segunda-feira, 18 de julho de 2016

[13, 14 e 15] A prática dos ensinos do buda

A luta pelo Kossen-rufu com unicidade de mestre e discípulo é a “chave para a paz e tranquilidade nesta existência”

[9] “A Prática dos Ensinos do Buda” Parte 1 (de 3)

Terceira Civilização, Edição 529, 19/09/2012 / Estudo

por Dr. Daisaku Ikeda, presidente da SGI

Trechos da carta

Pela análise [do Sutra de Lótus], aqueles que nasceram nesta terra e acreditam no Sutra [e o praticam], quando este ensinamento é propagado nos Últimos Dias da Lei, serão alvo do ódio e da inveja ainda piores que na época do Tathagata...

Uma vez que se tornar discípulo do devoto do Sutra de Lótus que pratica de acordo com os ensinamentos do Buda, com certeza enfrentará os Três Poderosos Inimigos. Portanto, desde o dia em que ouvir sobre este Sutra [e passar a ter fé nele], deve estar preparado para enfrentar grandes perseguições dos Três Poderosos Inimigos que estão determinados a ser mais terríveis agora, após a morte do Buda.

Embora meus discípulos já tenham ouvido sobre isso, quando as perseguições, grandes ou pequenas, nos atacaram, alguns deles ficaram tão espantados e aterrorizados que abandonaram a fé. Eu não os avisei antecipadamente? Tenho lhes ensinado dia e noite diretamente do Sutra, que diz: “Como o ódio e a inveja por este Sutra proliferam, mesmo quando o Tathagata vive neste mundo, quão pior será depois de sua morte?”

Este é, de fato, um tempo amaldiçoado para se viver nesta terra! No entanto, o Buda ordenou-me que nascesse nesta era, e é impossível para mim ir contra o decreto do Rei do Dharma. E assim, como o Sutra ordena, lancei-me na batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro. Vestindo a armadura da resistência e preparando-me com a espada do ensinamento maravilhoso, levantei a bandeira dos cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo, o coração de todos os oito volumes do Sutra de Lótus.

Em seguida, envergando o arco da declaração do Buda, “Eu ainda não revelei a verdade”, e entalhando a flecha de “rejeitando honestamente os ensinamentos provisórios”, subi à carroça puxada pelo grande boi branco e derrubei os portões dos ensinamentos provisórios.

Atacando primeiro um e depois outro, refutei os adversários de oito ou dez escolas budistas, como a Nembutsu, Verdadeira Palavra, Zen e Preceitos. Alguns fugiram apressadamente, enquanto outros recuaram, e outros ainda foram cativados e se tornaram meus discípulos.

Continuo a repelir os ataques dessas escolas para derrotá-las, mas existem legiões de inimigos que se opõem ao único Rei do Dharma e apenas um punhado o seguem. Assim, a batalha prossegue até hoje.

[O Grande Mestre Tient’ai afirma:] “O Sutra de Lótus é o ensinamento do Chakubuku, a refutação das doutrinas provisórias”. Fiel a esses ditos dourados, no final, até o último dos crentes das escolas e dos ensinamentos provisórios será derrotado e se juntará aos discípulos do Rei do Dharma.

Chegará o momento em que todas as pessoas abandonarão os vários tipos de veículos e assumirão o veículo único do estado de Buda, e somente a Lei Mística florescerá por toda a terra. Quando todo o povo recitar o Nam-myoho-rengue-kyo, o vento já não vergará os ramos, e a chuva não mais cairá torrencialmente até cavar a terra. O mundo se tornará como nos tempos de Fu Hsi e Shen Nung. Na presente existência, as pessoas serão libertadas das desgraças e das catástrofes e aprenderão a arte de viver muito tempo. Perceba que virá o tempo em que será revelada a verdade de que tanto a pessoa quanto a Lei não envelhecem e não morrem. Não pode haver a menor dúvida sobre a promessa do Sutra de “paz e tranquilidade na presente existência” (END, v. III, p. 147–149).

Explanação

O caractere chinês myo, de myoho, ou Lei Mística, tem o significado de “abrir”, assim como o caractere chinês que designa o número oito.

Agora, descortinou-se o 80º aniversário da Soka Gakkai [em 2010], um ano em que tudo se abrirá, ou melhor, quando se deve abrir o caminho para a vitória absoluta.

Abram o caminho com a oração baseada no juramento Seigan de mestre e discípulo, e com a coragem de seguir em frente com bravura e vigor!

Abram o caminho com a sabedoria para enxergar a verdade essencial em meio às circunstâncias que sempre mudam.

Abram o caminho com uma ação confiante!

Desde a época do primeiro presidente Tsunessaburo Makiguti, a Soka Gakkai vem crescendo e se desenvolvendo como precursora de novas fronteiras para o Kossen-rufu. A organização mantém uma ligação direta com o Buda Nitiren Daishonin por basear tudo no Gosho.

Em todas as épocas, o Gosho será sempre o ponto primordial da Soka Gakkai. Esse espírito fundamental, que é também a chave para a fé de vitória absoluta, é destacado pelo escrito, “A Prática dos Ensinos do Buda”, que estudaremos em três partes.

O título deste escrito é traduzido literalmente como “A Prática, como o Buda Ensina”. Aqui, o trecho “como o Buda ensina” pode ser interpretado “como o mestre expõe”. Daishonin fez de si mesmo um exemplo para os discípulos à medida que leu com a própria vida o ensinamento correto do Sutra de Lótus, praticando-o como o Buda ensina.

Ele travou uma luta de palavras para “refutar o errôneo e revelar a verdade”, erguendo bem alto a bandeira da Iluminação Universal.1 E assim o fez nos Últimos Dias da Lei, uma “era de conflitos”,2 quando as pessoas perdem de vista o ensinamento correto do Buda e crescem com o pensamento confuso e sem direção, o que resulta num ambiente de conflitos incessantes.

A grande batalha da refutação de Nitiren Daishonin, ou Chakubuku, provocou os ataques dos Três Poderosos Inimigos,3 como prediz o Sutra. No entanto, por enfrentar corajosamente [as perseguições] e triunfar sobre essas funções demoníacas, Daishonin provou a verdade do Sutra de Lótus. Para nós, dos tempos modernos, praticar de acordo com o que o Buda ensina significa praticar conforme os ensinamentos de Nitiren Daishonin.

O último capítulo do livro Teoria do Valor, de Tsunessaburo Makiguti, termina com as seguintes frases, incluindo algumas palavras conhecidas do escrito “A Prática dos Ensinos do Buda”: “Somente quando o ensinamento correto do Budismo, que revela a essência da existência humana, for amplamente divulgado é que será possível criar verdadeiramente a Terra da Luz Eternamente Tranquila,4 que proporciona felicidade insuperável a todas as pessoas.

“Assim como Daishonin escreve: [O Grande Mestre Tient’ai afirma:] ‘O Sutra de Lótus é o ensinamento de Chakubuku, da refutação das doutrinas provisórias’5 (...) Não pode haver a menor dúvida sobre a promessa do Sutra de ‘paz e tranquilidade na presente existência’”.6

Criar uma Terra da Luz Eternamente Tranquila, tornando realidade a promessa do Sutra de verdadeira “paz e tranquilidade nesta existência”, foi o ardente desejo do fundador da Soka Gakkai, e a conclusão de seu tratado sobre o valor. Makiguti Sensei doou a vida à luta pela realização desse ideal, não se submetendo à perseguição injusta das autoridades militares do Japão. Ele praticou exatamente de acordo com os ensinamentos de Nitiren Daishonin.

Jossei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, circulou de vermelho duas vezes o título “A Prática dos Ensinos do Buda”, em seu Gosho, para indicar a importância desse escrito. Como seu fiel e dedicado discípulo, também li essa carta inúmeras vezes, gravando em meu coração o espírito de Nitiren Daishonin de refutar o errôneo no mundo do Budismo.

Recordo-me com carinho do estudo desse escrito, realizado com os membros em meu apartamento quando eu era líder da DMJ do primeiro grupo [butai]. Anos mais tarde, explanei-o para os representantes da DE. Nada me dá mais alegria que estudar os escritos de Nitiren Daishonin e pô-los em prática junto com os jovens que herdarão o futuro.

Espero que os atuais membros da DJ estudem seriamente a sublime filosofia de Daishonin e, com isso, reforcem sua convicção na fé e desenvolvam sua capacidade de falar, de forma natural, com as pessoas sobre a prática budista.

“A Prática dos Ensinos do Buda” descreve como os autênticos discípulos devem se esforçar para realizar os nobres ideais do Budismo, sem medo das dificuldades, exatamente como seu mestre instrui.

É um escrito importante e contém a essência da unicidade de mestre e discípulo. Vamos gravá-lo profundamente em nossa vida para o contínuo desenvolvimento do Kossen-rufu e para vitória duradoura da SGI pelo eterno futuro dos Últimos Dias da Lei.


Pela análise [do Sutra de Lótus], aqueles que nasceram nesta terra e acreditam no Sutra [e o praticam], quando este ensinamento é propagado nos Últimos Dias da Lei, serão alvo do ódio e da inveja ainda piores que na época do Tathagata...7 (END, v. III, p. 147).

Desafios da prática do Chakubuku nos Últimos Dias da Lei

Datado de maio de 1273, o escrito “A Prática dos Ensinos do Buda” foi composto em Itinosawa, na Ilha de Sado, durante o exílio de Nitiren Daishonin. Como indicado no pós-escrito, é endereçado “para todos os meus discípulos”, junto com a instrução: “Mantenha esta carta com você em todos os momentos, leia-a e releia-a constantemente” (END, v. III, p. 154). Nela, Daishonin encoraja seus discípulos a seguir seu exemplo de praticar o Sutra de Lótus como o Buda ensina e diligentemente defender sua fé.

Na época de Daishonin, o exílio em Sado era equivalente a uma sentença de morte. A maioria dos condenados a viver nessa remota ilha jamais retornava. A vida de Daishonin esteve em constante perigo durante todo o tempo em que ele permaneceu lá. Em “As Profecias do Buda”, escrito nesse mesmo período, ele diz: “As chances de eu sobreviver um ano ou até mesmo um mês é uma em dez mil” (END, v. I, p. 131).

Sem temer as dificuldades e privações indescritíveis, Daishonin proclamou sua luta como o Buda dos Últimos Dias da Lei para iluminar a humanidade coberta pelas trevas com a sabedoria da Iluminação Universal.

No ano anterior, em fevereiro de 1272, ele escreveu a “Abertura dos Olhos”, que revela o objeto de devoção em termos de pessoa. Em seguida, em abril de 1273, um mês antes de escrever esta carta, em “O Objeto de Devoção para a Observação da Mente”,8 Daishonin revela o objeto de devoção em termos de Lei.9

Com a conclusão desses dois importantes tratados, ele estabeleceu a estrutura doutrinária de seu ensinamento para a iluminação de todas as pessoas pelo eterno futuro.

Agora, o restante cabe a seus discípulos. Daishonin sabia que tudo dependeria das pessoas comprometidas com o ensinamento correto. Se os dedicados discípulos entrassem em ação, o Kossen-rufu seria alcançado sem falta.

Esta convicção de Daishonin é transmitida em “A Prática dos Ensinos do Buda” e em “As Profecias do Buda” — duas cartas que são diretrizes eternas de Daishonin para todos os seus discípulos.

“A Prática dos Ensinos do Buda” é uma convocação apaixonada de Daishonin a seus discípulos que dedicam a vida à Lei. Ele os incentiva que agora é a hora de se levantar e realizar a prática do Chakubuku, ou seja, é o momento se esforçar para refutar os ensinamentos errôneos que proliferam no mundo do Budismo.

No escrito “As Profecias do Buda”, ao contrário, ele incentiva a pôr em prática o ideal da Transmissão do Ensinamento Correto do Budismo para o Oeste e sua ampla propagação em todo o mundo pelo eterno futuro.

Em outras palavras, a profunda compreensão de que o Budismo Nitiren é para o povo — um ensinamento para a iluminação de toda a humanidade — só pode ser alcançada na medida em que existam verdadeiros discípulos, que se empenham pelo Kossen-rufu “como Nitiren” ou “com a mesma mente de Nitiren”. Por isso, Daishonin convoca apaixonadamente seus discípulos a assumir a nobre tarefa do avanço do Kossen-rufu nos Últimos Dias da Lei com o espírito de não poupar a vida.

No início deste escrito, Nitiren Daishonin afirma: “Aqueles que nasceram nesta terra e acreditam no Sutra [e o praticam], quando este ensinamento é propagado nos Últimos Dias da Lei, serão alvo do ódio e da inveja ainda piores que na época do Tathagata...” (END, v. III, p. 147). Essa afirmação se baseia na passagem do Sutra de Lótus que diz: “Como o ódio e a inveja por este Sutra proliferam mesmo quando o Tathagata vive neste mundo, quão pior será depois de sua morte?” (LSOC, v. 10, p. 203 [LS, v. 10, p. 164]).10

O objetivo de Daishonin em fazer essa afirmação é o de conscientizar seus discípulos sobre a missão de praticar o Chakubuku nos Últimos Dias da Lei e prepará-los para a oposição que serão obrigados a suportar ao longo do caminho.

Aqueles que são fracos, desanimados e têm medo das dificuldades não podem realizar o importante empreendimento do Kossen-rufu. Os verdadeiros discípulos são os que se levantam com o mesmo juramento de Daishonin de conduzir as pessoas para a iluminação; são os que têm coragem para enfrentar os obstáculos com abnegada dedicação. A alegria de lutar junto com o mestre, compartilhando o mesmo propósito, também é fonte de ilimitada força para superar todos os tipos de dificuldades.

Na passagem seguinte, Nitiren Daishonin explica por que os praticantes do Sutra de Lótus estão destinados a encontrar oposição muito mais intensa na era maléfica dos Últimos Dias da Lei que as do tempo de Sakyamuni.

Existem diferenças significativas entre as duas eras. A pessoa que expôs a Lei nos tempos de Sakyamuni foi o Buda, enquanto aquele que expõe a Lei nos Últimos Dias é “um praticante comum”. Além disso, os discípulos da época de Sakyamuni foram os “grandes bodhisattvas e arhats”,11 ao passo que os discípulos dos Últimos Dias da Lei “provêm de um grupo de pessoas más, corrompidas pelos três venenos”12 (END, v. III, p. 147).

Mesmo durante o tempo em que o Buda pregou a Lei e seus ensinamentos eram praticados por discípulos notáveis, houve muitos que olhavam para ele e para sua comunidade de praticantes com ódio e inveja.

Daishonin constata que é natural, portanto, que hostilidades e ressentimentos ainda maiores devam surgir nos Últimos Dias da Lei — quando a Lei é exposta por um mestre que aparentemente é um praticante comum e seus discípulos são pessoas cuja vida está mergulhada nos três venenos da avareza, ira e estupidez.

Ele, portanto, observa: “As pessoas evitam o bom mestre e se associam com os mestres malignos” (END, v. III, p. 147). Mesmo que as pessoas tenham a sorte de encontrar o bom mestre Nitiren Daishonin, sua incapacidade de distinguir o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, faz elas se distanciarem dele e se aproximarem dos mestres errados. Essa é a triste realidade dos Últimos Dias da Lei.

Uma vez que se tornar discípulo do devoto do Sutra de Lótus que pratica de acordo com os ensinamentos do Buda, com certeza enfrentará os Três Poderosos Inimigos. Portanto, desde o dia em que ouvir sobre este Sutra [e passar a ter fé nele], deve estar preparado para enfrentar grandes perseguições dos Três Poderosos Inimigos que estão determinados a ser mais terríveis agora, após a morte do Buda.

Embora meus discípulos já tenham ouvido sobre isso, quando as perseguições, grandes ou pequenas, nos atacaram, alguns deles ficaram tão espantados e aterrorizados que abandonaram a fé. Eu não os avisei antecipadamente? Tenho lhes ensinado dia e noite diretamente do Sutra, que diz: “Como o ódio e a inveja por este Sutra proliferam, mesmo quando o Tathagata vive neste mundo, quão pior será depois de sua morte?” [LSOC, v. 10, p. 203 (LS, v. 10, p. 164)] (END, v. III, p. 147–148).

“Não importa o que aconteça, não tema a nada!”

Pouco depois de meu primeiro encontro com Toda Sensei, segui o caminho da fé como membro da Soka Gakkai e guardei estas palavras douradas em meu coração, gravando-as em minha vida. Este trecho do escrito se tornou para mim o ponto primordial.

Nitiren Daishonin afirma claramente que aqueles que praticam como o Buda ensina são, sem dúvida, atacados pelos Três Poderosos Inimigos e encontrarão perseguições ainda mais graves que aquelas da época de Sakyamuni.

Aceitei esse fato e decidi me dedicar ao Kossen-rufu com o espírito de um revolucionário pronto a dar a vida por esta causa, se necessário fosse. Eu era o discípulo do Toda Sensei, o grande líder do Kossen-rufu que foi para a prisão por defender sua fé, travando uma luta espiritual heroica. Sabia que, ao arriscar minha sorte com esse mestre, era ainda mais certo que enfrentaria grandes perseguições pelo caminho. E jurei que não teria medo diante de tais situações.

É claro que o Budismo não é um ensinamento que glorifica o martírio. O verdadeiro significado de “abnegada dedicação à prática do Chakubuku” e “lutar com o espírito de não poupar a própria vida” é nos esforçarmos tenazmente pelo Kossen-rufu enquanto nos dedicamos para realizar o sonho do nosso mestre e perpetuar a Lei.

Nessa passagem, Daishonin repreende a fraqueza interior daqueles discípulos tolos que se deixam derrotar pelo medo e pela covardia e acabam abandonando a fé quando diversas perseguições — grandes e pequenas — começam a ocorrer.

Toda Sensei era extremamente rigoroso ao explanar esse trecho do Gosho. Recordo-me de um episódio que aconteceu numa reunião de estudo na pequena sala da sua empresa em Itigaya, Tóquio. Na ocasião, ele falou com grande paixão, determinado a fazer que seus discípulos genuínos compreendessem o caminho rigoroso da prática do Budismo Nitiren. “Não importa o que aconteça, não tema a nada! Jamais recue um passo sequer!”, disse ele. Sua orientação era rigorosa assim porque tinha herdado fielmente o espírito de Daishonin.

Lembro-me que fiquei impressionado e inspirado pelas palavras de Toda Sensei. Aprendi pela primeira vez a rigorosidade e o comprometimento da fé, e como o propósito das atividades da Soka Gakkai está em perfeita sintonia com os ensinamentos do Buda Nitiren Daishonin.

No final dessa passagem, Daishonin ressalta que ele tem ensinado dia e noite a seus discípulos sobre o Sutra, advertindo: “Como o ódio e a inveja por este Sutra proliferam mesmo quando o Tathagata vive no mundo, quão pior será depois de sua morte?” O Buda Nitiren repete essa advertência com o desejo de que seus discípulos permaneçam firmes, sempre destemidos, diante das perseguições.

Daishonin foi o mestre que enfrentou os Três Poderosos Inimigos, que são manifestações do trabalho do Rei Demônio do Sexto Céu, ou Demônio Celestial,13 o mais terrível dos Três Obstáculos e das Quatro Maldades.14

Ele avisou constantemente a seus discípulos de que sem dúvida eles encontrariam obstáculos piores que os experimentados durante a época de Sakyamuni. No entanto, a maioria se acovardou e parou de praticar. O Buda Nitiren chegou a escrever que “999 dentre mil pessoas... desistiram da fé” (WND, v. 1, p. 469).

Se os discípulos forem derrotados pelas funções da maldade, haverá um impacto decisivo na propagação da Lei Mística nos Últimos Dias da Lei. Nada é mais doloroso para o mestre que ver seus discípulos serem facilmente vencidos por esses obstáculos.

No escrito “Abertura dos Olhos”, Nitiren Daishonin também escreve: “Eu e meus discípulos, mesmo que ocorram vários obstáculos e maldades, desde que não se crie a dúvida no coração, atingiremos naturalmente o estado de Buda. Não duvidem dos benefícios do Sutra de Lótus mesmo que não haja proteção dos céus. Não lamentem a ausência de paz e tranquilidade na vida presente. Embora tenha ensinado dia e noite, todos, criando a dúvida, abandonaram a fé. O que é costumeiro no tolo é esquecer nas horas cruciais o que prometera nas horas normais” (END, v. 4, p. 209–210).

Essa passagem descreve com que facilidade as pessoas se acovardam quando estão, de fato, diante das dificuldades ou da perseguição. Quando essas dificuldades surgem é o “momento crucial” — o momento em que nossa fé é testada.

Este é, de fato, um tempo amaldiçoado para se viver nesta terra! No entanto, o Buda ordenou-me que nascesse nesta era, e é impossível para mim ir contra o decreto do Rei do Dharma. E assim, como o Sutra ordena, lancei-me na batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro. Vestindo a armadura de resistência e preparando-me com a espada do ensinamento maravilhoso, levantei a bandeira dos cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo, o coração de todos os oito volumes do Sutra de Lótus. Em seguida, envergando o arco da declaração do Buda, “Eu ainda não revelei a verdade”,15 e entalhando a flecha de “rejeitando honestamente os ensinamentos provisórios”,16 subi à carroça puxada pelo grande boi branco17 e derrubei os portões dos ensinamentos provisórios.

