen-rufu em todo o mundo. Conto com você!” Jamais deixei de pensar nesse solene juramento de meu mestre. Para mim, como herdeiro do espírito do Sr. Toda, o Kossen-rufu Mundial representa o juramento compartilhado entre mestre e discípulo e o acalentado propósito de nossa batalha conjunta.

Já se passaram cinquenta anos desde que dei o primeiro passo para o Kossen-rufu Mundial. Atualmente, temos uma sólida base para a SGI. Este ano [2010] comemoramos o 35º aniversário de fundação da SGI. Corajosos Bodhisattvas da Terra continuam a surgir em profusão. Em todos os lugares, temos vigorosas fileiras de jovens em nossas organizações. O fluxo do Kossen-rufu Mundial tornou-se uma correnteza inevitável.

A boa sorte e o benefício por estarmos vivos neste momento auspicioso do Kossen-rufu Mundial e por participarmos da criação de uma nova era são ilimitados. Assim como Daishonin afirma em seu tratado “A Seleção do Tempo”, o caminho para atingir o estado de Buda nesta era maligna dos Últimos Dias encontra-se unicamente nos esforços voltados para a criação de um vigoroso fluxo do Kossen-rufu para vencer as maldades (Cf. WND, v. 1, p. 579-580).3

Já se passaram mais de duzentos anos, desde que entramos nos Últimos Dias da Lei. É uma época em que — assim como registrado no Sutra da Grande Coleção4 — o Buda fez a profecia de que aconteceriam “brigas e disputas entre os seguidores de meus ensinamentos, e a Lei pura se tornaria obscurecida e se perderia”. Se as palavras do Buda são verdadeiras, trata-se de uma época em que toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro] será sem falta envolvida em batalhas e disputas. (...)

A predição do Buda sobre a ocorrência de batalhas e disputas foi comprovada. É como as marés que nunca deixam de chegar no momento certo.
Considerando a exatidão de sua predição, pode haver alguma dúvida de que, após o período descrito no Sutra da Grande Coleção, quando “a Lei pura se tornar obscurecida e se perder”, a pura e nobre Lei do Sutra de Lótus será propagada por todo o Japão e em todos os outros países de Jambudvipa? (WND, v. 1, p. 549-550)

Reconhecendo com exatidão o significado dos Últimos Dias da Lei

Um foco importante do Budismo Nitiren está em como observar os Últimos Dias da Lei.

Os Últimos Dias são um dos três períodos ou estágios consecutivos — junto dos Primeiros e Médios Dias da Lei — em que se divide a época após o falecimento do Buda. Referem-se a uma era em que o budismo cai em declínio e corre o risco de desaparecer.

Esses três períodos são descritos em muitos sutras. Mas suas características são compreendidas mais facilmente quando as observamos nos termos dos três aspectos do ensinamento, da prática e da prova real. Em outras palavras, são o ensinamento do Buda, a prática desse ensinamento e a prova real ou o benefício resultante da prática desse ensinamento.

Inicialmente, há os Primeiros Dias da Lei, quando o ensinamento, a prática e a prova do budismo permanecem sólidos. Os Médios Dias da Lei são uma era em que o ensinamento e a prática do budismo permanecem, porém, não há mais nenhuma prova. Trata-se de um período em que o budismo torna-se cada vez mais cerimonioso. Por fim, os Últimos Dias da Lei são uma era em que, apesar da permanência do ensinamento, não existe mais prática nem prova. É quando o budismo cai em grave decadência. Estas são as características dos Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei.

Em dois trechos diferentes de “A Seleção do Tempo”, Daishonin trata da história da propagação do Sutra de Lótus durante esses três períodos, esclarecendo quem e qual ensinamento conduzirão as pessoas à iluminação nos Últimos Dias.

Com base numa visão geral da primeira discussão (WND, v. 1, p. 544-552),5 a história do budismo ao longo dos Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei é uma crônica da perda e da posterior recuperação da intenção do Buda de conduzir todos ao estado de Buda.

Resumindo, há em primeiro lugar uma difusão gradativa de vários mestres e escolas que perderam de vista a essência dos ensinamentos do Buda. Em meio à desordem que reinava no mundo budista e resultava desse caos, surge uma pessoa sábia que reconhece a verdadeira intenção do Buda e proclama o ensinamento correto. Mas, bem antes disso, as pessoas haviam perdido de vista a verdadeira intenção do Buda, surgindo então outra pessoa sábia que passa a esclarecer essa questão de forma ainda mais aberta e explícita.

No decorrer da história do budismo, por várias vezes, genuínos discípulos do Buda agiram corajosamente para desfazer as ações de impostores. Esses falsos discípulos eram responsáveis por lançar as pessoas no sofrimento com ensinamentos errôneos. Os genuí­nos discípulos levantaram-se sozinhos para hastear bem alto a bandeira do ensinamento correto e livrar as pessoas do sofrimento, empenhando esforços cada vez mais grandiosos.

Portanto, a questão mais importante nos Últimos Dias — uma era maligna em que a Lei cai em decadência — é expor o mais elevado e essencial ensinamento que revela o verdadeiro desejo do Buda.

No entanto, as diferentes escolas budistas da época de Nitiren Daishonin estavam preocupadas com a falta de capacidade das pessoas em compreender os vários sutras. Era crença geral que os antagonistas ou as pessoas de capacidade inferior, aquelas que não compreendiam nem mesmo as doutrinas budistas simples — uma categoria em que se encontravam as pessoas dos Últimos Dias da Lei —, não conseguiriam praticar o difícil ensinamento do Sutra de Lótus.

Honen,6 por exemplo, fundador da escola Terra Pura (Jodo), no Japão, enfatizando de forma desproporcional a capacidade das pessoas, estabeleceu a prática da devoção exclusiva à Nembutsu — a recitação do nome do Buda Amida — como o único meio de as pessoas se salvarem. Segundo ele, as pessoas dos Últimos Dias, sendo antagonistas e de capacidade inferior, não se adequavam ao tipo de prática em que teriam de confiar nos próprios esforços para manifestar a iluminação. Honen insistia que o único caminho para essas pessoas chegarem à salvação estava em conquistar o renascimento no paraíso da Terra Pura da Perfeita Alegria, localizado no Oeste, confiando no poder e na benevolência do Buda Amida.

Num primeiro momento, pode ser que o método de se basear na capacidade para livrar as pessoas do sofrimento nos Últimos Dias seja muito humanista e voltado para os seres humanos. Entretanto, se fizermos uma observação mais detalhada, verificaremos que esse método está bem longe disso. De início, Honen faz uma segmentação arbitrária da capacidade das pessoas, caracterizando-as como antagonistas e inferiores. Depois, ele pressupõe que as pessoas somente possam ser conduzidas à felicidade por um salvador onisciente e transcendental na forma de um grandioso Buda ou bodhisattva. Um método como este separa e marca uma distinção insuperável entre o Buda e os seres vivos — mestre e discípulos.

Os monges e o clero que defendem essas doutrinas se interpõem entre o Buda e as pessoas, usando de sua autoridade religiosa e espiritual para controlar os praticantes. Com frequência, eles propagam os próprios interesses de forma arrogante ou tortuosa.

Nitiren Daishonin, ao contrário, estabelece maior importância no verdadeiro desejo do Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinamentos. Portanto, Daishonin preza o Sutra de Lótus, que expôs “de acordo com a mente do Buda” (isto é, revelando o supremo e verdadeiro desejo de Sakyamuni), e não os ensinamentos provisórios pré-Sutra de Lótus, expostos “de acordo com a mente dos outros” (ou seja, considerando a capacidade da pessoa). Ele declara que o ensinamento a ser transmitido às pessoas dos Últimos Dias é a Lei fundamental. Essa Lei está de acordo com a perspectiva iluminada do Buda, e não com os vários ensinamentos do Buda usados como meios e que são buscados por quem a vida está obscurecida pela ilusão.

Ao analisar a questão da “época” dos Últimos Dias da Lei, Daishonin não se preocupou em avaliar a “capacidade” das pessoas. Ele se dedicou a investigar qual “ensinamento” tinha realmente força para ajudar as pessoas a solucionar seus problemas e superar os sofrimentos. Concluiu que esse ensinamento não era nenhum outro senão o Nam-myoho-rengue-kyo, a essência do Sutra de Lótus.

Portanto, Daishonin considera os Últimos Dias como uma época para a ampla propagação do Sutra de Lótus, ou o Kossen-rufu Mundial, que Sakyamuni visualizou e predisse no Sutra de Lótus.

Como o Sutra de Lótus ensina que todas as pessoas são bodhisattvas e têm o potencial para manifestar o estado de Buda, ele tem o poder de conduzir à iluminação até mesmo as pes­soas antagonistas ou de capacidade inferior que vivem nos Últimos Dias. Quando observados com base no ensinamento correto da Lei Mística, os Últimos Dias passam a ter o significado de uma era do triunfo humano, uma era de verdadeira vitória para as pessoas. Consequentemente, os Últimos Dias expostos pelo Sutra de Lótus não são uma época degenerada de escuridão e desespero, mas sim uma época positiva e de esperançosa mudança.


A era do budismo do povo, a era do triunfo da humanidade [2]
Terceira Civilização, Edição 522, 11/02/2012, pág. 56 / Estudo
Os Últimos Dias são a época do Kossen-rufu Mundial

Nessa passagem de “A Seleção do Tempo”, Daishonin declara que os Últimos Dias são a época em que a pura e nobre Lei do Sutra de Lótus será amplamente propagada no mundo inteiro (Cf. WND, v. 1, p. 550).

O Sutra da Grande Coleção refere-se aos cinco períodos de quinhentos anos7 que decorrerão após o falecimento do Buda. Os Últimos Dias, começando no quinto período de quinhentos anos, são descritos no Sutra como uma época de conflito, ou uma época em que as “batalhas e disputas prevalecerão e a Lei pura ficará obscurecida e se perderá”. Essa descrição realça a rivalidade e a controvérsia incessantes existentes entre as escolas budistas, com cada uma delas enfatizando a superioridade do ensinamento específico de Sakyamuni que abraçavam. O resultado é que a Lei pura ou o ensinamento correto do Buda gradativamente ficam confusos, correndo o risco de desaparecer. Essa confusão no mundo do budismo reflete-se na sociedade e, com isso, também ocorrem frequentes conflitos e tumultos no mundo secular.

Uma leitura literal do Sutra da Grande Coleção dá a impressão de que os Últimos Dias são uma época totalmente desprovida de esperança. Mas ao observar sob o prisma do Sutra de Lótus, o verdadeiro desejo nas palavras do Buda contidas no Sutra da Grande Coleção fica evidente.

Por exemplo, no 23º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios”, Sakyamuni declara: “Após eu ter entrado em extinção, no último período de quinhentos anos, você deve propagá-lo [este ensinamento] amplamente por todo Jambudvipa e nunca permitir que ele desapareça, tampouco deve deixar que os demônios malignos, as pessoas ruins ou outros se aproveitem!”8 (LSOC, v. 23, p. 330 [LS, v. 23, p. 288])

O quinto período de quinhentos anos — uma época de conflitos em que a Lei fica ameaçada de entrar em decadência e cair no esquecimento — constitui exatamente a época em que o Sutra de Lótus deve ser amplamente difundido. Em outras palavras, é a época para realizar o Kossen-rufu Mundial.

O capítulo “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios” declara que jamais devemos permitir que o fluxo da propagação do ensinamento correto seja rompido “pelos demônios malignos, pelas pessoas ruins ou por outros”. O Buda nos instrui a permanecermos íntegros e derrotarmos as várias funções malignas que, inevitavelmente, obstruirão nossos esforços na época do Kossen-rufu Mundial nos Últimos Dias.

O Kossen-rufu Mundial encontra-se no empenho dos praticantes do Sutra de Lótus para derrotar as funções malignas. Esta é a força para fazer que os Últimos Dias passem de uma época caracterizada pelo declínio da Lei para uma era de Iluminação Universal.

O próprio Daishonin dedicou-se abnegadamente como devoto do Sutra de Lótus, derrotando todos os tipos de funções malignas. Assim, ele deu início à correnteza que um dia levaria ao Kossen-rufu Mundial. O Buda Nitiren proclama esse fato em “A Seleção do Tempo”.

Enquanto o princípio de Iluminação Universal permanecer confinado no mundo da teoria, o Kossen-rufu não será realizado no mundo real. Somente palavras não capacitarão nem mesmo uma única pessoa a manifestar o estado de Buda, muito menos todas as pessoas.

No entanto, um grandioso visionário que compreenda os objetivos do Sutra de Lótus empreenderá esforços para vencer, um por um, os vários obstáculos que obstruem o caminho para a concretização desses ideais e princípios. Somente então será dado o primeiro passo na direção da real propagação do Kossen-rufu. Esse primeiro passo pode ser chamado de um “salto audacioso” para construir uma ponte sobre o infinito abismo existente entre os ideais e a rea­lidade. Quem dá esse passo é aquele que age, sendo capaz de concretizar os ideais do Sutra de Lótus — em outras palavras, é um devoto do Sutra de Lótus.

Em “A Seleção do Tempo”, Daishonin descreve a si mesmo como o “principal devoto do Sutra de Lótus em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 552). Ele faz a clara afirmação de que, por meio de seus abnegados esforços para elucidar o ensinamento correto, estabeleceu as bases para a iluminação de todas as pessoas e também para o Kossen-rufu Mundial.

A imortal batalha de Daishonin fez que se iniciasse uma profunda transformação dos Últimos Dias, passando de uma era maligna cheia de ilusão e sofrimento para a época do Kossen-rufu Mundial. Essa época abre o caminho para todas as pessoas manifestarem o estado de Buda e para o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação.

[No Sutra de Lótus, o Buda Muitos Tesouros e os budas das dez direções atestaram a veracidade do ensinamento de Sakyamuni.] O Buda Sakyamuni também estendeu sua língua, que é incapaz de proferir falsidades, até alcançar o mais alto céu do mundo da forma.9 Ele estava dizendo que, no último período de quinhentos anos após seu falecimento, quando toda a doutrina budista estivesse para desaparecer, o Bodhisattva Práticas Superiores10 se apresentaria com os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo11 e iria administrá-los como um bom remédio para as pessoas que sofrem de lepra — isto é, as pessoas de descrença incorrigível12 e aquelas que caluniam a Lei. E ele encarregou Brahma, Shakra, os Deuses do Sol e da Lua, Os Quatro Reis Celestiais e as divindades dragões13 para que atuassem como protetores desse bodhisattva. Como essas palavras douradas poderiam ser falsas? Mesmo que a grande terra virasse de cabeça para baixo, uma montanha se desintegrasse e ruísse, depois da primavera não chegasse o verão, o Sol se movesse para o Leste ou a Lua caísse na Terra, esta predição nunca deixaria de se concretizar! (WND, v. 1, p. 550)

O bom remédio para curar a grave aflição pela calúnia à Lei

Daishonin indica, nesse trecho, que o ensinamento do Nam-myoho-rengue-kyo é o “bom remédio” que salva “as pessoas de descrença incorrigível e aquelas que caluniam a Lei” nos Últimos Dias, uma época em que a Lei pura está prestes a desaparecer.

Conforme vimos, as pessoas dos Últimos Dias eram consideradas como antagonistas ou de capacidade inferior para compreender os ensinamentos budistas. Na época de Daishonin, aqueles que professavam a fé no budismo eram em geral adeptos de escolas desencaminhadas — desviadas por mestres possuidores de visões errôneas. Esses mestres rejeitavam e manchavam o pleno e perfeito ensinamento da Lei Mística, caluniando a Lei.

“Pessoas de descrença incorrigível” são aquelas que, preocupadas em atender seus desejos mundanos, se recusam a aceitar a validade do ensinamento correto, exposto pelo Buda, caluniando-o. Assim, o Sutra do Nirvana explica que, apesar de as pessoas de descrença incorrigível possuírem a natureza de Buda, elas são incapazes de manifestar o estado de Buda. Por conseguinte, Daishonin compara-as àquelas que são acometidas por uma doença grave e incurável.

Ao se referir à situação social da época em sua “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, Daishonin observa que a calúnia contra a Lei estava corroendo o coração das pes­soas, ameaçando destruir o tecido espiritual da sociedade. Ele destaca o caluniador como o “único mal”, ou causa potente, para o sofrimento das pessoas e a confusão na sociedade (Cf. END, v. 1, p. 32).

Para acabar com esse “único mal”, diz Daishonin, é preciso que a Lei Mística seja aceita pelas pessoas e que o ensinamento correto para a paz da nação se torne amplamente estabelecido na sociedade. Como caluniar a Lei significa violar e manchar o ensinamento correto, Daishonin clama para que esse mal seja eliminado com rapidez. A solução definitiva está em empreender dedicados esforços que sejam contrários ao caluniador — ou seja, abraçar a fé na Lei Mística, empenhar-se de forma abnegada para protegê-la, compartilhá-la com outras pessoas [Chakubuku] e construir uma sólida estrutura espiritual para a sociedade. Por isso, Daishonin declara que o Nam-myoho-rengue-kyo, a essência do Sutra de Lótus, é o nobre e bom remédio que tem o poder de curar a grave doença de caluniar a Lei que aflige os Últimos Dias.

Caluniar a Lei é como caluniar o Sutra de Lótus, o ensinamento da Iluminação Universal. Na raiz dessa calúnia encontra-se a ignorância ou a escuridão que reside na vida das pessoas e faz surgir o desrespeito pela dignidade humana e a falta de consideração pela vida. Isso dá origem a um pensamento prejudicial que oprime e discrimina as pessoas e põe a sociedade num caos.

O nobre e bom remédio do Nam-myoho-rengue-kyo tem o poder de curar até mesmo a mais grave aflição dessas pessoas de descrença incorrigível. Por que ele tem esse poder tão imenso? Porque o Nam-myoho-rengue-kyo é a semente para manifestar o estado de Buda; é o próprio manancial da ilimitada energia vital dos budas.

O 21º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Poderes Místicos do Buda”, refere-se à transferência da Lei de Sakyamuni para o Bodhisattva Práticas Superiores [o líder dos Bodhisattvas da Terra]. Nesse capítulo consta que o Myoho-rengue-kyo é “uma Lei para instruir os bodhisattvas, guardada e mantida em mente pelos budas” (LSOC, v. 21, p. 315 [LS, v. 21, p. 273-274]). Em outras palavras, budas são budas exatamente por abraçarem e incorporarem o Myoho-rengue-kyo na vida em todos os momentos. Ao instruírem os bodhisattvas, seus verdadeiros discípulos, é o ensinamento da Lei Mística que eles transmitem.

Assim, Sakyamuni confia esse ensinamento a Práticas Superiores e a outros Bodhisattvas da Terra que juraram dar continuidade à propagação após seu falecimento. O conteúdo dessa transmissão da Lei incluía “todas as doutrinas de Aquele que Traz a Verdade; todos os poderes místicos exercitados livremente por Aquele que Traz a Verdade; o repositório de todos os fundamentos secretos de Aquele que Traz a Verdade e todas as questões mais profundas de Aquele que Traz a Verdade” (LSOC, v. 21, p. 316 [LS, v. 21, p. 274]). Pela repetição da palavra “todos” em cada um dos itens nessa passagem, verificamos que os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo contêm todas as práticas que se tornaram a causa para Sakyamuni atingir a iluminação, bem como todos os benefícios que ele obteve por ter atingido a iluminação.

Esse capítulo diz que o Bodhisattva Práticas Superiores, ao difundir o ensinamento do Myoho-rengue-kyo no turbulento mundo saha — uma era maligna após o falecimento do Buda —, é como o Sol e a Lua dissipando a escuridão na vida de todas as pessoas.14 A missão dos Bodhisattvas da Terra é plantar as sementes do estado de Buda da Lei Mística no coração das pessoas e ajudar essas sementes a alcançar um fragrante desabrochar.

Portanto, é natural que forças opositoras ofereçam resistência. Isso porque os esforços para desvendar o elevado potencial das pessoas podem levar a uma mudança positiva fundamental em sua vida e, por extensão, no mundo. Porém, os Bodhisattvas da Terra não estão sozinhos nem indefesos contra esses ataques. Conforme Daishonin observa em “A Seleção do Tempo”, Sakyamuni também encarrega as divindades celestiais de guardar e proteger esses bodhisattvas em sua grandiosa tarefa (Cf. WND, v. 1, p. 550). Os esforços dos Bodhisattvas da Terra para propagar o Kossen-rufu nos Últimos Dias têm a garantia de receber a proteção das divindades protetoras do Universo.

Um ponto essencial é que a abnegada devoção para propagar a Lei [realizar o Chakubuku], demonstrada pelos Bodhisattvas da Terra sob a liderança do Bodhisattva Práticas Superiores, provoca a proteção das divindades celestiais.

Daishonin empenhou-se incessantemente como devoto do Sutra de Lótus, comprometido em confrontar a calúnia contra a Lei e em livrar as pessoas do sofrimento. Empregando a voz e a vida ao máximo, ele orou e ensinou o Nam-myoho-rengue-kyo para as pessoas. Assim, enquanto ele resistia à intensa hostilidade da sociedade, o ensinamento do Nam-myoho-rengue-kyo era propagado de forma gradativa, conduzindo muitas pessoas a uma vida de genuína felicidade. Ao mesmo tempo em que Daishonin empreendia sua destemida batalha, também aumentava o número de pessoas que o apoiava em sua causa e se juntava a ele nessa tarefa. Os esforços corajosos e pioneiros desse grandioso defensor do ensinamento correto conduziram e criaram o momento para o Kossen-rufu.

Em “A Seleção do Tempo”, Daishonin declara que, mesmo que o mundo virasse de cabeça para baixo e o Sol se levantasse no Oeste e se pusesse no Leste, não haveria absolutamente nenhuma dúvida de que a grandiosa correnteza do Kossen-rufu havia começado a fluir nos Últimos Dias da Lei (Cf. WND, v. 1, ­p. 550). Esta foi uma firme convicção originada a partir da experiência de Nitiren Daishonin.

A pessoa que propaga o Sutra de Lotus é o pai e a mãe de todos os seres vivos do Japão. Como diz o Grande Mestre Chang-an:15 “Aquele que livra o ofensor do mal está agindo como seu pai”.16 Sendo assim, então, eu, Nitiren, sou o pai e a mãe do atual imperador do Japão, e o mestre e o senhor dos que creem na Nembutsu, dos seguidores da Zen e dos monges da Verdadeira Palavra (WND, v. 1, p. 551).

O estabelecimento do budismo do povo

Em sua convicta declaração, Daishonin esclarece que o devoto do Sutra de Lótus está dotado das três virtudes de soberano, mestre e pais.17 O devoto do Sutra de Lótus nos Últimos Dias é o indivíduo que incorpora e propaga o Nam-myoho-rengue-kyo, a própria essência do estado de Buda que foi aprisionada na vida das pessoas pela escuridão fundamental.18 Portanto, ele consegue romper a escuridão fundamental e conduzir à iluminação até mesmo as “pessoas de descrença incorrigível e aquelas que caluniam a Lei”.

O aspecto grandioso desse devoto é que ele nasce entre as pessoas nos Últimos Dias. Apesar de ser uma pessoa comum, supostamente antagônica e de capacidade inferior, esse indivíduo se empenha para propagar a Lei Mística. Ele manifesta a suprema condição de vida do estado de Buda como originalmente é dotado. Por causa disso, serve como exemplo para todos.

A frase “pai e mãe de todos os seres vivos no Japão” (WND, v. 1, p. 551) indica que o devoto do Sutra de Lótus incorpora a “virtude de pais” em relação às pessoas. Esta é uma declaração de que Daishonin, ao se esforçar para propagar a Lei sem poupar a vida como devoto do Sutra de Lótus, é o pai que protege as pessoas.

O devoto do Sutra de Lótus elimina o mal da calúnia contra a Lei ao qual as pessoas sucumbiram inadvertidamente. Portanto, Daishonin destaca a benevolência do devoto citando as palavras do Grande Mestre Chang-an: “Aquele que livra o ofensor do mal está agindo como seu pai” (WND, v. 1, p. 551).

Daishonin declara também ser ele próprio “o pai e a mãe do atual imperador do Japão” (WND, v. 1, p. 551). Numa época em que toda a nação caluniava a Lei, Daishonin conclamou o governante para interromper tanta calúnia. O Buda foi motivado pelo desejo de pagar a dívida de gratidão que tinha com o país, mesmo sabendo que suas ações provavelmente atrairiam mais perseguições das autoridades. Suas palavras indicam nitidamente que ele é quem está protegendo o governante no verdadeiro sentido da palavra. Indica também que Daishonin é o mestre da nação que genuinamente consegue trazer-lhe paz e segurança. E diz ser o “mestre” e o “senhor” dos adeptos das outras escolas (WND, v. 1, p. 551). Ele esclarece que é o genuíno líder espiritual comprometido em revitalizar o mundo do budismo na época em que a Lei pura havia se tornado obscurecida e perdida.

Após ter proclamado a si mesmo como “pai e mãe de todos os seres vivos”, Daishonin afirma que isso faz dele “pai e mãe do atual imperador do Japão” e “mestre e senhor dos praticantes da Nembutsu, dos seguidores da Zen e dos monges da Verdadeira Palavra” (WND, v. 1, p. 551).

O olhar de benevolência de Daishonin era voltado para a salvação de quem, sem perceber, havia sido difamado pela maldade da calúnia. A aspiração dele era por um budismo do povo. Esse propósito é a essência de sua batalha em prol do Kossen-rufu para concretizar o objetivo de Iluminação Universal.

O governante e o clero budista da época deveriam trabalhar pela felicidade e pelo bem-estar das pessoas. Mas a única pessoa que agia dessa forma era Nitiren Daishonin. Por isso, ele diz que é o pai e a mãe do governante e, num sentido mais autêntico, o mestre e o senhor de todos os adeptos de outras escolas budistas.

A maior parte das escolas budistas desfrutava o apoio e o patrocínio do governante e de oficiais influentes. Tais escolas realizavam orações para a proteção desses indivíduos poderosos e privilegiados. Em contraste, é evidente o sentimento de Daishonin de que, nos Últimos Dias, o budismo deveria existir em prol da felicidade de todas as pessoas, sem exceção. Portanto, ao protestar perante o governante, Daishonin pressionava por uma mudança na consciência dos escalões do governo, articulando o ponto de vista de que a religião e a fé religiosa servem para proteger o povo e a nação. Ele criticou duramente as escolas budistas em razão de seus relacionamentos oportunistas com as autoridades do governo e outras personalidades do poder. Isso fazia parte de seu esforço para estabelecer o ensinamento correto para a paz da nação.

O momento de vencer é agora

Por meio de seu empenho como devoto do Sutra de Lótus, Daishonin revelou o grandioso ensinamento para ser difundido nos Últimos Dias. Estabeleceu um budismo genuíno do povo para ser propagado pelo eterno futuro dos Últimos Dias da Lei.

Devido, unicamente, aos esforços da Soka Gakkai e da SGI, este budismo do povo se propagou hoje pelo mundo inteiro.

Quando atuamos em prol do Kossen-rufu, manifestamos nossa energia vital como devotos do Sutra de Lótus e nos tornamos uma pessoa de imensa capacidade.

Assim como muitos de nossos predecessores comprovaram, as dificuldades enfrentadas durante a atuação em prol do Kossen-rufu tornam-se o ponto de partida para manifestar o estado de Buda.

Toda Sensei declarou: “Uma vez que hasteamos a bandeira do Kossen-rufu, devemos avançar com ela até o fim. Não devemos ser derrotados pelos obstáculos assustadores nem abandonar a prática da fé. (...)

“Neste momento, coube a nós dar continuidade ao grandioso empreendimento do Kossen-rufu. Abandonar agora essa grande marcha em prol do Kossen-rufu significa que a felicidade na vida está para sempre fora de alcance. Foi assim com meus antigos companheiros. Eles tiveram a mesma oportunidade que eu e foram perseguidos por causa da Lei. Porém, no fim, não dedicaram a vida ao Kossen-rufu. No entanto, se vocês se levantarem com um forte juramento com este magnífico movimento, fica claro como o dia que conquistarão a felicidade verdadeira e duradoura. (...) Não deixem de participar deste grandioso esforço em prol do Kossen-rufu!”19

A hora de lutar e vencer é agora!

(Daibyakurengue,

edição de junho de 2010.)

Continua na próxima edição.


Notas:

1. Extraído do discurso proferido por Jossei Toda, por ocasião de sua posse como segundo presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio de 1951.

2. Transmissão do budismo para o Oeste: Nitiren Daishonin predisse que o Budismo do Sol seguiria do Japão para o Oeste, retornando aos países pelos quais originariamente foi transmitido e propagando-se pelo mundo inteiro. No escrito “Sobre a Repreensão a Hatiman”, ele escreveu: “A Terra da Lua é outro nome da Índia, o lugar onde o Buda surgiu neste mundo. A Terra do Sol é outro nome do Japão. Há alguma razão para que um sábio não devesse aparecer aqui? A Lua surge no Oeste e move-se para o Leste, um sinal de como os ensinamentos budistas da Índia se propagam na direção Leste. O Sol surge no Leste, um sinal auspicioso de como os ensinamentos budistas do Japão estão destinados a retornar à terra da Índia. A luz da Lua não é muito brilhante, por isso iluminou as pessoas somente durante oito anos de sua vida [de Sakyamuni]. Mas o brilho do Sol supera em muito o da Lua, um sinal auspicioso de como ele está destinado a iluminar a longa escuridão [dos Últimos Dias da Lei que começa] no quinto período de quinhentos anos” (WND, v. 2, p. 936).

3. Daishonin declara: “Pequenas correntes se juntam para formar o grandioso oceano e minúsculas partículas de areia acumulam-se para formar o Monte Sumeru. Quando eu, Nitiren, primeiro me converti à fé no Sutra de Lótus, era como uma única gota de água ou como uma só partícula de pó no país chamado Japão. Mas, posteriormente, quando duas, três, dez e, consequentemente, uma centena, milhares, dezenas de milhares e um milhão de pessoas começarem a recitar o Sutra de Lótus e a transmitirem-no aos outros, elas formarão um Monte Sumeru da perfeita iluminação, um oceano do grandioso nirvana. Não busque outro caminho para atingir o estado de Buda!” (WND, v. 1, p. 579-580)

4. Sutra da Grande Coleção: coletânea de sutras traduzidos para o chinês por Dharmaraksha (385–433) e outros. Esses sutras foram compilados num único sutra, ou o Sutra da Grande Coleção, por Seng-chiu da dinastia Sui, em 586. Essa obra faz a predição de como a propagação do budismo descortinará o quinto período de quinhentos anos após a morte de Sakyamuni.

5. A segunda discussão a respeito desse tema aparece em WND, v. 1, p. 553–560.

6. Honen (1133–1212): Também conhecido como Genku. Fundador da escola budista Terra Pura, no Japão. Defendia a prática exclusiva da Nembutsu — isto é, a devoção única à prática da recitação do nome do Buda Amida com a finalidade de conquistar o renascimento na Terra Pura. Em sua obra A Nembutsu como Única Escolha, Honen pede que as pessoas “descartem, encerrem, ignorem e abandonem” os sutras, incluindo o Sutra de Lótus, e no lugar deles abracem a fé na Terra Pura. Na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, Daishonin censura a Nembutsu com rigorosidade dizendo que ela é o “único mal” que causa os vários desastres que assolam o país.

7. Cinco períodos de quinhentos anos: Cinco períodos consecutivos decorridos após a morte de Sakyamuni, durante os quais o budismo se propaga, prospera e, posteriormente, entra em decadência. Esses períodos são: (1) a “era de atingir a liberação”, em que muitas pessoas atingem a emancipação por meio da prática dos ensinamentos do Buda; (2) a “era da meditação”, quando a meditação é amplamente praticada; (3) a “era da leitura, recitação e escuta”, em que as pessoas estudam e recitam os sutras e ouvem as preleções sobre eles como sua prática central; (4) a “era da construção de templos e estupas”, quando muitos templos e estupas são construídos, mas o espírito de procura aos ensinamentos budistas diminui; e (5) a “era das batalhas e disputas”, também conhecida como a era do conflito, quando ocorrem discussões entre as escolas rivais e os ensinamentos do Buda Sakyamuni tornam-se confusos e se perdem. Em termos dos três períodos, os primeiros mil anos correspondem aos Primeiros Dias; o segundo período de mil anos, aos Médios Dias; e os últimos quinhentos anos, ao início dos Últimos Dias.

8. A passagem que consta na tradução do Sutra de Lótus para o chinês também pode ser lida dessa forma. A frase “demônios malignos, pessoas ruins ou os outros” refere-se, em essência, a todos aqueles que caluniam a Lei numa forma ou na outra.

9. Uma das trinta e duas características do Buda é sua ampla língua, que simboliza a verdade de suas palavras. No 21º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Poderes Místicos do Buda”, Sakyamuni e outros budas presentes estendem a língua até os mais elevados céus para confirmar a veracidade do que havia sido proferido.

10. Bodhisattva Práticas Superiores: líder dos Bodhisattvas da Terra. Sakyamuni encarrega Práticas Superiores de propagar o Sutra de Lótus durante a era maligna dos Últimos Dias da Lei. Em seus escritos, Nitiren Daishonin associa a si mesmo ao Bodhisattva Práticas Superiores, dizendo estar cumprindo a missão que foi confiada ao bodhisattva por Sakyamuni, e refere-se aos seus esforços de propagação como o trabalho do Bodhisattva Práticas Superiores. Nitikan Shonin, 26º sumo prelado, considerava Daishonin como a reencarnação do Bodhisattva Práticas Superiores em função de seu comportamento, e como o Buda dos Últimos Dias da Lei em função de sua iluminação interior.

11. Myoho-rengue-kyo é escrito com cinco caracteres chineses, ao passo que Nam-myoho-rengue-kyo se escreve com sete (nam, ou namu, composto por dois caracteres). Daishonin com frequência utiliza Myoho-rengue-kyo como sinônimo de Nam-myoho-rengue-kyo em seus escritos.

12. Pessoas de descrença incorrigível: Também, icchantikas. Pessoas que não têm nenhuma aspiração à iluminação e, portanto, nenhuma perspectiva de manifestar o estado de Buda. Apegadas a doutrinas errôneas, elas caluniam o ensinamento correto do Buda e se opõem a ele. Dependendo do sutra, divergem as opiniões sobre a possibilidade de as pessoas de descrença incorrigível atingirem a iluminação.

13. Trata-se de deuses e reis descritos na mitologia budista. Brahma e Shakra são os dois principais deuses protetores do budismo. Os Quatro Reis Celestiais servem a Shakra e protegem os quatro quadrantes do mundo.

14. A passagem no Sutra de Lótus afirma: “Assim como as luzes do Sol e da Lua / podem banir toda a obscuridade e melancolia, / da mesma forma essa pessoa, / ao passar pelo mundo, / pode desvanecer as trevas / dos seres vivos” (LSOC, v. 21, 318 [LS, v. 21, 276]).

15. Chang-an (561–632): Discípulo e sucessor de Tient’ai. Fez o registro das preleções de Tient’ai e, posteriormente, compilou-as nas obras O Profundo Significado do Sutra de Lótus, Palavras e Frases do Sutra de Lótus e Grande Concentração e Discernimento. As próprias palavras dele estão contidas em Comentários sobre o Sutra do Nirvana e O Profundo Significado do Sutra do Nirvana.

16. Comentários sobre o Sutra do Nirvana.

17. Três virtudes de soberano, mestre e pais: Constituem as funções benevolentes de soberano, mestre e pais que se acredita que o Buda possua. A virtude do soberano é o poder de proteger todos os seres vivos, a virtude do mestre é a sabedoria para instruí-los e conduzi-los à iluminação; e a virtude de pais é a benevolência para cuidar deles e apoiá-los.

18. Escuridão fundamental: A ilusão mais profundamente arraigada na vida, que se acredita ser a origem de todas as outras ilusões. É a incapacidade de enxergar ou de reconhecer a verdade, em especial, a verdadeira natureza da vida.

19. TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1989, v. 4, p. 281.


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A transformação do carma do país, da era e de toda a humanidade - parte 3 [1]
[5] “A Seleção do Tempo”
Terceira Civilização, Edição 523, 17/03/2012, pág. 48 / Estudo
por Daisaku Ikeda, presidente da SGI
TRECHOS DA CARTA

Resposta: Como já explanei em minha recente discussão, a grande verdade, que não foi amplamente disseminada por Mahakashyapa ou Ananda, na época foi propagada por Ashvaghosha, Nagarjuna, Aryadeva e Vasubandhu.

Também expliquei que houve uma grande verdade que não se fez completamente conhecida por Nagarjuna, Vasubandhu e pelos outros, mas foi transmitida pelo Grande Mestre Tient’ai. E, assim como detalhei, ficou a cargo do Grande Mestre Dengyo estabelecer uma ordem dos grandes preceitos da iluminação perfeita e imediata que não foi amplamente difundida pelo Grande Mestre Tient’ai Chih-che.

Por incrível que pareça, a Lei correta, que é extremamente profunda e secreta, aparece claramente no Sutra de Lótus. Embora fosse exposta em sua totalidade pelo Buda, desde a época de sua morte, ainda não havia sido propagada por Mahakashyapa, Ananda, Ashvaghosha, Nagarjuna, Asanga ou Vasubandhu, nem por Tient’ai ou Dengyo.

A questão mais difícil e mais desconcertante é se essa profunda Lei pode ou não ser amplamente proclamada e propagada por toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro] no início dos Últimos Dias da Lei, o quinto período de quinhentos anos após a morte do Buda.