Atacando primeiro um e depois outro, refutei os adversários de oito ou dez escolas budistas,18 como a Nembutsu [Terra Pura], Verdadeira Palavra, Zen e Preceitos. Alguns fugiram apressadamente, enquanto outros recuaram, e outros ainda foram cativados e se tornaram meus discípulos.
Continuo a repelir os ataques dessas escolas para derrotá-las, mas existem legiões de inimigos que se opõem ao único Rei do Dharma e apenas um punhado o seguem. Assim, a batalha prossegue até hoje (END, v. III, p. 148–149).

A verdadeira natureza da batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro

Aqui, Nitiren Daishonin declara que ele iniciou a “batalha” entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro.19 Ele responde à pergunta feita por muitas pessoas na sociedade da época e por alguns de seus discípulos: por que aqueles que praticam o Sutra de Lótus como o Buda ensina enfrentam os Três Poderosos Inimigos, mesmo o Sutra lhes garantindo “paz e tranquilidade nesta existência”? Neste escrito, Daishonin responde a essa questão a partir de três perspectivas.

Primeira, ele cita os exemplos de praticantes budistas do passado, como Sakyamuni, o Bodhisattva Jamais Desprezar (que representa Sakyamuni em sua existência anterior),20 o sacerdote chinês Chu Tao-Sheng,21 o Mestre Tripitaka Fa-tao,22 o Venerável Aryasimha,23 o Grande Mestre Tient’ai da China,24 o Grande Mestre Dengyo do Japão,25 e outros. Embora fossem todos devotos do Sutra de Lótus que praticavam de acordo com os ensinamentos do Buda, observa Daishonin, encontraram perseguições implacáveis (cf. END, v. III, p. 148).26

Segunda, Daishonin explica que o verdadeiro devoto do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei se compromete com a “batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro” de acordo com o decreto do Buda e pratica intensamente o Chakubuku. Isto está nesta passagem que estudamos agora.

Terceira, Daishonin declara que um genuíno devoto do Sutra de Lótus dos Últimos Dias da Lei aspira à realização de uma sociedade verdadeiramente ideal encarnando “o princípio de que tanto a pessoa quanto a Lei não envelhecem e não morrem” (cf. END, v. III, p. 149). E esclarece ainda que esta sociedade ideal será aquela que combina perfeitamente com a descrição do Sutra de Lótus de “paz e tranquilidade nesta existência”.

A passagem que analisamos apresenta a segunda perspectiva. Ela elucida a essência da luta pessoal de Daishonin como o devoto do Sutra. E indica que, em vez de ficar esperando para ser atacado, Daishonin enfrentou ativamente a “batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro”.

Os Últimos Dias da Lei são resumidos pela frase: “Esta é a era de conflitos em que a Lei pura foi perdida” (END, v. III, p. 147). Em outras palavras, os Últimos Dias da Lei são uma época em que o Budismo entra em declínio e quase desaparece. Havia uma confusão sobre o que constituía o ensinamento correto do Buda. E, por isso, as escolas budistas rivais envolviam-se em intrigas incessantes e disputas sobre a validade dos ensinamentos diferentes que cada uma defendia.

Além dessa confusão no âmbito do budismo, a sociedade também ficou desordenada e, como resultado, a nação corria perigo.

Numa época em que a Lei está prestes a desaparecer, os devotos do Sutra de Lótus assumem o desafio de refutar as visões errôneas existentes nas escolas budistas praticadas e elucidar o ensinamento correto, a fim de evitar que ele se perca para sempre. Eles também defendem o ideal de estabelecer o ensino correto para a paz da nação, com o objetivo de libertar as pessoas do sofrimento e impedir a ruína do país. Isto é o que significa “praticar como o Buda ensina”.

No Sutra de Lótus, Sakyamuni fala a seus discípulos bodhisattvas e os exorta a empreender esta luta após a sua morte. Daí a referência de Daishonin citada anteriormente para a “ordem do Buda” e o “decreto do Rei do Dharma” (cf. END, v. III, p. 148).

Sakyamuni afirma que entre seus ensinamentos há aqueles que ele expôs como meios (ensinamentos provisórios ou três veículos) e um ensinamento que contém sua verdadeira intenção (verdadeiro ensinamento ou veículo único).27

Ele instrui que, após a sua morte, seus discípulos devem rejeitar honestamente os “meios” e propagar o veículo único do Sutra de Lótus. É, portanto, dever dos devotos do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei, quando a Lei está correndo risco de desaparecer, continuar a “batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro”, de modo a fazer uma clara distinção entre os dois. A finalidade de se travar essa batalha é exclusivamente evitar que o ensinamento correto do Budismo desapareça.

Aqueles que elucidam as diferenças entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro nos Últimos Dias da Lei, certamente atrairão o ressentimento e a hostilidade das escolas budistas estabelecidas, cuja autoridade religiosa se baseia na supremacia de vários sutras provisórios. É certo que desencadearão uma tempestade de críticas, mal-entendidos e perseguições. Consequentemente, aqueles que travam essa “batalha” devem fazê-la conscientes de que este é “um tempo amaldiçoado”, e vestir a “armadura da resistência” para suportar os ferozes ataques que, inevitavelmente, cairão sobre eles.

A arma mais poderosa nessa “batalha” é em si o Sutra de Lótus, no qual o Buda fez uma clara distinção entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro. Assim, Daishonin usa a expressão “espada do ensinamento maravilhoso”. Nada pode cortar ou refutar o errôneo de forma tão incisiva quanto as próprias palavras do Buda. A prática do Chakubuku, ou de refutar os ensinamentos errôneos no mundo do Budismo, é em última análise uma luta de benevolência na qual se combate com a força da razão.

Se essa luta fosse travada com outra coisa que não a razão — se ela se basear, por exemplo, na autoridade, no poder ou na força bruta —, então não seria a batalha de ideias comandada pelo Buda. O recurso a tais meios equivaleria a uma negação do próprio Budismo, e indicaria o mais deplorável declínio da Lei nos Últimos Dias.

A “bandeira dos cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo, o coração de todos os oito volumes do Sutra de Lótus”, refere-se ao Daimoku do Nam-myoho-rengue-kyo, que é a essência do Sutra de Lótus. É a bandeira das forças que defendem o ensinamento correto. É o “estandarte da propagação do Sutra de Lótus” (END, v. III, p. 148), hasteado pelos praticantes que propagam amplamente a Lei Mística, o ensinamento da Iluminação Universal, e refutam os erros que mergulham as pessoas no sofrimento.

Os “cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo” constituem o nome da natureza de Buda de todos os seres vivos.28 Recitar Nam-myoho-rengue-kyo é a prática que torna possível para nós mesmos e para os outros manifestar essa natureza de Buda inerente. Isso significa que cada um de nós tem o poder de hastear a bandeira da vitória na vida.

Em última análise, a “batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro” é uma luta pela vitória humana, na qual pretendemos — por meio da sincera recitação do Daimoku e com base na forte fé na Lei Mística — superar todos os sofrimentos e infortúnios, abrindo o caminho para a felicidade de todas as pessoas.

O devoto que mantém erguida a “bandeira dos cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo” tem o poder de derrubar a ação das funções da maldade por meio da utilização do “arco e flecha” das palavras do Buda: “Eu ainda não revelei a verdade” e “rejeitando honestamente os ensinamentos provisórios”.29

Além disso, a “carroça puxada pelo grande boi branco” indica o veículo único do Sutra de Lótus que conduz todas as pessoas à iluminação. Essa “carroça” é um veículo magnífico em tamanho e grandeza, que oferece paz de espírito ilimitada a todos os que nela andam. Ela pode viajar livremente a qualquer lugar, sem fronteiras, a fim de libertar as pessoas do sofrimento.30

Nitiren Daishonin diz: “Subi à carroça puxada pelo grande boi branco e derrubei os portões dos ensinamentos provisórios. Atacando primeiro um e depois outro, refutei [todos os adversários]. (...) Assim, a batalha prossegue até hoje” (END, v. III, p. 149).

Essa passagem transmite o dinamismo de Nitiren Daishonin e sua força ilimitada. Ele transborda de benevolência e energia para lutar incansavelmente pelo Kossen-rufu. Suas palavras servem para varrer todas as dúvidas em relação às razões pelas quais aqueles que praticam o Sutra de Lótus como o Buda ensina não desfrutam de uma “existência de paz e tranquilidade nesta existência” [porque trabalhar sinceramente pela causa do Kossen-rufu é o que constitui uma existência pacífica e tranquila].

As atividades dos membros da SGI, desde os tempos iniciais do nosso movimento, refletem o mesmo vigor e a mesma força como demonstrado por Dashonin aqui.

Toda Sensei analisou esse trecho dizendo: “Nós não devemos deixar que os erros prejudiciais passem em branco. Devemos permanecer na ofensiva contra eles, seguir em frente e refutá-los completamente”. Toda Sensei era um líder dedicado a conduzir todos à felicidade absoluta. Ele também foi um grande guerreiro, determinado a refutar o errôneo e revelar a verdade na prática budista. Meu mestre sempre se enchia com esse espírito — o de refutar — para lutar contra as visões erradas e as injustiças. Esse espírito ativo e dedicado de refutar e derrotar os pontos de vista errôneos no Budismo é o espírito da SGI, e é também o espírito da DJ.

Nessa passagem, Daishonin fala sobre repelir os ataques dos inimigos e derrotá-los. Quero que, especialmente, nossos membros da DJ cultivem esse espírito e tenham a inabalável determinação de continuar lutando até que todas as raízes do mal, que fazem as pessoas sofrer e viver na miséria, sejam erradicadas. Para alcançar o Kossen-rufu, precisamos derrotar a natureza maligna, a negatividade, que reside e se prolifera no coração humano.

No final desse trecho, Nitiren Daishonin diz: “Existem legiões de inimigos que se opõem ao único Rei do Dharma e apenas um punhado que o seguem. Assim, a batalha prossegue até hoje” (END, v. III, p. 149). Os três primeiros presidentes da Soka Gakkai, unidos pelos laços de mestre e discípulo, sempre agiram com a irredutível determinação de continuar lutando pelo Kossen-rufu.

Em meio à crescente opressão do militarismo japonês, Makiguti Sensei levantou-se corajosamente, sozinho, para reviver o Budismo Nitiren nos tempos atuais. Toda Sensei também levantou-se sozinho em meio à devastação do Japão no pós-guerra para reconstruir a Soka Gakkai e atingir a meta de 750 mil famílias na organização. E eu, o terceiro presidente, levantei-me sozinho como discípulo do Toda Sensei e embarquei numa jornada memorável em prol do Kossen-rufu Mundial.

O Kossen-rufu é uma luta contínua entre as forças do Buda e as funções malignas. Essa é, na verdade, a “batalha [que] prossegue até hoje”. O verdadeiro brilho do estado de Buda está nesse incessante espírito de desafio. Isso é algo claramente demonstrado por quem pratica de acordo com os ensinamentos do Buda.

[O Grande Mestre Tient’ai afirma:] “O Sutra de Lótus é o ensinamento do Chakubuku, é a refutação das doutrinas provisórias”. Fiel a esses ditos dourados, no final, até o último dos crentes das escolas e dos ensinamentos provisórios será derrotado e se juntará aos discípulos do Rei do Dharma.

Chegará o momento em que todas as pessoas abandonarão os vários tipos de veículos e assumirão o veículo único do estado de Buda, e somente a Lei Mística florescerá por toda a terra. Quando todo o povo recitar o Nam-myoho-rengue-kyo, o vento já não vergará os ramos, e a chuva não mais cairá torrencialmente até cavar a terra. O mundo se tornará como nos tempos de Fu Hsi e Shen Nung.31 Na presente existência, as pessoas serão libertadas das desgraças e das catástrofes e aprenderão a arte de viver muito tempo. Perceba que virá o tempo em que será revelada a verdade de que tanto a pessoa quanto a Lei não envelhecem e não morrem. Não pode haver a menor dúvida sobre a promessa do Sutra de “paz e tranquilidade na presente existência” (END, v. III, p. 149).

Dialogue com tenacidade e faça brilhar o humanismo

Esse trecho do escrito esclarece, de acordo com a razão e a intenção do Buda, que a promessa do Sutra de Lótus de “paz e tranquilidade nesta existência”, definitivamente não é falsa.

“O Sutra de Lótus é o ensinamento do Chakubuku, é a refutação das doutrinas provisórias” — esta é uma passagem muito conhecida de O Profundo Significado do Sutra de Lótus de Tient’ai. Ela significa que Chakubuku, no contexto do Sutra de Lótus, se refere a refutar as doutrinas dos ensinamentos provisórios.

No Sutra de Lótus, o próprio Sakyamuni refuta esses ensinamentos. Por isso, na batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro, aqueles que estão ligados aos provisórios são finalmente refutados pelo próprio Buda. E se eles forem discípulos sinceros do Buda, quando perceberem esse fato, serão movidos para seguir a verdadeira intenção do Buda.

Na passagem anterior, a imagem de todos os crentes dos ensinamentos provisórios vindo a seguir corretamente a intenção do Buda é descrita como “se juntarão aos discípulos do Rei do Dharma”, enquanto o conceito de todos os ensinamentos provisórios sendo integrados ao veículo único do Sutra de Lótus é descrito como “todos os veículos se tornarão o veículo único do Buda”32 (cf. END, v. III, p. 149).

“Chegará o momento (...) e somente a Lei Mística florescerá por toda a terra” indica o tempo em que a Lei Mística — a Lei suprema para se manifestar o estado de Buda para a qual o Buda se iluminou — será devidamente confirmada e aceita como o ensinamento correto do Budismo. É o momento em que a calúnia e a descrença na Lei Mística serão banidas, e o Budismo, com base nesta Lei suprema da vida, prosperará e florescerá.

Com isso, Nitiren Daishonin não está dizendo que uma escola budista ganhará o domínio sobre todas as outras — mesmo ele tendo observado que as “oito ou dez escolas”33 da época estavam em desordem e brigavam incessantemente entre si, o que é definido como uma característica da era de conflitos. O que ele queria dizer é que a Lei Mística — a Lei suprema para se alcançar o estado de Buda e fonte original das várias escolas budistas — virá a funcionar como princípio orientador fundamental da sociedade, sem oposição nem impedimentos.

As palavras “quando todo o povo recitar o Nam-myoho-rengue-kyo...” descrevem o estabelecimento de uma estrutura de apoio espiritual ao Kossen-rufu. Essa afirmação se refere a uma situação na qual as pessoas aceitam facilmente o ensinamento correto ao ouvir a respeito, sem calúnias ou oposições. É uma época em que o benefício deste ensinamento — a Lei para a iluminação de todas as pessoas que o Buda demonstrou com a própria vida e ensinou aos outros — se propaga amplamente entre as pessoas. Isso também significa “estabelecer o ensinamento correto” em termos do princípio do “estabelecimento do ensino correto para a paz da nação” de Nitiren Daishonin.

Makiguti Sensei referia-se ao “bem maior”, como um aspecto do valor espiritual que se realizaria por meio da prática do Chakubuku. Toda Sensei, por sua vez, defendia a “revolução humana” de toda a humanidade. Herdando seu legado, dei um passo a mais para reforçar a “dignidade e a santidade da vida” como o valor espiritual pelo qual toda a humanidade deve aspirar e compartilhar.

O Kossen-rufu é o mais difícil dos empreendimentos porque envolve uma transformação interna na vida das pessoas. Porém, a fé na Lei Mística é uma força automotivadora. Para nutrir a nossa fé é indispensável empreender dedicados esforços em dialogar com as pessoas, uma a uma, fazendo que confiem em seu potencial para mudar a si mesmas, a partir de seu interior.

Nitiren Daishonin afirma que: “todas as pessoas abandonarão os vários tipos de veículos e assumirão o veículo único do estado de Buda” (cf. END, v. III, p. 149). A Lei não se propaga pela força, com coerção. Como tal, o ideal descrito na citação anterior somente será alcançado quando o humanismo do Budismo Nitiren ganhar ampla aceitação, tornando-se a corrente filosófica da sociedade, e evoluir para um valor comum da humanidade. O Kossen-rufu é realizado com diálogo tenaz e o brilho do humanismo daqueles que praticam o Chakubuku.

Nesse sentido, o grande movimento de diálogo construído pela SGI, baseado no humanismo budista, poderia ser chamado de milagre dos dias atuais. Hoje, somos a única organização que realiza o decreto do Buda no mundo e praticamos fielmente o Budismo Nitiren, assim como ele ensinou. Como resultado, superamos inúmeras adversidades e estamos fazendo o Kossen-rufu avançar com vigor.

A rede de humanismo da SGI, embasada no Budismo Nitiren, expandiu-se para 192 países e territórios. No mundo todo, há novos prédios da SGI em construção, e é crescente o número de líderes e amigos de diversas áreas que participam das atividades da organização. Tudo isso se deve à confiança que os membros de cada país conquistaram por meio de incansáveis esforços para se aproximar das pessoas de suas comunidades e bairros, com amizade e diálogo.

Tais ações incorporam verdadeiramente a convicção do Buda Nitiren de que “somente a Lei Mística florescerá”. Daishonin declara que, quando a Lei Mística prevalecer amplamente, uma era de “paz e tranquilidade nesta existência” será conquistada infalivelmente.

Nitiren Daishonin apresenta uma imagem de como seria o mundo quando o Kossen-rufu fosse alcançado. Ele escreve: “O vento já não vergará os ramos, e a chuva não mais cairá torrencialmente até cavar a terra” (END, v. III, p. 149). Quando acreditamos na Lei Mística, que nos dá a base da santidade da vida, e recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo, ainda que venham ferozes tempestades ou que chuvas torrenciais causem estragos, transformamos positivamente qualquer dano ou consequência negativa, de acordo com o princípio da “transformação do veneno em remédio”. Como na época ideal dos lendários governantes chineses Fu Hsi e Shen Nung, a paz, a prosperidade e a felicidade permearão a terra.

O Buda Nitiren Daishonin também afirma: “Virá o tempo em que será revelada a verdade de que tanto a pessoa quanto a Lei não envelhecem e não morrem” (END, v. III, p. 149). O princípio “a Lei não envelhece e não morre” significa que o funcionamento da Lei Mística — que engloba, sustenta e dá origem a todos os fenômenos — não recua, não cessa, jamais deixa de agir.

De um lado, esse princípio de que “a Lei não envelhece e não morre” explica que todas as coisas são harmônicas e agem para criar valor na adversidade. Do outro, porém, o princípio de que “a pessoa não envelhece e não morre”, é claro, não significa que não envelhecemos ou não vamos morrer. Mas, por meio da fé na Lei Mística, estabelecemos um estado de vida permeado pelas quatro virtudes da “eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza”. É um estado de vida no qual não somos perturbados ou derrotados pelos sofrimentos do envelhecimento ou da morte.

Tal como o Buda Sakyamuni esclareceu, esses sofrimentos surgem da ilusão ou da ignorância sobre a verdadeira natureza da vida. Numa época em que o poder da Lei Mística é livremente manifestado, as pessoas naturalmente ganham confiança na Lei e rompem sua ignorância ou escuridão.

Dessa forma, a luta pelo Kossen-rufu daqueles que praticam corretamente os ensinamentos do Buda originará uma sociedade ideal na qual todas as pessoas desfrutam de “paz e tranquilidade nesta existência”. Essa meta de paz e tranquilidade, no entanto, não é para ser encontrada simplesmente em alguma comunidade ideal, num futuro distante. Na verdade, ela descreve o estado de vida daqueles que praticam fielmente o ensinamento correto do Sutra de Lótus para a felicidade de si mesmos e para concretizar uma terra pacífica e tranquila.

Isso fica claro nas passagens anteriores que descrevem as próprias batalhas de Daishonin. Sua postura dinâmica no combate em prol do Kossen-rufu sem ser derrotado por nenhuma dificuldade é um brilhante exemplo de verdadeira “paz e tranquilidade nesta existência”. Esse é o real significado desse conceito no Budismo Nitiren.

Quando nos esforçamos na prática budista, nosso estado de Buda é ativado de forma poderosa. Nossa vida transborda com uma alegria suprema. No espírito da “abnegada dedicação” ou de “não poupar a própria vida” ensinado no Budismo Nitiren não há qualquer sentimento trágico de autossacrifício. Quando desafiamos a nós mesmos com vigor, uma alegria pulsa para sempre e de forma vibrante em nossa vida.