Esta Lei [a Lei correta que é extremamente profunda e secreta] é revelada no Sutra de Lótus. Portanto, considero tarefa fácil explicá-la a todos.

Antes de esclarecer essa Lei, há três pontos que devo mencionar. É dito que, não importa quão vasto seja o ocea­no, ele não suportará o corpo de uma pessoa morta, e não importa quão grossa seja a crosta da Terra, ela não tolerará quem é desleal aos seus pais. De acordo com um ensinamento budista, mesmo aqueles que cometem os cinco pecados capitais e os que são profanos podem ser salvos. Apenas os icchantikas ou as pessoas de descrença incorrigível, aquelas que caluniam a Lei e as que fingem estar à frente em observar os preceitos, não podem ser perdoados.

As três fontes de dificuldades mencionadas anteriormente são as escolas Nembutsu [Terra Pura], Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra (WND, v. 1, p. 560-561).

***

E ainda existe algo mais maléfico que esses três ensinamentos [das escolas Nembutsu, Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra], tão maléfico que são cem, mil, dez mil, um milhão de vezes mais difíceis de acreditar.

Os governantes e as pessoas comuns acreditavam que o Grande Mestre Jikaku era uma pessoa mais notável que o Grande Mestre Dengyo, embora tenha sido seu terceiro discípulo. O Grande Mestre Jikaku realizou um estudo completo dos ensinamentos das escolas Preceitos-Verdadeira Palavra e Lótus. Em seus escritos, ele afirmou que os ensinamentos da [escola] Preceitos-Verdadeira Palavra eram superiores aos do Sutra de Lótus.

Como resultado, a comunidade de três mil sacerdotes no Monte Hiei [o templo principal da escola Tendai] e os estudiosos budistas em cada província do Japão concordaram com a opinião dele sobre esse assunto (WND, v. 1, p. 569).

***

Eu, Nitiren, nomeio os fundadores das escolas Preceitos-Verdadeira Palavra, Zen e Terra Pura como os três tipos de vermes; e [os sacerdotes] Jikaku, Annen e Eshin da escola Tendai como os três vermes que devoraram o corpo do leão do Sutra de Lótus e do Grande Mestre Dengyo.

Enquanto Nitiren, que age para denunciar a raiz dessas grandes calúnias contra o ensinamento correto, for tratado com animosidade, as divindades celestiais reterão suas luzes, os deuses da Terra se revoltarão, e os conflitos e as calamidades aparecerão em grande número.

Você deve entender que, porque falo sobre a questão mais importante em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro], minhas palavras são acompanhadas por presságios de primeira magnitude. Quão trágico e lastimável é o fato de que todas essas pessoas do Japão cairão no inferno de incessantes sofrimentos! Mas quão afortunado e alegre é pensar que, mesmo com esse corpo indigno, recebi em meu coração a semente do estado de Buda (WND, v. 1, p. 578).

EXPLANAÇÃO

O Budismo Nitiren é uma filosofia da revolução humana, que nos permite transformar o carma individual. É uma filosofia direcionada a estabelecer o ensinamento correto para a paz na terra, destacando a importância de rea­lizar esforços positivos no local em que estamos agora para transformar o carma do país e a era na qual vivemos. É também uma filosofia que aspira à paz mundial. Seus praticantes oram e trabalham seriamente para provocar uma transformação fundamental no carma de toda a humanidade.

A chave para a transformação do carma em cada um desses planos é a grande Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, que possui o poder de despertar em todas as pessoas um nível fundamental. Assim como a semente da flor de Lótus produz flores que permanecem intactas na água lamacenta em que crescem, quando nos baseamos na Lei Mística, não importa quão profundo seja o sofrimento cármico que estamos vivendo, manifestamos o radiante brilho do estado de Buda. Além disso, quanto mais e mais pessoas alinharem sua vida com a Lei Mística, mesmo um país à beira da ruína será totalmente transformado numa terra de paz e prosperidade.

O Buda Nitiren Daishonin estabeleceu seu ensinamento — de extraordinário poder transformador — para a felicidade de todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei. Como devoto do Sutra de Lótus, ele incorporou a Lei Mística em sua vida, agindo abnegadamente para ensinar a Lei Mística às outras pessoas. Em todos os tempos e lugares, praticantes tão dedicados são essenciais para propagar e estabelecer amplamente o ensinamento correto.

No escrito “A Seleção do Tempo”, Daishonin indica que o devoto do Sutra de Lótus manifesta a sabedoria budista e planta as sementes do estado de Buda na vida das pessoas [Chakubuku]. Diz ainda que um sábio visionário de sublime virtude e habilidade guia corretamente as pessoas nos Últimos Dias da Lei. O devoto do Sutra de Lótus é um ser humano que, apesar de ser comum e de posição social modesta, forja um caráter exemplar — é aquele que se desenvolve com a Lei Mística.

Pela firme fé na Lei Mística, nossa vida é dotada de todas as qualidades de um devoto do Sutra de Lótus descritas neste Gosho — qualidades estas manifestadas por meio da coragem de praticar o Budismo de acordo com o tempo, assim como o Buda Nitiren ensina.

Nesta e na parte seguinte, estudaremos em detalhes as incansáveis batalhas empreendidas por Daishonin como devoto do Sutra de Lótus que, corajosamente, se levantou para proclamar o ensinamento correto dos Últimos Dias da Lei — a época para a ampla propagação da Lei Mística, ou seja, a época do Chakubuku.


A transformação do carma do país, da era e de toda a humanidade - parte 3 [2]
[5] “A Seleção do Tempo”
Terceira Civilização, Edição 523, 17/03/2012, pág. 53 / Estudo
Esta Lei [a Lei correta que é extremamente profunda e secreta] é revelada no Sutra de Lótus. Portanto, considero tarefa fácil explicá-la a todos.

Antes de esclarecer essa Lei, há três pontos17 que devo mencionar. É dito que, não importa quão vasto seja o oceano, ele não suportará o corpo de uma pessoa morta,18 e não importa quão grossa seja a crosta da Terra, ela não tolerará quem é desleal aos seus pais.19 De acordo com um ensinamento budista, mesmo aqueles que cometem os cinco pecados capitais20 e os que são profanos podem ser salvos. Apenas os icchantikas ou pessoas de descrença incorrigível, aquelas que caluniam a Lei e as que fingem estar à frente em observar os preceitos, não podem ser perdoados.
As três fontes de dificuldades mencionadas anteriormente são as escolas Nembutsu [Terra Pura],21 Zen22 e Preceitos-Verdadeira Palavra23 (WND, v. 1, p. 560-561).<

Denunciando as escolas Nembutsu, Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra

Revelar a Lei correta que é extremamente profunda e secreta implica esclarecer a verdade e denunciar o errôneo. No escrito “A Seleção do Tempo”, Daishonin denuncia primeiro as doutrinas errôneas. Isso é uma tarefa fácil para ele, pois afirma compartilhar o nome e o significado do ensinamento correto, já que este é revelado no Sutra de Lótus.

Entretanto, ele deseja inicialmente apontar e denunciar as calúnias contra a Lei feitas por aqueles que esconderam e obscureceram a supremacia do Sutra de Lótus, uma verdade que foi claramente estabelecida por Tient’ai e Dengyo. E continua a descrever o espírito e a prática do devoto do Sutra de Lótus que desmascara tais calúnias e propaga os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo, que constituem a Lei correta que é extremamente profunda e secreta.

Nesta passagem de seus escritos, vamos analisar o que Daishonin diz e estudar o espírito de denunciar o errôneo e revelar o verdadeiro. A revelação foca-se nas “fontes de dificuldades” (WND, v. 1, p. 561), representadas pelas escolas Nembutsu, Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra cujos ensinamentos eram predominantes em todo o Japão em sua época.

Os ensinamentos das escolas Nembutsu, ou Terra Pura, espalharam-se amplamente a ponto de se tornarem parte da vida diária das pessoas. Nitiren Daishonin indica isso em sua declaração: “Nembutsu [assim como o nome do Buda Amida] é atualmente recitado pelas quatro categorias de budistas [monges, monjas, leigos e leigas]” (WND, v. 1, p. 561).

Daishonin percebe que a escola Zen tinha formado sacerdotes, que, apesar de serem claramente arrogantes, eram vistos como os “líderes da iluminação do mundo todo” (WND, v. 1, p. 561), como sacerdotes exemplares, que ostentavam grande respeito e um número alto de adeptos.

Já para a escola Preceitos-Verdadeira Palavra, a predominante ameaça da invasão mongol foi sustentada por sacerdotes eminentes das antigas escolas estabelecidas na época, que vigorosamente incorporaram as práticas dessa escola em seus rituais de orações para combater os inimigos do país (cf. WND, v. 1, p. 561).

Uma terra impregnada de calúnias contra a Lei

Por que a calúnia contra a Lei cometida por estas três escolas, Nembutsu, Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra, se espalhou pelo Japão no fim dos Médios Dias da Lei, mesmo após o Grande Mestre Dengyo ter claramente estabelecido a supremacia do Sutra de Lótus?

Como Daishonin descreve em detalhes na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, os ensinamentos do sacerdote Honen,24 que ensinou uma prática exclusiva da escola Nembutsu, eram o “único mal” (WND, v. 1, p. 15) por trás da transformação do Japão numa terra de calúnia contra a Lei. Em contrapartida, Daishonin ressalta que Honen, apesar de ser originalmente um sacerdote da escola Tendai no Monte Hiei, não somente se baseou nos ensinamentos errôneos de T’ang-luan,25 Tao-ch’o,26 e Shan-tao27 — os três primeiros patriarcas da escola chinesa Terra Pura (Ching-t’u) —, mas também os distorceu ainda mais. Honen impôs que todos os ensinamentos do Buda que não fossem da escola Nembutsu (Terra Pura) fossem rejeitados, portanto, caluniando até o Sutra de Lótus, o próprio ensinamento que era a base original da escola Tendai (cf. WND, v. 1, p. 13-14).

Uma das razões pelas quais Honen sucumbiu a tal erro é que já havia um clima de amplo respeito para o ensinamento da Nembutsu no Japão. Para dar credibilidade e autoridade aos próprios ensinamentos, Honen baseou-se no fato de que Eshin,28 célebre sacerdote da escola Tendai, havia escrito Os Elementos Essenciais do Renascimento na Terra Pura, uma obra que prestou homenagem aos ensinamentos da Nembutsu. E também no fato de que Yokan,29 um sacerdote da escola Três Tratados,30 havia revelado as doutrinas que enalteciam a escola Nembutsu. Como resultado, até mesmo Kenshin,31 sumo sacerdote e líder da escola Tendai da época de Honen, dedicou-se à exclusiva prática da Nembutsu. Ocorre que as pessoas no Japão foram influenciadas pelos ensinamentos errôneos de Honen. Elas abandonaram o Sutra de Lótus, negligenciaram as palavras de Sakyamuni e procuraram a salvação por meio da graça concedida por Amida,32 um buda do outro mundo. Esse acontecimento fez que a nação inteira ficasse repleta de grandes calúnias contra a Lei.

No escrito “A Seleção do Tempo”, na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação” e também em outros escritos, Daishonin mostra o ambiente que essas calúnias criaram. Ele diz que os membros da facção dominante e os sacerdotes eminentes, que apoiaram os ensinamentos caluniosos da [escola] Nembutsu, facilmente sucumbiram às funções demoníacas, causando conflitos internos, cometendo atos maldosos e seguindo um caminho que os guiaria para a própria ruína.

Em seguida, Daishonin discute a escola Zen. Declara que seus ensinamentos constituíam um “complemento de palavras e frases fora do Sutra de Lótus”.33 Os sacerdotes da escola Zen rejeitavam e desprezavam os sutras escritos que continham as pregações do Buda. Esse fato leva Daishonin a denunciá-los como “sacerdotes arrogantes” (WND, v. 1, p. 561). Ele considera grande arrogância e insensatez idolatrar as transmissões orais passadas por vários mestres, constituídas meramente por ramos e folhas, em vez de valorizar os sutras que registram os ensinamentos do Buda, que são a raiz ou a fonte original.

Mas, na época, Zen ainda era um ensinamento novo transmitido por Eisai34 [fundador da Rinzai Zen no Japão, uma escola contemporânea de Honen, e originalmente um sacerdote Tendai] e de outros que haviam estudado na China. Além disso, ele conquistou o respeito, pois, em meio a ruína e decadência das escolas budistas tradicionais, enfatizou a importância dos preceitos e das regras de disciplina e estabeleceu diretrizes para a vida diária.

Esses ensinamentos espalharam-se amplamente por encorajar até mesmo as pes­soas leigas a adotar a prática de Zen de jejum35 e pregavam os benefícios ao se adotar tal prática [jejum].

Apesar de a escola Zen rejeitar a fundação básica dos ensinamentos de Sakyamuni, ela conseguiu ganhar apoio mesmo nos períodos conturbados da época.

Isso aconteceu provavelmente porque os sacerdotes da escola Zen pareciam observar os preceitos e projetaram uma aura de dignidade e virtude. Furioso, Daishonin declara que os ensinamentos dessa escola apelaram “ao tipo de pessoas que tinham sido abandonadas por seus pais e mães devido à falta de devoção a eles ou que haviam sido despedidas de seus serviços por seus senhores em razão de má conduta [e] aos jovens sacerdotes que eram demasiados indolentes para se dedicar aos estudos” (WND, v. 1, p. 563). Ao enxergar que os ensinamentos e os preceitos da escola Zen faziam que as pessoas se perdessem de seu caminho e ficassem doentes espiritualmente, ele critica duramente seus adeptos como “uma praga de gafanhotos se alimentado das pessoas da nação” (WND, v. 1, p. 563).

Por fim, Daishonin volta sua atenção para a escola Preceitos-Verdadeira Palavra, denunciando-a como “de longe, a maior causadora de problemas do que as outras escolas [Nembutsu e Zen]” (WND, v. 1, p. 563).

Na época, até as escolas budistas estabelecidas participaram na realização de orações baseadas nos ensinamentos da [escola] Preceitos-Verdadeira Palavra. As orações, sobretudo, eram direcionadas à proteção da corte imperial e à nação de altos sacerdotes e templos tão ilustres como Enryaku-ji, o templo principal da escola Tendai no Monte Hiei; To-ji, o templo principal da Preceitos-Verdadeira Palavra; os sete maiores templos de Nara; e o Onjo-ji, outro templo de dominância Tendai; todos exercendo imenso poder e influência como resultado. Igualmente, quando a sede do governo foi transferida de Quioto para Kamakura com o estabelecimento do regime militar (em 1185), os sacerdotes da Preceitos-Verdadeira Palavra passaram a morar na cidade e nos arredores, e os governantes, por sua vez, os empregaram com a função de que oferecessem orações para a proteção da nação. Esse fato fez que as orações da Preceitos-Verdadeira Palavra fossem realizadas amplamente.

Por que a escola Preceitos-Verdadeira Palavra conseguiu uma aceitação tão ampla? Daishonin explica que os ensinamentos dessa escola chegaram tanto à China quanto ao Japão após a supremacia do Sutra de Lótus ter sido estabelecida [por Tient’ai e Dengyo, respectivamente].

Não havia a Preceitos-Verdadeira Palavra na China quando Tient’ai denunciou as doutrinas errôneas das três escolas do sul e as sete escolas do norte e estabeleceu o ensinamento correto de apenas um veículo do Sutra de Lótus. Nem existia Kobo36 [fundador da escola Preceitos-Verdadeira Palavra no Japão], que trouxe os ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra da China quando Dengyo denunciou os ensinamentos errôneos das seis escolas de Nara. Como consequência, a escola Preceitos-Verdadeira Palavra evitou a difamação tanto de Tient’ai quanto de Dengyo. Infelizmente, esse evento fez que os sacerdotes da escola Tient’ai, na China, e da escola Tendai, no Japão, fossem posteriormente enganados por declarações da Preceitos-Verdadeira Palavra.

O monge indiano Shan-wu-wei37 — que se apresentou na China após a morte de Tient’ai — e Kobo estavam cientes da superioridade de Tient’ai e das escolas Tendai, respectivamente. Entretanto, procuraram ocultar esse fato, porque, dessa forma, seria possível manter a própria hegemonia e a superioridade dos ensinamentos que eles adotaram. Além disso, estabeleceram a doutrina errônea. Pois, enquanto a escola Preceitos-Verdadeira Palavra fosse igual às outras escolas em termos de doutrina, elas seriam superiores em termos de prática devido a seus mudras (gestos simbólicos feitos com as mãos) e aos seus mantras (encantamentos místicos).38

E ainda existe algo mais maléfico que esses três ensinamentos [das escolas Nembutsu, Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra], tão maléfico que são cem, mil, dez mil, um milhão de vezes mais difíceis de acreditar.

Os governantes e as pessoas comuns acreditavam que o Grande Mestre Jikaku39 era uma pessoa mais notável que o Grande Mestre Dengyo, embora tenha sido seu terceiro discípulo. O Grande Mestre Jikaku realizou um estudo completo dos ensinamentos das escolas Preceitos-Verdadeira Palavra e Lótus. Em seus escritos, ele afirmou que os ensinamentos da [escola] Preceitos-Verdadeira Palavra eram superiores aos do Sutra de Lótus.
Como resultado, a comunidade de três mil sacerdotes no Monte Hiei [o templo principal da escola Tendai] e os estudiosos budistas em cada província do Japão concordaram com a opinião dele sobre esse assunto (WND, v. 1, p. 569).

Uma traição aos ensinamentos do fundador da escola Tendai

Influenciado pelos argumentos dos mestres da Preceitos-Verdadeira Palavra, Jikaku, o terceiro sumo sacerdote de Enryaku-ji, templo principal da escola Tendai no Monte Hiei —rebaixou a própria escola e a transformou em escola Preceitos-Verdadeira Palavra. No escrito “A Seleção do Tempo”, Daishonin, pela primeira vez desde que estabeleceu seu ensinamento, denunciou essa grande ofensa.

Jikaku, discípulo direto de Dengyo e líder da Tendai, escola fundada baseada no Sutra de Lótus, cometeu um erro de alinhar seus pontos de vista às declarações dos ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra, que se fundamentam principalmente no sutra Mahavairochana.40 Assim, ele propôs a doutrina errônea. E, “embora o Sutra de Lótus e o sutra Mahavairochana sejam iguais em termos de princípios, esse último é superior em prática”. O ponto de vista de Jikaku de que os ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra eram superiores do que os do Sutra de Lótus se tornou o erro primário que levou todos os futuros adeptos da escola Tendai a seguir pelo caminho errado de caluniar a Lei.

Ao aceitar como verdade os pronunciamentos ilusórios de Shan-wu-wei e Kobo, Jikaku articulou o ponto de vista de que o sutra Mahavairochana era superior por expor a prática dos mudras e dos mantras, que não era encontrada no Sutra de Lótus. Isso porque, embora o Sutra de Lótus e o sutra Mahavairochana fossem essencialmente os mesmos com relação à doutrina, ambos ensinaram o princípio dos “três mil mundos num único momento da vida”.

Inicialmente, o próprio Jikaku aparentava ter algumas reservas em relação a esse ponto de vista. Mas ele finalmente considerou seu julgamento correto — de todas as coisas — num sonho que teve dele mesmo atirando uma flecha ao Sol (cf. WND, v. 1, p. 571). Jikaku relatou suas conclusões ao imperador. E começou a utilizar os três sutras Verdadeira Palavra,41 os quais incluíam o sutra Mahavairochana como ensinamentos para a paz e a proteção da nação, em vez do Sutra de Lótus e dos outros dois sutras,42 escolhidos por Dengyo para esse propósito.

Daishonin escreve que, como resultado, as orações da escola Preceitos-Verdadeira Palavra tornaram-se a forma predominante de oração para a paz e a proteção da nação japonesa durante os períodos de Heian (794–1185) e Kamakura (1185–1333).

Depois desse evento, o número de templos da Preceitos-Verdadeira Palavra cresceu gradualmente. Até mesmo as pessoas leigas se afastaram do Sutra de Lótus e pediram aos mestres da Preceitos-Verdadeira Palavra que direcionassem orações a elas. Os rituais dessa escola também passaram a ser incorporados nas cerimônias de abertura dos olhos para estátuas budistas de outras escolas budistas, colocando o Japão inteiro num caminho cada vez mais crescente de calúnia contra a Lei.

Daishonin denuncia as ações de Jikaku baseando-se em dois pontos.

Em primeiro lugar, o julgamento de Jikaku não era baseado nos sutras que continham os ensinamentos do Buda, tratados escritos por Nagarjuna ou comentários de Tient’ai e Dengyo — que eram verdadeiros e deram origem à fundação da escola Tendai —, mas sim basea­do nos escritos errôneos e nas interpretações de mestres mal instruídos, tais como Shan-wu-wei e Kobo. Para um budista, é essencial ler e interpretar os ensinamentos dos sutras, os do Buda, e agir de acordo com eles. Entretanto, Jikaku ignorou esse fato por completo. Ele virou as costas aos ensinamentos do Buda e, até mesmo, aos do seu próprio mestre Dengyo, num ato brutal de traição como discípulo.

Outro ponto é que Jikaku considerou o fato de ter sonhado que estava atirando uma flecha ao Sol como prova conclusiva na correção de sua avaliação de que os ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra são superiores aos do Sutra de Lótus. Baseado no ponto de vista de que os sonhos são reflexo do estado de espírito da pessoa, Daishonin critica esse pensamento. O Buda o considera como uma ilusão que existia nas profundezas da vida de Jikaku, levando-o a essa ideia equivocada, convencendo-o de que aquilo era verdade.

Qual era a fonte de sua ilusão [de Jikaku]? Jikaku foi à Índia e estudou os “méritos relativos dos ensinamentos esotéricos e exotéricos”43 do budismo por dez anos. Ele recebeu instrução dos sacerdotes dominantes da escola Tient’ai, mas “em seu coração acreditava que a escola Preceitos-Verdadeira Palavra era superior” (WND, v. 1, p. 570). Secretamente, ele olhou com desprezo para o Grande Mestre Dengyo, sentindo que este “não havia entrado no assunto em detalhes suficientes sobre a questão, não havia permanecido um período prolongado na China e, por essa razão, teria adquirido apenas uma compreensão rústica das doutrinas da Preceitos-Verdadeira Palavra” (WND, v. 1, p. 570).

De fato, Dengyo havia feito um estudo profundo dos sutras no Japão durante quinze anos e, por sua própria sabedoria e compreensão aguçadas, percebeu que o Sutra de Lótus estava muito à frente dos outros ensinamentos budistas. Então, ele prosseguiu com seu estudo na China, que apenas lhe confirmou que seu julgamento estava correto.

Ele acreditava que o Sutra de Lótus era superior aos ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra (cf. WND, v. 1, p. 570).

Em contraste, Jikaku, apesar de ser um sacerdote Tendai, estabeleceu uma doutrina errônea que era contra o desejo do Grande Mestre Dengyo. “Isso despertou nele uma arrogância e um sentimento de superioridade, pois ele havia passado vários anos estudando no exterior e, por isso, estava bem mais familiarizado com os principais centros budistas chineses que o próprio Dengyo”.

Jikaku ganhou notoriedade na sociedade japonesa ao expor os novos ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra e “todos, dos governantes às pessoas comuns, acreditavam que ele era uma pessoa mais notável que o Grande Mestre Dengyo” (WND, v. 1, p. 569). Mais que promover e propagar os ensinamentos de seu mestre, Jikaku deu importância à própria fama e riqueza. Sem nenhuma intenção de retribuir seu débito de gratidão como discípulo, ele se comportava com deplorável arrogância e ingratidão. Daishonin afirma que, apesar de Jikaku se dizer discípulo do Grande Mestre Dengyo, em seu coração ele não o era (cf. WND, v. 1, p. 710).

Dengyo trabalhou incansavelmente a vida inteira para estabelecer uma escola baseada no Sutra de Lótus, um ensinamento que abrisse o caminho para a iluminação de todos. Portanto, a escola Tendai é também conhecida como escola Lótus ou escola Tendai Lótus. Até o fim de seus dias, Dengyo continuou a combater forças hostis ao Sutra de Lótus, tais como o sacerdote Tokuitsu44 [da escola Características do Dharma, no Japão]. E, como a mais célebre realização de sua vida, ele estabeleceu uma plataforma de ordenação específica para administrar os preceitos da perfeita e imediata iluminação do Sutra de Lótus.

Considerando que Jikaku era discípulo direto de Dengyo e terceiro sumo sacerdote da escola Tendai Lótus, por direito, deveria ter tomado uma atitude firme contra a difamação do Sutra de Lótus, fazendo do espírito de seu mestre seu guia e sua base.

Podemos concluir que Jikaku facilmente aceitou as calúnias contra os ensinamentos do Sutra de Lótus, pois não possuía fé suficiente para levar a sério ou respeitar o espírito de Dengyo.

O Budismo existe em prol da felicidade das pessoas

Tudo começou com a traição de Jikaku ao Grande Mestre Dengyo. A escuridão fundamental da vida de Jikaku o impedia de compreender a supremacia do Sutra de Lótus, que Dengyo estabeleceu durante as batalhas empreendidas em sua vida. Confuso pela afirmação de que “embora o Sutra de Lótus e o sutra Mahavairochana sejam iguais em termos de princípios, esse último é superior em prática”, ele incorporou os ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra à escola Tendai. Com isso, fez surgir o que é conhecido como esoterismo Tendai.

Jikaku dividiu os ensinamentos do Buda Sakyamuni em exotéricos e esotéricos. Enquanto incorporava o Sutra de Lótus aos ensinamentos esotéricos, ele o classificou como “ensinamento esotérico em teoria”, porque este não ensinava as práticas dos mudras e dos mantras. E insistiu que este era inferior aos três sutras da Preceitos-Verdadeira Palavra, os quais ele classificou como “ensinamentos esotéricos em teoria e prática”, portanto, superior.

Em termos de teoria ou de princípios, o Sutra de Lótus é de fato superior, em virtude de seu princípio dos “três mil mundos num único momento da vida” ser fundamentado no conceito da “possessão mútua dos dez mundos”.45 Este não é o caso dos três sutras da Preceitos-Verdadeira Palavra. Relacionadas a esse conceito, há também duas revelações encontradas no Sutra de Lótus, mas não no sutra Mahavairochana: a de que Sakyamuni originalmente atingiu a iluminação num passado remoto em que isso era inconcebível, e a de que mesmo as pessoas dos dois veículos (os ouvintes e os que despertaram para a causa) podem atingir o estado de Buda.

Em ambos os casos, os nove mundos têm o potencial para o estado de Buda e que este também contém os nove mundos — um ensinamento pertencente apenas ao Sutra de Lótus. Portanto, já que o sutra Mahavairochana não possui uma “base doutrinária” para a articulação do princípio dos “três mil mundos num único momento da vida”, não se pode afirmar ser igual ao Sutra de Lótus em termos de princípios.

No que diz respeito à prática, Jikaku alega que o sutra Mahavairochana é superior ao Sutra de Lótus porque ensina a prática dos mudras e dos mantras — gestos simbólicos feitos com as mãos e encantamentos místicos, simbolizando a iluminação e os votos do Buda e dos bodhisattvas. Estes, de fato, são rituais meramente superficiais direcionados à crença de que, ao se fazer gestos simbólicos com as mãos ou pronunciar certas palavras dos budas ou bodhisattvas, se pode atingir o mesmo estado de vida.

O Buda Sakyamuni originalmente ensinou as pessoas a seguir e praticar os caminhos do Buda, esforçando-se de coração nas três categorias de ação — pensamento, palavra e ação. Para mim, isso significa fazer do coração do Buda o nosso próprio, absorver seus ensinamentos e fazer deles um guia para nossa vida. Significa continuarmos a nos empenhar em nossa prática a cada momento, sempre atentos e dialogando com o Buda em nosso coração. Os incessantes esforços individuais com incontáveis outros contribuem para a construção de uma sociedade feliz e pacífica e certamente constituem a “prática” em sua verdadeira essência da palavra.

O Budismo existe em prol da felicidade das pessoas. O propósito real do Budismo é inspirar a todos para que continuem a se esforçar com firme espírito e perseverança em meio aos desafios diários da existência humana, superando até mesmo as maiores provações, abrindo um caminho certo para a felicidade.

Na época de Daishonin, os sacerdotes de várias escolas perderam de vista este ponto e esqueceram o espírito fundamental do Budismo: empreender ações dedicadas pela felicidade e pelo bem-estar das pessoas. Esses sacerdotes tornaram-se obsessivos com a formalidade e o ritual, um desenvolvimento que fez que adotassem os mudras e os mantras. Ao fazerem isso, eles focaram na importância dos encantamentos místicos, gestos com as mãos e outras práticas de rituais de natureza esotérica e oculta.

Com efeito, qualquer filosofia ou tradição religiosa que perde o espírito de lutar para transformar a realidade logo cairá no formalismo e no autoritarismo. Vamos sempre manter isso em mente!

A transformação do carma do país, da era e de toda a humanidade - parte 3 [3]
[5] “A Seleção do Tempo”
Terceira Civilização, Edição 523, 17/03/2012, pág. 61 / Estudo
Eu, Nitiren, nomeio os fundadores das escolas Preceitos-Verdadeira Palavra, Zen e Terra Pura como os três tipos de vermes; e [os sacerdotes] Jikaku, Annen46 e Eshin da escola Tendai como os três vermes que devoraram o corpo do leão do Sutra de Lótus e do Grande Mestre Dengyo.

Enquanto Nitiren, que age para denunciar a raiz dessas grandes calúnias contra o ensinamento correto, for tratado com animosidade, as divindades celestiais reterão suas luzes, os deuses da Terra se revoltarão, e os conflitos e as calamidades aparecerão em grande número.
Você deve entender que, porque falo sobre a questão mais importante em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro], minhas palavras são acompanhadas por presságios de primeira magnitude. Quão trágico e lastimável é o fato de que todas essas pessoas do Japão cairão no inferno de incessantes sofrimentos! Mas quão afortunado e alegre é pensar que, mesmo com esse corpo indigno, recebi em meu coração a semente do estado de Buda (WND, v. 1, p. 578).

A fonte da ruína da nação

A passagem descrita anteriormente conclui a denúncia de Daishonin contra as três escolas — Preceitos-Verdadeira Palavra, Zen e Nembutsu — e o sacerdote Tendai, Jikaku.

Daishonin compara os fundadores das três escolas — cujos ensinamentos errôneos levaram a nação inteira a caluniar a Lei — com “vermes” que destruíram os ensinamentos do Buda. Ele descreve Jikaku, Annen e Eshin como “três vermes no corpo do leão” (cf. WND, v. 1, p. 578). Apesar de serem eminentes sacerdotes da escola Tendai Lótus, eles declararam que os ensinamentos das escolas Preceitos-Verdadeira Palavra, Zen e Nembutsu eram superiores aos do Sutra de Lótus e estabeleceram doutrinas que induziram à calúnia contra a Lei. Daishonin os compara aos gafanhotos ou a parasitas, pois eles corroíam e destruíam o Sutra de Lótus em sua essência.

Discorri sobre Jikaku de uma maneira aprofundada. Ele foi o responsável por abrir as comportas das calúnias contra a Lei feitas à escola Tendai ao pôr os ensinamentos da Preceitos-Verdadeira Palavra acima dos ensinamentos do Sutra de Lótus.

Annen era sacerdote e discípulo direto de Jikaku. Ele desempenhou um papel decisivo ao sistematizar os ensinamentos do esoterismo Tendai. No escrito “A Seleção do Tempo”, Daishonin critica Annen por classificar a escola Zen como superior à escola Tendai Lótus e por reforçar o prestígio e a importância da escola Zen (cf. WND, v. 1, p. 569-570).

Eshin [também conhecido como Genshin], apesar de ser um acadêmico da escola Zen, escreveu a obra Fundamentos do Renascimento na Terra Pura. Nela, ele enaltece a escola Nembu­tsu como um ensinamento apropriado para as pessoas desprovidas de conhecimento da era de decadência dos Últimos Dias da Lei. Desse modo, ele contribuiu de forma significativa para a posterior propagação dos ensinamentos da escola Nembutsu de Honen.

A principal ofensa que causou o maior dano aos ensinamentos corretos do Buda não se originou de outras escolas, mas da própria escola Tendai Lótus — a que deveria propagar esse ensinamento. Daishonin claramente distingue a verdadeira natureza maldosa desses sacerdotes Tendai e continua a denunciá-los.

Jikaku, em particular, foi venerado como sacerdote de elevada virtude, habilidade e sabedoria. Foi honrado com o título de Grande Mestre no ano que seu conselheiro recebeu esse mesmo título postumamente — o primeiro caso desse privilégio de pessoas notáveis no Japão. Sua traição à principal crença da escola Tendai de que o Sutra de Lótus era superior entre todos os ensinamentos do Buda estabeleceu as bases que moldariam o pensamento de Annen, Eshin e os sacerdotes da escola Tendai de futuras gerações. Nesse sentido, pode-se afirmar que os ensinamentos de Jikaku eram a causa raiz de o Japão estar à beira da ruína na época de Daishonin. A razão para a queda da Lei pura nos Últimos Dias da Lei não é a maldade da época nem a falta de capacidade das pessoas entenderem os ensinamentos do Buda. O fator decisivo que contribui para a queda foi que muitas pessoas que deveriam defender e apoiar o ensinamento correto falharam ao fazê-lo.

Em “A Seleção do Tempo”, Daishonin descreve a si próprio como “Nitiren aquele que está lutando para denunciar a raiz dessas grandes calúnias contra o ensinamento correto” (WND, v. 1, p. 578). Neste escrito, ele expõe deste­midamente esse caso baseado em provas suficientes de que as calúnias contra a Lei, cometidas por Jikaku, foram a causa do declínio e das ameaças de ruína que o Japão enfrentava na época. Ele o fez de forma exclusiva para pôr fim a uma tendência de queda do país rumo à ruína e para evitar que a população inteira caís­se em estado de sofrimento constante. Nada poderia ser mais determinante que esclarecer a causa das situações desesperadoras que assolavam a nação e as pessoas. Por essa razão, ele chama essa ação de “o assunto mais importante de toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 578).

Daishonin também declara que os acontecimentos abomináveis que se sucediam no Japão — como a invasão mongol e uma série de desastres naturais — eram “predições que surgiram em resposta à insistente perseguição do país por ele ter ousado tocar nesse assunto” (WND, v. 1, p. 578).

Ele afirma que todos são “presságios de primeira magnitude” (WND, v. 1, p. 578), e seu propósito é despertar as autoridades dominantes que o tinham atacado, pois conseguiram compreender suas intenções.

Não importa quão maléfica seja a era ou quantas pessoas más habitem a terra nos Últimos Dias da Lei. Quando os praticantes do Sutra de Lótus — aqueles que devem defender e propagar o ensinamento correto — corajosamente se levantam, “a época da Lei pura florescer chegará infalivelmente”. De acordo com o Sutra, essa luta será liderada nos Últimos Dias da Lei pelo Bodhisattva Práticas Superiores.

No escrito “O Grande Bem e o Grande Mal”, Daishonin escreve: “Quando o Bodhisattva Práticas Superiores surgiu da terra, ele não apareceu dançando?” (WND, v. 1, p. 1119). Esse Bodhisattva da Terra corajosamente aparece numa época de grande mal para concretizar o desafio de propagar a Lei Mística. Sua coragem, seu espírito de luta e sua energia dinâmica servem como uma poderosa força motriz para esse empreendimento.

Continua a revolução religiosa
de Nitiren Daishonin

Referindo-se ao estado de espírito de um verdadeiro devoto do Sutra de Lótus que realiza a luta do Bodhisattva Práticas Superiores nos Últimos Dias, Daishonin exclama: “Que sorte, que alegria, pensar que, com este corpo indigno, recebi em meu coração a semente do estado de Buda” (WND, v. 1, p. 578). Essas palavras demonstram a imensa alegria que enche seu ser, pulsando com a energia dinâmica do Myoho-rengue-kyo, que é a semente, ou a causa, para atingir o estado de Buda. Na transmissão das sementes da Lei Mística para os outros [Chakubuku] é indispensável manifestar essa mesma energia vibrante.

A batalha de Daishonin foi uma revolução religiosa, que nós, da SGI, continuamos a empenhar hoje por todo o mundo ao desafiarmos nossos esforços para atingir o estado de Buda no curso de nossa vida. E, também, para tornar real uma sociedade pacífica e próspera por meio da ampla propagação dos princípios humanísticos e ideais de Nitiren Daishonin [Chakubuku].

Ao discutir sua convicção de que “a reforma religiosa não é difícil”, o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, salientou: “Seguir ideologias de origem duvidosa não pode ser baseada em provas reais... e, portanto, sacrificar nossa preciosa vida deve ser rigorosamente repudiado”. E afirmou: “Em última análise, a menos que o espírito humano seja fundamentalmente transformado por uma revolução religiosa, o caos nos relacionamentos humanos nunca será remediado”.

Meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, declarou: “Somente por meio da revolução humana e religiosa podemos alcançar a verdadeira felicidade e construir uma sociedade pacífica”.

Em meu diário, registrei meus sentimentos e minhas determinações depois de participar de uma série de palestras sobre o Gosho, proferidas pelo Toda Sensei em minha juventude:

“O presidente Toda é o mestre da humanidade.

“Revolução religiosa é revolução humana. Esta, por sua vez, leva a uma revolução educacional e econômica, e também se estenderá a uma revolução de ordem política. A Soka Gakkai tem uma missão importante.

“Juventude! Avance com paixão sem limites! Juventude! Siga em frente estimando esta maravilhosa filosofia!