Nitiren Daishonin conclui “A Prática dos Ensinos do Buda” com as seguintes palavras: “Como descrever tamanha alegria?” (END, v. III, p. 154) E no trecho final de a “Abertura dos Olhos” — um tratado no qual o Buda Nitiren se empenha numa discussão ainda mais detalhada sobre como praticar de acordo com o que o Buda ensina —, ele expressa a enorme alegria interior que estava sentindo: “Por causa de minhas ações, fui condenado ao exílio; porém, na presente existência, esse é um sofrimento insignificante pelo qual não vale a pena lamentar. Nas minhas próximas existências, desfrutarei imensa felicidade, e essa certeza é o que me dá grande alegria” (END, v. 4, p. 222).

A luta pelo Kossen-rufu é uma sucessão de dificuldades. Esses esforços em si, no entanto, também nos permitem manifestar o estado de Buda, que é acompanhado por uma alegria insuperável. Aqueles que se esforçam por completo pelo Kossen-rufu sempre desfrutam um sentimento profundo de felicidade e realização. Não há maior “paz e tranquilidade nesta existência” que a encontrada no estado de vida de quem realmente entende o princípio budista de que “grandes obstáculos levam à iluminação”.

A chave para alcançar uma vida de felicidade absoluta e repleta de esperança é o firme juramento Seigan de realizar o Kossen-rufu, tal como Daishonin ensina, tendo como base o estudo do Gosho.

(Daibyakurengue, edição de janeiro de 2010.)

Notas:

1. Esta é uma referência ao fato de que o Sutra de Lótus abriu o caminho para a iluminação de todas as pessoas, enquanto os ensinamentos provisórios pré-Sutra de Lótus haviam negado a possibilidade de atingir a iluminação nesta vida às pessoas dos dois veículos (ouvintes e os que despertaram para a causa), bem como às mulheres e às pessoas más.

2. Trata-se de uma referência à descrição do quinto período de quinhentos anos contida no Sutra da Grande Coleção [Dharmaraksha, 385–433 d.C.]. Este sutra diz que, nesta era, que corresponde aos Últimos Dias da Lei — escolas budistas rivais brigarão incessantemente entre si e o ensinamento correto de Sakyamuni será obscurecido e se perderá.

3. Três espécies de pessoas arrogantes que perseguem os que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica após a morte do Buda Sakyamuni, descritos numa seção do verso de vinte linhas do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo (711––782) da China resume os Três Poderosos Inimigos como pessoas leigas arrogantes, sacerdotes arrogantes e sábios falsos e arrogantes.

4. Terra da Luz Eternamente Tranquila ou Terra do Buda é um local livre de impermanências e impurezas. Em muitos sutras, o mundo saha, isto é o mundo real no qual os seres humanos habitam, é descrito como uma terra impura, cheia de ilusões e sofrimentos, enquanto a Terra do Buda é descrita como uma terra pura, livre dessas características negativas e muito distante deste mundo saha. Em contraste, o Sutra de Lótus revela que o mundo saha é a Terra do Buda, ou a Terra da Luz Eternamente Tranquila, e explica que a natureza da terra é determinada pela mente de seus habitantes.

5. Tient’ai, O Profundo Significado do Sutra de Lótus.

6. MAKIGUTI, Tsunessaburo. Kachi Ron [Teoria do Valor], editado por Jossei Toda. Tóquio: Daisanbunmei-sha, 1979. p. 192-193.

7. Termo em sânscrito (Nyorai, em Japonês). Designa “Aquele que assim chega” ou “Aquele que traz a verdade”. Indica um dos dez títulos honoríficos do Buda e que um buda incorpora a verdade fundamental de todos os fenômenos e compreendeu profundamente a lei da causalidade que permeia o passado, presente e futuro.

8. Neste escrito, Nitiren Daishonin esclarece que ele é o Buda dos Últimos Dias da Lei que possui as três virtudes de soberano, mestre e pai, e que conduzirá as pessoas dos Últimos Dias à iluminação.

9. O objeto de devoção em termos da Lei: Daishonin esclarece que o Nam-myoho-rengue-kyo é a Lei fundamental para alcançar o estado de Buda que todas as pessoas dos Últimos Dias devem reverenciar.

10. Nota dos editores da SGI Newsletter: Desde 2010, todas as citações do Sutra de Lótus são extraídas de The Lotus Sutra and Its Opening and Closing Sutras [O Sutra de Lótus e seus Sutras de Abertura e Encerramento]. Tradução de Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, 2009. Agora, as citações aparecerão da seguinte forma: LSOC, seguido pelo número do capítulo e da página. Por um curto período, continuaremos incluindo entre parênteses o capítulo correspondente e número de página em The Lotus Sutra [Sutra de Lótus]. Tradução de Burton Watson. Nova York: Columbia University Press, 1993.

11. Arhat é aquele que alcançou o mais elevado dos quatro estágios que os ouvintes da Lei aspiram atingir por meio da prática dos ensinamentos Hinayana, ou seja, o estágio mais elevado da iluminação Hinayana.

12. Três venenos da avareza, ira e estupidez: Males fundamentais inerentes à vida e que dão origem ao sofrimento humano. Na obra Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria, de Nagarjuna, os três venenos são considerados como a fonte de todas as ilusões e desejos mundanos. São assim chamados porque poluem a vida das pessoas e as impedem voltar o coração e a mente para o bem.

13. O Rei Demônio dos Sexto Céu: Também conhecido como Rei Demônio ou Demônio Celestial. Soberano das funções maléficas que, na mitologia budista, habita o mais elevado céu, ou no sexto céu do mundo do desejo. É chamado ainda de Demônio que se Regozija em Manipular Livremente as Pessoas e em Usurpar o fruto dos Esforços Delas. Servido por inúmeros subordinados, ele impede a prática budista e se satisfaz em consumir a energia vital de outros seres. Personifica a tendência negativa de impor a própria vontade aos outros a qualquer custo.

14. Os Três Obstáculos e Quatro Maldades: Diversas obstruções e impedimentos à prática budista. Os três obstáculos são: (1) obstáculos dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e, (3) obstáculo da retribuição. As quatro maldades são: (1) impedimento dos desejos mundanos; (2) impedimento dos cinco componentes; (3) impedimento da morte; e (4) impedimento do Demônio do Sexto Céu.

15. Trecho extraído do “Sutra Significados Imensuráveis”. “Nestes mais de quarenta anos, ainda não revelei a verdade” (LSOC, p. 15), diz Sakyamuni, indicando que todos os ensinamentos que ele expôs no período precedente de mais de quarenta anos foram os ensinamentos fáceis e provisórios, e que ele ainda não tinha revelado a verdade.

16. Aqui, Nitiren Daishonin cita a frase “honestamente rejeitando os ensinamentos provisórios” (LSOC, v. 2, p. 79 [LS, v. 2, p. 44]), extraído do segundo capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”, com uma pequena modificação. Com essas palavras, Sakyamuni também indica que os ensinamentos que ele expôs no período precedente de mais de quarenta anos são provisórios e, portanto, devem ser descartados

17. “A carroça puxada pelo grande boi branco” simboliza o supremo veículo do estado de Buda, descrito na parábola das Três Carroças e da Casa em Chamas que aparecem no 3º capítulo do Sutra de Lótus, “Parábolas”.

18. Essa passagem se refere às oito principais escolas budistas do Japão antes do período Kamakura (1185–1333). São elas: Tesouro da Análise do Dharma; Estabelecimento da Verdade; Preceitos; Características do Dharma; Três Tratados; Guirlanda de Flores; Tendai; e Verdadeira Palavra. Acrescentando as escolas Nembutsu (Terra Pura) e Zen, que surgiram no início do período Kamakura, têm-se as dez escolas, uma vez que elas sempre são relacionadas coletivamente nas obras budistas japonesas.

19. Os ensinamentos provisórios são os que o Buda Sakyamuni expôs como meios [ou modos], para conduzir as pessoas ao verdadeiro ensinamento. Segundo a doutrina de Tient’ai, incluem todos os ensinamentos expostos antes do Sutra de Lótus. Eles revelam apenas aspectos parciais da verdade que o Buda alcançou. Em contraste, o verdadeiro ensinamento é o ensino no qual o Buda Sakyamuni revelou diretamente sua iluminação, expondo a verdade que ele atingiu em sua totalidade. Tient’ai definiu o Sutra de Lótus como o verdadeiro ensinamento.

20. O Bodhisattva Jamais Desprezar: Esse Bodhisattva — que foi Sakyamuni numa existência anterior —, descrito no 20º capítulo do Sutra de Lótus, intitulado “Bodhisattva Jamais Desprezar”, se curvava em reverência a todos que encontrava. No entanto, ele foi atacado por pessoas arrogantes, que batiam nele com varas e bastões e lhe atiravam pedras. O Sutra explica que sua prática de respeitar a natureza de Buda das outras pessoas se tornou a causa para ele para manifestar o estado de Buda.

21. Chu Tao-sheng (434 d.C.): Também conhecido como Tao-sheng, era discípulo de Kumarajiva, na China. Ele argumentou que todas as pessoas possuem a natureza de Buda e que até mesmo os icchantikas, pessoas de descrença incorrigível, podem manifestar o estado de Buda. Os sacerdotes mais velhos o atacaram por seu ponto de vista e o expulsaram da ordem de sacerdotes, assim ele se retirou para uma montanha em Su-chou (atual província de Suzhou, na China).

22. Fa-tao (1086–1147): Sacerdote que protestou contra o imperador Hui Tsung da dinastia chinesa Sung, quando o imperador apoiou o taoísmo e tentou suprimir o Budismo. Ele foi marcado na face por isso e exilado.

23. Aryasimha [s.d.]: Último dos 23 ou 24 sucessores do Buda Sakyamuni. Ele viveu na região central da Índia durante o século 6. Quando Aryasimha propagava o Budismo em Caxemira, na Índia antiga, o rei Mirakutsu, que era hostil ao Budismo, destruiu muitos templos budistas e estupas, e executou grande número de monges. Aryasimha estava entre os decapitados por esse rei.

24. Tient’ai (538–597): Conhecido como Chih-i, foi o fundador da escola Tient’ai na China. É comumente referido como o Grande Mestre Tient’ai. Suas preleções foram compiladas em obras como O Profundo Significado do Sutra de Lótus; Palavras e Frases do Sutra de Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Ele propagou o Sutra de Lótus na China, e estabeleceu a doutrina de Três Mil Mundos num Único Momento da Vida.

25. Dengyo (767–822): Também conhecido como Saicho, o fundador da escola Tendai (Tient’ai) no Japão. É muitas vezes referido como o Grande Mestre Dengyo. Ele desmentiu os erros das seis escolas Nara – escola budista estabelecida na época – e promoveu o Sutra de Lótus, e dedicou-se ao estabelecimento de uma plataforma de ordenação Mahayana no Monte Hiei.

26. Em “A Prática dos Ensinos do Buda”, Nitiren Daishonin escreve: “O Buda Sakyamuni enfrentou as nove grandes perseguições por causa do Sutra de Lótus. No passado distante, o Bodhisattva Jamais Desprezar também foi atacado com bastões, telhas e pedras. Chu Tao-sheng foi banido para uma montanha em Su-chou, o Mestre Tripitaka Fa-tao foi marcado na face, e o Venerável Aryasimha foi decapitado. O Grande Mestre Tient’ai opôs-se às sete escolas do norte e às três escolas do sul, e o Grande Mestre Dengyo foi odiado pelas seis escolas [Nara]. O Buda, bodhisattvas e esses grandes sábios foram todos devotos do Sutra de Lótus, todavia sofreram grandes perseguições” (WND, v. 1, p. 391-392).

27. Os três veículos são os ensinamentos expostos para os ouvintes, àqueles que despertaram para a causa e para os bodhisattvas. O veículo único do estado de Buda significa o ensinamento que permite a todas as pessoas manifestar o estado de Buda e corresponde ao Sutra de Lótus

28. Em “Diálogo entre um Sábio e um Homem Ignorante”, Nitiren Daishonin escreve: “A natureza de Buda inerente a todos esses seres é chamada Myoho-rengue-kyo. Portanto, se o senhor recitar esse Daimoku uma única vez, a natureza de Buda de todos os seres vivos se reunirão ao seu redor. Nesse momento, os três corpos da natureza do Dharma inerente à sua vida — o corpo do Dharma, o corpo da recompensa e o corpo manifesto — serão ativados e manifestados. Isso é o que significa manifestar o estado de Buda” (WND, v. 1, p. 131).

29. Ver as notas 15 e 16, respectivamente.

30. Nitiren Daishonin afirma: “Estas carroças puxadas por grandes bois brancos são capazes de voar livremente pelo céu da natureza essencial dos fenômenos” (WND, v. 2, p. 976).

31. Fu Hsi e Shen Nung eram reis lendários que construíram sociedades ideais na China antiga. Foi dito que, durante seus reinados, o coração das pessoas estava em paz, a colheita era abundante e não ocorreram desastres.

32. O trecho “Todos os veículos” significa “Três veículos” – mais especificamente, os dois veículos, ou seja, os dois veículos dos ouvintes e daqueles que despertaram para a causa, mais o veículo de bodhisattva. O “veículo único do Buda” refere-se o Sutra de Lótus, que é o ensinamento que permite a todas as pessoas manifestar o estado de Buda. O segundo capítulo do Sutra de Lótus “Meios” explica: “Nas terras do Buda das dez direções / existe apenas a Lei do veículo único, / não há duas, não há três, / exceto quando o Buda prega assim como meios” (LSOC, v. 2, p. 69 [LS, v. 2, p. 35]).

33. Ver nota 18.



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A prática benevolente do Chakubuku para a felicidade de todas as pessoas

[9] “A Prática dos Ensinos do Buda” Parte 2 (de 3)

Terceira Civilização, Edição 530, 13/10/2012 / Estudo

Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda

Trechos da carta “A Prática dos Ensinos do Buda”

Insisto que isso [a crença de que seguir qualquer sutra é o mesmo que praticar de acordo com os ensinamentos do Buda] é errado. O mais importante na prática dos ensinamentos budistas é seguir e proteger as palavras douradas do Buda, e não as opiniões dos outros.

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Assim, o próprio Buda concluiu que a pessoa somente pratica de acordo com seus ensinamentos quando baseia sua firme fé nas normas dessas passagens do Sutra, acreditando que “existe somente a Lei do veículo único”.

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Qualquer pessoa que pratica o Budismo deve, primeiro, compreender os dois tipos de prática – Shoju e Chakubuku. Todos os sutras e tratados se enquadram em uma ou em outra dessas duas categorias de prática. Embora os estudiosos deste país tenham estudado profundamente o Budismo, eles não sabem qual prática está de acordo com o tempo.

***

Os dois milênios dos Primeiros e Médios Dias da Lei exigiam a propagação dos ensinamentos Hinayana e dos ensinamentos Mahayana provisórios, mas os primeiros quinhentos anos dos chamados Últimos Dias da Lei pedem que somente o Sutra de Lótus, o puro e perfeito ensinamento do veículo único do estado de Buda, seja amplamente propagado. Como previsto pelo Buda, agora é uma época de conflitos e disputas quando a Lei pura se torna obscurecida e se perde, e os ensinamentos provisórios e o verdadeiro são confundidos de forma irremediável e desesperadora.

Quando uma pessoa precisa enfrentar inimigos, é necessário dispor de uma espada, um bastão ou de arco e flechas. Quando não há inimigos, no entanto, essas armas não possuem qualquer utilidade. Nesta época, os ensinamentos provisórios se tornaram inimigos do verdadeiro ensinamento. Quando chega o momento certo da propagação do ensinamento do veículo único, os ensinamentos provisórios se tornam inimigos. Quando estes [ensinamentos provisórios] são fonte de confusão, devem ser completamente refutados a partir da perspectiva do verdadeiro ensinamento. Dos dois tipos de prática, esta é a do Chakubuku, a prática do Sutra de Lótus. Com boa razão, Tient’ai declarou: “O Sutra de Lótus é o ensinamento do Chakubuku, da refutação das doutrinas provisórias”.

As quatro práticas pacíficas [do capítulo “Práticas Pacíficas”] correspondem ao Shoju. Realizá-las nesta época seria tão insensato quanto semear no inverno e esperar colher na primavera. É natural que o galo cante ao amanhecer, mas é estranho se cantar ao anoitecer. Agora, quando o verdadeiro ensinamento e os ensinamentos provisórios são completamente confundidos, seria igualmente anormal alguém isolar-se nas florestas das montanhas e realizar a prática pacífica do Shoju sem refutar os inimigos do Sutra de Lótus. [Assim] a pessoa perderia a oportunidade de praticar o Sutra de Lótus (END, v. III, p. 149-152).

Explanação

No fim de janeiro de 1952, na reunião de partida da Campanha de Fevereiro,1 bradei aos meus amigos do Distrito Kamata, com os quais compartilho profundos laços: “Vamos celebrar o mês de nascimento do Toda Sensei com uma brilhante vitória!”

Fevereiro é o mês em que não só o segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, nasceu, mas também é o mês de nascimento de Nitiren Daishonin.

Praticamos esse Budismo hoje porque Daishonin apareceu nos Últimos Dias da Lei e propagou a Lei Mística para a iluminação de todas as pessoas. E temos a oportunidade de praticar corretamente como membros da SGI porque Toda Sensei iniciou corajosamente uma luta solitária para reconstruir a Soka Gakkai após a Segunda Guerra Mundial e para fazer do Kossen-rufu uma realidade, dando continuidade aos ideais de seu mestre, Tsunessaburo Makiguti, que morreu na prisão por causa de suas crenças.

Assim, lançamo-nos à Campanha de Fevereiro em 1952 com profunda estima e desejo de retribuir nossa gratidão a esses grandes líderes e mestres do Kossen-rufu.

O Kossen-rufu, ou a ampla propagação da Lei, é a “prática dos budas”, decorrente da extrema benevolência que os budas nutrem por todos os seres vivos, e é também a “prática dos bodhisattvas” empreendida pelos discípulos bodhisattvas que fazem desse espírito benevolente do Buda o seu próprio.

A verdadeira força da propagação da Lei Mística nasce quando cada um de nós, como praticantes, liga a vida diretamente ao correto mestre da Lei e aos verdadeiros mestres do Kossen-rufu.

O grandioso juramento de Toda Sensei para concretizar o objetivo de 750 mil famílias se espalhou e revigorou a Soka Gakkai. Todos nós temos imensurável gratidão a ele e, como seu jovem discípulo, levantei-me para agir com o único sentimento de realizar seu sonho.

Essa Campanha de Fevereiro foi o primeiro grande esforço para a expansão do movimento do Kossen-rufu empreendido pela Soka Gakkai. No meu caso, que até então dedicava todas as energias para apoiar Toda Sensei no período de dificuldade de seus negócios, esta foi efetivamente a primeira campanha do Kossen-rufu que liderei na linha de frente da organização a pedido do meu mestre.

Meu único pensamento era fazer da promessa de Toda Sensei de alcançar 750 mil famílias uma realidade. Trabalhei sem descanso, dando tudo de mim para concretizar esse objetivo. Praticar de acordo com o que meu mestre instruía também significava praticar de acordo com os ensinamentos do Buda e, dessa forma, incorporei a própria essência do Budismo.

Se nos esforçarmos fielmente na “prática dos ensinos do Buda”, superamos qualquer obstáculo que encontramos. A “prática dos ensinos do Buda” significa os discípulos desafiarem a si mesmos com o mesmo espírito de seu mestre. Quando trilhamos o caminho de mestre e discípulo, sem nos desviarmos, fazemos surgir um poder ilimitado. O expansivo e nobre estado de vida do nosso mestre nos inspira e nos encoraja a vencer nossas próprias lutas.

Aprendi com Toda Sensei sobre a fé e a ação da “prática dos ensinos do Buda”. Um período particularmente de aprendizado foi quando ele renunciou a seu cargo de diretor-geral (em 1950) com o desejo de não deixar que as dificuldades de seu negócio afetassem a Soka Gakkai. Sozinho, fiquei lado a lado com Toda Sensei, que reconheci como único líder do nosso movimento pelo Kossen-rufu, e me dediquei incansavelmente para ajudá-lo de todas as maneiras possíveis. Naquela época, escrevi em meu diário (em 17 de novembro de 1950): “Li ‘A Prática dos Ensinos do Buda’. Compreendi profundamente a necessidade de ter uma fé corajosa. (...) No final, o poder da nossa fé e da nossa prática determina tudo. O Gohonzon possui o poder do Buda e da Lei. Somente por meio de nossa fé é que podemos comprovar e extrair o grande poder da Lei suprema incorporada no Gohonzon”.2

Quando evidenciamos o poder da corajosa fé e da corajosa prática, ambas de acordo com os ensinamentos do Buda, o poder infinito do Buda e o da Lei se manifestarão sem falha. Para aprendermos sobre essa essência do Budismo Nitiren, vamos continuar estudando “A Prática dos Ensinos do Buda” e para aprofundarmos a compreensão do significado do ‘poder da fé’ e do ‘poder da prática’ embasados na unicidade de mestre e discípulo”.

Insisto que isso [a crença de que seguir qualquer sutra é o mesmo que praticar de acordo com os ensinamentos do Buda] é errado. O mais importante na prática dos ensinamentos budistas é seguir e proteger as palavras douradas do Buda, e não as opiniões dos outros. (...)

Assim, o próprio Buda concluiu que a pessoa somente pratica de acordo com seus ensinamentos quando baseia sua firme fé nas normas dessas passagens do Sutra, acreditando que “existe somente a Lei do veículo único” (END, v. III, p. 149-150).

O “veículo único do Buda” como a base correta da fé

Pouco antes dessa passagem, Nitiren Daishonin coloca a seguinte questão: “Como a pessoa deve praticar para ser fiel aos ensinamentos do Buda?” (END, v. III, p. 149) Ele, então, passa a explicar a maneira correta de se ter fé no Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei.

A verdadeira intenção do Buda Sakyamuni é revelada no Sutra de Lótus. E seu objetivo é esclarecer que “todos os veículos estão contidos no veículo único do Buda”3 (cf. END, v. III, p. 149) e que todas as pessoas têm o potencial de atingir a iluminação.

A expressão “todos os veículos” indica os outros ensinamentos expostos por Sakyamuni, de acordo com as diferentes capacidades das pessoas — exceto o Sutra de Lótus. Refere-se especificamente aos “três veículos”, os ensinamentos expostos para os ouvintes [erudição], aqueles que despertaram para a verdade [absorção] e aos bodhisattvas, respectivamente.

Mas o verdadeiro propósito de Sakyamuni ao expor esses ensinamentos era cultivar a capacidade das pessoas de forma que pudesse finalmente lhes ensinar sobre o “veículo único do Buda”.

O “veículo único do Buda” significa o único veículo pelo qual as pessoas podem manifestar o estado de Buda e é o único ensinamento na vasta gama de sutras do Buda que tem o poder de conduzir a humanidade para a iluminação nos Últimos Dias da Lei. E isso é total e claramente revelado por Sakyamuni no Sutra de Lótus.

O Sutra de Lótus não apenas revela a verdadeira intenção do Buda, que é a iluminação de todas as pessoas, mas também revela o Myoho-rengue-kyo, o nome da grande Lei, que é a chave para a iluminação — a maravilhosa Lei, ou a Lei Mística. E ele elucidou a natureza filosófica desta iluminação por meio do princípio do “verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”.4

Além disso, ele elucida a causalidade da iluminação original de Sakyamuni, no remoto passado, em termos de doutrina de “verdadeira causa e verdadeiro efeito”,5 que é o fundamento dos princípios da “Possessão Mútua dos Dez Mundos”6 e dos “Três Mil Mundos num Único Momento da Vida”.7 Ele também enumera os inúmeros benefícios de praticar o Sutra de Lótus, tais como aqueles adquiridos por acreditar e compreender por um momento no Sutra de Lótus,8 a purificação dos seis órgãos dos sentidos,9 a erradicação das ofensas,10 e atingir a iluminação na presente forma.11

O Sutra de Lótus estabelece ainda o grande juramento do Kossen-rufu — o juramento da ampla propagação do ensinamento correto para permitir que todos os seres vivos alcancem a iluminação. Ele afirma que dedicar a vida a esse grande juramento ou a essa aspiração é o eterno e verdadeiro Caminho do Bodhisattva.

Assim, o Sutra de Lótus ensina, a partir de diversos aspectos, que o veículo único do estado de Buda representa a verdadeira intenção do Buda. Na realidade, ele revela este supremo ensinamento do começo ao fim.

Além do mais, o Sutra descreve sobre aqueles que ouvem e abraçam a fé no Sutra de Lótus, despertando para o veículo único do estado de Buda e rejeitando a ilusão que os impede de atingir a iluminação. A causalidade para atingir a iluminação está gravada na vida deles, permitindo-lhes manifestar o supremo benefício de atingir a iluminação nesta existência.

O Sutra de Lótus é o único Sutra no qual o veículo único do estado de Buda foi exposto como um ensinamento concreto, junto com a forma como ele deve ser praticado e o benefício que resultará dessa prática.

É imperativo, portanto, que aqueles que praticam o Sutra de Lótus de acordo com os ensinamentos do Buda abracem unicamente a fé neste Sutra. Se não conseguirem compreender a verdadeira intenção do Buda e derem mais importância aos ensinamentos anteriores expostos por ele como meios [mais apropriados para a época], podem ser levados a se desviar do caminho da fé do veículo único do Buda.

Muitos estudiosos do budismo no Japão na época de Nitiren Daishonin compreenderam mal o significado do conceito de que “todos os veículos estão contidos no veículo único do Buda” e persistiram na defesa de pontos de vista errôneos acerca da fé. Daishonin resume essa postura equivocada da seguinte forma: “[As pessoas acreditam que] já que todos os veículos estão revelados e incorporados no veículo único do estado de Buda, nenhum ensinamento é superior ou inferior, superficial ou profundo, ao contrário todos são iguais ao Sutra de Lótus. Daí a crença de que recitar a Nembutsu, abraçar o ensinamento da Verdadeira Palavra, praticar a meditação Zen, ou professar e recitar qualquer sutra ou o nome de Buda ou bodhisattva seja o mesmo que seguir o Sutra de Lótus” (END, v. III, p. 149).

Isso aponta para um sério equívoco sobre a expressão “revelados e incorporados”. Seu verdadeiro significado é esclarecer a verdade última e integrar os vários ensinamentos “meios” em relação àquela verdade.

A verdade última, ou o veículo único do Buda, que integra esses vários ensinamentos, é revelada apenas no Sutra de Lótus. Portanto, somente após esses ensinamentos “meios” serem propriamente identificados no contexto do Sutra de Lótus, pode-se dar a eles o significado de ensinamentos que expressam um aspecto parcial da verdade neles contida. Em outras palavras, o valor dos vários ensinamentos “meios” só ganha vida quando são vistos com base no Sutra de Lótus, o ensinamento do veículo único do Buda.

Ignorando o verdadeiro significado do Sutra de Lótus, os sacerdotes budistas das escolas existentes na época de Daishonin abraçaram formas incorretas da fé. Mas, no Sutra de Lótus, Sakyamuni esclarece a maneira correta da fé. Assim, nesse trecho de “A Prática dos Ensinos do Buda”, buscando ajudar as pessoas a perceber seu erro e estabelecer uma correta fé, Nitiren Daishonin diz que, para praticar os ensinamentos budistas, devemos “proteger as palavras douradas do Buda e não as opiniões dos outros” (cf. END, v. III, p. 150). Como exemplo de algumas dessas palavras douradas do Buda, Daishonin cita passagens do Sutra dos Infinitos Significados e de diversos capítulos do Sutra de Lótus (cf. END, v. III, p. 150).

A primeira passagem é a do Sutra dos Infinitos Significados — Sutra que serve de introdução ao Sutra de Lótus — e indica que se deve fazer uma distinção clara entre os ensinamentos provisórios (“meios”) e o verdadeiro ensinamento (a verdade): “[Pregando a Lei de diversas formas diferentes], fiz uso do poder de “meios”. Porém, nestes mais de quarenta anos, ainda não revelei a verdade” (LSOC, p. 15).12 A segunda passagem afirma que não se pode jamais esperar atingir a iluminação por meio dos ensinamentos provisórios dos Primeiros Dias que exigem incontáveis kalpa de prática: “No fim, vai fracassar em manifestar a insuperável iluminação” (LSOC, p. 20-21).

No Sutra de Lótus, entretanto, existem várias passagens indicando como Sakyamuni rejeita os ensinamentos dos “meios” e prega o verdadeiro ensinamento do veículo único do estado de Buda: “O Honrado pelo Mundo há muito tempo expôs suas doutrinas e agora deve revelar a verdade” (LSOC, cap. 2, p. 59 [LS, cap. 2, p. 26]).13 “[Nas terras do Buda das Dez Direções, há somente a Lei do veículo único], não há duas, não há três, exceto quando o Buda a prega como “meios” (LSOC, cap. 2, p. 69 [LS, cap. 2, p. 35]). “Sinceramente rejeitando os “meios” (LSOC, cap. 2, p. 79 [LS, cap. 2, p. 44-45]).

É também citada uma passagem enfatizando que os praticantes do ensinamento correto do Budismo devem acreditar somente no Sutra de Lótus: “Não aceite nenhum único verso dos outros sutras” (LSOC, cap. 3, p. 115 [LS, cap. 3, p. 79]).

E há ainda uma passagem que adverte sobre as calúnias contra o Sutra de Lótus: “Se uma pessoa não tem fé e, em vez de acreditar, calunia este sutra, imediatamente destruirá todas as sementes para se tornar um Buda neste mundo. (...) Quando sua vida chegar ao fim, entrará no inferno Aviti” (LSOC, cap. 3, p. 110 [LS, cap. 3, p. 74]).

E, por fim, citando que “Existe apenas a Lei do veículo único do Buda” (LSOC, cap. 2, p. 69 [LS, cap. 2, p. 35]), Daishonin observa que aqueles que têm essa firme convicção na fé praticam os ensinamentos do Buda.

É importante notar que essas citações não devem ser mal interpretadas no sentido de indicar uma fé intolerante. Nitiren Daishonin estava comprometido unicamente em aceitar a intenção do Buda, e pediu a seus discípulos, consequentemente, que estabelecessem a fé no veículo único do estado de Buda.

Os Últimos Dias da Lei são descritos como uma “era de conflitos e disputas, quando a Lei pura se torna obscurecida e se perde”.14 Em outras palavras, é um momento no qual as pessoas vivem na ignorância quanto ao verdadeiro ensinamento do veículo único do estado de Buda, quando o critério de integração de todos os ensinamentos budistas como um todo se perdeu e prevalece o conflito entre diferentes escolas budistas. É um cenário em que o Budismo em si corre perigo de destruição.

A segmentação do budismo japonês durante a época de Daishonin — como caracterizada pela referência às “oito ou dez escolas”15 — revela o perigo de declínio da Lei, como resultado de as pessoas perderem de vista o veículo único do Buda.

Para superar esse risco, Daishonin clamou ao povo para abraçar a fé no Sutra de Lótus. Pois este é o único sutra que expõe profundamente a suprema dignidade da vida e o respeito a todas as pessoas, tanto na teoria como na prática, abrindo assim o caminho para a iluminação de todas as pessoas.

Na época de Daishonin, o declínio da Lei também ameaçava diretamente a felicidade e o bem-estar das pessoas. Em seu estágio mais terrível, esse declínio poderia criar condições que trouxessem crises e guerra (por exemplo, as calamidades por lutas internas e a invasão estrangeira que Daishonin previu que ocorreriam), de forma que se destruiria a paz e a tranquilidade da terra e da sociedade.

É missão dos discípulos de Daishonin, que despertaram para o verdadeiro ensinamento do Sutra de Lótus, incentivar fortemente as pessoas com a fé inabalável no veículo único do Buda, a fim de superar esse risco para o bem da humanidade.

Qualquer pessoa que pratica o Budismo deve, primeiro, compreender os dois tipos de prática – Shoju e Chakubuku.16 Todos os sutras e tratados se enquadram em uma ou em outra dessas duas categorias de prática. Embora os estudiosos deste país tenham estudado profundamente o Budismo, eles não sabem qual prática está de acordo com o tempo. (...)

Os dois milênios dos Primeiros e Médios Dias da Lei exigiam a propagação dos ensinamentos Hinayana e dos ensinamentos Mahayana provisórios, mas os primeiros quinhentos anos dos chamados Últimos Dias da Lei pedem que somente o Sutra de Lótus, o puro e perfeito ensinamento do veículo único do estado de Buda, seja amplamente propagado (END, v. III, p. 151).

Os dois tipos de prática – Shoju e Chakubuku

Na parte anterior, Daishonin debate sobre a prática dos ensinamentos do Buda nos Últimos Dias da Lei em termos da fé. Agora, ele passa a discutir essa prática [dos ensinamentos do Buda] em termos de prática. Em outras palavras, o tema a partir deste ponto passa a ser qual deva ser a ação de alguém que pratica os ensinamentos do Buda nos Últimos Dias da Lei.

No parágrafo imediatamente anterior, Nitiren Daishonin questiona se aqueles que acreditam unicamente no Sutra de Lótus e realizam suas cinco práticas ou seguem as quatro práticas pacíficas17 descritas no 14º capítulo do Sutra de Lótus, “Práticas Pacíficas”, praticam de acordo com os ensinamentos do Buda (cf. END, v. III, p. 151).

As cinco práticas são ensinadas no 10º capítulo do Sutra de Lótus, “Mestre da Lei”, e consistem em abraçar, ler, recitar, expor e transcrever o Sutra de Lótus. Em contraste, Daishonin estabelece a prática única de abraçar os “cinco ideogramas do Myoho-rengue-kyo”18 (aceitar e manter o Gohonzon) como a prática fundamental do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei.

Além disso, o capítulo “Práticas Pacíficas” ensina a prática conhecida como Shoju como um meio pelo qual os que estão nos estágios iniciais da prática alcançam o fruto do estado de Buda, praticando o Sutra de Lótus sem incômodos ou dificuldades na era maléfica após a morte de Sakyamuni. É um método de se praticar com tranquilidade e calma e sem nunca depreciar os outros, como indicado pela passagem do Sutra: “Não se deve deleitar em falar das falhas das outras pessoas ou das escrituras” (LSOC, cap. 14, p. 240 [LS, cap. 14, p. 201]).

A questão retomada por Nitiren Daishonin expressa as dúvidas do povo a respeito da ênfase que dava ao Chakubuku — ou refutação rigorosa do erro no mundo do Budismo e esclarecimento sobre o ensinamento correto — como o método apropriado de prática para aqueles que defendem o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei. Essa foi uma questão levantada não apenas pelos seguidores de outras escolas budistas, mas também por seus próprios discípulos.

Em resposta, de início, Daishonin diz: “Qualquer pessoa que pratica o Budismo deve, primeiro, compreender os dois tipos de prática — Shoju e Chakubuku” (END, v. III, p. 151). Nesse contexto, Shoju mostra uma prática de devoção solitária e silenciosa. O Sutra de Lótus expõe a prática do Shoju, como se pode ver no capítulo “Práticas Pacíficas”, e a prática do Chakubuku — afirmar a verdade do supremo ensinamento para todas as pessoas —, que é encontrada no 20º capítulo do Sutra de Lótus, “Bodhisattva Jamais Desprezar”.

Fundamentalmente, os dois tipos de prática — Shoju e Chakubuku — são necessários dependendo do tempo. Quando a época pede a prática de Shoju, julgamos a situação com calma e praticamos o Shoju como necessário, e quando o tempo exige a prática de Chakubuku, manifestamos nossa coragem e praticamos o Chakubuku. Não se deve escolher um que seja correto para excluir o outro. É por isso que o Sutra de Lótus ensina ambas as práticas.

Assim, a estrita observância do Shoju que rejeita a prática de Chakubuku ou estrita prática de Chakubuku que rejeita o Shoju é contra o ensinamento original de que há duas formas de prática.

Nitiren Daishonin discorre longamente sobre Shoju e Chakubuku em “Abertura dos Olhos” e “Carta de Sado”, ambos escritos em 1272, um ano antes de redigir “A Prática dos Ensinos do Buda”.

No escrito “Abertura dos Olhos”, Daishonin afirma: “Nos Últimos Dias da Lei..., tanto o Shoju como o Chakubuku serão empregados” (WND, v. 1, p. 285). E explica essa questão: “Quando o país está cheio de pessoas más e sem sabedoria, então o Shoju é o principal método a ser aplicado. (...) Mas, no momento em que há muitas pessoas de pontos de vista perversos e contrários e que caluniam a Lei, então o Chakubuku deve vir primeiro” (Ibidem).

Na “Carta de Sado”, Daishonin declara: “O Budismo deve ser propagado por ambos os métodos de Shoju ou Chakubuku, dependendo da época” (WND, v. 1, p. 301).

Em outras palavras, Daishonin ressalta que o método é escolhido conforme o mais apropriado para determinado tempo. Nesse trecho de “A Prática dos Ensinos do Buda” que estamos estudando, ele se refere a isso como “a prática está de acordo com o tempo” (END, v. III, p. 152).

No entanto, os sacerdotes de várias escolas budistas da época de Nitiren Daishonin, apesar de estudarem profundamente o Budismo, não tinham conhecimento sobre isso. E, como resultado, tendiam ao Shoju — o principal método de propagação utilizado nos Primeiros e Médios Dias da Lei — e criticaram o ponto de vista de Daishonin sobre o Chakubuku, considerando essa prática uma antítese ao Budismo. Isso refletia a ignorância deplorável desses sacerdotes sobre os princípios básicos do Budismo.

Nessa carta, Nitiren Daishonin demonstra a importância do tempo, observando que, mesmo em empreendimentos como a agricultura, por exemplo, um claro reconhecimento do tempo ou da temporada é crucial. No mundo do Budismo, também, há momentos adequados para cada um dos ensinamentos Hinayana, Mahayana provisórios, ou Mahayana verdadeiro (Sutra de Lótus) ser divulgado em benefício da humanidade (END, v. III, p. 151).

O tempo, aqui, não significa simplesmente a passagem dos anos, mas, sim, períodos bem-definidos caracterizados por mudanças significativas na receptividade das pessoas com a Lei após a morte de Sakyamuni —, refere-se aos três períodos dos Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei.19 E é também um reconhecimento do tempo que leva em conta a condição espiritual do povo, o estado da sociedade e da nação, dos ensinamentos e das crenças que nela prevalecem, e assim por diante.

Nitiren Daishonin esclarece que os dois milênios dos Primeiros e Médios Dias da Lei marcaram a época para a propagação dos ensinamentos Hinayana e Mahayana provisórios (END, v. III, p. 151).

Durante esses dois períodos, havia muitas pessoas com capacidade de compreender os ensinamentos do Buda. Havia também aqueles que, cultivando ligações suficientemente profundas com o Sutra de Lótus em vidas passadas, foram capazes de alcançar o caminho da iluminação por meio dos ensinamentos Hinayana ou Mahayana provisórios. E como tendência generalizada, nos Primeiros e Médios Dias da Lei, o caráter e o comportamento de alguns indivíduos que alcançaram o caminho da iluminação influenciaram positivamente a sociedade.

Em contraste, Daishonin explica que os Últimos Dias da Lei são um período em que apenas “o Sutra de Lótus, o puro e perfeito ensinamento do veículo único do estado de Buda”, deve ser amplamente propagado.

A expressão “puro e perfeito” indica que esse ensinamento revela somente o puro e perfeito ensinamento para se atingir a iluminação, livre dos “meios”. “Veículo único” significa que este é o ensinamento da verdade suprema, ou o veículo único do Buda, como já explanado anteriormente.

Os Últimos Dias da Lei são um tempo em que o ensinamento correto do Budismo corre o risco de se perder, é uma época contaminada pelas cinco impurezas,20 repleta de influências negativas que confundem a mente das pessoas. Nesta época, nenhum ensinamento, a não ser o Sutra de Lótus que expõe o ensinamento do veículo único do Buda, possui o poder de salvar as pessoas e a própria época.

Esta também é uma era em que se agiganta a natureza demoníaca dos que caluniam a Lei e depreciam o veículo único do Buda. Nitiren Daishonin inscreveu o objeto de devoção, o Gohonzon, que representa claramente a suprema revelação da Lei (Nam-myoho-rengue-kyo) na qual devemos depositar nossa fé para atingir a iluminação. Ele estabeleceu, ainda, a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo como a prática assídua para possibilitar a continuidade da fé. Dessa forma, ele instituiu o Budismo da semeadura que ativa diretamente a natureza de Buda inata nas pessoas dos Últimos Dias da Lei. Além do mais, demonstrou por meio de suas próprias ações que a prática do Chakubuku é vital em termos de refutação da calúnia contra a Lei, e, como tal, constitui um aspecto fundamental do Budismo Nitiren.

Como previsto pelo Buda, agora é uma época de conflitos e disputas quando a Lei pura se torna obscurecida e se perde, e os ensinamentos provisórios e o verdadeiro são confundidos de forma irremediável e desesperadora.

Quando uma pessoa precisa enfrentar inimigos, é necessário dispor de uma espada, um bastão ou de arco e flechas. Quando não há inimigos, no entanto, essas armas não possuem qualquer utilidade. Nesta época, os ensinamentos provisórios se tornaram inimigos do verdadeiro ensinamento. Quando chega o momento certo da propagação do ensinamento do veículo único, os ensinamentos provisórios se tornam inimigos. Quando estes [ensinamentos provisórios] são fonte de confusão, devem ser completamente refutados a partir da perspectiva do verdadeiro ensinamento. Dos dois tipos de prática, esta é a do Chakubuku, a prática do Sutra de Lótus. Com boa razão, Tient’ai declarou: “O Sutra de Lótus é o ensinamento do Chakubuku, da refutação das doutrinas provisórias” (END, v. III, p. 151-152).

Nobre luta espiritual para refutar o provisório e revelar o verdadeiro

Nessa passagem, Nitiren Daishonin afirma que os Últimos Dias da Lei são uma “uma época de conflitos e disputas quando a Lei pura se torna obscurecida e se perde”. Discorri sobre essa designação dos Últimos Dias da Lei anteriormente.