“Aos 20 anos, encontrei o caminho para protagonizar a mais nobre e honrosa juventude!”

Meus sentimentos hoje não mudaram em nada. Ao contrário, eles apenas se fortaleceram.

A missão da Soka Gakkai reside em sempre avançar por meio do sublime caminho de se estabelecer o correto ensinamento para a paz da terra — propagando os princípios humanísticos do Budismo para criar uma sociedade onde a paz e a tranquilidade prevaleçam.

Transbordando de orgulho e alegria por seguir os passos de Nitiren Daishonin, o devoto mais elevado do Sutra de Lótus em todo o mundo, vamos continuar a seguir nosso caminho com coragem e revelar a verdade para a felicidade de todas as pessoas.

(Daibyakurengue, edição de julho de 2010.)


Notas:

1. Tient’ai (538–597): Fundador da escola Tient’ai na China. Comumente referido como o Grande Mestre Tient’ai. Seus discursos foram compilados em vários trabalhos, como O Profundo Significado do Sutra de Lótus, Palavras e Frases do Sutra de Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Ele propagou o Sutra de Lótus na China e estabeleceu a doutrina dos “três mil mundos num único momento da vida”.

2. Dengyo (767–822): Também conhecido como Saicho, é o fundador da escola Tendai (Tient’ai) no Japão. É chamado o Grande Mestre Dengyo. Ele apontou os erros das seis escolas de Nara — as escolas budistas da época — e se dedicou a elevar o Sutra de Lótus e a estabelecer uma plataforma de ordenação Mahayana no Monte Hiei.

3. Plataforma de ordenação Mahayana: Também conhecida como santuário. Local em que é realizada a cerimônia dos preceitos budistas. No Japão, a primeira plataforma de ordenação foi construída em 754. Daquele período em diante, os sacerdotes habitualmente ordenavam os preceitos Hinayana. Em 819, Dengyo solicitou a aprovação imperial para erguer uma plataforma de ordenação no templo Enryaku da escola Tendai no Montei Hiei. Naquela época, ape­nas as seis escolas estabelecidas do Budis­mo em Nara eram privilegiadas para realizar cerimônias de ordenação budistas. Essas ce­ri­mônias eram feitas de acordo com os regulamentos Hinayana. O pedido de Dengyo provocou uma intensa oposição dos sacerdotes de Nara. A permissão, entretanto, foi finalmente concedida em 822, sete dias após a morte de Dengyo, e uma plataforma de ordenação Mahayana foi concluída em 827 por seu discípulo e sucessor, Gishin. Esta é a primeira plataforma de ordenação Mahayana na história do Budismo.

4. Preceitos da iluminação perfeita e imediata: Conhecidos também como preceitos perfeitos. Um dos três tipos de aprendizagem — meditação, preceitos e sabedoria — baseados na aprendizagem para a iluminação perfeita e imediata. Dengyo adotou os preceitos Mahayana, especificamente os dez principais preceitos e os quarenta e oito preceitos secundários estabelecidos no sutra da Rede Brahma. Ele os interpretou basea­do no Sutra de Lótus, conhecido na doutrina Tient’ai ou Tendai como o ensinamento para a iluminação perfeita e imediata, ou o ensinamento perfeito. Portanto, ele construiu as bases da fundação para o estabelecimento de uma plataforma de ordenação para administrar os preceitos da iluminação perfeita e imediata.

5. Chih-che: Título honorífico que indica “pessoa de sabedoria”. O Grande Mestre Tient’ai também era chamado de o Grande Mestre Chih-che e o Grande Mestre Tient’ai Chih-che.

6. Isso significa que os Três Grandes Ensinos Fundamentais são evidentes nas passagens do Sutra de Lótus quando o Sutra é lido à luz de sua verdade fundamental.

7. Ensinamentos provisórios Mahayana: Foram expostos como um meio para conduzir as pessoas ao verdadeiro ensinamento Mahayana, que revela na íntegra a iluminação do Buda Sakyamuni. Os ensinamentos provisórios Mahayana mostram apenas aspectos parciais da verdade para a qual o Buda despertou. Eles foram divididos em cinco períodos. São eles: Guirlanda de Flores; Exatidão e Semelhança; Sabedoria; Agama; e Lótus e do Nirvana.

8. Três escolas do sul e sete escolas do norte: também chamadas três escolas do sul e sete escolas do norte da China. Embora fossem geralmente conhecidas como “escolas”, eram na verdade os dez principais sistemas de classificação dos sutras budistas estabelecidos por vários mestres budistas na China, durante o período de dinastia do sul e do norte (439-589). Logo, não há nomes específicos para as respectivas escolas. Tient’ai empregou essa designação genérica e destacou estes sistemas em [sua obra] O Profundo Significado do Sutra de Lótus.

9. Seis escolas de Nara: Seis escolas do budismo que se manifestaram em Nara, capital do Japão durante o período Nara (710–794). São elas: Tesouro da Análise do Dharma, Estabelecimento da Verdade, Três Tratados, Preceitos, Características do Dharma e Guirlanda de Flores. Essas escolas não eram independentes como os sistemas doutrinários ou filosóficos, e mais de uma dessas tradições eram geralmente estudadas em cada um dos sete maiores templos de Nara.

10. “Três mil mundos num único momento da vida”: Doutrina desenvolvida por Tient’ai, baseada no Sutra de Lótus. É o princípio de que todos os fenômenos estão contidos num único momento da vida e cada instante da vida permeia os três mil mundos da existência, ou o mundo inteiro de fenômenos.

11. Meditação perfeita e sabedoria perfeita: Referem-se a dois dos três tipos de aprendizagem. Ou seja, são a meditação, a sabedoria e os preceitos — baseados no Sutra de Lótus, o ensinamento da iluminação perfeita e imediata. Embora Tient’ai tenha se devotado à meditação e à sabedoria perfeitas, ele continuou a empregar os preceitos Hinayana.

12. Ver nota 4.

13. Três tipos de aprendizagem: Também conhecidos como três disciplinas que os praticantes do Budismo devem dominar: preceitos, meditação e sabedoria. Eles abarcam todos os aspectos da doutrina e da prática budistas. Preceitos são regras ou disciplinas com o propósito de evitar erros e pôr fim à maldade no pensamento, nas palavras e nas ações. A meditação é a prática direcionada a focar a mente e fazer que ela se torne tranquila. A sabedoria livra a pessoa das ilusões e permite que se perceba a verdade. O Buda Nitiren Daishonin associou os Três Grandes Ensinos Fundamentais com os três tipos de aprendizagem. Especificamente, o objeto de devoção corresponde à meditação; o santuário, aos preceitos; e o Daimoku, à sabedoria.

14. Myoho-rengue-kyo é escrito com cinco caracteres chineses, enquanto Nam-myoho-rengue-kyo é escrito com sete (nam ou namu é composto por dois caracteres). Daishonin, entretanto, utiliza o Myoho-rengue-kyo como sinônimo de Nam-myoho-rengue-kyo em seus escritos.

15. Bodhisattva Práticas Superiores: O líder dos Bodhisattvas da Terra que aparece no 15º capítulo do Sutra de Lótus, “Emergindo da Terra”. No 21o capítulo do Sutra de Lótus, “Os Poderes Místicos do Buda”, Sakyamuni confia ao Bodhisattva Práticas Superiores a propagação do Sutra de Lótus durante a era maligna dos Últimos Dias da Lei. Em seus escritos, Daishonin associa a si mesmo como Bodhisattva Práticas Superiores, afirmando que completou a missão de propagar o Budismo, confiada ao Bodhisattva Práticas Superiores por Sakyamuni.

16. Em “Retribuição aos Débitos de Gratidão”, há a seguinte passagem: “Pergunta: Existe um ensinamento correto que não foi propagado nem por Tient’ai nem por Dengyo? Resposta: Sim, existe. Pergunta: Que tipo de ensinamento é este? Resposta: Consiste em três coisas. Foi deixado pelo Buda em prol daqueles que vivem nos Últimos Dias da Lei. É o ensinamento correto que nunca foi propagado por Mahakashyapa ou Ananda, Ashvaghosha ou Nagarjuna, Tient’ai ou Dengyo. Pergunta: Que forma ele possui? Resposta: Primeiro, o Japão e todas as outras terras de Jambudvipa [o mundo inteiro] deveriam fazer do Buda Sakyamuni do ensino fundamental [o Buda que incorpora a Lei Suprema, ou o Nam-moyoho-rengue-kyo] seu objeto de devoção. Segundo, há um santuário do ensinamento fundamental. Terceiro, no Japão, na China, na Índia e em todas as outras terras de Jambudvipa, cada pessoa, não importa se sábia ou ignorante, deixará as outras práticas e se juntará aos demais para recitar o Nam-myoho-rengue-kyo. Este ensinamento nunca foi exposto. Em toda a terra de Jambudvipa, nos 2.225 anos desde o falecimento do Buda, nenhuma pessoa o recitou. Nitiren, sozinho, sem poupar sua voz, agora recita Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-ren­­gue-kyo” (WND, v. 1, p. 735–736).

17. As “três importantes preocupações” referem-se à refutação das [escolas] Nembutsu, Zen e Preceitos-Verdadeira Palavra, explicadas posteriormente.

18. Refere-se a uma das oito maravilhas do oceano descritas no sutra do Nirvana. “O corpo de uma pessoa morta” representa os icchan­tikas, pessoas de descrença incorrigível, monges que cometeram as quatro maiores ofensas de matar, roubar, ter relações se­xuais ilícitas e mentir; pessoas que cometeram os cinco pecados capitais; e aquelas que caluniaram os ensinamentos Mahayana.

19. Trata-se a passagem do sutra Guirlanda de Flores, na qual o deus da Terra recusa-se a proteger estes três tipos de pessoa: as que causam a morte de um rei, aquelas que são infiéis aos pais e as que negam a lei de causa e efeito ou caluniam os três tesouros do Budismo, que são: o Buda, a Lei e a Ordem Budista.

20. Cinco atos malignos: Os cinco atos mais graves no Budismo. As explanações variam conforme os sutras e tratados. A versão mais comum é: (1) matar o próprio pai; (2) matar a própria mãe; (3) matar um arhat; (4) ferir um buda e (5) causar desunião entre os praticantes. Aquele que cometer qualquer um dos cinco atos malignos cairá infalivelmente num inferno de incessantes sofrimentos.

21. Escola Nembutsu: Também conhecida como Terra Pura. Termo genérico usado para as escolas budistas no Japão. Tais escolas ensinam que aquele que procura alcançar o renascimento na Terra Pura praticando a escola Nembutsu, ou invocando o nome do Buda Amida, recitando a frase “Namu Amida Butsu” (“Homenagem ao Buda Amida” ou “Eu me refugio no Buda Amida”). Aqui, Terra Pura refere-se à Terra Pura de Amida da Perfeita Felicidade. Os ensinamentos da Terra Pura, incluindo a Nembutsu ou a meditação do Buda Amida, foram adotados pela escola Tendai quando, em 848, Jikaku, estabeleceu um meio para a meditação ativa constante no Monte Hiei e lá praticou a meditação do Buda Amida. Ryogen (912–985), o décimo oitavo sacerdote do templo Enryaku, foi provavelmente o primeiro a tentar sistematizar as doutrinas da Terra Pura. Seu discípulo Genshin escreveu Os fundamentos do Renascimento na Terra Pura, na qual ele sistematizou os ensinamentos da meditação do Buda Amida na rede de doutrinas da Tendai. Posteriormente, Yokan (1033–1111), da escola Três Tratados, praticou a recitação do nome do Buda Amida. Honen (1133–1212), que foi inspirado pelos trabalhos de Shan-tao da China e do sacerdote Tendai Genshin do Japão, estabeleceu a escola Terra Pura.

22. Escola Zen: Escola budista que ensina que a iluminação não é adquirida por meio dos ensinos doutrinais, mas na direta percepção da mente do praticante por meio da meditação. Conhecida na China como escola Chan, seu fundador é lembrado como Bodhidharma (século 6). O ensinamento Zen foi resumido nas seguintes frases atribuídas ao Bodhidharma: “Uma transmissão separada dos sutras”, “independente de palavras ou de escritos”, “diretamente apontando para a mente humana” e “reconhecer a verdadeira natureza e alcançar o estado de Buda”. Reconhecido entre os primeiros mestres Zen no Japão, Dainichi Nonin apresentou o ensinamento Zen para esse país no século 12. Após a sua morte, seus discípulos se tornaram seguidores de Dogen (1200–1253), fundador da escola japonesa Soto. Em 1187, Eisai trouxe os ensinamentos da escola Lin-chi da China, e fundou a escola japonesa Rinzai. Em 1223, Dogen também foi à China e voltou com os ensinamentos da escola Zen Tsao-tung, baseados naqueles que estabeleceram a escola Soto. Durante os períodos de Kamakura (1185–1333) e Muromachi (1336–1573), os ensinamentos Zen tornaram-se popular entre a classe de samurais e prosperaram de forma significativa.

23. Escola Preceitos-Verdadeira Palavra: Escola budista no Japão estabelecida por Kobo (774–835) que segue as doutrinas e práticas esotéricas encontradas nos sutras Mahavairochana e Coroa de Diamantes. O nome “verdadeira palavra” é a versão em chinês do mantra sânscrito (que significa palavra secreta ou fórmula mística). Na escola Preceitos-Verdadeira Palavra, isso indica as palavras que o Buda Mahavairochana proferiu.

24. Honen (1133–1212): Também conhecido como Genku. Fundador da escola Terra Pura do Budismo no Japão, defendeu a prática exclusiva da Nembutsu — recitação do nome do Buda Amida a fim de alcançar o renascimento na Terra Pura. Em sua obra, A Nembutsu como única escolha, Honen proclama que as pessoas “descartem, encerrem, ignorem, e abandonem” os sutras, incluindo o Sutra de Lótus, e no lugar deles abracem a fé na Terra Pura.

25. T’ang-luan (476–542): Fundador e primeiro patriarca da escola chinesa Terra Pura. Ele enfatizou a prática dos ensinamentos da Terra Pura como “caminho da prática fácil” que permitia que as pessoas alcançassem o renascimento na Terra Pura do Buda Amida, e rejeitassem todas as outras práticas, aquelas conhecidas como “caminho da prática difícil”.

26. Tao-ch’o (562–645): Segundo patriarca da escola chinesa Terra Pura. Originalmente, mestre do Sutra Nirvana, ele adquiriu fé nos ensinamentos da Terra Pura, posteriormente. Tao-ch’o classificou os ensinamentos budistas em duas categorias: os ensinamentos da Terra Pura e os do Caminho Sagrado. Declarou que os ensinamentos do Caminho Sagrado, que expõem que a pessoa pode atingir o estado de Buda por meio do próprio poder, são práticas muito difíceis para os mortais comuns dos Últimos Dias. Ele acreditava que somente os ensinamentos da Terra Pura, que pregam o renascimento na Terra Pura do Buda Amida por meio da crença no poder desse buda, poderiam oferecer salvação.

27. Shan-tao (631–681): Terceiro patriarca da escola Terra Pura, da China. Ele abraçou os ensinamentos da Terra Pura e disseminou a prática da recitação do nome do Buda Amida. Classificou as práticas budistas nas categorias “corretas” e “diversas”. E definiu as práticas corretas como as direcionadas ao Buda Amida e todas as outras, como práticas diversas.

28. Eshin (942–1017): Conhecido como Genshin, era sacerdote da escola Tendai no Japão. Valorizando a prática da meditação, fundou a franquia Eshin da escola Tendai. Também praticou a Nembutsu, meditando e recitando o nome do Buda Amida, enquanto lia e recitava sutras como o de Lótus, Amida, e Sabedoria. Em 985, concluiu [a obra] Os Fundamentos do Renascimento na Terra Pura, que contribuiu para o estabelecimento e o desenvolvimento da escola Terra Pura no Japão.

29. Yokan (1033–1111): Sacerdote da escola Três Tratados e precursor da escola Terra Pura no Japão. Praticou e propagou amplamente a escola Nembutsu. Escreveu As Dez Condições para o Renascimento na Terra Pura e Os rituais do encontro para o renascimento na Terra Pura”.

30. Escola Três Tratados: Escola fundamentada nos três tratados: Tratado sobre o Caminho do Meio e no Tratado sobre os Doze Portais, de Nagarjuna, e no Tratado em Cem Versos, de Aryadeva. Esses tratados foram traduzidos para o chinês no início do século 5 por Kumarajiva. Essas três doutrinas foram, sucessivamente, transmitidas por Tao-shen (discípulo de Kumarajiva) e outros. E, por fim, foram sistematizadas por Chi-tsang (529–623), que é frequentemente lembrado como primeiro patriarca da escola chinesa Três Tratados, ou escola Sanlun. As doutrinas desta escola foram transmitidas ao Japão durante o século 7 e início do século 8.

31. Kenshin (1130–1192): Era o 61o sacerdote do templo Enryaku. Antes de se tornar sumo sacerdote, quando estava com 40 anos, foi retirado de suas tarefas eclesiásticas e passou um período em reclusão. Durante esse tempo, ele convidou Honen para visitá-lo e responder a algumas perguntas sobre os ensinamentos da Terra Pura. Posteriormente, devotou-se à prática exclusiva da Nembu­tsu. Em 1190, contra seu desejo, Kenshin foi indicado sumo sacerdote do templo Enryaku e então vice-administrador dos sacerdotes.

32. Ver nota 21.

33. Propagação feita sem os sutras: Uma doutrina da escola Zen afirma que a iluminação do Buda e seu ensinamento verdadeiro foram transmitidos não através de sutras, mas de coração a coração. Ver também a nota 22.

34. Eisai (1141–1215): O fundador da escola Rinzai Zen no Japão. Ordenado como sacerdote da escola Tendai no Monte Hiei, ele viajou duas vezes à China, e trouxe de lá o ensinamento da escola Lin-chi. A oposição dos sacerdotes da Tendai no Monte Hiei tornou difícil a tarefa de propagar seus ensinamentos em Quioto, e, sendo assim, ele foi à Kamakura. Eisai prosseguiu e fundou um expressivo número de templos Zen. Embora ele não tenha sido tecnicamente o primeiro a introduzir as ideias Zen no Japão, o crédito é dado a ele por estabelecer a Zen como uma escola independente.

35. Refere-se especificamente à prática do jejum durante a tarde por seis ou dez dias num período de um mês.

36. Kobo (774–835): Fundador da escola Preceitos-Verdadeira Palavra no Japão. Em 804, ele viajou à China e estudou o budismo esotérico na Ch’ang-an com o mestre esotérico budista Hui-kuo. Este o encarregou de transmitir as doutrinas secretas. Retornando ao Japão em 806, Kobo trouxe com ele cópias de dois mandalas do budismo esotérico, escrituras esotéricas e ferramentas de oração do ritual, e devotou-se a propagar amplamente os ensinamentos esotéricos.