Daishonin também se refere à desordem no mundo do budismo, nos Últimos Dias da Lei, como o momento da confusão entre os ensinamentos provisórios e o ensinamento verdadeiro (END, v. III, p. 151).

Quando analisados no contexto de sua verdadeira função dentro dos ensinamentos do Buda, os sutras provisórios foram expostos como “meios” para cultivar a capacidade de compreensão das pessoas e, finalmente, conduzi-las para o veículo único do Buda do Sutra de Lótus.

Na era impura dos Últimos Dias da Lei, entretanto, surgiram influentes escolas budistas que se baseavam em diferentes ensinamentos provisórios e proclamaram-nos como o ensinamento último do Buda. Algumas chegaram a caluniar abertamente o Sutra de Lótus e ficaram tão cegas pela ilusão que instruíam as pessoas a rejeitar a fé neste Sutra. Nesse sentido, Nitiren Daishonin afirma que esta é uma era em que os ensinamentos provisórios se tornaram “inimigos do verdadeiro ensinamento”, “inimigos do Sutra de Lótus” (END, v. III, p. 152).

Daishonin afirma que, neste tipo de época ou de terra, para conduzir todas as pessoas à iluminação por meio do Sutra de Lótus, é preciso combater vigorosamente as forças do mal que envolvem os ensinamentos provisórios com a natureza maligna da calúnia ao Sutra de Lótus. Essa é a essência do Chakubuku de Nitiren Daishonin.

Ele escreve: “[Os ensinamentos provisórios] devem ser completamente refutados a partir da perspectiva do verdadeiro ensinamento” (END, v. III, p. 152). Afirmar a supremacia dos ensinamentos provisórios (ensinamentos de verdades parciais) sobre o verdadeiro ensinamento (o veículo único do Buda que é intenção do Buda) é um grave erro no Budismo. O Chakubuku é, portanto, uma batalha filosófica para apontar tais erros do ponto de vista do ensinamento correto.

Na explanação da edição anterior, vimos que Nitiren Daishonin chama essa batalha filosófica de “batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro ensinamento” (cf. END, v. III, p. 148). É do começo ao fim uma “batalha de diálogo” e uma “batalha da razão”; é uma luta de como convencer as pessoas sobre a verdadeira intenção do Buda; é uma batalha de vitória ou derrota de como transmitir o espírito do Buda no coração das pessoas.

Aqui, Daishonin novamente cita as palavras do Grande Mestre Tient’ai, já mencionadas no início deste escrito: “O Sutra de Lótus é o ensinamento do Chakubuku, da refutação das doutrinas provisórias”.21 Para tornar possível às pessoas atingirem a iluminação, o Buda expôs o Sutra de Lótus, esclarecendo pessoalmente que seus ensinamentos anteriores eram apenas “meios” e refutando as doutrinas provisórias ensinadas neles. Essa luta movida por benevolência e pela razão é a essência do Chakubuku, a prática do Sutra de Lótus.

Além disso, à luz dos sutras, é evidente que ao apontar os erros das outras escolas budistas e propagar a Lei Mística, surge o ataque dos Três Obstáculos e das Quatro Maldades22 e se levantam os Três Poderosos Inimigos.23 Mesmo assim, não se deve ignorar a infelicidade das pessoas que se levanta diante dos olhos. E, mais ainda, não se deve fechar os olhos para o declínio e o desaparecimento do ensinamento correto do Buda.

Assim, de forma inevitável, Daishonin se levantou com ardente paixão e sinceridade na batalha pela felicidade das pessoas, norteada pelo espírito de não poupar a própria vida e de valorizar a Lei mais que o seu corpo. Este é o verdadeiro significado do espírito de Chakubuku de Nitiren Daishonin. Na verdade, o Chakubuku ensinado no Sutra de Lótus é uma prática repleta do espírito original do Budismo de se dedicar à iluminação de todas as pessoas. Essa era a firme convicção de Makiguti Sensei de que “rejeitar o mal e abraçar o bem são dois lados da mesma moeda”.24 A verdadeira tolerância está em jamais permitir que a violência e a opressão intimidem o respeito à dignidade da vida humana e a igualdade entre as pessoas; é combater a natureza maligna que causa sofrimento ao povo, acalentando a ideologia de respeito a todas as pessoas.

Se observarmos a expansão do ‘pensamento que justifica o uso da vida para determinado fim’ ou do ‘pensamento que divide e discrimina as pessoas’, então devemos denunciar e combater veementemente os ensinamentos errôneos que formam a base espiritual de tais pensamentos.

Essa é uma batalha contra a escuridão fundamental que mergulha a vida das pessoas em sofrimento e infelicidade. Essa é a essência da “batalha entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro ensinamento”, e o ponto fundamental do espírito de Chakubuku do Budismo Nitiren.

Em essência, isso significa acreditarmos firmemente na natureza de Buda de si próprio e de outras pessoas”; em outras palavras, é o respeito a todas as pessoas. O coração da prática de Chakubuku é o espírito de benevolência. Ao mesmo tempo, como envolve uma batalha resoluta contra a natureza maléfica ou a escuridão fundamental que ridicularizam a dignidade humana, a prática do Chakubuku constitui um espírito de refutação, de benevolência e coragem ao mesmo tempo.

A SGI é capaz de expandir o diálogo entre civilizações e entre religiões mundiais por levantar a bandeira do humanismo embasado no espírito de benevolência e refutação ao mesmo tempo. Por essa razão, é possível reunirmo-nos com religiões mundiais e filosofias que compartilham valores comuns de respeito ao ser humano e à dignidade de vida, a qual Makiguti Sensei denominou “competição humanística”, canalizada para a erradicação da miséria e do sofrimento da humanidade. Na verdade, é um requisito indispensável da religião no século 21 combater as funções maléficas que negam o respeito à dignidade humana.

A conduta respeitosa com os outros foi simbolizada pela ação do Bodhisattva Jamais Desprezar no Sutra de Lótus; um firme juramento que não se abala diante de qualquer oposição ou obstáculo; a disposição de levantar-se contra ações desumanas e a injustiça; a maravilhosa conquista da confiança em nosso ambiente e a comprovação que promove a compreensão da Lei Mística. Por meio desses esforços diários, como membros da SGI, estamos numa sublime batalha espiritual para refutar o provisório e revelar o verdadeiro. Declaro que tais esforços constituem a prática de Chakubuku nos tempos modernos.

As quatro práticas pacíficas25 [do capítulo “Práticas Pacíficas”] correspondem ao Shoju. Realizá-las nesta época seria tão insensato quanto semear no inverno e esperar colher na primavera. É natural que o galo cante ao amanhecer, mas é estranho se cantar ao anoitecer. Agora, quando o verdadeiro ensinamento e os ensinamentos provisórios são absolutamente confundidos, seria igualmente anormal alguém isolar-se nas florestas das montanhas e realizar a prática pacífica do Shoju sem refutar os inimigos do Sutra de Lótus. [Assim] a pessoa perderia a oportunidade de praticar o Sutra de Lótus (END, v. III, p. 152).

Cumprir a missão de perceber a intenção e o decreto do Buda

Nessa passagem, Daishonin faz uma refutação rigorosa dos sacerdotes das escolas budistas estabelecidas na época que aderiram à prática do Shoju. Numa época em que os ensinamentos provisórios e o verdadeiro ensinamento estavam em completa confusão, esses sacerdotes se isolaram nas florestas das montanhas, ganhando prestígio e autoridade por estarem distantes do mundo. Daishonin declara que o comportamento deles é tão estranho e anormal como um galo que canta ao anoitecer, em vez de cantar ao amanhecer.

Como mencionei antes, os Últimos Dias da Lei são um período no qual os en­si­namentos provisórios e o verdadeiro ensinamento são “absolutamente confundidos” (END, v. III, p. 151), nas palavras de Daishonin, como resultado do trabalho das funções da maldade.

Para tornar as coisas ainda piores, os sacerdotes da escola Tendai,26 uma escola que inicialmente defendia a supremacia do Sutra de Lótus, não conseguiram contestar ou refutar o erro nos domínios do Budismo, e, em vez disso, dedicaram-se a participar da prática do Shoju nas florestas das montanhas longe da sociedade.

Deixar de lutar pela verdade quando o tempo exige e ficar de braços cruzados quando um grave erro é cometido no mundo do Budismo equivale a ser cúmplice do mal. Isso porque, em última análise, se contribui para a destruição do Budismo em si.

Na época de Nitiren Daishonin, por causa do rigor e da intenção dos ensinamentos do Buda que se perderam e se encontravam em confusão, muitos sacerdotes se tornaram corruptos e degenerados. Eles foram preguiçosos e negligentes em sua prática budista, ficaram enfraquecidos espiritualmente e se preocupavam apenas com a proteção de seus próprios interesses. Isso fez que eles se aliassem a autoridades poderosas, iniciando um período de crescente autoritarismo entre as escolas budistas estabelecidas. Na raiz desse autoritarismo está o emprego exclusivo da prática do Shoju. Pelo fato de os ensinamentos budistas que sustentavam as crenças e os valores que formavam a base da sociedade estarem confusos e desorientados, somente a prática do Chakubuku, capaz de transformar o clima espiritual da sociedade, seria a prática dos ensinamentos do Buda a realizar a verdadeira intenção do Buda.

Hoje, a seita Nikken (sacerdotes da Nitiren Shoshu) está tão equivocada quanto as diversas escolas que, na época, perseguiram Daishonin.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Makiguti Sensei e Toda Sensei opuseram-se às exigências das autoridades militaristas japonesas e se levantaram pela causa da paz e da felicidade do povo, sem se intimidarem com as perseguições. O clero, com medo das autoridades, suspendeu a publicação do Gosho e adulterou certas passagens dos escritos de Daishonin, cometendo um delito imperdoável como discípulos de Nitiren Daishonin.

E não só isso, mas assim que Makiguti Sensei e Toda Sensei foram presos, embora estivessem praticando exatamente como Daishonin ensinou, eles se tornaram alvo de uma ação disciplinar pela qual foram proibidos de visitar o templo principal.

Após a guerra, foi a Soka Gakkai, e não o clero, quem se lançou ativamente na propagação da Lei Mística com o espírito de Chakubuku de refutar o provisório e esclarecer a verdade no mundo do Budismo, exatamente conforme orientado por Daishonin.

Mais recentemente, a seita Nikken conspirou para destruir a Soka Gakkai, organização dedicada ao Kossen-rufu, que é o nobre decreto do Buda. Quem está praticando de acordo com os ensinamentos de Buda, mantendo vivo o espírito de Chakubuku de Nitiren Daishonin e percorrendo o caminho correto da fé? A resposta é perfeitamente clara.

Para lutar pela causa da verdade, quando a época exigiu — tanto Makiguti Sensei como Toda Sensei trilharam esse caminho dos verdadeiros heróis. A SGI é uma comunidade harmoniosa de praticantes que se esforçam para realizar o Kossen-rufu de acordo com os ensinamentos do Buda.

Fazendo do espírito do Nitiren Daishonin o nosso, empenhamo-nos em concretizar nossa felicidade e a dos outros e em difundir os ideais humanistas e princípios do Budismo Nitiren pela causa da paz e da prosperidade de nosso país.

A SGI é uma organização que surgiu exatamente no tempo para a concretização do Kossen-rufu, dotada com a missão de rea­lizar o decreto e a intenção do Buda. Esse é o significado do surgimento da Soka Gakkai neste mundo.

Há algo verdadeiramente maravilhoso e insondável no fato de o Sr. Makiguti e o Sr. Toda, líderes budistas de qualidade extraordinária, terem aparecido no Japão numa época de guerra, quando o ensinamento correto do Budismo estava à beira da destruição.

Makiguti Sensei, bradando contra a ideo­lo­gia equivocada que havia mergulhado o país na guerra, articulou o conceito de punição, ou retribuição, com base no Gohonzon — denominada Lei de Causa e Efeito (Nam-myoho-rengue-kyo).

Toda Sensei levantou-se sozinho no deserto do Japão do pós-guerra e se lançou à propagação do Budismo Nitiren para libertar as pessoas da miséria, realizando o Chakubuku e dando ênfase ao conceito de benefício obtido pela devoção à Lei Mística.

E, como terceiro presidente, herdando o espírito dos dois mestres, lancei um movimento global em prol do Kossen-rufu em meio à turbulência do mundo do pós-guerra, enfatizando o conceito de comprovação da prova real com base no comportamento como ser humano, como ensinado no Budismo Nitiren.

Esta é também a sabedoria de criação de valores nascida da vontade de levantar-se para defender o ensinamento correto do Budismo e a felicidade das pessoas em harmonia com os princípios encontrados em “A Prática dos Ensinos do Buda”.

Eu me lembrarei eternamente das palavras de Toda Sensei dirigidas aos líderes Soka Gakkai: “Nos momentos cruciais, como líderes, é preciso ter a coragem de lutar contra a injustiça. Seria uma irresponsabilidade deixar de fazer dessa forma. Você não pode proteger nossos preciosos membros a menos que assim o faça. (...)Uma vez que se lançou na luta pelo Kossen-rufu, deve vencer infalivelmente. Iniciar uma batalha e ser derrotado é a maior vergonha como ser humano.

Por seguir fielmente essa orientação de meu mestre, venci todas as batalhas. Especialmente aos jovens, espero que possam herdar corajosamente esta causa para a vitória.

(Daibyakurengue, edição de fevereiro de 2010.)


Notas:

1. Em fevereiro de 1952, o presidente Ikeda, então secretário do Distrito Kamata em Tóquio, iniciou uma dinâmica campanha de propagação. Junto com os membros de Kamata, ele quebrou o recorde mensal, que até aquele momento era de cerca de cem novas famílias praticantes do Budismo Nitiren, atingindo 201 novas famílias.

2. Cf. IKEDA, Daisaku. A Youthful Diary: One Man’s Journey from the Beginning of Faith to Worldwide Leadership for Peace [Diário da Minha Juventude]. Santa Mônica, CA: World Tribune Press, 2000. p. 62.

3. Os ensinamentos do Buda são comparados a um veículo (em sânscrito, yana), que conduzem as pessoas à iluminação. De acordo com a capacidade das pessoas, os ensinamentos pré-Sutra de Lótus expõem e enfatizam os três veículos, ou seja, o veículo dos ouvintes, que conduzem ao estado de Arhat, o veículo daqueles que despertaram, e o veículo de bodhisattvas, que, depois de muitos kalpa de prática, conduz a um estado de Buda. O Sutra de Lótus ensina que esses três veículos não são fins em si mesmos, mas meios destinados a guiar as pessoas ao veículo único do Buda, que leva à consecução do estado de Buda.

4. Verdadeiro aspecto de todos os fenômenos se refere à realidade última ou verdade suprema que permeia todos os fenômenos e que não se separa deles. Por meio da explicação dos Dez Fatores da Vida, o segundo capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”, esclarece que todas as pessoas são inerentemente dotadas com o potencial para se tornar budas, e, na verdade, elas podem ativar e manifestar esse potencial.

5. Verdadeira causa e verdadeiro efeito: A verdadeira causa refere-se à prática que Sakyamuni realizou por incontáveis kalpa no passado, a fim de atingir a iluminação original no remoto passado, muito antes de sua iluminação na Índia. O verdadeiro efeito corresponde à iluminação original que Sakyamuni alcançou. Eles são revelados no 16º capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”.

6. Possessão Mútua dos Dez Mundos: Princípio de que cada um dos Dez Mundos possui o potencial para todos os outros dez dentro de si. “Possessão Mútua” significa que a vida não é fixa em um ou em outro dos Dez Mundos, mas pode se manifestar em qualquer um dos dez — do Inferno ao estado de Buda — a qualquer momento. O ponto importante desse princípio é que todos os seres em qualquer um dos nove mundos possuem a natureza de Buda. Isso indica que o estado de vida de uma pessoa pode mudar e que todos os seres vivos dos nove mundos possuem o potencial da iluminação, enquanto um buda também possui os nove mundos e, nesse sentido, não é separado ou diferente das pessoas comuns.

7. Três Mil Mundos num Único Momento da Vida: Doutrina desenvolvida por Tient’ai da China, com base no Sutra de Lótus. O princípio de que todos os fenômenos estão contidos num único momento da vida, e que um único momento da vida permeia os três mil domínios da existência, ou o mundo fenomenal inteiro.

8. “Acreditar e compreender por um momento o Sutra de Lótus” constituem o primeiro dos quatro estágios da prática para aqueles que abraçaram o Sutra durante a vida de Sakyamuni. Ele é descrito como ter benefícios ilimitados e imensuráveis no 17º capítulo do Sutra de Lótus, “Distinção de Benefício”.

9. “A purificação dos seis órgãos dos sentidos” refere-se aos seis órgãos dos sentidos da visão, audição, paladar, olfato, tato e mente se tornarem puros, fazendo o possível para apreender todas as coisas corretamente. O 19º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Benefícios do Mestre da Lei”, explica que aqueles que defendem e praticam o Sutra adquirem oitocentos benefícios da visão, do olfato e do tato, e 1.200 benefícios da audição, paladar e mente, e, por meio desses benefícios, os seis órgãos dos sentidos tornam-se refinados e puros.

10. A erradicação das ofensas está relacionada ao benefício da transformação do carma de cada um. Esse princípio é explicado no Sutra de Lótus pelo exemplo do Bodhisattva Jamais Desprezar no 20º capítulo, “Bodhisattva Jamais Desprezar”. O Sutra afirma que por meio de sua prática de reverenciar os outros e sofrer perseguições, ele foi capaz de eliminar todas as calúnias contra a Lei cometidas no passado.

11. Atingir a iluminação na presente forma significa manifestar o estado de Buda da forma que se é, agora, sem descartar o corpo de uma pessoa comum ou de ter de realizar práticas austeras para incontáveis kalpa. Esse princípio é frequentemente ilustrado pelo exemplo da filha do Rei Dragão que, de acordo com o 12º capítulo do Sutra de Lótus, “Devadatta”, atingiu o estado de Buda num único momento sem mudar sua forma de dragão, por meio do poder benéfico da Lei Mística.

12. The Lotus Sutra and Its Openingand Closing Sutras [O Sutra de Lótus e seus Sutras de Abertura e Encerramento]. Tradução de Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, 2009.

13. Nota dos editores da SGI Newsletter: Desde 2010, todas as citações do Sutra de Lótus são extraídas de The Lotus Sutra and Its Openingand Closing Sutras [O Sutra de Lótus e seus Sutras de Abertura e Encerramento]. Tradução de Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, 2009. Agora, as citações aparecerão da seguinte forma: LSOC, seguido pelo número do capítulo e da página. Por curto período, continuaremos incluindo entre parênteses o capítulo correspondente e número de página em The Lotus Sutra [Sutra de Lótus]. Tradução de Burton Watson. Nova York: Columbia University Press, 1993.

14. Essa descrição aparece originalmente no Sutra Grande Coleção. Durante os Últimos Dias da Lei, surgirão conflitos e disputas entre os discípulos dos ensinamentos do Buda, fazendo que a Lei pura fique obscurecida e se perca.

15. Essa passagem se refere às oito principais escolas budistas do Japão antes do período Kamakura (1185–1333). São elas: Tesouro da Análise do Dharma; Estabelecimento da Verdade; Preceitos; Características do Dharma; Três Tratados; Guirlanda de Flores; Tendai; e Verdadeira Palavra. Acrescentando as escolas Nembutsu (Terra Pura) e Zen, que surgiram no início do período Kamakura, têm-se as dez escolas, uma vez que elas sempre são relacionadas coletivamente nas obras budistas japonesas.

17. Quatro práticas pacíficas: Também quatro práticas fáceis, quatro práticas confortáveis, ou quatro maneiras pacíficas de prática. As práticas para os bodhisattvas na era maléfica após a morte do Buda Sakyamuni estão estabelecidas no 14º capítulo do Sutra de Lótus, “Práticas Pacíficas”. Embora as descrições dessas práticas no texto do Sutra sejam extensas, Tient’ai as categoriza como as quatro práticas pacíficas. São elas: (1) Prática pacífica do corpo, que significa evitar tentações e meditar em um lugar tranquilo e isolado; (2) Prática pacífica da boca, ou ensinar o Sutra de Lótus sem desprezar ou falar das falhas das outras pessoas ou escrituras; (3) Prática pacífica da mente, ou abandonar uma mente de invejas ou discórdias com relação aos outros Sutras ou com quem os pratica; e (4) Prática pacífica do juramento, que significa a promessa de salvar a todas pessoas por meio de uma grande benevolência. O 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”, que precede o 14º capítulo “Práticas Pacíficas”, estabelece uma prática de bodhisattva mais difícil na qual os bodhisattvas são obrigados a suportar todas as dificuldades e perseguições, propagar o Sutra sem poupar a vida. Quando contrastadas com esse tipo de prática, Tient’ai qualificou as quatro práticas pacíficas estabelecidas no 14º capítulo como passivas e menos difíceis e, portanto, seriam disciplinas para bodhisattvas ainda nos estágios iniciais da prática.