37. Shan-wu-wei (em sânscrito, Shubhakarasimha) (637–735): Monge indiano que primeiro introduziu o budismo esotérico na China. Também foi nomeado mestre da nação. Traduziu numerosos sutras esotéricos para o chinês, incluindo o sutra Mahavairochana. Em sua explicação sobre esse último sutra, estabeleceu a doutrina errônea de “mesma doutrina, superior na prática”, a qual sustenta que o sutra Mahavairochana, aquele que possui os mudras e os mantras, é superior ao Sutra de Lótus, que não os contém.

38. Mudras e mantras: Mudras são gestos simbólicos feitos com as mãos e os dedos sim­bolizando a iluminação e os votos do Buda e dos bodhisattvas. Mantras são fórmulas que consistem nas três palavras secretas ou sílabas que incorporam poderes místicos. O budismo esotérico enxerga esse último como a essência da verdade budista. A palavra “mantra” em sânscrito foi traduzida para o chinês como “verdadeira palavra”. Ambos, mudras e mantras, são geralmente empregados nas práticas e nos rituais do budismo esotérico, em que se acredita que estes ajudam a alcançar a união com o Buda Mahavairochana.

39. Jikaku (794–864): Terceiro sumo sacerdote do templo Enryaku. Discípulo do Grande Mestre Dengyo, o fundador da escola Tendai. Estudou o budismo esotérico e a doutrina Tient’ai na China. Em 847, retornou ao Japão, e, em 854, tornou-se o terceiro sumo sacerdote da escola Tendai. Possuía grande estima pelos ensinamentos do budismo esotérico e declarou que estes eram iguais ao ensinamento perfeito do Sutra de Lótus. Durante esse período, a escola Tendai incorporou o budismo esotérico em suas doutrinas originais. Esse ato foi denominado esoterismo Tendai, distinto do esoterismo da escola Preceitos-Verdadeira Palavra, de Kobo. Jikaku desenvolveu a ideia de que o Sutra de Lótus e o sutra Mahavairochana são iguais em termos de doutrina, pois compartilham do princípio dos “três mil mundos num único momento da vida”, mas que esse último é superior em termos de prática, pois expõe os mantras e os mudras.

40. Sutra Mahavairochana: Tradução chinesa de um texto em sânscrito feita em 725 por Shan-wu-wei com a ajuda de seu discípulo I-shing. Este e o sutra Coroa de Diamantes formaram as duas escrituras essenciais da escola Preceitos-Verdadeira Palavra.

41. Os três sutras Verdadeira Palavra são: Mahavairochana, Coroa de Diamantes e Susiddhikara.

42. Refere-se aos sutras de Lótus, Reis Benevolentes e da Luz Dourada.

43. Ensinamentos esotéricos são aqueles transmitidos secreta ou implicitamente e estão além do conhecimento das pessoas comuns. Eles são definidos em contraste aos ensinamentos exotéricos, ou aqueles que são explicitamente revelados e acessíveis a todos.

44. Tokuitsu [s.d.]: Também conhecido como Tokuichi. Sacerdote da escola Características do Dharma no Japão durante o fim do século 8 e começo do século 9. Ele é conhecido por sua disputa com Dengyo. Tokuitsu declarou que o ensino do veículo único do Sutra de Lótus é a doutrina provisória e que os três veículos são o real ensinamento do Buda. Dengyo o contrariou dizendo que o veículo único do Sutra de Lótus é o ensinamento verdadeiro e defendeu que os três veí­culos são meios de instruir as pessoas e de conduzi-las ao veículo único. O debate entre eles estendeu-se até a morte de Dengyo.

45. Possessão Mútua dos Dez Mundos: O princípio de que cada um dos dez estados de vida — do inferno ao Buda — possui o potencial para os dez mundos. “Possessão mútua” significa que a vida não está fixa em apenas um ou qualquer outro estado de vida, mas que pode manifestar qualquer um dos dez estados num determinado momento. O ponto importante desse principio é que todos os seres vivos em, qualquer estado de vida que estejam possuem a natureza de Buda. Isso quer dizer que cada pessoa tem o potencial para manifestar o estado de Buda. Ao mesmo tempo, o Buda também possui os outros nove estados e não é separado nem diferente das pessoas comuns.

46. Annen (nascimento: 841): Sacerdote da escola Tendai no Japão. É conhecido por ter ajudado a estabelecer a doutrina e a prática do esoterismo Tendai. Ao dizer que era parente de Dengyo, estudou os ensinamentos exotéricos e esotéricos de Jikaku, o terceiro sumo sacerdote do templo Enryaku, de quem ele recebeu os preceitos de bodhisattva. Annen é autor de mais de cem obras que tratam dos ensinamentos exotéricos e esotéricos, incluindo Perguntas e respostas sobre os Ensinos, A Época e Os Tratados sobre o Significado da Mente que Aspira à Iluminação, que são considerados como grandes obras do esoterismo Tendai.


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Criando uma grandiosa corrente mundial do Kossen-rufu na era das pessoas [1]
[5] “A Seleção do Tempo”
Terceira Civilização, Edição 524, 14/04/2012, pág. 66 / Estudo
por Daisaku Ikeda, presidente da SGI
TRECHOS DA CARTA

Vejam como será!

Quando dezenas de milhares de navios armados do grande reino mongol atacarem o Japão, todos os governantes e até multidões virarão as costas para os templos budistas e os santuários de deuses. O povo erguerá a voz em coro, recitando Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-

-rengue-kyo!

As pessoas e os governantes juntarão as mãos e dirão “Mestre Nitiren, Mestre Nitiren, salvai-nos!” Logo, os sacerdotes dominantes do Japão, sem dúvida, tentarão clamar: “Namu Nitiren Shonin (Devoção ao sábio Nitiren)!”

É provável que eles só vão ter tempo para proferir esta única palavra: “Namu (Devoção)!”

Que lamentável, que lamentável!

Nos textos seculares consta: “Um sábio é quem entende inteiramente o que ainda não se fez revelar”. Os textos budistas afirmam: “Um sábio é aquele que conhece as três existências da vida — passado, presente e futuro”. Três vezes ganhei distinção por possuir tal conhecimento.

***

[“Na ocasião da minha terceira advertência, Hei no Saemon-no-jo] Yoritsuna... perguntou: “Quando o senhor acha que os mongóis atacarão?”

Respondi-lhe: “As sagradas escrituras não indicam o tempo. Porém, os sinais mostram que o céu está extremamente irritado. Parece que o ataque é iminente. É provável que ocorra antes do término deste ano [1274]”.

Apesar de não ter sido eu, Nitiren, quem fez esses três importantes pronunciamentos, em todos os casos o espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni havia possuído meu corpo.

E, tendo vivido isso, não me contenho de tanta alegria! Esta é a importante doutrina dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida, ensinado no Sutra de Lótus.

***

Pequenos rios se unem para formar o grande oceano, e minúsculas partículas de areia se acumulam para formar o Monte Sumeru. Quando eu, Nitiren, comecei a ter fé no Sutra de Lótus, eu era semelhante a uma gota d’água ou uma única partícula de areia em todo o Japão. Mas, depois, quando duas, três, dez pessoas e, eventualmente, cem, mil e um milhão de pessoas passarem a recitar o Sutra de Lótus e a transmiti-lo aos outros, todos formarão um Monte Sumeru da perfeita iluminação, o oceano de um grande nirvana. Não procurem nenhum outro caminho, a não ser aquele pelo qual se manifeste o estado de Buda! (WND, v. 1, p. 578–580)

***

No oitavo volume do Sutra de Lótus consta: “Nos Últimos Dias, se existirem aqueles que aceitam, apoiam, leem e recitam este Sutra..., seus desejos não serão em vão, e nesta presente existência, eles ganharão a recompensa da boa sorte”. Também consta: “Se há alguém que oferece esmolas a eles e os louvam, então, nesta presente existência, ele manifestará uma recompensa a isso”.

Nessas duas passagens, encontram-se as palavras “nesta presente existência, eles ganharão a recompensa da boa sorte” e “nesta presente existência, ele manifestará uma recompensa a isso”. Essas duas afirmações, na versão original em chinês, compreendem cada uma delas oito caracteres.

Se esses dezesseis caracteres são inexpressivos, e se Nitiren não recebe nenhuma grande recompensa em sua vida presente, então essas palavras douradas do espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni estarão na mesma categoria de mentiras infundadas de Devadatta, e o depoimento do Buda Muitos Tesouros, que garantiu suas verdades, não seria diferente das afirmações infundadas de Kokalika.

Nenhuma pessoa que caluniar a Lei Correta será condenada ao inferno Aviti, e os budas das três existências não existirão! Mas isso seria possível?

Portanto, digo a vocês, meus discípulos, pratiquem como o Sutra de Lótus ensina, empenhando-se sem poupar a própria vida! Provem a veracidade do Budismo agora! (WND, v. 1, p. 583-584)

Criando uma grandiosa corrente mundial do Kossen-rufu na era das pessoas [2]
[5] “A Seleção do Tempo”
Terceira Civilização, Edição 524, 14/04/2012, pág. 74 / Estudo
EXPLANAÇÃO

O Budismo Nitiren é um ensinamento humanístico. Ele permite que encontremos uma esperança suprema dentro de nós mesmos — esperança que é representada pela infinita nobreza de nossa vida. Encontramos a suprema esperança em nossa vida, assim como esperança luminosa na vida das outras pessoas.

Baseados no espírito fundamental da empatia e da preocupação com os outros, despertamos para a nossa missão de construir um mundo melhor, caracterizado pelo respeito à dignidade da vida e à dignidade humana. E começamos a trilhar este caminho de transformação e criação de valores enquanto confrontamos corajosamente a rea­lidade mais difícil. Este é o espírito demonstrado pelos Bodhisattvas da Terra, descrito no Sutra de Lótus. Uma transformação interna na vida de uma pessoa gera a mudança de incontáveis pessoas e, por fim, transforma o mundo inteiro. A missão dos Bodhisattvas da Terra é pôr isso em movimento e espalhar uma corrente contínua de valor positivo e de esperança. O importante é a pessoa despertar e agir agora.

Os Últimos Dias da Lei são a época em que a Lei pura do Buda Sakyamuni fica obscurecida e se perde. Nessa época, o Buda Nitiren Daishonin levantou-se destemidamente como uma pessoa de sabedoria e reconheceu a calúnia contra a Lei como a raiz das calamidades e dos problemas que assolavam o Japão.

Daishonin foi um sábio que arriscou a própria vida para repreender as autoridades dominantes da época, advertindo que, se essa calúnia permanecesse descontrolada, as duas calamidades restantes previstas nos sutras — as calamidades dos conflitos internos e a invasão estrangeira — ocorreriam sem falta. Acima de tudo, ele foi um devoto do Sutra de Lótus, que lutou persistentemente para libertar as pessoas do sofrimento e transformar a era maligna por propagar amplamente o ensinamento do Nam-myoho-rengue-kyo — o grande remédio para curar a aflição da calúnia contra a Lei em seu nível fundamental.

No escrito “A Seleção do Tempo”, Daishonin proclama que ele, como uma pessoa de incansáveis esforços para propagar o Sutra de Lótus conforme o Buda ensina, é “o principal devoto do Sutra de Lótus em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 552) e o precursor em propagar amplamente a Lei Mística pelo mundo.

Este escrito revela que Daishonin entendeu e incorporou o ensinamento correto do Budismo e é o grande mestre, ou o Buda dos Últimos Dias da Lei, que abre o caminho para a iluminação de todas as pessoas nesta era conturbada.

Os que são merecedores de respeito e admiração não são os estudiosos arrogantes, as autoridades religiosas, ou os políticos influentes. Quem merece respeito são as pessoas de genuína sabedoria e coragem que dedicam sua existência ao ensinamento e à transmissão dos meios verdadeiros pelos quais as pessoas superam quaisquer sofrimentos. “A Seleção do Tempo” esclarece a real medida de um ser humano.

Desde que estabeleceu seu ensinamento (aos 32 anos), Daishonin atentou-se a transformar o Japão, que estava dominado por sacerdotes despreparados que sucumbiram à influência de funções demoníacas — ou, como consta no Sutra de Lótus, estavam “possuídos por demônios do mal”.1 Esses sacerdotes colocaram o mundo inteiro num caminho de impiedosa calúnia contra a Lei e todo o país numa direção de graves calúnias contra a Lei. Ele travou uma luta contra os ataques dos Três Poderosos Inimigos,2 que aconteceram em rápida sucessão; mas Daishonin triunfou sobre todos.

Quando escreveu esta carta (em 1275), as profecias de Daishonin, de conflitos internos e de invasão estrangeira, haviam se realizado. Essa série de eventos o fez ser libertado do injusto exílio na Ilha de Sado. As autoridades, até então baseadas em pontos de vista distorcidos, passaram a admirar Daishonin e tentavam mostrar-lhe uma atitude conciliatória.

Como não compreendiam o coração da Lei Mística — o ensinamento de respeito para o valor sagrado da vida e a dignidade humana —, eles falharam ao abraçar o ideal de Daishonin de “estabelecer o ensino correto para a paz da nação”. Os sacerdotes ignoraram as sinceras objeções de Daishonin, que ofereceu uma visão em que os soberanos colocariam o bem-estar e o interesse das pessoas em primeiro lugar, abrindo caminho para a criação de uma sociedade próspera e pacífica. As autoridades da época estavam apenas interessadas em medidas paliativas para lidar com a ameaça iminente de outra invasão mongol.

Elas estavam elaborando um programa de defesa nacional, no qual também contavam com o apoio dos sacerdotes das escolas budistas já estabelecidas. Como Daishonin continuou a censurar as autoridades e a denunciar o curso de suas ações, a perseguição contra seus discípulos se intensificou.

Na “Seleção do Tempo”, percebemos o desejo de Daishonin de transmitir a seus discípulos, que permaneceram ao seu lado durante a crise, a missão para a qual ele despertou como Bodhisattva da Terra e sua contínua batalha contra os Três Poderosos Inimigos. Apenas na constante luta altruística de Daishonin para propagar a Lei Mística encontramos o caminho para a revolução humana individual. Nessa luta está o sentido para transformar a sociedade que está repleta de ira e sofrimento.

Encontramos também o caminho para transformar o carma da humanidade, possibilitando a todas as pessoas romper a escuridão fundamental inerente e perceber um mundo onde todos são felizes.

Vejam como será!

Quando dezenas de milhares de navios armados do grande reino mongol atacarem o Japão, todos os governantes e até multidões virarão as costas para os templos budistas e os santuários de deuses. O povo erguerá a voz em coro, recitando Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo!

As pessoas e os governantes juntarão as mãos e dirão “Mestre Nitiren, Mestre Nitiren, salvai-nos!” Logo, os sacerdotes dominantes do Japão, sem dúvida, tentarão clamar: “Namu Nitiren Shonin (Devoção ao sábio Nitiren)!”

É provável que eles só vão ter tempo para proferir esta única palavra: “Namu (Devoção)!”
Que lamentável, que lamentável! (WND, v. 1, p. 578-579)

A traiçoeira influência da calúnia contra a Lei

O propósito do Budismo Nitiren é estabelecer o ensinamento correto para a paz na Terra e instituir os ideais de respeito pelo valor sagrado da vida e a dignidade humana. E, baseado nisso, atingir a felicidade de todas as pessoas e o florescimento de sociedades pacíficas.

O Buda deseja guiar todos os seres humanos na direção do supremo bem e ajudá-los a manifestar o mesmo estado de felicidade absoluta indestrutível que ele conseguiu. Esse profundo desejo é elucidado com grande simplicidade e clareza no Sutra de Lótus. Abraçar e apoiar este Sutra é tomar medidas com o mesmo espírito do Buda que transborda vibrantemente na vida de cada um.

Em contraste, caluniar o Sutra de Lótus representa o repúdio ao desejo do Buda de guiar todas as pessoas à iluminação [Chakubuku]. Esse comportamento é influenciado por forças negativas inerentes à vida — ou “demônios do mal” — que tentam destruir a bondade inata das pessoas e acabar com sua felicidade. A calúnia corrompe a vida das pessoas e intensifica impulsos e desejos ilusórios, tornando-as egoisticamente preocupadas com a busca de fama, fortuna e posição social.

Por sua vez, isto origina um ambiente onde ninguém tem o menor escrúpulo ao sacrificar a felicidade dos outros pela própria. Num mundo onde o humanismo está escasso e prevalece o desrespeito pela vida, não haverá apenas desordem e batalhas internas, mas um conflito incessante com as outras sociedades.

Essa introspecção é incorporada em várias passagens do Sutra, advertindo que a calúnia contra a Lei é a causa fundamental de todas as calamidades e que, se permanecer impune, conduzirá à guerra e à destruição da nação.

Naturalmente, a última coisa que Daishonin pretendia era ver suas profecias se tornando reais e o bem-estar sendo perturbado. Ele havia feito essas previsões como uma advertência para a nação mudar de rumo antes que fosse tarde e as pessoas estivessem mergulhadas num terrível sofrimento. Por essa razão, Daishonin era o sábio que advertiu o mundo sobre “o que ainda não se fez revelar” (WND, v. 1, p. 579).

A fim de despertar essas vidas envenenadas pela calúnia contra a Lei, Daishonin se declara como um sábio cuja única preocupação é salvar a nação da destruição. Ele ainda afirma que, quando as pessoas são fisicamente confrontadas com a ameaça da morte e veem a ruína da nação, elas determinam juntar as mãos em súplica como devotos do Sutra de Lótus, a quem haviam anteriormente desprezado e ignorado, e recitam o Nam-myoho-rengue­-kyo uníssono.

Mas ele nota que até os sacerdotes iminentes que tomaram a liderança ao persegui-lo — os chamados sábios falsos arrogantes, ou o terceiro dos Três Poderosos Inimigos — despertaram o desejo de procurar ajuda e tentaram dizer: “Namu Nitiren Daishonin” (Devoção ao sábio Nitiren)!” É provável que eles só vão ter tempo para proferir esta única palavra: “Namu (Devoção)!” Eles seguiriam o mesmo caminho de Devadatta3 que, antes de dar seu último suspiro e cair no inferno, proferiu “Namu (Devoção)!” e não “Namu Buda (Devoção ao Buda)!” Assim como ele, eram dignos de pena (cf. WND, v. 1, p. 578-579).4 Aqui, Daishonin destaca a ofensa da calúnia contra a Lei cometida por sacerdotes iminentes de sua época.

Entretanto, esses sacerdotes estavam formando uma relação reversa, ou relação tambor venenoso,5 com o correto ensinamento. Como aqueles que perseguiram o Bodhisattva Jamais Desprezar6 no Sutra de Lótus, esses falsos sábios arrogantes, depois de experimentarem o grande sofrimento por caluniar a Lei, despertariam e alcançariam a máxima verdade da existência, o mais alto e mais importante ensinamento de todos.