18. Myoho-rengue-kyo é escrito com cinco caracteres chineses, enquanto o Nam-myoho-rengue-kyo é escrito com sete (nam, ou namu, sendo composto por dois ideogramas). Nitiren Daishonin, no entanto, muitas vezes usa Myoho-rengue-kyo como sinônimo de Nam-myoho-rengue-kyo em seus escritos.

19. Três Períodos: Primeiros Dias, Médios Dias e Últimos Dias da Lei. São os três períodos consecutivos ou estágios após a morte do Buda. Durante os Primeiros Dias da Lei, o espírito do Budismo prevalecia e as pessoas podiam alcançar a iluminação por meio de sua prática. Durante os Médios Dias da Lei, apesar de o Budismo torna-se firmemente estabelecido na sociedade, ele está cada vez mais formal, e menos pessoas se beneficiam dele. Nos Últimos Dias da Lei, as pessoas são influenciadas pelos três venenos da ira, avareza e estupidez, e perdem sua aspiração à iluminação; e o próprio Budismo perde o poder de levá-los ao estado de Buda.

20. Cinco impurezas: Também, cinco contaminações. Impureza da época, do desejo, dos seres vivos, do pensamento (ou da visão) e da própria vida. Esse termo aparece no segundo capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”. (1) A impureza da época inclui as rupturas no ambiente social ou natural. (2) A impureza do desejo é a tendência para ser governado por cinco inclinações ilusórias, ou seja, avareza, ira, estupidez, arrogância e a dúvida. (3) A impureza dos seres vivos é o declínio físico e espiritual dos seres humanos. (4) A impureza do pensamento, ou impureza da visão, é a prevalência de visões errôneas, como os cinco pontos de vista falsos. (5) A impureza da vida é o encurtamento do tempo de vida dos seres vivos.21. The Profound Meaning of the Lotus Sutra [O Profundo Significado do Sutra de Lótus] de Tient’ai.

22. Três Obstáculos e Quatro Maldades: Vários obstáculos e adversidades que impedem a prática budista. Os três obstáculos são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da retribuição. As quatro maldades são: (1) impedimento dos desejos mundanos; (2) impedimento dos cinco componentes; (3) impedimento morte; e (4) impedimento pelo Rei Demônio.

23. Três Poderosos Inimigos: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica após a morte do Buda Sakyamuni, descrito em uma seção do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo (711–782), da China, os resume como pessoas leigas arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes.

24. Traduzido do japonês. MAKIGUTI, Tsunessaburo. Zen’aku-kan to Daisho-kan to no Konmei [A Confusão das Visões do Bem e do Mal, Grandes e Pequenas]. In: Makiguti Tsunessaburo Zenshu [Obras Completas de Tsunessaburo Makiguti]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 9, p. 97, 1988.

25. Ver nota 2.

26. Escola Tendai: Termo japonês que designa Escola Tient’ai do Budismo, fundada no início do século 9 pelo sacerdote japonês Dengyo (767–822), também conhecido como Saicho. No entanto, por causa de uma atitude permissiva com os ensinamentos errôneos de outras escolas, incluindo a Verdadeira Palavra, Terra Pura (Nembutsu) e Zen, na época de Nitiren Daishonin, a Escola Tendai perdeu a postura de se basear estritamente no Sutra de Lótus.


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Grandes dificuldades são a prova da propagação do ensinamento correto para atingir a iluminação nos Últimos Dias da Lei

[9] "A Prática dos Ensinos do Buda" (END, v. III, p. 147-154) - Parte final

Terceira Civilização, Edição 531, 10/11/2012 / Estudo

Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda

Trechos da carta

“A Prática dos Ensinos do Buda”

Agora, nos Últimos Dias da Lei, quem está praticando o Chakubuku em estrita conformidade com o Sutra de Lótus? Suponha que alguém, não importa quem, proclame sonoramente que o Sutra de Lótus por si só tem o poder de conduzir as pessoas à iluminação, e que todos os outros sutras, longe de capacitá-las a alcançar este caminho, apenas as levam ao inferno. Observe o que acontecerá com essa pessoa justamente quando ela tentar refutar os mestres e suas doutrinas de outras escolas [que se baseiam nestes ensinamentos provisórios]. Os Três Poderosos Inimigos surgirão sem falta.

Nosso mestre, o Buda Sakyamuni, praticou o Chakubuku durante os últimos oito anos de sua vida; o Grande Mestre Tient’ai o fez por mais de trinta anos; e o Grande Mestre Dengyo por mais de vinte anos. E eu tenho refutado as doutrinas provisórias há mais de vinte anos, e as grandes perseguições que sofri nesse período vão além do que se possa contar. Não sei se elas são iguais às nove grandes perseguições sofridas pelo Buda, mas certamente nem Tient’ai nem Dengyo enfrentaram perseguições tão grandes quanto as que enfrentei por causa do Sutra de Lótus. Eles encontraram apenas ódio, inveja, calúnia e difamação, enquanto eu, por duas vezes, suportei a ira dos governantes e fui exilado em remotas províncias. Além disso, quase fui decapitado em Tatsunokuti, fui ferido na testa [em Komatsubara], e, por diversas vezes, fui caluniado. Meus discípulos também foram exilados e jogados na prisão, e meus fiéis leigos foram despejados e tiveram seus feudos confiscados.

Como podem as perseguições enfrentadas por Nagarjuna, Tient’ai ou Dengyo se compararem a estas? Compreende-se, portanto, que o devoto que pratica o Sutra de Lótus exatamente como o Buda ensina sem falta será atacado pelos Três Poderosos Inimigos.

Nos mais de dois mil anos que se passaram desde o advento do Buda, Sakyamuni, Grande Mestre Tient’ai e Grande Mestre Dengyo foram os únicos três devotos a praticar os ensinamentos do Buda. Agora, nos Últimos Dias da Lei, Nitiren e seus discípulos são os únicos a praticar os ensinamentos do Buda. Se não podemos ser chamados seguidores praticantes dos ensinamentos do Buda, então os três, Sakyamuni, Grande Mestre Tient’ai e Grande Mestre Dengyo, também não podem.

***

A vida passa num piscar de olhos. Não importa quão terríveis inimigos venha a encontrar, elimine os medos e jamais pense em retroceder. Mesmo que alguém esteja prestes a cortar nossa cabeça com uma serra, que fure nosso corpo com lanças, algeme nossos pés e os espete com uma verruma, enquanto vivermos, devemos recitar Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo. Então, se orarmos até o momento da morte, Sakyamuni, Muitos Tesouros e os Budas das Dez Direções virão até nós instantaneamente, exatamente como prometeram durante a cerimônia no Pico da Águia. Tomando nossas mãos e carregando-nos sobre os ombros, eles nos levarão até o Pico da Águia. Os dois sábios, os dois reis celestiais e as dez filhas-demônio nos protegerão, enquanto os deuses celestiais e as divindades benevolentes erguerão o dossel sobre nossa cabeça e desfraldarão bandeiras bem alto. Eles nos escoltarão sob sua proteção até a Terra da Luz Eternamente Tranquila. Como descrever tamanha alegria? (END, v. III, p. 152-154)

Explanação

“A Soka Gakkai é a monarca do mundo religioso!” — declarou Toda Sensei, dirigindo-se a seis mil jovens que se reuniram com excelente disposição no histórico encontro em 16 de março de 1958. Seu poderoso brado ainda ressoa em meu coração desde aquele dia. Era a expressão da imponente convicção do nosso mestre, que passou por um profundo despertar espiritual para a essência da Lei Mística quando estava na prisão e travava uma abnegada luta pela realização do Kossen-rufu de acordo com o decreto de Nitiren Daishonin. Era a proclamação da vitória de um campeão da fé, que doou a vida para praticar os ensinamentos do Buda — um grandioso líder que se lançou numa batalha pelo Kossen-rufu, levantando-se só em meio à devastação do Japão pós-guerra e superou inúmeros obstáculos. E, acima de tudo, era o rugido do leão imbuído do espírito invencível da Soka Gakkai — um brado apaixonado que duraria para sempre.

Nós, os jovens reunidos naquela ocasião, ficamos profundamente inspirados por sua triunfante declaração. Suas palavras nos trouxeram de volta à nobre missão que cada um possuía, e estremecemos de alegria e emoção por praticar o Budismo Nitiren. Foi realmente uma cerimônia em que o bastão do Kossen-rufu foi transferido do mestre para os discípulos — cada um de nós herdou a grande confiança de Toda Sensei no correto ensinamento e também a nobreza da nossa causa.

Isso foi há 52 anos. Ao longo de muitas décadas, repetindo a declaração do meu mestre, proclamei a grandeza do Toda Sensei por todos os cantos e propaguei a Lei Mística em todo o Japão e no mundo inteiro, com o sentimento de unir a voz do discípulo à do mestre, para juntos criarmos o poderoso “rugido do leão” (cf. OTT, p. 111). Tenho feito isso com a inabalável convicção de que somos os campeões do pensamento e da filosofia, os campeões da paz, cultura e educação, e os monarcas de um novo humanismo.

E chegou o tempo para a atual geração de jovens herdar o bastão espiritual da Soka Gakkai. É a hora de vocês, meus jovens amigos, assumirem a total responsabilidade pelo Kossen-rufu e seu contínuo desenvolvimento pelo eterno futuro dos Últimos Dias da Lei. É sua missão criar uma rede de solidariedade de paz e humanismo em todo o mundo. As pessoas em todos os lugares aguardam por seus esforços. É hora de tomarem o seu lugar no palco principal do nosso movimento, com as maravilhosas vitórias que já alcançaram até agora.

Na verdade, uma das razões que escolhi para explanar “A Prática dos Ensinos do Buda” nesta ocasião é porque quero confiar o futuro do nosso movimento aos jovens.

Aqui, vamos estudar a parte final do escrito, que é repleta da solene esperança de Daishonin pelo surgimento de discípulos que praticarão os ensinamentos do Buda com o mesmo espírito dele.

Agora, nos Últimos Dias da Lei, quem está praticando o Chakubuku em estrita conformidade com o Sutra de Lótus? Suponha que alguém, não importa quem, proclame sonoramente que o Sutra de Lótus por si só tem o poder de conduzir as pessoas à iluminação, e que todos os outros sutras, longe de capacitá-las a alcançar este caminho, apenas as levam ao inferno. Observe o que acontecerá com essa pessoa justamente quando ela tentar refutar os mestres e suas doutrinas de outras escolas [que se baseiam nestes ensinamentos provisórios]. Os Três Poderosos Inimigos1 surgirão sem falta (END, v. III, p. 153).

O surgimento dos Três Poderosos Inimigos é inevitável na propagação do ensinamento correto

Antes desse trecho, Nitiren Daishonin explicou o caminho de fé e da prática para aqueles que desejam praticar corretamente os ensinamentos do Buda nos Últimos Dias da Lei. Ele esclareceu que o caminho de acreditar verdadeiramente na intenção do Buda é acreditar somente no Sutra de Lótus — o veículo único do Buda que permite a todas as pessoas atingir a iluminação. Ele também explicou que a prática adequada aos Últimos Dias da Lei é a do Chakubuku como ensinado no Sutra de Lotus, ou seja, a prática de refutar de forma ferrenha as forças que caluniam o Sutra de Lótus e tentam impedir a felicidade das pessoas.

Depois de ter reafirmado esses pontos essenciais, Daishonin se propõe a identificar os devotos que praticam os ensinamentos do Buda com uma correta fé e de forma adequada a essa época maligna.

Primeiro, ele pergunta: “Agora, nos Últimos Dias da Lei, quem está praticando o Chakubuku em estrita conformidade com o Sutra de Lótus?” (END, v. III, p. 153) “Agora, nos Últimos Dias da Lei” indica o tempo em que “os ensinamentos provisórios e o verdadeiro ensinamento são totalmente confundidos” (END, v. III, p. 151), como mencionado na passagem anterior.

A menos que essa confusão [entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro ensinamento] seja desfeita, ela dará origem a uma era em que “os conflitos e as disputas prevalecem, e a Lei pura se torna obscurecida e se perde”.2 É por isso que a prática do Chakubuku ou da refutação do errôneo no mundo do Budismo é crucial. É necessário esclarecer que somente o Sutra de Lótus (o verdadeiro ensinamento) pode conduzir todas as pessoas à iluminação, e não só os outros sutras (os ensinamentos provisórios) falham quanto a isso, mas, em última análise, levam as pessoas a um estado de inferno interior ou de sofrimento.

Os ensinamentos pré-Sutra de Lótus, embora elucidem diversos caminhos virtuosos, não fornecem a forma pela qual as pessoas podem alcançar a iluminação. Isso porque eles não elucidam os importantíssimos princípios filosóficos da Possessão Mútua dos Dez Mundos3 e nem dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida.4

Entretanto, se as pessoas que são conduzidas por esses ensinamentos pré-Sutra de Lótus despertarem para a Lei Mística da Possessão Mútua dos Dez Mundos e dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida, é possível que, como resultado, atinjam o caminho da iluminação.

Mas, durante a época de Daishonin, que marcou o início dos Últimos Dias da Lei, uma grande variedade de escolas budistas começou a proliferar, com cada qual afirmando que os diferentes ensinamentos em que se baseavam eram, respectivamente, o ensinamento final do Buda. Consequentemente, muito longe de orientar as pessoas para a compreensão do verdadeiro ensinamento do Sutra de Lótus, essas escolas propunham doutrinas que caluniavam o Sutra.

Como Nitiren Daishonin observou, existia completa confusão entre os ensinamentos provisórios e o verdadeiro ensinamento. Em tal situação, portanto, era preciso refutar os sutras provisórios, esclarecendo que eles não conduzem à iluminação e que apenas o Sutra de Lótus o faz.

Daishonin diz que, se alguém — não importa quem — realiza a prática do Chakubuku, refutando o errôneo no mundo do Budismo, é certo que os Três Poderosos Inimigos surgirão. A prática do Chakubuku, como ensinada no Sutra de Lótus, indica o tipo de refutação que acabo de descrever, que é baseada no ensinamento correto para alcançar a iluminação e não é, de modo algum, motivada pela intolerância ou pela presunção.

Como também confirmamos na edição anterior, a prática do Chakubuku no Budismo Nitiren é baseada num profundo juramento com o ensinamento correto e num sentimento de benevolência para ajudar a guiar as pessoas à felicidade absoluta.

O espírito de refutar o errôneo no mundo do budismo, valorizando a Lei mais que a própria vida, significa combater corajosamente o funcionamento da natureza demoníaca inerente à vida daqueles que caluniam o ensinamento correto e tentam mergulhar as pessoas na miséria. Quando nossas ações são dotadas de um espírito benevolente e altruísta, somos capazes de ultrapassar a barreira das maldades.

Por praticar o Chakubuku, a forma correta de prática nos Últimos Dias da Lei ensinada no Sutra de Lótus — protegendo a Lei e libertando as pessoas do sofrimento —, é inevitável que surjam oposição e resistência de forças arrogantes. A menos que entenda esse princípio, não compreenderá a verdadeira natureza dos grandes obstáculos que recaem sobre os devotos do Sutra de Lótus.

Últimos Dias da Lei: a época da batalha contra os Três Poderosos Inimigos

Para esclarecer esse ponto, gostaria de discorrer novamente sobre o conceito dos Três Poderosos Inimigos.

Em relação aos Últimos Dias da Lei, no início do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”, encontramos: “Os seres que nascem nesta era maléfica serão cada vez menos humanos. Muitos serão arrogantes e gananciosos por facilidades e por outras formas de levar vantagem, aprofundarão laços com o que não é bom e se distanciarão, mais que nunca, da liberdade [isto é, de libertar-se da ilusão e do sofrimento]” (LSOC, cap. 13, p. 229 [LS, cap. 13, p. 190]).5

É evidente que se alguém tentar pregar o ensinamento correto do Sutra de Lótus em meio à poderosa influência de uma multidão de arrogantes, certamente encontrará oposição. No capítulo “Devoção Encorajadora”, os bodhisattvas reunidos na Assembleia do Sutra de Lótus juram propagar esse Sutra no mundo saha,6 na era maléfica após a morte do Buda, não importando que obstáculos intimidantes venham a enfrentar.

O verso final deste capítulo7 descreve os juramentos que esses bodhisattvas fazem e a natureza dos obstáculos e das perseguições que os esperam. E, no decorrer dessa passagem, os três tipos de pessoas que perseguirão os praticantes do Sutra de Lótus são identificados. Estes são os Três Poderosos Inimigos [que Miao-lo resumiu como pessoas leigas arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes].

Segundo a descrição do Sutra, os leigos arrogantes são caracterizados por sua “ignorância”; os sacerdotes arrogantes por sua “sabedoria perversa e coração de bajulador, de pervertido e desonesto”, e os falsos sábios arrogantes são caracterizados por uma tendência de “desprezar e olhar toda a humanidade com ares de superioridade”, “são ávidos por lucro fácil e por serem sustentados”, e “carregam o mal no coração” (cf. LSOC, cap. 13, p. 232 [LS, cap. 13, p. 193-194]).

Esse sentimento de arrogância caracterizado por “ignorância”, “perversidade” e “coração malévolo” nasce da escuridão inerente à vida. Essa escuridão nada mais é que a “ignorância” fundamentalmente inerente no interior da vida e é a fonte dos desejos mundanos e de outros impulsos da ilusão, levando as pessoas à infelicidade e à miséria. A forma mais fundamental dessa escuridão é a ignorância [ou desconhecimento] sobre a verdade que todas as coisas e todos os fenômenos são entidades da Lei Mística e, é conhecida como “escuridão fundamental da vida”.

Essa escuridão, ou ignorância, fundamental faz com que a pessoa não consiga manifestar a fé e a compreensão do ensinamento correto, criando tendências para rejeitá-lo ou até mesmo para destruí-lo. Eis por que esta escuridão é tão terrível e amedrontadora.

A escuridão fundamental inerente à vida humana dá origem à pior função da maldade, a qual o Budismo se refere como o Rei Demônio do Sexto Céu.8 Aqueles que se opõem e atacam o devoto do Sutra de Lótus são governados por essa função insidiosa e negativa.

Em outro escrito, intitulado “Carta à Missawa”, Daishonin explica que, quando uma pessoa comum nos Últimos Dias da Lei pratica o ensinamento correto com o objetivo de atingir a iluminação, o Rei Demônio do Sexto Céu desencadeia várias funções na tentativa de sabotar os esforços dessa pessoa.

Em outras palavras, se alguém alcança a iluminação, levará muitas outras pessoas a se tornar Buda também, até que finalmente, como resultado, este mundo saha será transformado numa terra pura.

E pelo fato de o Rei Demônio, que governa o mundo saha, ter receio de perder o seu domínio, ele ordena que seus servos obstruam a prática budista do devoto do Sutra de Lótus. Se falharem, ele introduzirá esses servos nos corpos dos próprios discípulos ou das pessoas da sociedade, e planejará um esquema para deter o devoto, fazendo-lhe advertências ou ameaças. E caso isso também falhe, então o Rei Demônio agirá para possuir a mente e o corpo do governante do país e se usará da intimidação para impedir que o devoto atinja o estado de Buda (cf. WND, v. I, p. 894-895).9

Ao explanar sobre os Três Obstáculos (obstáculos dos desejos mundanos, ou obstáculos causados pelos três venenos da avareza, ira e estupidez; obstáculos do carma, ou obstáculos gerados pelo mau carma criado por cometer qualquer um dos cinco pecados fundamentais ou dez maus atos; e obstáculos da retribuição, ou obstáculos das causas negativas criadas por ações dos três maus caminhos — Inferno, Fome e Animalidade) e as Quatro Maldades (impedimento dos cinco componentes, ou obstruções causadas pelas funções físicas e mentais da pessoa; impedimentos dos desejos seculares, do cotidiano, ou obstruções originadas dos três venenos, criando dúvida no Gohonzon; impedimentos da morte, ou obstrução à prática causada pelo medo que a morte vincula; e impedimentos do Rei Demônio do Sexto Céu), que afligem os praticantes do Budismo, o presidente Toda costumava dizer: “Você pode ser capaz de triunfar sobre os Três Obstáculos e sobre as três primeiras das Quatro Maldades, que incluem até mesmo a morte, mas a última delas — a maldade do Rei Demônio — é realmente terrível e amedrontadora.

Como vimos também em outros escritos de Nitiren Daishonin,10 o Rei Demônio manipula a mente dos arrogantes leigos e dos sacerdotes arrogantes e possui o corpo dos falsos sábios arrogantes que, por sua vez, influenciam as autoridades governantes para que estas hostilizem e persigam o devoto do Sutra de Lótus.

Em outra ocasião, Daishonin disse: “A simples palavra ‘fé’ é uma espada afiada que confronta e supera a escuridão fundamental ou a ignorância” (OTT, p. 119-120).

Toda Sensei também enfatizava frequentemente: “A espada afiada da fé é o único meio para derrotar o Rei Demônio do Sexto Céu”. Quando derrotamos a escuridão fundamental ou a ignorância por meio da fé na Lei Mística, a natureza fundamental da iluminação, ou natureza do Dharma,11 com a qual nossa vida é intrinsecamente dotada, desabrochará. A natureza do Dharma é a verdade última de todos os fenômenos para a qual o Buda despertou.

Atingir a iluminação, em certo sentido, significa vencer essa luta entre a escuridão e a iluminação. Por meio da prática do Chakubuku, aqueles que propagam o Sutra de Lótus evidenciam a natureza fundamental da iluminação em sua própria vida e ajudam os outros a fazer o mesmo.

O Sutra de Lótus é o ensinamento que ativa a natureza de Buda

Analisando novamente o assunto da perspectiva da escuridão e da iluminação, a razão pela qual Daishonin refuta veementemente os sutras provisórios, declarando-os ineficazes para conduzir as pessoas ao caminho da iluminação, é que suas doutrinas só aumentam a escuridão ou ignorância de quem abraça a fé neles.

Essencialmente, a causa e o efeito da iluminação se baseia no princípio da Possessão Mútua dos Dez Mundos, revelado no Sutra de Lótus. Mas, nos ensinamentos provisórios, os nove mundos e o estado de Buda são ensinados completamente separados um do outro. De certo ponto de vista, o pensamento de rejeitar os nove mundos e aspirar ao mundo do estado de Buda parece ser mais natural e de fácil compreensão para os mortais comuns.

Na verdade, é preciso abandonar esses ensinamentos “expostos de acordo com a mente das pessoas”, apenas como um meio mais conveniente, e aceitar a verdade dos ensinamentos “expostos de acordo com a mente do Buda”.

Esse ensinamento, naturalmente, é o Sutra de Lótus, que elucida a verdadeira causalidade para alcançar o estado de Buda. E se as pessoas abraçarem os ensinamentos provisórios e rejeitarem o Sutra de Lótus, elas seguirão por um caminho errado, o que apenas fará aumentar a escuridão ou a ignorância que permeiam a vida.

A escuridão ou a ignorância provocam o surgimento do apego aos ensinamentos dos sutras provisórios. A natureza parcial ou incompleta desses ensinamentos produz, por sua vez, uma escuridão ainda maior. Esse ciclo de escuridão cada vez mais profunda levou Daishonin a concluir que os sutras provisórios “apenas conduzem as pessoas ao inferno” (cf. END, v. III, p. 152).

O Sutra de Lótus, ao contrário, é um ensinamento que expressa de forma direta a verdadeira intenção do Buda, revelando a essência última de se alcançar a iluminação, com base na Possessão Mútua dos Dez Mundos. Dos muitos ensinamentos do Buda, o Sutra de Lótus é o único que tem o poder de ativar a natureza de Buda de todas as pessoas. Por essa razão, Daishonin afirma: “O Sutra de Lótus por si só tem o poder de conduzir as pessoas ao estado de Buda” (END, v. III, p. 152).

Para conduzir todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei à iluminação, é necessário refutar os sutras provisórios, que aumentam a escuridão ou ignorância, e é preciso propagar o Sutra de Lótus, que ativa a natureza fundamental da iluminação ou do Dharma inerente à vida das pessoas. Isso significa, entretanto, que a oposição do Rei Demônio àqueles que praticam o Sutra de Lótus se intensificará, e os Três Poderosos Inimigos certamente surgirão. Por isso, Nitiren Daishonin disse: “Os Três Poderosos Inimigos surgirão sem falta” (END, v. III, p. 152).

Nosso mestre, o Buda Sakyamuni, praticou o Chakubuku durante os últimos oito anos de sua vida; o Grande Mestre Tient’ai12 o fez por mais de trinta anos; e o Grande Mestre Dengyo13 por mais de vinte anos. E eu tenho refutado as doutrinas provisórias há mais de vinte anos, e as grandes perseguições que sofri nesse período vão além do que se possa contar. Não sei se elas são iguais às nove grandes perseguições14 sofridas pelo Buda, mas certamente nem Tient’ai nem Dengyo enfrentaram perseguições tão grandes quanto as que enfrentei por causa do Sutra de Lótus. Eles encontraram apenas ódio, inveja, calúnia e difamação, enquanto eu, por duas vezes, suportei a ira dos governantes e fui exilado em remotas províncias. Além disso, quase fui decapitado em Tatsunokuti,15 fui ferido na testa [em Komatsubara],16 e, por diversas vezes, fui caluniado. Meus discípulos também foram exilados e jogados na prisão, e meus fiéis leigos foram despejados e tiveram seus feudos confiscados.

Como podem as perseguições enfrentadas por Nagarjuna,17 Tient’ai ou Dengyo se compararem a estas? Compreende-se, portanto, que o devoto que pratica o Sutra de Lótus exatamente como o Buda ensina sem falta será atacado pelos Três Poderosos Inimigos. (END, v. III, p. 152-153).

Lutar com profunda benevolência em meio aos grandes obstáculos

Nesse trecho, Daishonin observa os tipos de perseguições que se abateram sobre Sakyamuni e os devotos do Sutra de Lótus das épocas posteriores, como os Grandes Mestres Tient’ai e Dengyo. Todos os três encontraram feroz oposição por propagar o ensinamento correto do Sutra de Lótus e por refutar os ensinamentos provisórios.

As nove grandes perseguições ou provações enfrentadas por Sakyamuni são bem conhecidas. Mas, quando se trata das perseguições enfrentadas por Tient’ai e Dengyo, diz Daishonin, essas efetivamente só tomaram a forma de “ódio, inveja, calúnia e difamação” (END, v. III, p. 153), e não eram de mesma magnitude das perseguições sofridas por ele próprio.

Nitiren Daishonin sofreu uma série de perseguições com risco de perder a vida, como duas sentenças de envio ao exílio por parte do governo; tentativa de execução em Tatsunokuti; e a perseguição de Komatsubara, durante a qual ele sofreu um ferimento na testa e teve a mão esquerda quebrada. Ele também escreve que alguns de seus discípulos sofreram perseguições, como exílio, prisão, confisco de terras ou despejo.

Daishonin provavelmente faz uma comparação entre as perseguições que ele sofreu e as de Tient’ai e Dengyo de modo a reforçar o fato de que existe estreita relação entre a profundidade dos ensinamentos propagados e a gravidade da resistência que surge.

No escrito “Tratamento da Doença”, ele explana sobre os Três Obstáculos e as Quatro Maldades, que invariavelmente surgem para prejudicar os praticantes do Sutra de Lótus, e declara: “Agora, todos e cada um [deles] se ergueram para me confrontar. Eles são ainda mais poderosos que os Três Obstáculos e as Quatro Maldades que Tient’ai, Dengyo e outros [que praticaram o Sutra de Lótus em épocas passadas] tiveram de enfrentar” (WND, v. 1, p. 1114).

E com relação à diferença na profundidade dos ensinamentos e o tipo de perseguições que os praticantes se deparam, ele afirma: “Há duas maneiras de perceber os Três Mil Mundos num Único Momento da Vida. Uma delas é teórica, e a outra, real. O que Tient’ai e Dengyo praticaram era a forma teórica, mas a que eu pratico agora é a real. Como o que pratico é superior, as dificuldades presentes são muito maiores” (WND, v. 1, p. 1114-1115).

O ensinamento real (ou ensinamento prático) dos “Três Mil Mundos num Único Momento da Vida”18 representa a grande Lei do Budismo da semeadura que ativa diretamente a natureza fundamental da iluminação ou natureza do Dharma. Essa Lei é o Nam-myoho-rengue-kyo, que é a chave para a realização imediata da iluminação.19 Ele tem o poder de romper a escuridão e despertar a natureza de Buda em todas as pessoas. E, ao mesmo tempo, tem o poder de fazer as pessoas questionarem suas próprias premissas e duvidar de suas crenças equivocadas, para que possam despertar e abraçar o ensinamento correto,20 para assim dissipar a escuridão fundamental inerente à vida e atrair os Três Obstáculos e as Quatro Maldades — especialmente o Rei Demônio do Sexto Céu.

Dessa forma, pelo fato de Daishonin, o devoto do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei, propagar a Lei da semeadura (Nam-myoho-rengue-kyo), que é a causa fundamental para alcançar a iluminação, ele encontra perseguições muito mais intensas que as enfrentadas por Tient’ai e Dengyo durante os Médios Dias da Lei. O ponto crucial é que a superação das adversidades no curso da propagação do ensinamento correto é o que define uma pessoa como genuíno devoto do Sutra de Lótus. Pois, é triunfando sobre os obstáculos amedrontadores que se pode provar o poder da Lei.

Mesmo em meio às grandes perseguições, Nitiren Daishonin demonstra um estado de vida invencível, repleto da “alegria sem limites da Lei”.21 Por exemplo, durante o Exílio em Izu,22 ele declara: “Sinto imensa alegria” (END, v. 1, p. 101), e “Para alguém nascido humano, que maior alegria poderia haver?” (END, v. 1, p. 106)

E, na época do Exílio em Sado,23 ele afirma: “Eu, Nitiren, sou o homem mais afortunado de todo o Japão na era atual” (END, v. 4, p. 164). Daishonin venceu completamente cada batalha. Falando de sua maior adversidade, a Perseguição de Tatsunokuti, ele revela: “Sobrevivi à Perseguição de Ta­tsunokuti.24 (...) Até agora, o Rei Demônio deve estar totalmente desencorajado” (GZ, p. 843).25 Essas palavras revelam o triunfante estado de vida Nitiren Daishonin por ter superado todas as adversidades e derrotado o Rei Demônio do Sexto Céu.

Toda Sensei muitas vezes comentou sobre isso: “Enquanto atravessava todos os tipos imagináveis de perseguições, Daishonin travou uma luta de profunda benevolência pela iluminação de todas as pessoas. Ele triunfou sobre cada ataque. Essa é a prova indiscutível de que ele é o Buda dos Últimos Dias da Lei”.

O Budismo é uma luta para ser vitorioso. É por derrotar os Três Obstáculos e as Quatro Maldades e os Três Poderosos Inimigos que se prova ser genuíno devoto do Sutra de Lótus.

Em “Abertura dos Olhos”, Nitiren Daishonin escreve: “Considerando minha capacidade de enfrentar perseguições e minha enorme benevolência, creio que eles [Tient’ai e Dengyo] se surpreenderiam” (END, v. 4, p. 71).

Por causa de seu desejo benevolente de conduzir as pessoas dos Últimos Dias da Lei para a iluminação, Daishonin se lançou de forma indomável à tarefa de propagar o Sutra de Lótus, disposto a enfrentar as mais terríveis perseguições. Ele se levantou sozinho e suportou o peso total de todos os obstáculos e ataques — como um telhado que protege as pessoas do perigo, ou um pilar de sustentação da nação em meio a desordem e confusão.

Ele fez isso com o objetivo de criar uma rede de solidariedade do bem, duradoura, e que seria sempre dedicada à realização da felicidade individual e coletiva. Seus esforços foram empreendidos com sua grande habilidade e sabedoria para discernir as raízes invisíveis do mal e do infortúnio, e oferecer aos que sofriam uma forma de inspiração e revitalização.

Não havia obstáculos ou inimigos poderosos o bastante para influenciar esse espírito elevado em que a benevolência e a sabedoria eram inseparáveis. Na verdade, pelo fato de sua vida e suas ações serem uma manifestação de sua suprema compaixão por toda a humanidade, pelo eterno futuro, consideramos Nitiren Daishonin o Buda dos Últimos Dias da Lei.

Nos mais de dois mil anos que se passaram desde o advento do Buda, Sakyamuni, Grande Mestre Tient’ai e Grande Mestre Dengyo foram os únicos três devotos a praticar os ensinamentos do Buda. Agora, nos Últimos Dias da Lei, Nitiren e seus discípulos são os únicos a praticar os ensinamentos do Buda. Se não podemos ser chamados seguidores praticantes dos ensinamentos do Buda, então os três, Sakyamuni, Grande Mestre Tient’ai e Grande Mestre Dengyo, também não podem. (...) (END, v. III, p. 153)

O verdadeiro juramento compartilhado de mestre e discípulo na prática dos ensinamentos do Buda

Essa é uma importante passagem que expressa a conclusão de Nitiren Daishonin e identifica claramente os adeptos ou os praticantes fiéis aos ensinamentos do Buda. Ele declara com absoluta convicção que, depois de Sakyamuni — com exceção de Tient’ai e Dengyo durante os Médios Dias da Lei —, apenas “Nitiren e seus discípulos e os fiéis leigos” se encaixam na descrição do trecho nos Últimos Dias da Lei.

O ponto essencial aqui é que Daishonin não diz que se trata somente dele, sozinho, mas inclui todos os seus discípulos — sacerdotes e leigos; ele utiliza a palavra “nós”. Também esclarece que aqueles discípulos que exercem sua prática budista com o mesmo abnegado espírito altruísta de propagar a Lei como ele faz são discípulos que agem em perfeita sintonia com os ensinamentos do Buda. Aqui, podemos ver a ilimitada benevolência do Buda dos Últimos Dias da Lei.

A unicidade de mestre e discípulo é a essência do Budismo Nitiren. E é na luta compartilhada de mestre e discípulo voltada para a prática dos ensinamentos do Buda que se encontra a verdadeira iluminação.

Nitikan Shonin (1665–1726), o grande restaurador do Budismo Nitiren, escreveu um comentário a respeito desta escritura, “A Prática dos Ensinos do Buda”: “‘Ensinamentos [ou Ensinos] do Buda’ significa ‘a forma como o mestre instrui’. ‘A prática’ refere-se às ações do discípulo. O discípulo que pratica como o mestre instrui é, portanto, a essência da ‘prática em acordo com os ensinamentos do Buda’”.26

Em outras palavras, a ‘prática dos ensinamentos do Buda’ é o mesmo que ‘unicidade de mestre e discípulo’, e tal prática budista é a base de tudo.

Como mestre, Nitiren Daishonin tem apenas um desejo, o de que os discípulos — uma multidão de Bodhisattvas da Terra — venham a emergir e agir em todos os campos com a mesma aspiração que ele. Pelo fato de procurar autênticos discípulos, ele exorta seus seguidores a prosseguir por um caminho cheio de obstáculos, como é o dele. E sendo autênticos discípulos, eles consideram todas as dificuldades e provações por causa da Lei como fonte de orgulho.

Há um verdadeiro e profundo significado em Daishonin identificar os devotos dos Últimos Dias da Lei como “Nitiren, seus discípulos e fiéis leigos”. Estas também foram, sem dúvida, palavras resultantes de sua imensa benevolência por aqueles que haviam lutado ao lado dele em meio a grandes adversidades com um sentimento de juramento compartilhado pela propagação do ensinamento correto. Não é difícil imaginar os discípulos de Daishonin lendo essa passagem e sentindo-se profundamente inspirados a seguir ainda mais seu destemido espírito.

Pôr os ensinamentos do Buda em prática requer que autênticos discípulos se levantem e entrem seriamente em ação. A partir disso, o grande rio do Kossen-rufu começa a fluir poderosamente. Nós, da SGI, herdamos esse grande rio da iluminação de todas as pessoas e continuamos a propagar o ensinamento correto com o mesmo espírito de Nitiren Daishonin na presente época, enquanto lutamos contra vários obstáculos.

Makiguti Sensei, Toda Sensei e eu — os três primeiros presidentes da Soka Gakkai — confrontamos e triunfamos sobre ferozes ataques dos Três Poderosos Inimigos e dos Três Obstáculos e das Quatro Maldades.

Os dois primeiros presidentes enfrentaram perseguições das autoridades militares japonesas durante a guerra e eu também fui alvo de injustos ataques por parte das autoridades no Incidente de Osaka.27 Na sequência desse incidente, Toda Sensei declarou: “É importante falar claramente e refutar o que precisa ser refutado. Se permanecer em silêncio, as pessoas vão aceitar mentiras como verdades. (...) Não podemos nos dar ao luxo de deixar a justiça ser castigada por um monte de mentiras! (...) Falamos do triunfo da justiça, mas não é sempre uma certeza de que a justiça prevalecerá. Sem luta, a justiça será perdida. Como nossa causa é justa, não podemos ser derrotados. Temos de vencer. É por isso que é tão importante lutar pela justiça”.

Por defendermos o bem maior, temos de continuar lutando, temos de vencer infalivelmente. Este é o espírito da Soka Gakkai que pulsa no coração dos três primeiros presidentes. Este espírito de praticar como o Buda ensina é o orgulho da Soka Gakkai, a monarca do mundo religioso.

Numa carta endereçada à monja leiga Senniti, Daishonin escreveu: “Deixe que digam [as coisas odiosas] que desejarem. O mais importante é que confie sua vida aos ensinamentos dourados do Sutra de Lótus, ao Buda Sakyamuni, e a Tienta’i, Miao-lo,28 Dengyo e Chang-an.29 Este é o modo de praticar corretamente de acordo com os ensinamentos do Buda” (END, v. III, p. 237). Assim, mesmo para suas discípulas, Daishonin salienta a importância vital da prática de acordo com os ensinamentos de Buda, assim como ele fez.

Jamais devemos nos esquecer de que a SGI foi construída por meio das orações, de esforços e da união de nossos membros que praticam como o Buda ensina — principalmente pelas nossas integrantes das Divisões Feminina e Feminina de Jovens.

A vida passa num piscar de olhos. Não importa quão terríveis inimigos venha a encontrar, elimine os medos e jamais pense em retroceder. Mesmo que alguém esteja prestes a cortar nossa cabeça com uma serra, que fure nosso corpo com lanças, algeme nossos pés e os espete com uma verruma, enquanto vivermos, devemos recitar Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo. Então, se orarmos até o momento da morte, Sakyamuni, Muitos Tesouros30 e os Budas das Dez Direções virão até nós instantaneamente, exatamente como prometeram durante a cerimônia no Pico da Águia.31 Tomando nossas mãos e carregando-nos sobre os ombros, eles nos levarão até o Pico da Águia. Os dois sábios, os dois reis celestiais e as dez filhas-demônio32 nos protegerão, enquanto os deuses celestiais e as divindades benevolentes erguerão o dossel sobre nossa cabeça e desfraldarão bandeiras bem alto. Eles nos escoltarão sob sua proteção até a Terra da Luz Eternamente Tranquila.33 Como descrever tamanha alegria? (END, v. III, p. 153-154).

Estabelecer a eterna condição de Buda pelas três existências

“Elimine todos os medos e jamais pense em retroceder”, assim Daishonin exorta cada um de seus discípulos que enfrentava imensas provações, como resultado do ataque dos Três Poderosos Inimigos.

Na juventude, tive a oportunidade de ouvir Toda Sensei explanar a passagem em que essas palavras aparecem. Na época, ele disse: “Sem esse tipo de determinação, você não pode ser chamado de genuíno líder na fé”. Ele também comentou que o restante do trecho que começa com as palavras “Mesmo que alguém esteja prestes a cortar nossa cabeça...” destaca o espírito de dedicação altruísta à propagação da Lei. “Esta é a essência da fé”, afirmou o Sr. Toda. As relevantes e perspicazes orientações de meu mestre ainda permanecem claramente gravadas em minha memória.

Pela realidade das perseguições que confrontavam Daishonin e seus discípulos, as descrições das provações que eles teriam de suportar, descritas nessa parte, não eram de forma alguma estranhas ou exageradas.

É claro que o Budismo Nitiren não é um ensinamento de imprudentes autossacrifícios ou martírios que pouco valoriza a vida. Nitiren Daishonin salienta: “Enquanto estivermos vivos, devemos continuar recitando o Nam-myoho-rengue-kyo (...) [e continuar fazendo isso] até o momento da morte” (cf. END, v. III, p. 153-154). Dessa forma, ele ensina que devemos nos esforçar para praticar firmemente o ensinamento correto até o fim de nossa vida. Mantemos a Lei Mística para que possamos viver nossa vida plenamente até o último momento.

Assim, se surgir alguma situação que nos leve a perder a vida por causa de nossa prática budista, nossa própria morte definitivamente não será infeliz ou miserável. Toda Sensei declarou solenemente: “Se temos de perder a vida enquanto defendemos a Lei Mística, então vamos atingir a iluminação, sem falta. A morte, nesse caso, seria algo como um breve sonho pouco depois de pegar no sono, e então cair num profundo e tranquilo sono depois”.

Há casos em que os membros morrem prematuramente em acidentes. Mas à luz do grande poder benéfico da Lei Mística, não há absolutamente nada a temer.

Como Daishonin garante nessa passagem, aqueles que oram sinceramente o Daimoku até o fim, no momento da morte entrarão no ilimitado estado de Buda permeado de felicidade absoluta por toda a eternidade.