Depois de explicar esse princípio, Daishonin esclarece que ele é um sábio. E fortalece essa afirmação resumindo as três ocasiões em que ele ganhou distinção ao fazer profecias precisas enquanto advertia o governo.

Nos textos seculares consta: “Um sábio é quem entende inteiramente o que ainda não se fez revelar”.7 Os textos budistas afirmam: “Um sábio é aquele que conhece as três existências da vida — passado, presente e futuro”.8 Três vezes ganhei distinção por possuir tal conhecimento.

(...)

[“Na ocasião da minha terceira advertência, Hei no Saemon-no-jo] Yoritsuna... perguntou: “Quando o senhor acha que os mongóis atacarão?”

Respondi-lhe: “As sagradas escrituras não indicam o tempo. Porém, os sinais mostram que o céu está extremamente irritado. Parece que o ataque é iminente. É provável que ocorra antes do término deste ano [1274]”.

Apesar de não ter sido eu, Nitiren, quem fez esses três importantes pronunciamentos, em todos os casos o espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni havia possuído meu corpo.
E, tendo vivido isso, não me contenho de tanta alegria! Esta é a importante doutrina dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida,9 ensinado no Sutra de Lótus (WND, v. 1, p. 579).

Três ocasiões de destaque: a vitória da verdade sobre a opressão

A frase “Três vezes ganhei distinção” refere-se às previsões de Daishonin durante suas três renúncias perante as autoridades. Foram distinções que ele adquiriu com sua perspicaz sabedoria decorrente da profunda compaixão e do senso de responsabilidade para aliviar o sofrimento das pessoas da Terra. Para mim, eles transmitiam uma elevada dignidade espiritual com a qual Daishonin se pronunciou audaciosamente, como um ser humano único, pelo que ele acreditava ser correto, sem fazer reverência ou bajular quem estavam no poder.

As três ocasiões que fizeram Daishonin ganhar distinção, seus três pronunciamentos, são resumidas da seguinte forma:

O primeiro pronunciamento foi quando ele apresentou a “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação” (em 1260) para o poderoso governador aposentado Hojo Tokiyori.10 Daishonin levou a Tese ao escritório do sacerdote leigo Yadoya Saemon Mitsunori, assessor de Tokiyori e oficial no governo militar de Kamakura, para o qual ele disse: “Por favor, informe sua senhoria que a devoção às escolas Zen e Nembutsu deve ser abolida. Se este conselho não for atendido, problemas surgirão no clã dominante [Hojo], e o Japão será atacado por outra nação” (WND, v. 1, p. 579).

O segundo pronunciamento ocorreu durante a censura de Nitiren Daishonin quando da Perseguição de Tatsunokuti (em 1271). Hei no Saemon,11 representante do Escritório de Negócios Políticos e Militares, levou um grande número de soldados fortemente armados para prender Daishonin, que declarou com voz calma: “Nitiren é o pilar do Japão! Eliminar a mim é derrubar o pilar da nação! Logo, todos enfrentarão a ‘calamidade de uma revolta em seus próprios domínios’, ou seja, uma luta entre os senhores mesmos, e também ‘a calamidade da invasão por uma nação estrangeira’. Essa invasão estrangeira não só causará a morte do povo de nossa nação, mas também muitos serão feitos prisioneiros. Todos os templos da Zen e Nembutsu, como o Kentyoji, o Jufukuji, o Gokurakuji, o Daibutsuden e Tyorakuji, deveriam ser queimados e reduzidos a cinzas, e seus sacerdotes levados à Praia de Yui [em Kamakura] para serem decapitados. Se isso não for feito, todo o Japão será destruído sem falta!”12 (WND, v. 1, p. 579)

Nitiren Daishonin denunciou a loucura que Hei no Saemon estava cometendo como um soberano. Executar Daishonin seria como derrubar o pilar do Japão. Ele ainda declara que quem tinha de ser decapitado por uma grave ofensa eram os perversos sacerdotes da Nembutsu, da Zen e das outras escolas, que estavam levando a nação à ruína com seus ensinamentos errôneos, e não ele, que estava se esforçando para salvar o país basea­do no ensinamento correto.

Com certeza, o pedido de Daishonin para “cortar as cabeças” de outros sacerdotes deve ser entendido como uma metáfora proibindo a calúnia contra a Lei. Na “Tese sobre Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, Daishonin escreve que se deve evitar dar esmolas aos sacerdotes que caluniam a Lei (cf. WND, v. 1, p. 23).13

Naquela época, Hei no Saemon era um conselheiro de confiança do jovem governante Hojo Tokimune. Como chefe de governo do Escritório de Negócios Políticos e Militares, serviu como líder efetivo do governo militar. O fato de Daishonin censurar destemidamente esta poderosa figura comprova seus incansáveis esforços e a prontidão para pôr a própria vida em risco por suas crenças.

Daishonin fez seu terceiro e último pronunciamento durante um encontro com Hei no Saemon após ser perdoado do exílio na Ilha de Sado e ter retornado a Kamakura (em 1274). Numa completa reviravolta de seus confrontos anteriores, Hei no Saemon mostrou uma atitude diferenciada em relação a Daishonin. Ele fez uma clara tentativa de obter­ o apoio de Daishonin, oferecendo-lhe a construção de um templo, caso concordasse em orar em nome do governo para a derrota do exército mongol. Essa proposta veio exatamente de quem até aquele momento perseguiu ferozmente Daishonin e seus discípulos. A aparência respeitosa de Hei no Saemon acobertava a ameaça de que sérias consequências aguardavam Daishonin se ele rejeitasse essa proposta.

A natureza fundamental desse tirano não havia mudado em nada. Nitiren Daishonin não aceitou a oferta dizendo categoricamente: “Pode parecer que, por ter nascido em seu domínio, eu deva segui-lo em minhas ações. Porém, jamais o seguirei em meu coração” (WND, v. 1, p. 579). Essas conhecidas palavras, foram incluídas numa publicação da Unesco, intitulada The Birthright of Man, uma coleção de citações inspiradoras para comemorar o 20º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (em 1968).14 Esse indomável anúncio de liberdade espiritual resume o próprio coração do Buda Nitiren Daishonin, que lutou incansavelmente para a felicidade das pessoas contra a natureza demoníaca da autoridade.

Daishonin recusou-se a se submeter às repressivas autoridades de sua época. Na verdade, ele ousou afirmar claramente em censura que, se o governo continuasse dependendo das orações da escola Preceitos-Verdadeira Palavra para derrotar as forças mongóis, a nação seria destruída. Esse fato estava de acordo com o princípio budista da ofensa retornar ao seu autor.15

O coração dos iluminados na mais alta verdade da Lei Mística não é controlado por ninguém, nem pela mais poderosa autoridade secular. Mesmo que seu espírito pareça por um tempo algemado e oprimido pelo poder, essas pessoas travam incessante luta interior que rompe todas as correntes e as permite alcançar a brilhante vitória espiritual neste mundo.

Esse triunfo da dignidade humana e do valor sagrado da vida é o que conduz a uma terra próspera e pacífica, baseada no ensinamento correto.

Criando uma grandiosa corrente mundial do Kossen-rufu na era das pessoas [3]
[5] “A Seleção do Tempo”
Terceira Civilização, Edição 524, 14/04/2012, pág. 74 / Estudo
As profecias de Daishonin:
expressão da sabedoria do Buda

O propósito das profecias de Daishonin era iluminar a realidade presente, baseada nas sábias palavras do Buda Sakyamuni — as palavras dos sutras. Contemplando sinceramente o presente à luz de várias passagens do Sutra, é possível enxergar a profunda sabedoria contida lá.

No pós-escrito da “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz na Nação”, Daishonin escreve: “Esta minha Tese agora é comprovada pelos fatos. Mas isso não se deve somente à capacidade de Nitiren. Com certeza, tudo aconteceu em resposta às genuínas palavras do Sutra de Lótus (END, v. 1, p. 79). Ele afirma que a precisão das previsões em sua Tese simplesmente se deve ao fato de elas estarem baseadas nas “genuínas palavras” expostas no Sutra de Lótus — o poder das palavras de genuína sabedoria expressas pelo Buda. Portanto, não é exagero dizer que as profecias articuladas por Daishonin são uma manifestação da sabedoria do Buda.

Após citar os três acontecimentos que o fizeram ganhar distinção, Daishonin afirma que não eram profecias feitas por ele. Na verdade, ele deu voz ao “espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni” que residiu em seu coração (cf. WND, v. 1, p. 579).

Aqui, o “espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni” pode ser visto como o estado de vida do Buda da Lei Mística, fonte da iluminação de Sakyamuni e dos budas das dez direções.

Em outras palavras, Daishonin ganhou distinção por prever o futuro corretamente em razão de seu estado de Buda expresso em palavras e ações imbuídas de compaixão, sabedoria e coragem para guiar todas as pessoas­ à felicidade. Ele exclama: “Tendo vivido isto [estado de ser], não me contenho de tanta alegria!” (WND, v. 1, p. 579)

No que diz respeito a levar adiante esse estado de vida do Buda, ele diz: “Esta é [o trabalho de] a importante doutrina dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida, ensinada no Sutra de Lótus” (WND, v. 1, p. 579).

Baseado nesse reconhecimento, o “espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni” também pode ser interpretado como o espírito sensível para cuidar da felicidade e do bem-estar de todos os seres vivos, o qual Sakyamuni ensinou e sintetizou.

No Sutra de Lótus encontramos a passagem:

“...agora este mundo tríplice

É todo o meu domínio,

E os seres vivos que aqui estão

São todos meus filhos.

Agora este lugar

Está envolto por muitas dores

E sofrimentos.

Eu sou a única pessoa

Que pode auxiliar

E proteger os outros...’’

(LSOC, v. 3, p. 105-106 [LS, v. 3, p. 69-70].)16

O Buda Sakyamuni desejava a felicidade e a segurança de todas as pessoas e de todas as nações. Por isso, ele expôs o Sutra de Lótus, um ensinamento da iluminação universal. Os devotos ou praticantes do Sutra de Lótus se esforçam para fazer do espírito do Buda seu próprio espírito e traduzi-lo em ações.

Daishonin viveu de acordo com a essência do Sutra de Lótus — o próprio coração do Buda — e incorporou as três virtudes de soberano, mestre e pai ao proteger, guiar e cuidar das pessoas. Por essa razão, ele é reverenciado como o Buda dos Últimos Dias da Lei.

Pequenos rios se unem para formar o grande oceano, e minúsculas partículas de areia se acumulam para formar o Monte Sumeru.17 Quando eu, Nitiren, comecei a ter fé no Sutra de Lótus, eu era semelhante a uma gota d’água ou uma única partícula de areia em todo o Japão. Mas, depois, quando duas, três, dez pessoas e, eventualmente, cem, mil e um milhão de pessoas passarem a recitar o Sutra de Lótus e a transmiti-lo aos outros, todos formarão um Monte Sumeru da perfeita iluminação,18 o oceano de um grande nirvana.19 Não procurem nenhum outro caminho, a não ser aquele pelo qual se manifeste o estado de Buda! (WND, v. 1, p. 578–580)

Esforçar-se pelo Kossen-rufu é o caminho para manifestar o estado de Buda

O Kossen-rufu — a ampla propagação da Lei Mística — é posto em prática quando uma pessoa corajosa desperta para o ensinamento correto, se levanta e triunfa sobre todos os obstáculos para alcançar este objetivo.

Como indicado pela luta de Daishonin, sendo o “principal devoto do Sutra de Lótus em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 552) e seu comportamento como pessoa de sabedoria, criar uma terra de paz e prosperidade, baseada no ensinamento correto do Budismo, começa com a transformação interior na vida de cada pessoa.

Assim como miríades de gotas d’água se juntam para formar um grande oceano ou minúsculas partículas de poeira se acumulam para formar uma enorme montanha, inúmeraveis indivíduos, juntos, formam um grande movimento ou uma imensa onda. Tudo começa com uma única pessoa. A paixão e o comprometimento dessa pessoa inspirarão outra pessoa e mais outra para se unir com a mesma determinação e visão. Por sua vez, inspirarão muitas outras pessoas — seus grupos crescerão constantemente em tamanho e força.

O Sutra de Lótus é um ensinamento para a iluminação de todas as pessoas que tem o poder de romper a escuridão fundamental de todos e despertá-los para sua natureza de Buda inerente. Quando os praticantes do Sutra de Lótus realizam o Chakubuku, iluminam a escuridão em torno deles, assim como o Sol. Como resultado, segundo Daishonin, esses praticantes despertarão “duas, três, dez pessoas e, eventualmente, cem, mil, dez mil e um milhão de pessoas” (WND, v. 1, p. 580), que se unirão a eles em seus esforços e despertarão inumeráveis pessoas. Juntos, como partículas de poeira ou gotas d’água, formam “o Monte Sumeru da perfeita iluminação, um oceano do grande nirvana” (WND, v. 1, p. 580).

Quando a sabedoria e a compaixão da Lei Mística se espalharem por toda a Terra e os princípios humanísticos do Sutra de Lótus forem abraçados como valores humanos universais, veremos a construção de sociedades onde prevalece a paz duradoura.

Daishonin ensina que “O Monte Sumeru da perfeita iluminação” e o “oceano do grande nirvana” serão formados por meio do surgimento de multidões nobres que lutam com o mesmo espírito invencível do primeiro devoto. Ele nos ensina ainda que não devemos procurar outro caminho para atingir o estado de Buda senão o de criar uma grande onda do Kossen-rufu, que começa com a revolução humana de cada pessoa.

Somente podemos evidenciar nosso estado de Buda inerente por meio de esforços para concretizar o grande desejo (Daigan) do Buda para a felicidade humana e para a paz mundial.

No escrito “A Seleção do Tempo”, portanto, Daishonin exorta seus discípulos a se juntar a ele na luta em prol do Kossen-rufu, o que permite manifestar um sublime estado de vida.

No oitavo volume do Sutra de Lótus consta: “Nos Últimos Dias, se existirem aqueles que aceitam, apoiam, leem e recitam este Sutra..., seus desejos não serão em vão, e nesta presente existência, eles ganharão a recompensa da boa sorte”. Também consta: “Se há alguém que oferece esmolas a eles e os louvam, então, nesta presente existência, ele manifestará uma recompensa a isso”.

Nessas duas passagens, encontram-se as palavras “nesta presente existência, eles ganharão a recompensa da boa sorte” e “nesta presente existência, ele manifestará uma recompensa a isso”. Essas duas afirmações, na versão original em chinês, compreendem cada uma delas oito caracteres.

Se esses dezesseis caracteres são inexpressivos, e se Nitiren não recebe nenhuma grande recompensa em sua vida presente, então essas palavras douradas do espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni estarão na mesma categoria de mentiras infundadas de Devadatta, e o depoimento do Buda Muitos Tesouros, que garantiu suas verdades, não seria diferente das afirmações infundadas de Kokalika.

Nenhuma pessoa que caluniar a Lei Correta será condenada ao inferno Aviti, e os budas das três existências não existirão! Mas isso seria possível?
Portanto, digo a vocês, meus discípulos, pratiquem como o Sutra de Lótus ensina, empenhando-se sem poupar a própria vida! Provem a veracidade do Budismo agora! (WND, v. 1, p. 583-584)

Abrindo o grande caminho para o Kossen-rufu sem poupar a própria vida

Ao concluir o escrito “A Seleção do Tempo”, Nitiren Daishonin incentiva seus discípulos a se levantar junto com ele e se dedicar, sem poupar a vida, à realização do Chakubuku, que é um decreto do Buda. Daishonin deseja que seus discípulos compartilhem suas experiên­cias ao vivenciarem o estado ilimitado de vida manifestado por aqueles que propagam o Sutra de Lótus, ou seja, que concretizam o Chakubuku.

Daishonin cita a seguinte passagem do Sutra: “Uma pessoa que aceita e promove este Sutra é também o primeiro entre todos os seres vivos” (cf. LSOC, v. 23, p. 327 [LS, v. 23, p. 286]). Ele nos diz que se nos esforçarmos corajosamente em nossa prática budista, com orgulho dessas palavras de louvor do Buda, receberemos uma grande recompensa na presente existência, ou seja, o mesmo estado de vida do Buda, assim como ensinado no Sutra. E ele nos estimula a nos aplicarmos fervorosamente e provar isso a nós mesmos.

Nitiren Daishonin travou uma destemida batalha para provar que o Sutra de Lótus é o ensinamento mais importante do Buda. “Filho de um plebeu” (WND, v. 1, p. 1006), ele lutou bravamente por meio de inúmeras perseguições apenas pela felicidade do povo. Ao ler o Sutra de Lótus com a própria vida, Daishonin revelou seu inerente estado­ de Buda; em outras palavras, um estado de felicidade absoluta e indestrutível. Ele desejava ardentemente que todos os seus discípulos manifestassem o mesmo estado expansivo de ser, um estado tão vasto quanto o universo, e saboreassem a boa sorte ilimitada e o benefício. Ele os convidou a conseguir isso por si mesmos. No final deste escrito, Daishonin cita as passagens do Sutra de Lótus: “Nesta presente existência, eles [os praticantes do Sutra de Lótus] ganharão a recompensa da boa sorte” e “nesta presente existência [que faz uma oferta a eles], ele manifestará recompensa a isso” (LSOC, v. 28, p. 365 [LS, v. 28, p. 323-324]).

Daishonin diz que, se ele fosse incapaz de alcançar a grande recompensa de manifestar o estado de Buda, significava que Sakyamuni e os budas na assembleia do Sutra de Lótus, que afirmaram que todas as pessoas poderiam fazê-lo, eram ainda mais mentirosos que Devadatta. E isso, é claro, não poderia ser o caso. Ele escreve: “Portanto, digo a vocês, meus discípulos, pratiquem como o Sutra de Lótus ensina, empenhando-se sem poupar a própria vida! Provem a veracidade do Budismo agora!” (WND, v. 1, p. 584)

Para superar os sofrimentos e as perseguições, Daishonin demonstrou sabedoria e compaixão insuperáveis. Ele, verdadeiramente, estabeleceu dentro de si o imponente estado de vida do Buda dos Últimos Dias da Lei. Como Daishonin mostrou por meio de seu próprio exemplo, aqueles que praticam o Sutra de Lótus infalivelmente receberão grande benefício e boa sorte. Portanto, ele encoraja seus discípulos a lutar com o mesmo juramento que ele. Daishonin está essencialmente clamando: “Meus discípulos, pratiquem o Sutra de Lótus como o Buda ensina, evidenciem um elevado estado de vida e adornem a vida com vitórias!”

Por que é importante para o devoto do Sutra de Lótus lutar com o espírito de não poupar a própria a vida? Porque os Últimos Dias da Lei é uma era maléfica, repleta de calúnia contra a Lei, e porque a propagação do ensinamento correto envolve a batalha contra os Três Poderosos Inimigos, especificamente, o terceiro e o mais poderoso: os falsos sábios arrogantes, como previsto no Sutra. Daishonin fala de “os sacerdotes eminentes que aparentam proteger os preceitos e os homens de sabedoria” (WND, v. 1, p. 584).