Ele descreve esse fato no trecho em que menciona que os dois budas, Sakyamuni e Muitos Tesouros, e todos os Budas das Dez Direções surgirão imediatamente para nos tomar pelas mãos e nos levar sobre os ombros ao Pico da Águia. E de fato as Funções Protetoras do Universo — todos os deuses e todas as divindades budistas celestiais, incluindo os dois sábios, os dois reis celestiais e as dez filhas-demônio —, diz ele, nos protegerão, os praticantes do Sutra de Lótus, como se nos escoltassem até a Terra da Luz Eternamente Tranquila, uma terra repleta dos benefícios do Buda. Que reconfortantes foram essas palavras aos seus discípulos!

Em outro escrito, Daishonin afirma: “Se o senhor deixar esta vida antes de mim, deve reportar-se a Brahma, a Shakra, aos Quatro Reis Celestiais e ao rei Yama.34 Apresente-se como discípulo do sacerdote Nitiren, o principal devoto do Sutra de Lótus no Japão. Então, será impossível que eles o tratem com descortesia” (END, v. 1, p. 209).35

E ainda, em outra carta, ele escreve: “Não importa o que possa acontecer no caminho entre esta vida e a próxima, [seu marido] deve declarar-se discípulo de Nitiren. (...) No que diz respeito a crer no Sutra de Lótus, sou o mais importante sábio de Jambudvipa [o mundo inteiro]. Meu nome ressoa em todas as terras puras das dez direções, e o céu e a Terra, sem dúvida, sabem disso. Se seu marido declarar que é discípulo de Nitiren, não creio que os demônios malignos de qualquer espécie venham alegar desconhecimento de meu nome [e tratá-lo mal]” (WND, v. 1, p. 938).36

A fé com base no juramento compartilhado de mestre e discípulo assegura a paz e a felicidade na vida e na morte. Em outras palavras, podemos desfrutar de alegria durante as duas fases, tanto da vida como da morte.

Quando os discípulos de Daishonin se dedicam à Lei Mística com o mesmo espírito que seu mestre, que é o mais importante devoto do Sutra de Lótus, em seguida, eles [mestre e discípulos] atingirão juntos um estado de felicidade absoluta pelas três existências, garantindo a vitória, bem como a paz e segurança na vida e na morte.

Nitiren Daishonin assim declara: “Quando nossas orações para atingir a iluminação são respondidas e habitamos a Terra da Luz Eternamente Tranquila, experimentamos a ilimitada alegria de Lei” (cf. WND, v. 1, p. 154). Ele promete que qualquer pessoa que baseia sua vida na Lei Mística pode alcançar esse estado de felicidade absoluta. E, no final dessa passagem, ele assinala: “Como descrever tamanha alegria?”

Como discípulos, não há nada mais honroso que trilhar firmemente o caminho da fé que juramos ao nosso mestre. Daishonin garante a seus seguidores que eles terão suas orações pela manifestação do estado de Buda respondidas e habitarão a Terra da Luz Eternamente Tranquila, desfrutando de imensa paz de espírito. Portanto, não importa que surjam os grandes obstáculos, não há absolutamente nada com que se preocupar ou temer. Como o eterno Buda dos Últimos Dias Lei, ele assegura que “experimentarão a ilimitada alegria da Lei”. Não há felicidade maior que essa.

Como indicado pelo trecho “Se orarmos até o momento da morte (...)”, tudo depende se continuamos orando de todo o coração pela nossa felicidade e pela felicidade dos outros até o fim de nossa vida. Essa é a essência da fé baseada na prática dos ensinamentos do Buda em unicidade com o nosso mestre.

Uma passagem que discutimos anteriormente vem vividamente à mente: “Suponha que alguém, não importa quem, proclame sonoramente que o Sutra de Lótus por si tem o poder de conduzir as pessoas à iluminação (...)” (END, v. 1, p. 152). [As expressões] usar a nossa voz e declarar a verdade poderiam ser utilizadas para indicar a essência da prática como o Buda ensina.

Em outro trecho, Daishonin também descreve a si mesmo como “nunca tendo poupado a voz” (OTT, p. 57), e como “não hesitante em falar” (WND, v. 1, p. 970) e assim por diante. Ele também cita estas palavras: “A voz executa o trabalho do Buda” (cf. OTT, p. 4).

Não hesitar, dizer o que precisa ser dito, não deixar quieto nada que precisa ser falado — esse é o espírito do Chakubuku no Budismo Nitiren. Pelo tempo que nos lembrarmos de seguir em frente com esse espírito, continuaremos a progredir em nosso movimento pelo Kossen-rufu. Essa é a convicção inabalável de Nitiren Daishonin e é também o espírito Soka Gakkai.

Makiguti Sensei disse: “As pessoas covardes que não conseguem falar o que precisa ser dito não são qualificadas como discípulos de Nitiren Daishonin”.

No final do presente escrito, Daishonin afirma: “Mantenha essa carta sempre com você e leia-a repetidas e repetidas vezes” (END, v. III, p. 154). Também não podemos esquecer jamais desse espírito de estimar os escritos de Nitiren Daishonin. Como honrosos discípulos de Daishonin, vamos realizar diálogos sinceros de pessoa a pessoa baseados na benevolência de conduzir as pessoas à Lei Mística, com o objetivo de realizar uma transformação interna em nossa própria vida e ajudar os outros a fazer o mesmo. Essa é a atividade mais fundamental da Soka Gakkai.

Enquanto recitamos firmemente o Daimoku e dialogamos incansavelmente, escrevemos uma brilhante história de crescimento para o nosso movimento, praticando os ensinamentos do Buda de acordo com o seu decreto, e ganhamos aplausos e elogios de todos os budas e divindades celestiais do universo.

Assim concluímos a explanação em três partes do escrito “A Prática dos Ensinos do Buda”.

Ofereço minhas orações pela vitória dos meus genuínos discípulos.

(Daibyakurengue, edição de março de 2010.)


Notas

1. Três espécies de pessoas arrogantes que perseguem os que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica após a morte do Buda Sakyamuni, descritos numa seção do verso de vinte linhas do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo (711– -782), da China, resume os Três Poderosos Inimigos como pessoas leigas arrogantes, sacerdotes arrogantes e sábios falsos e arrogantes.

2. Trata-se de uma referência à descrição do quinto período de quinhentos anos contida no Sutra da Grande Coleção [Dharmaraksha, 385–-433 d.C.]. Esse sutra diz que, nesta era, que corresponde aos Últimos Dias da Lei — escolas budistas rivais batalharão incessantemente entre si e o ensinamento correto de Sakyamuni será obscurecido e se perderá.

3. Possessão Mútua dos Dez Mundos: O princípio de que cada um dos Dez Mundos possui o potencial para todos os outros dez dentro de si. “Possessão Mútua” significa que a vida não permanece em um ou em outro dos Dez Mundos, mas pode se manifestar em qualquer um dos dez mundos — do Inferno ao estado de Buda — a qualquer momento. O ponto importante desse princípio é que todos os seres em qualquer um dos nove mundos possuem a natureza de Buda. Isso indica que o estado de vida de uma pessoa pode mudar e que todos os seres vivos dos nove mundos possuem o potencial da iluminação, enquanto um buda também possui os nove mundos e, nesse sentido, não é separado ou diferente das pessoas comuns.

4. Três Mil Mundos num Único Momento da Vida: Doutrina desenvolvida por Tient’ai da China, com base no Sutra de Lótus. O princípio de que todos os fenômenos estão contidos num único momento da vida, e que um único momento da vida permeia os três mil domínios da existência, ou o mundo fenomenal inteiro.

5. Nota dos editores da SGI Newsletter: Desde 2010, todas as citações do Sutra de Lótus são extraídas de The Lotus Sutra and Its Openingand Closing Sutras [O Sutra de Lótus e seus Sutras de Abertura e Encerramento]. Tradução de Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, 2009. Agora, as citações aparecerão da seguinte forma: LSOC, seguido pelo número do capítulo e da página. Por curto período, continuaremos incluindo entre parênteses o capítulo correspondente e número de página em The Lotus Sutra [Sutra de Lótus]. Tradução de Burton Watson. Nova York: Columbia University Press, 1993.

6. Mundo saha: Refere-se a este mundo cheio de sofrimento. É também traduzido como o mundo da resistência. Em sânscrito, saha significa terra; que deriva da raiz “suportar”. Nesse contexto, o mundo saha indica um mundo no qual as pessoas devem suportar o sofrimento. Também é definido como uma terra impura, contaminada pelos desejos mundanos e pela ilusão, em contraste à Terra Pura.

7. No verso conclusivo do capítulo “Devoção Encorajadora”, incontáveis multidões de bodhisattvas juram a Sakyamuni propagar o sutra na era maléfica após a sua morte. Essa seção também é muitas vezes chamada de seção do verso de vinte linhas, porque a tradução original em chinês é composta por vinte linhas. Ela se inicia com a seguinte passagem: “Nós pedimos para não se preocupar. Após o Buda ter entrado em extinção, numa época do medo e do mal, vamos pregar amplamente” (LSOC, cap. 13, p. 232 [LS, cap. 13, p. 193]). E, em seguida, passa a enumerar as perseguições que ocorrerão na era maléfica designada no Sutra. Com base nisso, o Grande Mestre Miao-lo, da China, classificou as funções que perseguem os praticantes do Sutra de Lótus como os Três Poderosos Inimigos.

8. Rei Demônio do Sexto Céu: Também conhecido como Rei Demônio ou Demônio Celestial. Soberano das funções maléficas que, na mitologia budista, habita o mais elevado céu, ou no sexto céu do mundo do desejo. É chamado ainda de Demônio que se Regozija em Manipular Livremente as Pessoas e em Usurpar o Fruto dos Esforços Delas. Servido por inúmeros subordinados, ele impede a prática budista e se satisfaz em consumir a energia vital de outros seres. Personifica a tendência negativa de impor a própria vontade aos outros a qualquer custo.

9. Nitiren Daishonin escreveu: “Quando uma pessoa comum, nos Últimos Dias da Lei, pratica o ensinamento correto com o objetivo de atingir o estado de Buda, tendo compreendido a essência de todos os sagrados ensinamentos da vida do Buda..., esse demônio se surpreenderá e dirá a si mesmo: “Isso é muito irritante. Se eu permitir que essa pessoa escape do meu domínio, ela não só se livrará dos sofrimentos de nascimento e morte, mas conduzirá os outros à iluminação também. Além disso, ela assumirá meu reino e o transformará numa Terra Pura. O que eu devo fazer?’. O Rei Demônio então convoca todos os seus servos do mundo tríplice dos desejos, tangíveis e intangíveis, e lhes ordena: ‘Cada um de vocês vá, agora, importunar esse devoto, cada qual de acordo com a sua respectiva função. Se falharem em fazê-lo abandonar sua prática budista, então, entrem na mente de seus discípulos, dos seus aliados e das pessoas de sua terra e, assim, tentem persuadi-los ou ameaçá-los. Se essas tentativas também falharem, eu mesmo vou descer e possuir a mente e o corpo do soberano para que este persiga esse devoto. Juntos, como não poderemos impedi-lo de atingir o estado de Buda?’” (WND, v. 1, p. 894-895)

10. Por exemplo, como consta em “Resposta a Sairen-bo” (END, v. 5, p. 39).

11. A natureza fundamental da iluminação, ou a natureza do Dharma consiste na natureza imutável e inerente a todas as coisas e todos os fenômenos. Ela é identificada com a Lei fundamental em si mesma, a essência da iluminação do Buda, ou a verdade última.

12. Tient’ai (538–597): Conhecido como Chih-i, foi o fundador da escola Tient’ai na China. É comumente referido como o Grande Mestre Tient’ai. Suas preleções foram compiladas em obras como O Profundo Significado do Sutra de Lótus; Palavras e Frases do Sutra de Lótus; e Grande Concentração e Discernimento. Ele propagou o Sutra de Lótus na China, e estabeleceu a doutrina de Três Mil Mundos num Único Momento da Vida.

13. Dengyo (767–822): Também conhecido como Saicho, o fundador da escola Tendai (Tient’ai) no Japão. É muitas vezes referido como o Grande Mestre Dengyo. Ele desmentiu os erros das seis escolas Nara — escolas budistas estabelecidas na época — e promoveu o Sutra de Lótus, e dedicou-se ao estabelecimento de uma plataforma de ordenação Mahayana no Monte Hiei.

14. Nove grandes perseguições: Também conhecidas como nove grandes provações. Referem-se às grandes dificuldades as quais o Buda Sakyamuni foi submetido. Elas estão listadas em Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria de Nagarjuna e em outras obras budistas, mas diferem de acordo com a fonte. Elas incluem incidentes como uma tentativa de assassinato por parte de Devadatta, que empurrou uma pedra de um penhasco na esperança de esmagar Sakyamuni, mas só conseguiu ferir seus pés, e a um grupo de brâmanes que instigou uma linda mulher chamada Sundari a espalhar boatos escandalosos sobre Sakyamuni, com intenções de manchar sua reputação.

15. Perseguição de Tatsunokuti: Em 12 de setembro de 1271, figuras poderosas do governo prenderam Nitiren Daishonin injustamente e o levaram, na calada da noite, para a praia de Tatsunokuti, nos arredores de Kamakura, a fim de executá-lo. A tentativa de execução falhou, e cerca de um mês depois Daishonin foi exilado na Ilha de Sado.

16. Perseguição de Komatsubara: Tentativa de Tojo Kaguenobu, regente de Tojo, de matar Daishonin em Komatsubara perto na província de Awa, em 11 de novembro de 1264. Daishonin sofreu um corte de espada em sua testa, e sua mão esquerda foi quebrada; dois de seus seguidores foram mortos durante esse incidente.

17. Nagarjuna [s.d.]: Estudioso do Budismo Mahayana do sul da Índia, teria vivido entre os anos 150 e 250. Nagarjuna escreveu muitos tratados importantes, incluindo o Tratado sobre o Caminho do Meio, e teve grande impacto sobre o desenvolvimento do pensamento budista na China e no Japão. Nitiren Daishonin identifica Nagarjuna como um sucessor que entendia corretamente a verdadeira intenção de Sakyamuni.

18. A doutrina dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida é o ensinamento fundamental para atingir a iluminação, e é classificada como princípio teórico e aplicação real desse princípio. Estes são, respectivamente, chamados “Teoria dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida” e “Verdadeiro Três Mil Mundos num Único Momento da Vida”. O princípio teórico é baseado no ensinamento teórico (primeira metade) do Sutra de Lótus, enquanto o próprio princípio é revelado no ensinamento fundamental (segunda metade) do Sutra de Lótus. No entanto, nos Últimos Dias da Lei, ambos são teóricos, e o Nam-myoho-rengue-kyo dos Três Grandes Ensinos Fundamentais (Sandai-hiho) que Nitiren Daishonin revelou é o real ensinamento dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida.

19. Realização imediata do estado de Buda baseado na doutrina de Três Mil Mundos num Único Momento da Vida. Esta se refere aos seres nos nove mundos que trazem o estado de Buda inerente e atingem a iluminação. O termo é usado em contraste a atingir o estado de Buda por meio da transformação, isto é, por meio da dedicação incessante à árdua prática budista por incontáveis vidas até que se chegue gradualmente ao estágio mais elevado da iluminação suprema.

20. Refere-se ao princípio “romper os apegos e despertar as dúvidas”, que é uma forma de ensinamento empregada pelo Buda para conduzir as pessoas ao ensinamento correto. Significa romper os apegos da mente que está ligada aos ensinamentos inferiores, e assim despertar as dúvidas e levar a pessoa a aspirar uma compreensão mais profunda acerca do ensinamento correto.

21. A ilimitada alegria da Lei refere-se à suprema felicidade do Buda e ao benefício da Lei Mística.

22. Exílio em Izu: Trata-se de uma perseguição na qual Nitiren Daishonin foi exilado em Ito, na região de Izu, entre maio de 1261 e fevereiro de 1263. Em agosto de 1260, um grupo de praticantes da Terra Pura (Nembutsu), enfurecidos com as críticas de Daishonin à Terra Pura em sua “Tese Sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, atacou sua cabana em Matsubagayatsu, em Kamakura, na tentativa de assassiná-lo. Daishonin escapou e fugiu para a casa de Toki Jonin, na província de Shimosa. Quando reapareceu em Kamakura, na primavera de 1261 e retomou suas atividades de propagação, o governo o prendeu, sem a devida investigação, e o condenou ao exílio. Cerca de dois anos depois de chegar em Izu, Nitiren Daishonin foi perdoado e voltou a Kamakura.

23. Exílio em Sado: Exílio de Nitiren Daishonin na Ilha de Sado, no mar do Japão, de 1271 a 1274. Quando o sacerdote Ryokan do Templo Gokurakuji de Kamakura foi derrotado por Nitiren Daishonin num embate de oração por chuva, ele espalhou falsos boatos sobre Daishonin, usando sua influência com as esposas e viúvas de altos funcionários do governo. Isso levou a um confronto entre Nitiren Daishonin e Hei no Saemon, vice-chefe do Escritório de Assuntos Militares e da Polícia, que o prendeu e realizou manobras para executá-lo em Tatsunokuti, em setembro de 1271. Quando a tentativa de execução falhou, no mês seguinte, as autoridades condenaram Daishonin ao exílio na Ilha de Sado, o que equivalia a uma sentença de morte. No entanto, quando as previsões de Daishonin de conflitos internos e invasão estrangeira se realizaram, o governo emitiu um perdão em março de 1274, e Nitiren Daishonin retornou a Kamakura.

24. Ver nota 15.

25. Oko Kikigaki [Palestras Gravadas]; não traduzido em WND, v. 1 e 2.

26. Traduzido do japonês. SHONIN, Nitikan. Commentary on “Practicing the Buddha’s Teaching [Comentários sobre “A Prática dos Ensinamentos do Buda”]. In: Nitikan Shonin Mondanshu [Comentários de Nitikan Shonin]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1980. p. 748.

27. Incidente de Osaka: Ocasião em que o presidente Ikeda, então líder da DJ, foi preso e injustamente acusado de violação da lei eleitoral, em 1957. No final do processo judicial, que se arrastou por quase cinco anos, ele foi totalmente inocentado de todas as acusações.

28. Grande Mestre Miao-lo (711–782): Sexto patriarca da escola Tient’ai, da China. Entre suas obras destacam-se: Anotações sobre o Profundo Significado do Sutra de Lótus; Anotações sobre Palavras e Frases do Sutra de Lótus e Anotações sobre Grande Concentração e Discernimento.

29. Chang-an (561–632): Discípulo e sucessor de Tient’ai. Fez o registro das preleções de Tient’ai e, posteriormente, compilou-as nas obras O Profundo Significado do Sutra de Lótus; Palavras e Frases do Sutra de Lótus; e Grande Concentração e Discernimento. As palavras dele estão contidas em Comentários sobre o Sutra do Nirvana e O Profundo Significado do Sutra do Nirvana.

30. Buda Muitos Tesouros: Buda que aparece sentado dentro da torre de tesouro na Cerimônia no Ar para comprovar a verdade dos ensinamentos de Sakyamuni no Sutra de Lótus. De acordo com o 11º capítulo do Sutra de Lótus, “Surgimento da Torre de Tesouro”, esse buda habita a Terra da Preciosa Pureza no leste. Quando ainda estava empenhado na prática de bodhisattva, declarou que mesmo após entrar no nirvana ele surgiria a fim de comprovar a validade do Sutra de Lótus, onde quer que esse Sutra fosse exposto.

31. Trata-se da Assembleia no Pico da Águia, onde Sakyamuni pregou o Sutra de Lótus. O Pico da Águia, embora seja uma montanha real localizada a nordeste de Rajagriha, capital de Magadha, na Índia antiga, simboliza também a terra do Buda ou o estado de Buda, como é empregado nessa passagem.

32. Dois sábios, dois reis celestiais e dez filhas-demônio: São seres que prometem no 26º capítulo do Sutra de Lótus, “Dharani”, proteger os praticantes do Sutra de Lótus. Os dois sábios são os Bodhisattvas Rei dos Remédios e Bravo Doador. Os dois reis celestiais são ouvintes de muitos ensinamentos e defensores da Nação dos Quatro Reis Celestiais. E as dez filhas-demônio são dez divindades mulheres protetoras que aparecem no Sutra de Lótus como as “filhas do demônio Rakshasa” ou as “dez filhas de Rakshasa”.

33. Refere-se à Terra da Luz Eternamente Tranquila. Esse local indica a terra do Buda, que é livre de impermanência e impureza. Muitas vezes é usada como sinônimo de Pico da Águia ou Terra Pura do Pico da Águia.

34. Estes são deuses e reis retratados na mitologia budista. Brahma e Shakra são os dois principais deuses protetores do Budismo. Os Quatro Reis Celestiais servem a Shakra e protegem os quatro quadrantes do mundo. O rei Yama é o rei do mundo dos mortos que julga e determina as recompensas e punições dos falecidos.

35. Essa carta foi enviada a Nanjo Hyoe Shichiro — pai de Nanjo Tokimitsu — que estava doente.

36. Essa carta foi enviada à monja leiga Myoshin falando sobre seu marido que estava doente.