Em outras palavras, falsos sábios arrogantes são altos sacerdotes que parecem ser irrepreensíveis em sua conduta. Eles aparentam ter sabedoria e amplo respeito na sociedade. Mas, na realidade, caluniam o ensinamento correto e perseguem seus praticantes.

Por outro lado, o devoto do Sutra de Lótus — Nitiren Daishonin — é uma pessoa comum, “uma pessoa de baixa classe social e de aprendizagem humilde” (WND, v. 1, p. 585). Por essa razão, as autoridades dominantes e a população em geral depositam sua confiança nos falsos sábios arrogantes, enquanto desprezam o verdadeiro devoto do Sutra de Lótus. Não só eles não conseguem seguir as afirmações superiores do devoto, como buscam ativamente acabar com ele.

Sem um verdadeiro juramento, não há como perseverar na luta para propagar o ensinamento correto nos Últimos Dias. Entretanto, a menos que essa luta seja empreendida, o ensinamento do Sutra de Lótus ficará obscurecido e se perderá, e os Últimos Dias da Lei permanecerão para sempre envoltos pela escuridão.

Da mesma forma, se uma única pessoa atua com desânimo e é derrotada, será intensificada a escuridão da época. Durante a existência de Nitiren Daishonin, apareceram discípulos que responderam sinceramente ao seu chamado para se dedicar à realização do Chakubuku, sem poupar a própria vida. Discípulos, como o samurai Shijo Kingo20 e os irmãos Ikegami,21 lutaram contra a influên­cia traiçoeira de falsos sábios arrogantes. Esses fiéis discípulos desenvolveram uma forte fé para enfrentar os ataques das tempestades de obstáculos.

Muitos agricultores que eram discípulos de Daishonin lutaram contra a perseguição do governo junto com Nikko Shonin, discípulo direto do Buda. Todos eram praticantes leais, incluindo os Três Mártires de Atsuhara,22 que se recusaram ser derrotados por qualquer dificuldade ou ameaça. Essas lutas enfatizam que o Budismo Nitiren é um ensino do juramento compartilhado entre mestre e discípulo.

Grande batalha “para” e “em” prol das pessoas

Desde a sua fundação em 1930, a Soka Gakkai e seus três primeiros presidentes — Tsunessaburo Makiguti, Jossei Toda e eu — unidos pelos laços de mestre e discípulo, vêm realizando esta grande luta iniciada por Daishonin. Luta esta em que as pessoas são o foco e também os protagonistas.

O primeiro presidente, Tsunessaburo Makiguti, percebeu que a missão do Budismo Nitiren para a humanidade é permitir que todas as pessoas se libertem do sofrimento e alcancem a genuína felicidade. Ele levantou-se, sem poupar a vida, dedicando-se abnegadamente à propagação da Lei e, por fim, morreu por suas crenças. Makiguti disse: “Toda a humanidade anseia pela Lei Mística da iluminação, a suprema Lei da vida. Se, por meio de nossos esforços [para provar sua validade], essa Lei for acessível a todos, as pessoas, naturalmente, compartilharão seus benefícios com os outros e os ajudarão a atingir a felicidade absoluta”.23

Ele também declarou: “Devemos orientar o país na direção de um grande bem.24 Isto é como fazer um pouso diante do inimigo. Ninguém se juntou à Soka Gakkai quando conduzimos nossos esforços de propagação no passado falando com várias pessoas. Mas começando com um único companheiro dez anos atrás, nosso movimento já cresceu fenomenalmente. A razão disso é que nos baseamos completamente na fé, e demonstramos a prova real do benefício de nossa prática budista um ao outro. Observando o progresso que fizemos até este ponto, acredito que, no futuro, por meio de nossas ações dedicadas, contribuiremos positivamente para o bem-estar da família e da sociedade, e alcançaremos o Kossen-rufu”.25

O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, discípulo e sucessor que lutou ao lado do Sr. Makiguti, afirmou: “Se você é um jovem que está genuinamente preocupado com seu país e deseja a felicidade do povo, deve primeiro, você mesmo, procurar a essência sublime da revolução humana [a de trabalhar para a felicidade de todas as pessoas­ com base na fé no Budismo Nitiren]. Você, jovem, deve batalhar e triunfar sobre os Três Poderosos Inimigos, bem como sobre os Três Obstáculos e as Quatro Maldades,26 e seguir adiante com coragem e vigor”.27

Toda Sensei afirmou: “O Budismo Nitiren é o sol do mundo, dissipando a escuridão que envolvem a humanidade”. Eu também dei minha vida para difundir em todo o mundo esta luta espiritual sem precedentes de abnegada propagação da Lei Mística. Desde o início de nosso movimento, inúmeros membros, corajosamente, levantaram-se com o mesmo juramento que eu, e juntaram-se nesta grande luta em prol do Kossen-rufu. Esta batalha “para” e “em” prol das pessoas, que foi posta em movimento por Daishonin, vive hoje na Soka Gakkai por si só.

O Sutra de Lótus descreve os Bodhisattvas da Terra emergindo no mesmo instante da terra de todos os bilhões de terras do mundo saha (LSOC, v. 15, p. 252 [LS, v. 15, p. 213]).

Refletindo as palavras do Sutra, Bodhisattvas da Terra estão emergindo simultaneamente em muitos países. Cresce o número de corajosos indivíduos que transformarão o carma da humanidade. A previsão de Daishonin da propagação universal da Lei tornou-se uma realidade. Quando desenvolvermos altíssimas montanhas de pessoas capazes que contribuem positivamente para a humanidade e vastos oceanos de pessoas comuns que trabalham em conjunto para a felicidade de todos, o Budismo Nitiren se tornará uma filosofia que ilumina toda a humanidade. Nós, os devotos do Sutra de Lótus, temos de criar esta grande onda do Kossen-rufu Mundial.

Nossos membros são cidadãos do mundo que defendem e praticam uma filosofia para alcançar a genuína felicidade humana. Eles difundiram círculos de confiança e entendimento como seres humanos e trabalham juntos para unir o mundo enquanto valorizam suas localidades. Os campeões do nosso movimento Soka são pessoas de insuperável humanidade.

O tempo chegou! Líderes e pensadores de diversas áreas ao redor do mundo estão louvando a rede da SGI de cidadãos planetários. No século 21, nossa responsabilidade é expandir e solidificar este grande movimento.

Gostaria de compartilhar com todos vocês, meus amigos do Japão e do mundo, minha alegria por ter a sorte de viver nesta época.

Agora é a hora de mostrar a brilhante prova real do Kossen-rufu Mundial por meio da leitura com a nossa vida das palavras de Daishonin: “Pratiquem como o Sutra de Lótus ensina, empenhando-se sem poupar a própria vida! Provem a veracidade do Budismo agora!” (WND, v. 1, p. 584)

Juntos, vamos seguir nesta grande e altruís­tica batalha para elevar o estado de vida da humanidade.

Isso conclui a explanação do escrito “A Seleção do Tempo”.

Confio o futuro do Kossen-rufu Mundial em sua totalidade aos meus amados membros da Divisão dos Jovens, neste ano [2010] do 50º aniversário do Kossen-rufu Mundial.

(Daibyakurengue, edição de agosto de 2010.)


Notas:

1. Refere-se à passagem do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”: “Demônios do mal possuirão os outros” (LSOC, v. 13, p. 23 [LS, v. 13, p. 194]). Significa que forças negativas entrarão na vida das pessoas, fazendo-as insultar aqueles que abraçam e protegem o ensino correto do Budismo, para obstruir sua prática budista. Em “A Seleção do Tempo”, Daishonin escreve: “[Nos Últimos Dias da Lei] sacerdotes dominantes que são possuídos por demônios serão encontrados por todo o país. Nesta época, um único homem aparecerá. Os sacerdotes dominantes enganarão seu soberano, seu ministro e as pessoas comuns ao caluniarem e abusarem desse homem, atacando-o com paus, gravetos, chibatas e borrachas, condenando-o ao exílio ou à morte” (WND, v. 1, p. 542).

2. Três Poderosos Inimigos: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem os que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica posterior à morte do Buda Sakyamuni. São descritos no 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo, da China, classifica os Três Poderosos Inimigos em: (1) leigos arrogantes; (2) sacerdotes arrogantes; e (3) sábios falsos e arrogantes.

3. Devadatta: Primo de Sakyamuni que, a princípio, foi discípulo do Buda. Porém, devido à arrogância, tornou-se inimigo de Sakyamuni e cometeu diversos atos de maldade extrema, como atentar contra a vida do Buda. Acredita-se que, como resultado das más ações, tenha caído vivo no inferno.

4. Daishonin escreve: “Estes monges arrogantes e perversos descritos no Sutra de Lótus, no início, se armaram com paus e ripas e os usaram para espancar o Bodhisattva Jamais Desprezar. Posteriormente, eles uniram suas mãos e se arrependeram de seus erros. Devadatta inflingiu uma injúria ao Buda Sakyamuni que derramou sangue. Mas quando estava em seu leito de morte, Devadatta clamou: ‘Namu (Devoção)!’ Se ao menos pudesse ter clamado ‘Namu Buda (Devoção ao Buda)!’, ele teria se livrado da fatalidade de cair no inferno. Contudo, os atos por ele cometidos eram tão graves que conseguiu apenas dizer a palavra ‘Namu’ e não pôde pronunciar a palavra ‘Buda’ antes de morrer. Logo, os sacerdotes dominantes do Japão, sem dúvida tentarão clamar: ‘Namu Nitiren Shonin (Devoção ao sábio Nitiren)!’ É provável que eles só vão ter tempo para proferir esta única palavra: ‘Namu (Devoção)!’ Que lamentável, que lamentável!” (WND, v. 1, p. 578-579)

5. Relação do tambor venenoso: Relação inversa ou formada pela rejeição. Uma relação estabelecida com o Sutra de Lótus pela oposição ou pela calúnia contra ele. Mesmo que uma pessoa se oponha ao Sutra de Lótus quando este é ensinado, constituirá uma relação com ele em virtude da oposição e, consequentemente, manifestará o estado de Buda. “Tambor venenoso” é um tambor mitológico, encharcado de veneno. A expressão é uma referência à declaração que consta no Sutra do Nirvana de que, quando o tambor é tocado, todos aqueles que ouvem seu som morrem, até mesmo os que não estão prestando atenção nele. De modo semelhante, quando o ensinamento correto é pregado, tanto aqueles que o abraçam como os que são contra ele recebem igualmente as sementes do estado de Buda, e mesmo os que se opõem atingirão a iluminação. Com base nessa analogia, a “morte” que resulta do ato de ouvir o ensinamento correto é a morte da ilusão ou dos desejos mundanos. Essa metáfora é usada para ilustrar o benefício de existir até mesmo uma relação inversa com o Budismo.

6. Bodhisattva Jamais Desprezar: Descrito no 20º capítulo do Sutra de Lótus, “Bodhisattva Jamais Desprezar”, esse bodhisattva — Sakyamuni numa existência anterior — se curvaria em reverência a todos que ele encontrava. Entretanto, foi atacado por pessoas­ arrogantes, que batiam nele com varetas e ripas e lhe atiravam pedras. O Sutra explica que a prática de respeitar a natureza dos outros budas tornou-se a causa para que o Bodhisattva Jamais Desprezar manifestasse o estado de Buda. Aqueles que perseguiam esse bodhisattva caíram num inferno de incessantes sofrimentos. Devido à conexão que formaram com o Budismo por meio de suas ações, após terminarem de expiar suas ofensas, encontraram-se com o Bodhisattva Jamais Desprezar mais uma vez e alcançaram o estado de Buda.

7. Textos seculares: Imagina-se que faça referência à obra chinesa Garden of Explanations [Jardim de Explicações] (Shuo Yuan). A mesma passagem é citada no tratado chinês “Fundamentos do Governo na Era Chen-Kuan” (Zhenguan Zhengyao).

8. Esta passagem é encontrada na obra de Tient’ai, Grande Concentração e Discernimento, e em outros escritos budistas.

9. Três Mil Mundos num Único Momento da Vida: Uma doutrina desenvolvida pelo Grande Mestre Tient’ai (538-597) da China basea­da no Sutra de Lótus. O princípio de que todos os fenômenos estão contidos num único momento de vida, e que um único momento de vida permeia os três mil mundos da existência, ou todos os fenômenos do mundo.

10. Hojo Tokiyori (1227-1263): Governante aposentado do governo militar de Kamakura. Ao aposentar-se, tornou-se um sacerdote leigo no Templo Zen Rinzai de Saimyoji em Kamakura, o qual ele construiu.

11. Hei no Saemon (d. 1293): Também conhecido como Hei no Saemon-no-jo Yori­tsuna. Oficial de liderança no governo Hojo. Foi governante do Japão durante o período Kamakura. Ele serviu a dois governadores sucessivamente, Hojo Tokimune e Hojo Sadatoki, e exerceu grande influência como representante do Escritório de Negócios Políticos e Militares. Colaborou ainda com Ryokan e outros sacerdotes na perseguição a Daishonin e a seus discípulos, e desempenhou papel-chave na Perseguição de Atsuhara. Após a morte de Daishonin, Hei no Samon estava envolvido na conspiração contra o governo e foi condenado à morte junto com seu segundo filho, Sukemune. Os dois morreram na residência de Saemon em Kamakura, local onde os Três Mártires de A­tsuhara foram executados. Seu filho mais velho, Munetsuna, foi exilado na Ilha de Sado, consequentemente isso pôs fim à linhagem de Hei no Samon.

12. Daishonin menciona queimar os templos e a execução dos sacerdotes a fim de impressionar Hei no Saemon com a gravidade da ofensa de caluniar o ensinamento correto. Ele convocou o governo para interromper a ajuda aos sacerdotes das escolas Zen e Nembutsu que contradisseram os ensinamentos do Buda Sakyamuni. Se isso não fosse cumprido, advertiu ele, o Japão veria a destruição.

13. Daishonin escreve: “Certamente, não tenho intenção de censurar os filhos do Buda. Minha única aversão é pelo ato de se caluniar a Lei. De acordo com os ensinamentos budistas, [no passado] anterior a Sakyamuni, monges caluniosos teriam sofrido pena de morte. Mas desde a época de Sakyamuni, aquele que suporta o ato de dar esmolas a monges caluniosos é proibido nos ensinamentos do Sutra. Agora, se todas as quatro crianças budistas nos quatro mares e nas dez mil terras apenas parassem de dar esmolas aos sacerdotes perversos e em vez disso viessem para o lado do bem, então como poderiam surgir problemas para nos atormentar, ou como desastres poderiam vir a nos confrontar? (WND, v. 1, p. 23)

14. Birthright of man: A Selection of Texts, editada por Jeanne Hersch. Paris: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 1969. p. 127.

15. O Sutra de Lótus contém a passagem: “Supõe-se que com pragas e várias ervas venenosas / alguém deve tentar feri-lo. / Pense no poder das palavras: ‘a injúria vai ricoche­tear sob seu autor” (LSOC, v. 25, p. 345 [LS, v. 25, p. 304]). A expressão “a injúria vai ricochetear sob seu autor” significa que aqueles que procuram fazer o mal ao devoto do Sutra de Lótus receberão os efeitos negativos de suas ações.

16. Esta é a passagem do 3º capítulo do Sutra de Lótus, “Parábolas”, e indica que o Buda possui as três virtudes de soberano, mestre e pai. “Agora este mundo tríplice é todo o meu domínio” refere-se à virtude da soberania; a frase “todos os seres vivos nele são meus filhos” corresponde à virtude de pai; e “Eu sou a única pessoa que pode resgatar e proteger os outros” mostra a virtude de mestre.

17. Na cosmologia indiana, o Monte Sumeru é um pico muito alto que está no centro do mundo.

18. A perfeita iluminação constitui o último e mais alto estágio de cinquenta e dois estágios da prática de bodhisattva, ou estado de Buda. É o estágio na qual se erradica a escuridão fundamental.

19. O grande nirvana representa o estado sublime de iluminação do Buda, absolutamente calmo e imperturbável, e dotado de profunda compaixão e sabedoria.

20. Shijo Kingo (1230–1300): Um dos principais seguidores de Nitiren Daishonin. Como samurai, ele serviu à família Ema, uma ramificação do clã dominante Hojo. Shijo Kingo era conhecedor da medicina e de artes marciais. Ele se converteu ao ensinamentos de Nitiren Daishonin por volta de 1256. Quando Daishonin foi levado a Tatsunokuti para ser decapitado em 1271, ele o acompanhou, disposto a morrer ao seu lado.

21. Irmãos Ikegami: Principais discípulos de Nitiren Daishonin. O irmão mais velho, Munenaka, foi duas vezes deserdado pelo pai, que era seguidor de Ryokan. Esse sacerdote era chefe do Templo Gokurakuji da escola Preceitos-Verdadeira Palavra e hostil a Daishonin. Ao mesmo tempo, seu pai tentou persuadir o irmão mais novo, Munenaga, a abandonar sua fé nos ensinamentos de Nitiren Daishonin e tomar o lugar de seu irmão como o chefe da família. Apesar dessas adversidades, os irmãos perseveraram na prática budista. O pai, mais tarde, desistiu de deserdar Munenaka, e se tornou discípulo de Nitiren Daishonin.

22. Três Mártires de Atsuhara: Três irmãos — Jinshiro, Yagoro e Yarokuro — que foram presos e decapitados durante a Perseguição de Atsuhara. Em 1278, a propagação dos ensinamentos de Daishonin avançava rapidamente na área próxima ao Monte Fuji, tendo a liderança de Nikko Shonin, discípulo direto do Buda. Irritados com a crescente propagação, outros templos planejaram derrubar os discípulos de Daishonin. Em 21 de setembro de 1279, vinte agricultores, todos discípulos de Nitiren Daishonin, foram presos sob falsas acusações de roubar arroz. Destes, os três irmãos foram executados por se recusar a renunciar à sua fé.

23. Traduzido do Japonês. Makiguchi, Tsunessaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Coletânea dos Escritos de Tsunessaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, 1987, v. 10, p. 27.

24. Teoria de valor: refere-se ao mais alto tipo de valor. Tsunessaburo Makiguti definiu essa teoria como “valor do bem”, “valor do belo” e “valor do benefício”.

25. Ibidem, p. 147–148.

26. Três Obstáculos e Quatro Maldades: Vários obstáculos e impedimentos para a prática do Budismo. Os Três Obstáculos são: (1) Obstáculo dos Desejos Mundanos; (2) Obstáculo do Carma; e (3) Obstáculo da Punição. As Quatro Maldades são: (1) Impedimento dos Desejos Mundanos; (2) Impedimento dos Cinco Componentes; (3) Impedi­mento da Morte; e (4) Impedimento do Rei Demônio.

27. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Collected Writings of Josei Toda] Tokyo: Seikyo Shimbunsha, 1981, v. 1, p. 267.